domingo, 25 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8818: Filhos do vento (3 ): Vi muito poucos mestiços... (J. Pardete Ferreira)

1. Mensagem do nosso camarigo J. Pardete Ferreira, com data de 21 do corrente, sobnre o tema "Filhos do Vento":

Meu caro Luís,

A minha experiência está longe de ser cientificamente provada e pode ser polémica.
 
Efectivamente, tirando o Setúbalm  motorista do Chefe do Serviço de Saúde Militar com as suas tês filhas mestiças, vi muito pouco "pessoal mestiço" na Guiné, o que foi uma surpresa para mim e me fez moer o juízo durante uns tempos.  

Não vou dizer que não havia, o que seria um disparate atendendo ao exemplo que dei.
Que fazer? Perguntar... e qual não foi o meu espanto quando fui informado que nasciturno não "negro" era eliminado pela parteira, pois os mestiços, principalmente os "quase brancos,  eram considerados "persona non grata". E seria uma vergonha para a mãe e sua família apresentá-los em público! 

Efectivamente, repito,  quer nos hospitais em que trabalhei, incluindo o de Teixeira Pinto, calculei que, pelo menos de acordo com as Leis de Mendel, teoricamente deveria haver muito mais. 

Em suma: ficamos na mesma porque, além desta explicação um pouco primária, reconheço, que me foi dada, nada tenho de probatório (que me desculpem os  homens de leis se saiu alguma bacorada). 

Não interessa ter certezas, o que é necessário é procurá-las! E procurá-las em conjunto... Passado este tempo todo é natural aceitar as nossas dúvidas, esquecimentos e quejandos e, humildemente, pedia ajuda sem ideias pré-concebidas. 

Alfa Bravo para todos ou Papa Óscar Rómeo Rómeo Alfa para mim, se não me fiz enterder.
José Pardete Ferreira

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Nota do editor:


10 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com o que diz e ainda mais tendo o caro Ferreira conhecimento do real. O que me parece é que à semelhança do que ainda hoje quando 4 ou 5 de nós estamos juntos, avançamos com essa teoria de que somos uns machos latinos e "comemos tudo" o que nos passa à frente, mesmo não sendo assim. Manias de garanhão mas somos o que somos e´há que dar um desconto. Este assunto "filhos do vento" é muito importante, é sim senhor mas cuidado: analisemo-lo com verdade se é que o pretendemos fazer, se é que vale a pena perder-se tempo. Nada de gabarolices. Sabemos que mesmo sem serem filhos de qualquer um de nós, adoptámos e criámos com o mesmo carinho alguma daquela sacrificada juventude guineense e trouxémo-los e educámo-los e foram nossos filhos de coração e hoje continuamos a amá-los como tal. Por isso deixem-se lá de arranjar novos problemas e estimemos o que temos.(Veríssimo Ferreira CCAÇ 1422)

manuelmaia disse...

QUANDO CHEGUEI A BISSUM,EM JULHO 72, HAVIA NA POPULAÇÃO UM MIÚDO DUNS CINCO/SEIS ANOS( OU QUATRO,SEI LÁ...)
COM CABELO LISO,MORENO QUANTO BASTE FILHO DE UMA MULHER DA POPULAÇÃO, E, AO QUE CONSTAVA,DE UM FURRIEL.
TALVEZ POR ISSO, A MALTA TINHA UMA CERTA PROTECÇÃO PELO MIÚDO E QUANDO VINHA DE FÉRIAS LEVAVA-LHE SEMPRE UMA PRENDITA.
É CURIOSO QUE JÁ NÃO ME LEMBRAVA DESTE QUE ESTE TÍTULO E RUBRICA FIZERAM EVOCAR.

Hélder Valério disse...

Caro conterrâneo Pardete Ferreira

Através de contacto com o Vítor Raposeiro fiquei a saber que têm facilidade de contacto. Vou ver se consigo arranjar oportunidade para um café ou coisa do género um dia destes.
Até lá, um abraço

Hélder S.

Cherno Balde disse...

