quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8953: Blogpoesia (161): Hino aos combatentes do Ultramar (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Como, Cachil e Catió, 1964/66)

1. Recuperação de um poema do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, já aqui publicado no poste P1646 (*)... Esperemos que esta nossa série, Blogpoesia, um possa um dia dar à luz um livro de antologia dos nossos poetas...


O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes, hoje jurista, reformado,  foi Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, (Como, Cachil e Catió,  1964/66)





HINO AOS COMBATENTES DO ULTRAMAR (**)
por J. L. Mendes Gomes


1


Corriam os anos sessenta.
Os clarins da guerra ressoaram, frementes,
Nos céus de Portugal, há muito,
Por artes do divino, do fado ou do destino,
Uma terra de paz, alegria e brandas gentes.


A cobiça de corsários, falsos,
Arautos de ideologias, vãs e malsãs,
Da igualdade e da fraternidade,
Servos do capital, cego e voraz,
Só do ouro, petróleo e diamante,
Da madeira, rica e do minério abundante,
Em filões,
Vestiu, de agna pele, e fez aliados,
Os eslavos cegos, os ianques e os saxões.


2


Avançar p'ràs terras da Índia, distantes,
E africanas, bem portuguesas.
Já e em força.
Foi o grito, presidente.
Imperativo, indiscutível, se tornou.
Defender as gentes e os haveres,
Muitos e imensos,
Até ao extremo,
Como glórias, lusas e sacras. Nossas.
Foi o lema, pronto e certo!


Queira ou se não queira,
A história do porvir, logo, aberto,
Bem claro, o demonstrou:


3


Aos sonhos do trabalho, da escola e da esperança,
Na flor d'aurora e no fulgor primeiro,
As gerações sucessivas, a gente jovem,
Pronta e digna, disse, adeus…


Vestiu farda e pegou armas, de guerreiro.
Fez-se aos mares, rasgou os ares,
Correu riscos…tantos… sofreu tormentos.
Só Deus o sabe…
Ofereceu tudo, a saúde e a vida, pela Paz!
Oh! Loucura e vã tristeza!… Para quê?!…
Tudo… em vão!


4


Com os ventos da discórdia,
Em desvario e revolução,
Não foi a mesma a pátria que os acolheu!
A que os mandou à guerra,
Cobarde e lesta, se despediu…
De tudo, aquela, hipócrita, se esqueceu.
Ou, bem pior, tudo… denegriu:
O sangue, o suor e as lágrimas,
Que Portugal, inteiro, verteu.
Ficou tudo letra morta…


5


Desfeitos os sonhos, a noite de breu
Dos novos mundos, incertos,
Pós-revolução,
Toldou-lhes as vontades traídas
E, em pé de igualdade, abertos
Foram os caminhos da fortuna,
Da escola e do sucesso…
Como se nada fosse e nada houvesse,
Ou
Do zero, tudo começasse…


Oh!…Vil e imperdoável traição,
A desta pátria, secular…
Que tão ingrata se tornou
Para os guerreiros nobres do ultramar!?…


_____________


Notas do editor:


(*) Vd. poste de 5 de Abril de 2007 >  Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu


(**) Último poste da série > 18 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8789: Blogpoesia (160): Na morte de Mamadú Baldé, descendente do régulo Monjur: E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu (Artur Augusto da Silva)

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Mendes Gomes:
Li e gostei, está tudo aí.
Um abraço,
António Brandão Ccaç 2336

MANUELMAIA disse...

CARO MENDES GOMES,

OBRIGADO PELO POEMA. NÃO FOI DE FACTO A MESMA PÁTRIA QUE NOS RECEBEU,DEPOIS DO ESFORÇO ESFORÇO FEITO.
NÃO FOI A MESMA PÁTRIA QUE NOS RECEBEU,DOENTES,FERIDOS, ESTROPIADOS OU DENTRO DE CAIXÕES...
NÃO FOI A MESMA PÁTRIA QUE NOS IGNOROU E NADA FEZ PARA RESGATAR OS CORPOS DOS QUE LÁ FICAMOS(SIM, E PORQUE ÉRAMOS UM TODO, FICOU POR LÁ UM BOCADO DE CADA UM DE NÓS,REGRESSADOS...)
FOI UMA PÁTRIA QUE NOS ACHINCALHOU,NOS ASSOBIOU À CHEGADA ... UMA PÁTRIA ONDE A TRAIÇÃO FEZ ESCOLA E SE VAI PERPETUANDO...UMA PÁTRIA SEM RUMO ONDE CAMPEIA A INIQUIDADE, O ROUBO, A PERDA DE VALORES.
ABRAÇO
manuelmaia

MANUELMAIA disse...

CARO MENDES GOMES,

OBRIGADO PELO POEMA. NÃO FOI DE FACTO A MESMA PÁTRIA QUE NOS RECEBEU,DEPOIS DO ESFORÇO ESFORÇO FEITO.
NÃO FOI A MESMA PÁTRIA QUE NOS RECEBEU,DOENTES,FERIDOS, ESTROPIADOS OU DENTRO DE CAIXÕES...
NÃO FOI A MESMA PÁTRIA QUE NOS IGNOROU E NADA FEZ PARA RESGATAR OS CORPOS DOS QUE LÁ FICAMOS(SIM, E PORQUE ÉRAMOS UM TODO, FICOU POR LÁ UM BOCADO DE CADA UM DE NÓS,REGRESSADOS...)
FOI UMA PÁTRIA QUE NOS ACHINCALHOU,NOS ASSOBIOU À CHEGADA ... UMA PÁTRIA ONDE A TRAIÇÃO FEZ ESCOLA E SE VAI PERPETUANDO...UMA PÁTRIA SEM RUMO ONDE CAMPEIA A INIQUIDADE, O ROUBO, A PERDA DE VALORES.
ABRAÇO
manuelmaia