quinta-feira, 23 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8467: Controvérsias (126): E no meio disto tudo isto... onde estão os combatentes, os tais que a Pátria devia contemplar? (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 21 de Junho de 2011:

Meus camarigos editores
Eu sou assim!
Escrevo com a caneta do coração!
Se calhar sou injusto com algumas pessoas.
Que me perdoem!
Mas estou-me a ver envelhecer, (e a todos nós), e receio muito que as gerações vindouras tenham de nós uma imagem deturpada e depreciativa.
E dói-me saber que alguns de nós, que juraram a bandeira de Portugal, "vindos de todas as partes", estão abandonados à sua desgraça, e nós que somos tantos ainda, nada ou pouco fazemos.
Será que não conseguimos juntar uns milhares, entre combatentes e familiares, e dizermos chega! a quem de direito, sobretudo pensando naqueles de nós que vivem na rua propriamente dita, ou na rua das suas doenças e desesperos?

Como sempre fica ao vosso discernimento a publicação.

Um abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves


E NO MEIO DISTO TUDO… OS COMBATENTES???

Têm sido dias férteis em actividades “culturais” e outras, à volta dos combatentes.

Vai-se explorando o filão, agora “recentemente” descoberto, pois afinal ainda há muitos combatentes e para além do mais os “gajos” até têm família e portanto um “mercado” a explorar.

E ouvem-se estes e aqueles, ouvem-se as mulheres, (verdade seja dita parte vivida, integrante e importante de toda a problemática dos combatentes), reúnem-se livros e antologias, mas não se vislumbra minimamente uma verdadeira preocupação com os combatentes, com a sua dignidade, sobretudo com aqueles abandonados, pela “Pátria que os devia contemplar” e não contempla.

E vamos lendo e sabendo de colóquios sobre a Guerra de África, homenagens diversas por este país fora, um monumento aqui, outro ali, uns discursos mais inflamados e outros nem tanto.

E muitos de nós, (eu muito provavelmente), vamo-nos deixando embalar nestes “cantos de sereia”, convencidos, (ou tentando convencermo-nos), que somos alguém e que o país, as letras e as artes, se preocupam connosco.

Não há melhor forma de adormecer a revolta, a indignação, que é ir falando das suas causas, dando razão, “passando a mão pelo pêlo”, e nada fazendo, enquanto os revoltados, os indignados, (nos quais me incluo), vão lambendo as feridas, cansados de tanto combate, tentando convencer-se de que têm alguma força, mas verdadeiramente e no fundo, se vão deixando dividir em teias politicas, em opiniões “politicamente correctas”, em “distribuições partidárias”, em narcóticas “manifestações artísticas”, a maior parte das vezes incompletas e de tendências politicas bem marcadas.

Será que os lucros de alguma destas obras, que nós combatentes tão afanosamente compramos, revertem no todo ou em parte, para aqueles de entre os combatentes, que abandonados pela sociedade, pelo país, pelo estado, apenas sobrevivem, e mal, às imensas dificuldades, provações e doenças que a própria guerra lhes acarretou ao serviço do seu país.

E com isto não me refiro obviamente às obras “particulares” de alguns autores, que têm todo o direito a receber a paga do seu trabalho e engenho, mas sim a certas obras, subsidiadas, financiadas, assentes no trabalho de outros, alguns combatentes, e que afinal nada trazem de ajuda àqueles que tanto precisam.

E eu também concordo que não sou nenhum ex-combatente, mas sim um combatente.
Faz parte do meu passado e o meu passado é o meu todo com o meu presente e o meu futuro.
Assim como se tivesse um nome familiar quando era criança, (que por acaso não tinha), do tipo “Quim”, ou outro qualquer, e que agora, não era por já não ser criança que passava a “ex-Quim”.

E isso também nos leva a perceber que estivemos ao serviço de Portugal, e não de um qualquer regime.
Os regimes passam, as Nações ficam, ou deviam ficar.
E se ficam, a responsabilidade das Nações para com os seus filhos permanecem.
Não podemos apenas querer reter as partes boas, e as riquezas, temos também de aceitar as dificuldades e as pobrezas.

