quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9053: Blogpoesia (169): Sopa quente, depois de três noites de relento (Manuel Maia)

1. Em mensagem do dia 13 de Novembro de 2011, o nosso camarada Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), enviou-nos este poema intitulado Sopa quente.


SOPA QUENTE

Três noites de relento e me marimbo,
p`ras frias madrugadas de cacimbo,
que a aragem "curte" o corpo e até conserva...
Estou farto é de enlatados, de rações,
três dias sempre as mesmas refeições,
sardinha, atum, dobrada, que já enerva...

A sede é implacável, marca pontos,
desfalecidos, quase, e sempre prontos,
p`ra mais um gole d`água que não há...
No charco vislumbrado por alguém,
cantil é atestado, vejam bem,
com líquido amarelo, cor de chá...

Pastilhas despejadas modificam
o visual nojento e "pacificam"
as consciências pela ingestão...
Brutal desinteria acometeu,
o cabo Pinto que desfaleceu
levando a antecipar regresso então...

Chegados ao quartel, nem sopa quente,
iria ser servida àquela gente,
para um "lavar de tripas", de conforto...
De pronto me insurgi p`la afirmação
de estarmos abonados de ração,
ouviu-me o vaguemestre a "falar torto"...

Casqueiro com fiambre e sopa quente,
decide o capitão, que num repente,
firmeza quis mostrar na decisão...
Cem anos qu`inda dure, não olvido,
o ar do velho Ginja, algo aturdido,
p`la força que emprestei p`ràquela acção...

Manuel Maia
____________

Notas de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9031: Blopoesia (168): Chamava-se Zé Santos (Manuel Maia)

7 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Sopa Quente
qunte, jamais...

Sabe bem e melhor ainda ler, como sempre.

Um abraço T.

Joaquim Mexia Alves disse...

Um abraço "quente", meu acro Manuel Maia, como sempre poeta inspirado.

Aos editores pede-se que emendem a Sopa Qunte ... para sopa quente, no título do poema.

Um abraço para todos

Joaquim Mexia Alves disse...

E o Manuel Maia é caro e não acro, obviamente, pelo menos para mim ... eheheh

Luis Faria disse...

Amigo Manuel Maia

Sopa quente? Nem pensar.quentes já eram aquelas terras!
Digo-te tambem que até gostava das rações.As que normalmente nos davam eram da Africa do Sul,julgo,bem boas para meu gosto!Comi muitas!

Talvez um dia conte a estória duma delas!

Um abraço

Anónimo disse...

Os palhaços

Heróis da gargalhada, ó nobres saltimbancos
eu gosto de vocês,
porque amo as expansões do grandes risos francos
e os gestos de entremez.

e prezo, sobretudo, as grandes ironias
das farsas joviais,
que em visagens cruéis, imperturbáveis, frias,
á turba arremessais !

Alegres histriões dos circos e das praças,
oh, sim,gosto de vos ver
nas grandes contorções, a rir, a dizer graças
de o povo enlouquecer,

ungidos pela luta heróica, descambada,
de giz e de carmim,
nas mímicas sem par, heróis da bofetada,
titãs do trampolim!

Correi, subi, voai num turbilhão fantástico
por entre as saudações
da turba que festeja o semideus elástico
nas grandes ascenções,

e no curso veloz, vertiginoso, aéreo,
fazei por disparar
na face trivial do mundo egoista e sério
a gargalhada alvar !

Depois, mais perto ainda, a voltear no espaço,
pregai-lhe, se podeis,
um pontapé furtivo, ó lívidos palhaços,
luzentes como reis!

Eu rio sempre, ao ver aquela majestade,
os trágicos desdéns
com que nos divertis, cobertos de alvaíade,
a troco de uns vintens!

Mas rio ainda mais dos histriões burgueses,
cobertos de ouropéis,
que tomam neste mundo, em longos entremezes,
a sério os seus papéis.

São eles, almas vãs, consciências rebocadas,
que enfim merecem mais
o comentário atroz das rijas gargalhadas
que ás vezes disparais!

Portanto é rir, e rir, hirsutos, grandes, lestos,
nas cómicas funções,
até fazer morrer, em desmanchados gestos,
de riso as multidões !

Uma poesia que por vezes se enquadra, o autor escreveu no século XXIX, era ribatejano e morreu em Paris.de nome Guilherme de Azevedo,achei por bem divulgá-la, já que de poesia se fala.

Rui G.dos Santos

Anónimo disse...

Serve-nos os teus poemas, sempre que queiras.
Não deixes arrefecer a poesia que há em ti.
Habituei-me a gostar de ler o que escreves, quando com raiva, mas sem ódios, mesmo os de estimação.

Um abraço,
BSardinha

Luís Graça disse...

Querido Manuel Maia, grande bardo do Cantanhez, figurarás obrigatoriamente no Cancioneiro da Guiné, que um dia ainda have(re)mos de publicar... Um Alfa Bravo. LG