Caros amigos,

Depois do meu primeiro comentario, ja nao queria voltar a falar sobre este tema de "pais cabecas de vento" nao tivesse acontecido uma coisa que quero partilhar com os demais para mostrar que, se a teoria do infanticidio podia ser real em certos lugares e em certas circunstancias, nao é menos verdade que nao era uma pratica generalizada, longe disso.

Ontem, ao fim da tarde, estava eu sentado em casa de um colega e vizinho quando apareceu um velho acompanhado de um jovem mulato, falando perfeitamente a lingua Balanta. Tratava-se de um primo do meu colega, filho da tia e de um soldado metropolitano na localidade de Bedanda entre 1972/74.

Quando a crianca nasceu, temendo que o pai quisesse levar o seu filho (os africanos em geral pensam assim), a familia resolveu esconder a mae e o filho, transferindo-os para a aldeia de Banta na zona de Empada. Assim, este jovem, nunca soube nada do seu pai e na tabanca ganhou a alcunha de Balanta-Tuga, nome que lhe causou enormes problemas na sua juventude. provavelmente, o pai nunca soube da sua existencia.

Nao obstante, houve muitos casos em que os pais "cabecas de vento" simplesmente abandonaram os filhos que tiveram nos seus bracos e viram crescer.

Falar de responsabilidades nao se pode considerar, de modo algum, uma perversao. Se assim for, entao, ja nao valera a pena falar de justica e de humanismo que foi desde o periodo da renascenca na Europa e no mundo, a luz que ilumina o caminho da nossa humanidade.

Eu sei que aos portugueses e europeus em geral, causa um grande calafrio sempre que se levanta a questao de assumir responsabilidades historicas.

-Serao problemas da consciencia?...

Cherno Baldé

Pardete Ferreira disse...

Volto ao problema: O que nos interessa é contribuir para a pesquiza da verdade e não ficarmos em posições extremadas que não levam a lado nenhum. Falei no infanticío porque esta hipótese me foi posta quando eu manifestei a estranheza pelo facto de, na Guiné, quase não existir, aparentemente, aquele produto "made in Portugal", o mestiço!
Outra pergunta me aparece: como surgiram os nomes próprios de "Alferes Teixeira", "Sargento Dias", "Furriel Almeida" ou "Cabo Costa"? Porque eram esses os nomes dos pais ou porque era ronco apresentá-los assim nas famílias das lavadeiras?
Não sei. O que sei é que "O branco fez um filho na preta..." Em Teixeira Pinto, e um ex-Ministro da República Portuguesa tem uma meia irmã "Manjaca" - "Maniaca" - com muito orgulho e licenciada, bem como o outro "menino", formado pela Escola Superior de Direito de Bissau", abatido aos 23 anos aquando de uma das múltiplas convulsões sociais que têm existido naquela terra que nós amamos.
Bem entendido não vou divulgar os nomes, a não ser que tivesse autorização dos interessados.
José Pardete Ferreira

Anónimo disse...

Fornicadores compulsivos? Tenazes emprenhadores? Pais de multidões mestiças?
Ena pá, o que para aí vai!
Arrisco afirmar que a maior parte dos militares portugueses nem sequer experimentou… sim, a principal actividade sexual desempenhada foi manual…
A oferta a nível de prostituição era escassa. Bafatá possuía menos profissionais do que qualquer Rua do Bairro - Alto de então… As bajudas muito controladas e vigiadas, pois a virgindade constituía um valor a preservar. Algumas mulheres casadas, faziam o jeito… Mas quase nunca de forma exclusiva.
Nasceram alguns mestiços. E daí?
As mulheres adúlteras podiam ser repudiadas ou então os filhos eram considerados do marido, como aliás ainda sucede no nosso direito, em obediência ao velho princípio romano – “Pater est quem justae nuptiae demonstrant …”. Mestiços existiram sempre na Guiné… Mestiços aliás, somos nós todos e os Fulas são um bom exemplo. Até o “Homo Sapiens” se cruzou na Península Ibérica, com o “Neandertal”, como provou a descoberta do “Menino do Lapedo”.
Quando um Homem vai para Tropa vai inteiro, não deixa o aparelho genital em casa… Antigamente os bordéis acompanhavam os exércitos … e em Portugal localidades onde existiam quartéis dispunham de abundante oferta sexual. Quem passou por Vendas Novas deve ter reparado numa rua, designada “Rua das Moças”, na qual durante décadas viviam as ditas… uma espécie de Bairro Vermelho Alentejano.
Em miúdo, descobri uma velha fotografia da bisavó Francisca.
Tendo-lhe notado a cor morena e o cabelo crespo, perguntei: A Avó era preta? Bem, ia levando uma galheta, como o Avô chamava às bofetadas, valendo a intervenção da Avó Maria… que explicou que a Mãe fora concebida numa noite muito escura… Só anos mais tarde descobri a existência do criado Simião, gigantesco negro que com os patrões viera do Brasil. Do que lhe sucedeu não sei… Segundo o Avô que, substituíra a linguagem comum, pela terminologia militar e chamava pré aos dez tostões que me dava… recebeu guia de marcha… Pois é, se calhar sou um mulato de quarta geração… Que trauma!

