quarta-feira, 18 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8291: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (7): Agradecimento pelas palavras simpáticas que me foram dirigidas (Maria Dulcinea)

1. Mensagem da nossa tertuliana Maria Dulcinea (NI)*, esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira) que esteve em Bissorã nos anos de 1973/74, com data de 17 de Maio de 2011:

Desde já dirijo-me a todos os Camaradas e amigos da Guiné da nossa Tabanca Grande para manifestar a Honra em ter sido convidada para pertencer a tão distinto Grupo de Homens e Mulheres que de uma forma ou de outra, obrigados ou voluntários fizeram parte de uma era que ficará para sempre na História de Portugal.

Agradeço ainda os comentários saudáveis feitos no blogue à minha incursão por terras da Guiné.

Na verdade têm razão, pois que houve uma boa dose de irresponsabilidade nossa em eu ter ido para Bissorã com o meu filho Miguel de dois anos, e ainda porque, se calhar alguns se lembrarão, já nessa altura andava a ser gizada a invasão pelo PAIGC à Guiné.

Contava-me o Henrique que tinha recebido directrizes no sentido de adaptar a "Dreyse” com mira anti-aérea, e alguma informação sobre os Mig 21, o que na realidade lhe dava um gozo muito grande, porque era ridícula a situação, ele até dizia: - Tenho Dreyse, tenho balas, só não tenho é miras. Eu sinceramente aprendi a dar uns tiritos com a G3 mas não fiquei fã dela, usando-a só para a fotografia.

Após esta divagação passemos então à aventura e digo "aventura" porque se não existir alguma na nossa vida, esta torna-se muito insossa, mas também se tratou no essencial de Amor e Companheirismo e assim sendo, "pés ao caminho" que é como quem diz avião e Bissorã. Mais tarde conto a odisseia com praga de gafanhotos e tudo em Bissau.

Aprendi muito com o povo de Bissorã assim como com a camaradagem "possível" entre militares no Natal de 1973 com o meu marido a festejar o Natal e a provável porrada aplicada ao Henrique (já narrada no poste P2356** deste blogue referente ao Natal da Guiné) com aletria, rabanadas e tudo que foi possível arranjar na época.

Aprendi também a gostar de mangas, papaias, mancarra, figo de cajus, etc.
Apanhei uns sustos com os ataques a Bissorã. Lembro-me com saudade de um amigo nosso, o Cabo Mecânico da CCAÇ13 de nome AZEVEDO que era da região de Lisboa que num desses ataques a Bissorã, ao correr junto com o Henrique para a nossa tabanca, caiu numa vala e abriu o maxilar com alguma gravidade.

Nesta foto: Sanhã, Zinha, Ni com a G3, fiel amigo Inhatna Biofa e o Miguel Nuno com um amiguinho

Tenho muita saudades do nosso amigo INHATNA BIOFA que era um rapazinho de 16 anos que acompanhava sempre o Henrique desde o Biambe. Era um jovem de grande carácter e aqui faço um parêntesis para contar uma história muito simples do Inhatna.

Certo dia estávamos todos à mesa a almoçar com o Inhatna como sempre e poisaram duas moscas na mesa. Ora o Henrique pega num utensílio para matar as moscas. De imediato o Inhatna diz: - Furiel... Furiel não mata, elas (as moscas) só estão a falar e já vão embora...

Nós ficamos parados a pensar no forte sentimento humano e a força de carácter do Inhatna pois que ele o fazia com todos os animais incómodos, nunca matava, só enxotava. E é nestas coisas tão simples que se aprende a ver as importantes. Esta história é muito simples mas eu jamais a esqueci assim como ao nosso amigo INHATANA BIOFA.

Bom. Já chega por agora e já vai longa a escrita, mas são vocês os culpados que pediram. Mais tarde narrarei outras histórias mas só de acontecimentos agradáveis e engraçados só foi possível viver naquela altura, naquela situação e no país que foi, a Guiné.

 NI e Henrique Cerqueira na actualidade

Um beijo para todos os Tertulianos e Camaradas da Guiné e uma saudação muito especial para todos e todas que já não estão fisicamente entre nós.
NI (Maria Dulcinea Rocha)
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8281: Tabanca Grande (283): NI (Maria Dulcinea Rocha), esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira, que com o filhote de ambos se pôs a caminho de Bissorã onde fez companhia ao marido nos anos de 1973 e 1974

(**) Vd. poste de 17 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2356: O meu Natal no mato (2): Bissorã, 1973: O Milagre (Henrique Cerqueira, CCAÇ 13)

1 comentário:

Torcato Mendonca disse...

Bem Vinda

Dulcineia finalmente não é só musa inspiradora de D. Quixote. è ou foi musa inspiradora do nosso camarada Henrique Cerqueira.

Era bom voltarem lá e navegarem na máquina do tempo...e terem a juventude de outrora (longe de mim com isto não estar a chamar jovem a alguém)...eu gostava.
De facto foi preciso coragem e uma certa dose de...

Se valeu a pena,parece que sim, ainda bem.

Abraço aos dois do T.