quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8930: A nossa expedição à Guiné (Tina Kramer) (2): Bula e Cacheu (de 12 a 18 de Abril de 2011)

A nossa expedição à Guiné
Escrito por Tina Kramer

Para a minha tese sobre as memórias da Guerra Colonial/Luta de libertação eu fui para a Guiné no mês de Fevereiro até Junho em 2011

2 - Bula e Cacheu (de 12 a 18 de Abril 2011)

Durante a segunda viagem o que me impressionou muito foram Bula e Cacheu. Gostei imenso da natureza do noroeste com as suas palmeiras, o cadju e as terras planas vastas. Por causa dos rios e do mar perto tem um clima muito mais fresco e agradável do que o nordeste ou o sul da Guiné.

Em Bula ficámos surpreendidos quando o presidente da câmara conseguiu organizar encontros com seis antigos combatentes do PAIGC que estavam todos muito motivados para falar sobre as memórias deles. Em geral tivemos a impressão que sempre depende da situação social de presente como os antigos combatentes do PAIGC estimam a luta. Quem teve proveitos depois da independência, por exemplo no governo, diz que a luta valeu a pena e que hoje os guineenses estão livres. A maioria dos outros que não tiveram proveito nenhum da independência já não percebem porque eles lutaram durante doze anos e sacrificaram tanto para nada.

Depois da guerra o antigo aquartelamento do exército português em Bula foi usado como uma escola, mas hoje está vazio e abandonado. Como vimos durante as nossas viagens muitos antigos quartéis portugueses estão abandonados hoje (Bula, Tite, Bambadinca, Suzana), mas alguns são usados pelo exército guineense (Bissau, Gabu, Buba), ou funcionam como residências (Catió). Em todos os quartéis o PAIGC tirou as inscrições portuguesas ao pé dos mastros de bandeira. Aparentemente tentou retirar todos os monumentos portugueses até ao monumento na antiga Praça do Império em Bissau que estava forte demais. Infelizmente ninguém na Guiné podia explicar-me o significado deste monumento português em Bissau.

Parte do antigo aquartelemento português em Bula, 12 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

Parte da entrada do antigo aquartelamento português em Bula, 12 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

Em Cacheu a influência dos portugueses ainda está muito visível, sobretudo na arquitectura como a rua larga que tende para o porto, a fortaleza ao lado esquerdo e o cemitério. Podíamos visitar a fortaleza que dá uma vista impressionante ao mar e às casas. Dentro ficam monumentos dos quatros personagens históricos: Nuno Tristão, que na época estava instalado no porto de Pidjiguiti em Bissau, Diogo Cão que na época estava instalado na Fortaleza Amura em Bissau, Teixeiro Pinto, antigamente instalado na Praça de Che Guevara em Bissau e Honório Barreto, antigamente na praça do mercado em Cacheu. As figuras estão destruidas parcialmente.

O porto em Cacheu, 16 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

A fortaleza em Cacheu, 16 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

A fortaleza em Cacheu, 16 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

Monumento do Nuno Tristão na Fortaleza de Cacheu, 16 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

Honório Barreto na Fortaleza de Cacheu, 16 de Abril de 2011
Foto ©: Tina Kramer

Não encontrámos nenhum antigo combatente em Cacheu, mas falámos com um omi garandi (= homem idoso) de noventa anos, educado em Cacheu e na escola agrícola em Bissau. Ainda se lembra dos contos dos pais dele sobre Teixeiro Pinto e Honório Barreto. Ele falou dos tempos difíceis antes da guerra quando os guineenses sofreram sob a pobreza e o trabalho forçado para o comércio com amendoim e coco em que comerciantes franceses, ingleses e portugueses estavam involvidos. Ele disse que no início da construção da fortaleza os habitantes de Cacheu não sabiam que ia ser uma fortaleza para escravos. Portanto na opinião dele Cacheu estava muito mais bonito antes da independência. Tudo era mais barato, as ruas estavam com mais vida e entre a gente havia ainda mais respeito. Ele disse que muitas cidades na Guiné têm um epíteto e para Cacheu é o nome Cacheu da Silva. Infelizmente ele não sabia porquê.

(Continua)
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Nota do Editor:

Vd. primeiro poste da série de 19 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8928: A nossa expedição à Guiné (Tina Kramer) (1): Gabu - Lugadjole (de 28 de Março a 7 de Abril de 2011)

6 comentários:

Anónimo disse...

Hi Tina

Imagino o quao euforica foi essa sua expedicao pela nossa Guine profunda !!!

Nao sendo de todo relevante, permita-me entretanto um reparo.

A hoje Praca Che Guevara, foi outrora a Praca ou Largo Honorio Barreto ( nasci e cresci nas imediacoes) ! Ja a estatua Teixeira Pinto e a Praca do mesmo nome, ficava precisamente no largo onde hoje se encontra erigido o Palacio Colinas de Boe, ou melhor o edificio da Assembleia Nacional Popular.

Mantenhas

Nelson Herbert

Luís Graça disse...