Mas o que mais me revolta, para além da minha indignação total por causa dos combatentes abandonados, (e refiro-me aos da “Metrópole” e das então “Províncias Ultramarinas”), é que no fundo e de uma maneira geral, as coisas não mudam e nós “embarcamos” em panegíricos e elogios sobre certas obras, trabalhos, actividades e discursos que no fundo se servem de nós, mas se estão verdadeiramente “borrifando” para nós.

Alguma vez os organizadores/editores desta tão “proclamada” Antologia se permitiriam amputar sem licença um poema de Manuel Alegre, por exemplo?
Mas com toda desfaçatez, (e não compro a teoria do erro), fizeram-no a um poema do José Brás!

Explico-vos então porque não acedi a que a letra do Fado da Guiné, fosse publicada nesta Antologia.

É que ao ser contactado, logo informei e dei como muito útil para uma verdadeira Antologia deste tipo que tivessem em conta tantos poetas anónimos, (em que o nosso blogue é fértil, por exemplo), que tendo vivido a guerra na sua própria pele, dela escreviam em verso, como só quem viveu pode escrever.

Foi-me respondido que só fariam parte da Antologia, obras já publicadas, o que logo me fez perceber o “filme” da Antologia.
Mais do mesmo!

Poderia ficar aqui a escrever sobre toda esta revolta e indignação que teimam em viver em mim, como na maior parte de nós, mas talvez noutro dia continue estes pensamentos em voz alta, para “acordarmos” do torpor em que nos deixámos cair, a começar por mim próprio.

Deixo esta ideia.



Esta obra compro-a de muito boa vontade, não só para mim, mas para dar de presente em tantas e tantas ocasiões em que tal se proporciona.

Perdoem-me o arrazoado de palavras e se sou injusto com alguém, que me perdoe também, mas estou farto de ser espezinhado na pessoa daqueles que comigo lutaram na Guiné, Angola, Moçambique, e que o meu país, a sociedade do meu país despreza, embora de vez em quando deles se aproveite.

E estou zangado, sobretudo comigo próprio, que tão pouco faço, e tão impotente me sinto para mudar as coisas.

Um abraço para todos do
Joaquim Mexia Alves
Alf Mil Op Esp
Guiné - 1971/73
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8446: Convívios (349): 12º Encontro da Tabanca do Centro, 29 de Junho (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 8 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8440: Controvérsias (125): As feridas da guerra (José Firmino)

18 comentários:

Anónimo disse...

Hoje, deve ser dia para esquecer.

Comecei por comentar um texto dizendo que me limitava a escrever SEM COMENTÁRIOS.

Agora, ao ler o que escreveste, lembro-me de uma conversa que tive há muitos, muitos meses atrás com o responsável principal deste espaço sobre esse mesmo tema, as edições de material aqui publicado...

Vejo agora não ser o único a pensar dessa maneira, será que chega?

Mas atenção, isso cria espetativas e levanta sensibilidades e é necessário haver quem seja capaz de lidar com as questões que envolvem o que se publica e porquê, qual a razão de ser A e não B ou C antes de D e depois parece-me nem tudo ser publicavel, pelo menos como o fazemos aqui, quem e como se faz depois essa seleção?

Já quanto às questões financeiras, movimentar dinheiros para estas coisas, que fale quem saiba, como se podem ou não movimentar verbas sem penalizar ninguém, isto porque para gastar tudo bem mas, quanto ao receber dinheiros é outra coisa.

Enfim, mais umas dicas ou achegas para esta fogueira de lume brando.

Um abraço
BSardinha

José Marcelino Martins disse...

Camarigos

Estou de acordo com o Joaquim e, tambem, com as questões que o Belarmino levanta.
Mas, a seu tempo, tudo tem solução e se resolve.

Temos que colocar no seu "devido lugar", os termos MERCANTILISMO e IDADISMO.

Anónimo disse...

Este Joaquim, de vez em quando...acerta.
Abraço
José Brás

Anónimo disse...

Pois é Joaquim M. Alves!

