segunda-feira, 6 de junho de 2011

Guiné 63/74 – P8377: Memórias de Jolmete (Manuel Resende) (2): FNAC - Fundação Nacional dos Apanhados do Clima

1. O nosso Camarada Manuel Resende*, ex-Alf Mil At da CCaç 2585 do BCaç 2884, que esteve em Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, (1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem:

BCaç 2884 – Mais Alto
CCaç 2585 – Aquela Máquina


O tempo da nossa passagem pela guerra, mais concretamente pela Guiné, não foi feito só de tristezas, desalentos, saudades, … enfim, tantos outros sentimentos que não vale a pena enumerar. Também passamos os nossos bons momentos de boa disposição, camaradagem, convívio, etc. 

Na companhia 2585 de Jolmete 1969-1971 houve, em determinada altura, meados de 1970 depois do assassinato dos Oficiais do CAOP, um grupo de graduados, que de tão apanhados que estavam, criaram a FNAC. Não estejam já a imaginar uma empresa de ar condicionado para a Guiné, nem tão pouco uma editora de livros ou discos de vinil. Não, tratava-se pura e simplesmente de uma fundação. A “FUNDAÇÃO NACIONAL DOS APANHADOS DO CLIMA”, em abreviaturas FNAC.

A FNAC era composta por todos os oficiais e sargentos da Companhia 2585 que quisessem aderir. Praticamente aderiram todos. Os aderentes, como fazia parte dos estatutos, tinham de ter um nome artístico. Depois de fazerem o juramento de adesão, ficavam a pertencer ao grupo dos “organizados”, pelo que recebiam o respectivo cartão de “sócios”. Junto fotos de alguns cartões (só consegui estes).


De cima para baixo, da esquerda para a direita: Fur Mil Araújo, Alf Mil Godinho, Fur Mil Gomes, Fur Mil Gondar, Alf Mil Ferreira, Fur Mil Filipe, 2ºSarg Mesquita, Fur Mil Rodrigues e 1ºSarg Vinagre

A direcção da FNAC era exercida por:

Presidente: José Manuel Gonçalves Rodrigues (ex-fur), de nome artístico “GEM-GIS-KAN”
Secretário: António Alberto Miguéis Marques Pereira (ex-alf) de nome artístico ” WASINGTON”.

Tesoureiro: Manuel Joaquim Meireles (ex-fur) de nome artístico “O MENINO DO BARREIRO”. 

Além dos estatutos pensados e escritos ponto a ponto, com a colaboração dos associados, e votados sempre em assembleia-geral, e do cartão individual com foto artística do associado, foi desenhado pelo (ex-fur) Cristo um emblema de lapela. Aproveitando a vinda de férias à Metrópole do nosso presidente, foi encarregue de os mandar fazer na Fotal em tempo útil. Assim aconteceu.



Capa dos estatutos da FNAC
 
 

À distância de 40 anos tenho pena que o parágrafo nº 1 dos estatutos restringisse a adesão apenas a graduados da CCAÇ 2585, pois tivemos muitas solicitações para aderências por parte de outros que gostariam de pertencer, o que viria a valorizar no futuro (agora) os convívios. Enfim, temos de interpretar os estatutos à luz dos tempos de então, apanhados, à espera da peluda e cheios de boas intenções.

Agora perguntam os amigos leitores deste apontamento… “então e onde está a FNAC”? Boa pergunta, mas sinceramente não sei responder. Ainda tenho esperanças, com a ajuda desta publicação de nos voltarmos a reunir. Tenho contactos com o presidente, o (ex-fur) Rodrigues, que vive no Fundão e com o tesoureiro o (ex-fur) Meireles, que vive em Linda-a-Velha. Espero que o (ex-alf) Marques Pereira também apareça.

A FNAC, paralelamente ao que acontecia na parte militar, também deu alguns louvores aos organizados que mais apanhados estivessem. A mim tocou-me também esse galardão, que passo a reproduzir.

 .



A seguir vou publicar uma cópia dos estatutos.

 





A FNAC tinha também como missão animar todo o pessoal da 2585, não eram só os graduados que andavam stressados. Para isso fundamos a “RADIO PIRATA DE JOLMETE”. Esta Rádio, cujo aparelho transmissor era um receptor a válvulas do curso da “RÁDIO ESCOLA” que eu tinha tirado no último ano antes da minha entrada na tropa, e que tinha levado para a Guiné, serviu para, com uma adaptação feita por mim, transformá-lo em “receptor-emissor”.

Com uma boa antena cedida pelo nosso furriel Gomes de transmissões, e instalada entre a minha caserna e o refeitório dos soldados, conseguia captar perfeitamente a EN em onda média e dar um pouco de música durante o jantar. Convém dizer que o som era dado por uma coluna feita pelo nosso carpinteiro, tipo corneta com um altifalante que eu levei e que me tinha custado na “Astro-Técnica” 2.200$00, com 40 W de potência. Pesava cerca de 10 KG. 

Mais à noite retransmitia a EN e outras em onda curta, numa frequência que todos os pequenos receptores a pilhas com OM-OC captavam. Nesta frequência era transmitido também um programa de discos pedidos que às vezes fazíamos, no abrigo do Comando, numa pequena sala do 1º Sargento Vinagre.

Na foto que a seguir mostro, vê-se o grupo de locutores em acção. À esquerda o (ex-fur) Guarda, ao centro o (ex-fur) Rodrigues (nosso presidente) e à direita o (ex-alf) Marques Pereira (nosso secretário).

Fotos: © Manuel Resende (2010). Direitos reservados.

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5246: Memórias de Jolmete (Manuel Resende) (1): A visita dos Deputados a Jolmete em Julho de 1970

1 comentário:

José Marcelino Martins disse...

Com o documento que apresentam, devido à sua antiguidade, podem requerer, por "usurpação de designação", à organização comercial que usa o vosso nome, uma indemnização pecuniária.

Sugiro que na próxima reunião, alterem os vossos estatutos, nomeadamente o seu Artigo 1º, alargando ao resto do maralhal, que certamente vai agradecer e aderir.

E é politicamente correcto.