1. Em 20 de Julho de 2010, se não me engano, já em plenas férias de verão, eu respondia assim ao pedido de ajuda da Tina Kramer (que virá a seguir a integrar a nossa Tabanca Grande , como "amiga da Guiné"):

(...) "Foi agradável o nosso primeiro encontro. Esta altura do ano não é a melhor, em Portugal, para encontrar pessoas, marcar encontros, fazer entrevistas. Meio mundo está de férias. O nosso próprio blogue ressente-se disso, reduzindo-se em um terço as visitas diárias... De qualquer modo, dar-lhe-emos toda a colaboração possível.

"Estou-lhe grato pelas elogiosas referências ao nosso blogue e ao interesse académico e científico que você lhe dedica. Convido os 430 membros do nosso blogue a colaborar consigo, no caso de virem a ser contactados. Poderão igualmente tomar a iniciativa de a contactar. Desejo-lhe boa sorte. Este fim de semana mando-lhe os contactos pedidos. Saudações académicas e bloguísticas. Luís Graça".

(...) Vejo agora, com satisfação e agrado, que ela teve um bom apoio por parte dos nossos amigos e camaradas, aqui e na Guiné... Na altura estávamos "atabancados" 430, hoje estamos a caminho dos 530... E que Portugal e a Guiné foram experiências muito positivas para ela.

2. Tina (, agora tratamo-nos por tu,) desejo-te boa sorte na prossecução da tua vida pessoal e académica, agora que estás de volta à Alemanha.

Anónimo disse...

Fui um dos que contactei com a Tina.

Forneci-lhe vários contactos.

De regresso em véspera de embarcar para a Alemanha esteve em minha casa, e, muito falámos sobre a Guiné. Teve a gentileza de me oferecer algumas fotos de Catió actual.

Entre o muito que falámos, tive oportunidade de lhe referir as dúvidas sobre Madina do Boé, por ventura ela terá outras informações.

A Tina é muito inteligente, tendo uma grande admiração pela Guiné e combatentes do PAIGC.

É digna de admiração, pois o seu ar delicado não dá a conhecer o valor de uma jovem que se meteu a percorrer terras da Guiné.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Talvez seja bom reflectirmos sobre esta passagem do poste:

"Quem teve proveitos depois da independência, por exemplo no governo, diz que a luta valeu a pena e que hoje os guineenses estão livres. A maioria dos outros que não tiveram proveito nenhum da independência já não percebem porque eles lutaram durante doze anos e sacrificaram tanto para nada".

Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

A Tina contactou o Prof.Tcherno Djaló meu Colega e Amigo,o qual a enviou ao meu encontro.
Dei-lhe então a conhecer o Blogue e parece que ainda bem..

Para a Tina um Beijinho.

Jorge Cabral

Antº Rosinha disse...

A motorizada de Tina que foi à procura da história, faz-me lembrar as comemorações do 24 de Setembro por Luis Cabral em 1980, que tentou organizar uma comitiva de Volvos e várias carrinhas, para ir a Madina do Boé.

Nesse tempo ainda não tinham aparecido os "Pajero", eram os Volvos pretos e carrinhas peugeaut.

Como sabemos, as chuvas na Guiné vão de Maio a Novembro.

Pensar ir àquela região, de Volvo e umas tantas carrinhas sem tração às 4 rodas, em Setembro, só mesmo na euforia daquele PAIGC de Luis Cabral.

Talvez com a humildade de mais "motorizadas" e de uns burritos do Gabu Sara, o Luis chegasse mais longe do que com os Volvos, para bem da Guiné.

Claro que ao fim do dia as estórias que se contavam era que poucas viaturas nem a Bafatá chegaram pois que a partir de Mansaba, acabava o asfalto, e começavam as "lagoas".

Mas nesse tempo como hoje nunca existiu na Guiné, nem da parte do povo nem do partido, qualquer preocupação em localizar nem no tempo nem no espaço esse lugar alem Corubal.

Nas nações Unidas é que convinha oficializar o facto.

E talvez esse facto é que terá consagrado a existência definitivamente no âmbito internacional, não só de um país que se chamaria Guiné Bissau, mas de 5 paises aficanos de lingua portuguesa.

Onde se deu o "grito do Ipiranga" de Angola, Moçambique e Caboverde e São Tomé?

Não teria sido nessa tal de "Colinas do Boé"? Se até temos fotos dos protagonistas da cerimónia, porque duvidar?

Contam os brasileiros, sobre o "Grito do Ipiranga" Independência ou morte, como piada para o qual estão sempre dispostos, que Dom Pedro em passeio a cavalo nas margens plácidas do Ipiranga, fez alto à comitiva que o acompanhava, e de urgência salta do cavalo e vai a correr atrás de um arbusto e dá um grito...mas de alívio!

No fim de tudo e de tantos sacrificios, foi pena que a Guiné, os outros 4 e nós aqui, não tivessemos o juizinho e o cuidado na governação, que tiveram os Caboverdeanos, numa terra "inimaginável".