É que todos nós, os chamados Ex-combatentes(e concordo contigo quando dizes que, se o fomos no passado,sômo-lo no presente, e continuaremos a sê-lo no futuro) ainda que este,o futuro, não seja já muito grande e a guerra já não seja a mesma, mas precisamos continuar o combate.
É que, dizia eu, há camaradas nossos a passar dificuldades, sim essas mesmos, as económicas, para além das outras já conhecidas, as traumáticas, as que destruiram relações, as que separaram famílias, as que resvalaram para o alcoolismo e dependência química, para não ir mais longe.
Se calhar vou "trilhar o enxame" e abrir hostilidades, mas vou dar o peito às balas.
É que há, repito, camaradas nossos que não têm 1.500/2.000 euros de reforma, ou até mais,se reformados, ou de vencimento se ainda no activo. Dir-me-ão, mas isso depende de cada um, da sua capacidade, da sua formação académica e profissional, enfim das oportunidades agarradas e aproveitadas etc. etc. etc...!
Pois, mas há camaradas que mesmo, com carreiras contributivas extensas, ainda que não "grossas", dado os baixos salários usufruidos ao longo do percurso profissional, estão prejudicados em relação a outros, pois não lhe foi averbado o "acréscimo de 100%" do tempo de comissão em "condições especiais de dificuldade ou perigo" caso da n/guiné, tal como previsto na Lei, e aprovado na A.R. É ver, como se aplica a mesmíssima Lei na Segurança Social(dito de Solidariedade Social) e por exemplo na Cx. G. de Aposentações.
Claro que não se trata "ciumeira/inveja", bacoca neste caso, pois até está bem aplicada, só que, só de um lado.
E depois faz algum sentido,só valer para quem se aposenta/reforma após 01/01/2004?
É a nova "cassete" da dita S.Social.
E joaquim, a fome e as dificuldades acrescidas, não são, numca foram, boas conselheiras.
E, acho eu, o n/Blogue, muito pouco tem feito por este tema.O facto de não nos devermos imiscuir na política partidária(com o qual eu concordo)não nos absolve, acho eu, de encarar de frente debater, e até de denunciar estas "atrocidades".
Tenho dito, desculpem qualquer coisinha...
Francisco Godinho

alma disse...

Apoiado!Grande Abraço!

Jorge Cabral

ze teieira disse...

Camarigo Mexia Alves quero dizer-te que estou completamente de acordo quando afirmas que te consideras um combatente e não um ex. De facto fizeram de mim um combatente da Pátria. Assim me sinto e assim serei até que a terra cubra o que de mim restar.
Quanto à outra questão de fundo que quiseste levantar para que a consciência de cada combatente comece a fumegar, devo dizer-te cara amigo que considero ser fundamental para bem da História de Portugal que haja alguém entre nós os combatentes e antes que esta temível raça(para alguns, sobretudo os políticos) desapareça, com capacidade académica que possa compilar tanta matéria sobre a Guerra colonial já escrita. São estórias verdadeiras que farão História. Defendi esta ideia no primeiro encontro que tive com o Luís graça em finais de 2005.

Claro que também estou de acordo contigo quanto ao destino dar com os ganhos possíveis.
Para tal torna-se necessário criar em paralelo com o nosso blogue, uma Associação para gerir todo este processo.
Eu, como combatente da Pátria, estou nessa.
Zé teixeiraourde

Carlos Pinheiro disse...

Camarigo Mexia Alves
Apreciei e subscrevo o teu post. De facto estamos fartos de palavreado, até porque palavras leva-as o vento que passa. Precisamos de obras. Por isso e para contrariar algum marasmo acomodaticio,é preciso que encontremos uma estratégia que nos leve a pensar e agir em defesa dos que menos podem e mais passam nesta vida e que foram nossos companheiros de armas nos vários teatros de operações. Mas também devemos encontrar formas e meios de preservarmos as publicações sejam elas escritas, musicais ou outras porque a história não nos perdoará se colaborarmos na destruição do que deve ser preservado para memória futura.
O artigo trata de matéria melindrosa mas mesmo por isso dve ser encontrada a tal estratégia que a todos deve mobilizar. Talvez por isso, ou não, o post tivesse demorado tanto tempo a publicar. Terá sido assim? Vá-se lá saber porquê!
Carlos Pinheiro

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro camarigo Carlos Pinheiro e caros camarigos

A data, 18 de Maio, inscrita no poste como envio, foi sem dúvida um lapso do Carlos Vinhal, pois eu só lhe enviei o meu texto num mail no dia 21 de Junho, pelo que não houve qualquer "atraso" na publicação.

