sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8957: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (16): O Grito de Ipiranga das Colinas do Boé



Capa da revista mensal, editada em francês, PAIGC Actualités (dedicado à vida e à luta na Guiné e Cabo Verde), nº 54, Outubro de 1973. Título (em cima): 


"Reunida a 24 de Setembro, na região do Boé, a 1ª Assembleia Nacional Popular da história do nosso povo proclamou às 8h55 GMT o Estado da Guiné-Bissau". 


 A capa traz em grande plano a imagem de Amílcar Cabral, "o líder muito amado do nosso povo", que foi proclamado "fundador da Nação", tendo passado o dia do seu nascimento (12 de Setembro) a ser feriado nacional. (LG)


Imagem: © Magalhães Ribeiro / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Todos os direitos reservados.



1. Comentário de António Rosinha, de 21 do corrente, ao poste P8930:




A motorizada da Tina [Kramer] que foi à procura da história, faz-me lembrar as comemorações do 24 de Setembro por Luís Cabral em 1980, que tentou organizar uma comitiva de Volvos e várias carrinhas, para ir a Madina do Boé.


Nesse tempo ainda não tinham aparecido os Pajero, eram os Volvos pretos e carrinhas Peugeot.


Como sabemos, as chuvas na Guiné vão de Maio a Novembro. Pensar ir àquela região, de Volvo e umas tantas carrinhas sem tração às 4 rodas, em Setembro, só mesmo na euforia daquele PAIGC de Luís Cabral.


Talvez com a humildade de mais "motorizadas" e de uns burritos do Gabu Sara, o Luís chegasse mais longe do que com os Volvos, para bem da Guiné.


Claro que ao fim do dia as estórias que se contavam era que poucas viaturas nem a Bafatá chegaram pois que,  a partir de Mansabá, acabava o asfalto, e começavam as "lagoas".


Mas nesse tempo como hoje nunca existiu na Guiné, nem da parte do povo nem do partido, qualquer preocupação em localizar nem no tempo nem no espaço esse lugar além Corubal.


Nas Nações Unidas é que convinha oficializar o facto. E talvez esse facto é que terá consagrado a existência definitivamente no âmbito internacional, não só de um país que se chamaria Guiné-Bissau, mas de 5 países africanos de língua portuguesa.


Onde se deu o "Grito do Ipiranga" de Angola, Moçambique, Caboverde e São Tomé? Não teria sido nessa tal de "Colinas do Boé"? Se até temos fotos dos protagonistas da cerimónia, porque duvidar?


Contam os brasileiros, sobre o "Grito do Ipiranga, Independência ou Morte", como piada para o qual estão sempre dispostos, que Dom Pedro,  em passeio a cavalo nas margens plácidas do Ipiranga, fez alto à comitiva que o acompanhava, e de urgência salta do cavalo e vai a correr atrás de um arbusto e dá um grito... mas de alívio!


No fim de tudo e de tantos sacrifícios, foi pena que a Guiné, os outros 4 e nós aqui não tivéssemos o juizinho e o cuidado na governação, que tiveram os Caboverdianos, numa terra "inimaginável". (**)
____________


Notas do editor


(*) Vd. poste de 20 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8930: A nossa expedição à Guiné (Tina Kramer) (2): Bula e Cacheu (de 12 a 18 de Abril de 2011)


3 comentários:

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... citando:
- «Nas Nações Unidas é que convinha oficializar o facto. E talvez esse facto é que terá consagrado a existência definitivamente no âmbito internacional, não só de um país que se chamaria Guiné-Bissau, mas de 5 países africanos de língua portuguesa.»

Caro 'mais-velho' Rosinha, continua a escrever muito bem.
Mas, na realidade "dos factos", era no aerópago envidraçado de Manhattan «que convinha oficializar o facto».
Sucede que, antes de 25Abr74, nem um único Estado que integrava o CS/ONU, tal como nenhum dos Estados ocidentais com assento na AG/ONU, sequer a maioria dos Não-Alinhados como sequer a maioria dos Estados da OUA nem mesmo a maioria do Bloco Afro-Aisático, «terá consagrado a existência» da tal "Républica da Guiné-Bissau" proclamada em alhures do sudeste da Província Utramarina denominada Guiné Portuguesa.
A aludida «existência definitivamente no âmbito internacional», no que à jurisprudência do Direito Internacional respeita, ocorreu precisamente em 10Set74, no Palácio de Belém.

Cpts,
J.C. Abreu dos Santos

Anónimo disse...

... onde está "aerópago", leia-se "areópago".
JCAS

Anónimo disse...

O reconhecimento internacional do direito dos povos a sua autodeterminacao, pela sua legitimidade e carga simbolica sobrepoe-se a qualquer acto, facto ou cosmetica cerimonia..que outro proposito nao teve, senao o reconhecimento de que afinal era possivel conviver, consolidar lacos entre povos de raca e credo religioso distintos, com base no respeito a diferenca e a identidade soberana de cada um...

Boe,Nova York ou Palacio de Belem resgataram in extremis o que no fundo e de mais precioso nos une...ou seja os lacos historicos.

Sem magoas,zelemos pela preservacao de uma tal conquista comum, alias proposito nobre desta nossa Tabanka !!!

Mais Velho...continue !!

Mantenhas

Nelson Herbert