Jorge Cabral

josé eduardo alves disse...

o que eu acho graça nestes temas é que são sempre filhos de furriéis porque os oficiáis erão gente fina, e os soldados erão capados antes de incorporar nas fileiras do esército um abraço a todos e sejão felises j. Eduardo Alves

Anónimo disse...

Confirmo em absoluto

Os oficiais eram "oficiais e cavalheiros", por isso quando tinham vontade..bem..assobiavam para o ar.
Os soldados eram todos capados antes de embarcarem, para que não mostrassem o seu comportamento "animalesco" próprio da sua condição.
Os furrieis como não eram oficiais nem cavalheiros, podiam "fornicar" à vontade..por isso os "filhos do vento" só podiam ser dos furrieis.
Tinham a fama e o proveito.
Quero aqui protestar contra o título "filhos do vento" que é um atentado à dignidade e bom nome do "vento".
Proponho um novo título "FILHOS DE FURRIEIS".
E os sargentos..bem.. esses, como passavam o tempo entretidos com a burocracia e tinham quase todos uma idade avançada, nem sequer pensavam nisso.

C.Martins

Pardete Ferreira disse...

Caro Helder Valério,
Às ordens de V. Exª!
Conheço bem a falília do Vitor Raposeiro, bom moço, tabalhador... bomo até já pareço uma cigana a ler a sina!Bem, desde que não seja de manhã nem às tardes de 4ª e à 5ª, terei muito gosto: 914019160 à espera... Escuto.

José Pardete Ferreira

PS - Ao Jorge Cabral,
Estive 9 meses na EPA em Vendas Novas. o Simião até pode ser inocente. Naquela zoan Há um tipo de anemia, um Talassémia que pode provocar determinados traços enganadores!

Anónimo disse...

Não estava com tenão de me sentar a esta mesa, mas já que o prato está servido,de consciência tranquila por ter sido soldado, vou meter a colher.
Talvez, o titulo "FILHOS DO VENTO" como o C. Martins tambem não concordo, tenha sido posto a pensar no "Zé Soldado", como o pouco pré que recebia não dava para altas cavalarias, trabalhava á mão, e o Vento como seu grande amigo levava o produto para sementeira desconhecida.
Em vez de "Filhos do vento" ou "Filhos dos Furrieis", não seria mais correcto chamar-lhes "FILHOS DO TEMPO"?

Sim,todos nós comuns dos mortais, precisavamos do tempo para satisfazer-mos com tempo e em tempo os desejos que tinhamos.

Já que todos eramos garanhões e em certas alturas procuravamos o fruto mais apetecido, aqui vai esta pergunta:

Alguem se lembra da bela Verdiana Ruth de olhos de gata e com belo corpo de apetecer saltar para cima, que fazia sempre par com o Zé Manel, este pagava de empurráo, que parávam ao pé das bombas de Gasolina?

Pois é, penso que com essa ninguem foi,porque estava sujeito tempos mais tarde a passar pelo Hospital para se tratar.

Penso que no nosso tempo, também se servia café com natas.

António Paiva