Vamos perceber todos juntos como podemos dar corpo a um projecto conjunto com todos os combatentes de África.

Um abraço para todos

Juvenal Amado disse...

Joaquim

Por diversas vezes estivemos em desacordo e noutras tantas de acordo.
Esta é mais uma em estou de acordo contigo.
Pela a minha parte, não querendo com isto pôr-me em bicos dos pés, darei o meu modesto contributo no que for necessário e estiver ao meu alcance.

Um abraço até M.Real

antonio barbosa disse...

Boa tarde companheiros
Subscrevo e assinopor baixo a publicação do amigo JOAQUIM MEXIA ALVES, tambêm eu penso UMA VEZ COMBATENTE, COMBATENTE PARA SEMPRE,
caso o meu modesto contributo possa servir para algo em prol dos Combatentes raça a que eu com muito orgulho pertenço, disponham.
Um grande abraço
ANTONIO BARBOSA
Alf.Mil Op.Esp
Cabuca-GUINE 73/74

Carlos Vinhal disse...

Devo uma explicação quantos aos erros, já repetidos, na apresentação das datas das mensagens que aparecem a encimar os postes por editados. Por uma questão de poupança de tempo, vou aos postes mais antigos e faço copy/paste da apresentação: 1. Mensagem de..., e da respectiva foto.
Depois seria só actualizar a data, mas às vezes falho.

Caro Carlos Pinheiro, o poste na verdade não foi atrasado como afirmou, em minha defesa, o camarada Mexia Alves. Já desfiz o engano.
Prometo futuramente ser mais atento para evitar juízos de valor.
Um abraço a todos
Carlos

Carlos Pinheiro disse...

Camarigo Carlos Vinhal
Sobre a data do post eu não afirmei nada. Só achei estranho. Mas está tudo esclarecido e os lapsos quando existem e são explicados, ficam mesmo explicados e não vale a pena falar mais do assunto. Assunto arrumado. Como diz o ditado, só não erra quem não faz nada. E tu tens um trabalho que é apreciado e reconhecido por todos nós. Bem hajas.
Um abraço e felicidades para este desafio do Mexia Alves.
Carlos Pinheiro

Anónimo disse...

Camarigo Mexia Alves. O que diz gostava de ter sido eu a dizer. Estou desse lado e se for necessária qualquer empenho disponha que colaborarei para concretizar a sua ideia. Para tal combaterei como combatemos lá. Com "associações" ou sem, podemos avançar se o motivo final é ajudar.a) verissimoferreira@sapo,pt

Anónimo disse...

Fora de Lisboa e há vários dias sem Net, não posso participar no vosso debate de ideias... Acabo de telefonar ao Carlos Vinhal que deu algumas notícias: umas boas, o ter-se encontrado por estes dias com queridos amigos e camaradas nosso como o Rui Silva, o Raul Albino, o Carlos Cordeiro...; e notícias más com o problema de saúde do Mário Fitas... Não tenho grandes pormenores mas só espero as melhoras... Da Praia da Areia Branca, com um xicoração. Luís Graça

Anónimo disse...

...e o que é que se passa com o Mário Fitas?
José Brás

Anónimo disse...

Eu também pergunto!

O que se passa com o Mário Fitas?


Felismina Costa

Anónimo disse...

Zé Brás, vê os comentários do Post 8464. Telefonei hoje ao Mário para saber como estava. Pareceu-me cansado mas animado.
Abraço. Miguel

Anónimo disse...

A pressa dá nisto! Assinatura do comentário anterior: Miguel Pessoa