quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P8982: Blogues da nossa blogosfera (47): Ilha do Como, do Valentim Oliveira (CCAV 489 / BCAV 490, 1963/65)


Página principal do blogue do nosso camarada Valentim Oliveira

Este bravo da Ilha do Como fez este ano, em 5 de janeiro, a bonita idade de 69 anos... Recorde-se que ele foi Soldado Condutor da CCav 489/BCav 490, e portanto  camaradada nosso coeditor Virgínio Briote (mesma companhia) e do Armor Pires Mota (mesmo batalhão).


Também sou veterano da mesma Odisseia: era da CCAV 489 do BCAV 490. Participei na grande Operação Tridente, na Ilha do Como. Segui para Farim, onde por toda aquela zona muitas coisas boas e más se passaram. Também passei no inferno de Guidaje. Como tal também tenho muitas Histórias boas e más para escrever.

Peço permissão para entrar como membro da equipa dos Camaradas da Guiné. (...)


O seu blogue -Ilha do Como -foi criado em 26 de dezembro de 2008.  Tem pouco mais de 3 dezenas de postes. E está parado desde Agosto de 2010. Não deixamos, no entanto, de felicitá-lo por esta ousadia, não sendo ele um profissional das escritas nem das informáticas  Ele explica o porquê: quer também passar o testemunho à geração seguinte... E vê-se que tem em grande orgulho em ter participado na Op Tridente:

(...) “Ilha Do Como: Terra longínqua situada algures numa margem do Oceano Atlântico,que tem como país de origem o nome Guiné; terra de África (...)  onde muitos jovens Portugueses suportaram os horrores da Guerra durante os anos 1963/74  (...). Hoje país independente e amigo de Portugal. Não existe ódios entre as partes envolventes, e ainda bem que se segue o caminho da Paz. Eu própio passei por esta situação ,e foi na Ilha do Como que eu viví os maiores tormentos de uma Guerra para onde fui atirado sem vontade própria. Que tudo fique na História para que a nova geração conheça estes flagelos" (...)

Não tem ainda, no entanto, para além de alguma documentação fotográfica, muita informação escrita,  detalhada,  da Ilha do Como e da Op Tridente. Num dos postes (13 de janeiro de 2009) ( Factos sem cortinas! Grande Operação Tridente)  escreveu o seguinte:



(...) Dando voz a um comentário do nosso camarada Mário Dias, certifico que tudo o que ele disse e escreveu é pura verdade, assim como a saída das nossas tropas (NT) para o Como foi de Bissau e não de Catió, e a Operação durou 72 dias. 


No caso em que a Cavalaria jazia em veículos inoperantes,  [isso] é falso, porque na realidade apenas existia um jipe que nunca saiu da Base Logística, e por sinal eu era o condutor do referido veículo, que apenas servia para fazer o transbordo dos haveres que chegavam no barco e ficava ao largo do mar encalhado, e assim que a maré vazava lá ia eu com o referido jipe e outros colegas fazer o transbordo dos bens necessários para a manutenção das NT. 


Estive nesta Base fazendo este serviço durante algumas semanas, depois segui para o Acampamento de Caiar e o jipe ficou na Base entregue ao Comando. Portanto que ninguém ponha dúvidas sobre o que o Mário Dias disse e escreveu. Porque só quem viveu e passou por esta operação é que pode dar o testemunho dos factos. (...).


Já em tempos tinha publicado no nosso blogue o relato de um dia passado na Ilha do Como


 (...) Estávamos no mês de Fevereiro de 1964, o dia não o tenho memorizado, mas tenho a convicção certa que o mês era Fevereiro. Estive antes acampado junto ao mar, onde se encontrava o comando principal e a artilharia, ou seja, os obuses (canhões). De seguida eu e muitos mais seguimos para um acampamento distanciado mais acima; isto em Caiar.

Aí nos entrincheirámos nos abrigos subterrâneos em grupos de três, num descampado, lugar esse que eram terrenos de cultivação de arroz, junto à orla da mata. É claro que havia festa quase todos os dias, mas como as costureirinhas cantavam um pouco longe, nós até nem ligávamos muito aos zumbidos que passavam muito por cima de nós, e também se calavam logo assim que as granadas dos obuses começavam a cair em cima.

Mas houve um belo dia em que a sopa se entornou...As costureiras começaram a cantar e nós apenas nos limitámos a ouvir, quando de repente começamos a ser atingidos por granadas de morteiro. Felizmente nenhuma fez estragos em cima de nós, mas nos primeiros momentos deu para assustar. O tiroteio não foi longo, porque nós ripostámos de imediato, assim como a artilharia que se encontrava uns quilómetros atrás, junto ao mar.
Também estive nesse local quase a passar para o outro lado, com o paludismo. Valeu um heli, que três dias depois apareceu com medicamentos. Pronto, assim dito mais uma versão de um acontecimento passado na Guiné. (...)

Para o Valentim e o seu amigo e vizinho, em Viseu, o Rui Ferreira, vai um abraço longo, longo,   com toda a amizade, apreço e camaradagem dos editores do blogue. Um beijinho para a sua querida neta, que eu conheci em Monte Real, num dos encontros da Tabanca Grande. Por fim, força e saúde para retomar a escrita no blogue. LG

O Valentim, à direita,  com um camarada,  na praia de Caiar, no intervalo da Guerra do Como (s/d, talvez Fevereiro ou Março de 1964).

Foto: © Valentim Olivera (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8948: Blogues da nossa blogosfera (46): Sítio da AD com novo rosto e novo webmaster
Está na nossa Tabanca Grande desde 10 de Abril de 2008, data em que se apresentou, aos restantes camaradas da Guiné, nestes termos:

(...) Camarada Luís Graça: É com muita admiração que leio todas as Histórias escritas por ti e por todos os outros camaradas que participaram na GUERRA DA GUINÉ.

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