sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9059: Memória dos lugares (163): Mampatá saúda Mampatá (António Carvalho / José Câmara / José Eduardo Alves / Mário Pinto)

Região de Tombali > Mampatá > Uma foto aérea de povoação e aquartelamento.
Foto: © José Manuel Lopes (2008). Todo os direitos reservados .


Comentários deixados no Poste 9052*, referente à apresentação à tertúlia do nosso novo camarada José Santos que foi 1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro na CCAÇ 3326, Mampatá e Quinhamel, 1071/73:

1. Do nosso camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto foi Fur Mil At Art na CART 2519 (Os Morcegos de Mampatá), Buba, Aldeia Formosa e Mampatá,1969 a 1971:

Caro José Santos
Em meu nome e da Cart 2519, Os Morcegos de Mampatá, dou-te as boas vindas ao nosso convívio.

Como deves estar lembrado a CCAÇ 3326, foi a Companhia que rendeu a minha em Fevereiro de 1971. Nesse altura metade da minha Companhia seguiu para Bissau via Buba, através de LDG, ficando 2 Gr Comb em Mampatá, um dos quais o meu.

Na primeira saída que fiz com vocês para o corredor de Missirá, tiveram o vosso baptismo de fogo num forte contacto e onde a CCAÇ 3326 teve os primeiros feridos e o IN 2 mortos e algumas baixas. Como resultado, vocês tiveram o o vosso primeiro material capturado (ronco).

Mampatá encontra-se no Blog, bem documentada, em períodos distintos conforme as unidades que por lá passaram sendo o período com menos informação o ocupado pela CCAÇ 3326 (1971/72). Convido-te [para o fazer], se puderes e estiveres interessado, para assim conseguirmos fechar o círculo das unidades instaladas em Mampatá.

Um abraço
Mário Pinto
ex-Fur Mil CART 2519


2. Do nosso camarada António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250, Mampatá, 1972/74:

Caro José Santos:
Também te saúdo de forma muito especial porque também sou de Mampatá. Fui Fur Mil Enf da CART 6250 que vos foi render, no fim de Julho de 72. Só me lembro do Real e do vosso capitão que nunca mais encontrei.
Devo dizer-te que passámos a comissão a proteger os trabalhos de abertura e asfaltagem de duas estradas: uma entre Aldeia e Buba com passagem por Mampatá e Nhala, e outra ligando Mampatá a Colibuía, Cumbidjã e Nhacobá.

Um abraço
António Carvalho


Do nosso camarada José Eduardo Alves, ex-Condutor da Cart 6250, Mampatá, 1972/74:

Camarada e amigo José Santos,
Em primeiro deixa-me dar-te as boas vindas ao blogue. Eu, José Eduardo Alves, fui condutor da CART 6250 que vos foi render a Mampatá. Estou contente por saber que estás com ideias em ir ajudar aquela gente para o hospital da Comura, pois eu indiretamente estou ligado à gente que faz lá serviço de voluntariado.

Já fui 3 anos seguidos à Guiné-Bissau, claro visitar a gente de Mampatá onde tenho bons amigos. Fui com a minha esposa, e no próximo ano talvez volte lá.

Um abraço, depois falamos.
José Eduardo Alves


4. Finalmente, do lado de lá do Atlântico, do nosso camarada José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73, estes dois comentários:

Bem-vindo ao Blogue. Em tempos estive em contacto com o Brum. Por aqui, no estado de Massachusetts, conheço o Soldado Condutor Auto Manuel Fortuna, natural do Faial. Vive em Taunton. Também tenho os contactos dos Fur Mil José Bendito e Fernando Portugal.

Se estiveres interessado no meu contacto, podes pedi-lo aos editores.

Já agora, tal como o Luís Graça, gostaria de saber de onde veio essa história dos “Jovens Assassinos de Mampatá”. Tenho alguma dificuldade em aceitar que o vosso Cap Paula de Carvalho, um Comandante muito austero, permitisse o nome de guerra “Jovens Assassinos de Mampatá”. Mesmo assim tudo é possível.

Eu tenho um crachá da vossa companhia, “Os Sempre Operacionais”. Foi este crachá que esteve presente no último convívio da CCaç 3327 e para o qual foram convidadas as CCaçs 3326 e 3328.

Um abraço,
José Câmara
CCaç 3327


5. Ainda do camarada José da Câmara:

Caros amigos,
Decidi prosseguir um pouco mais com o meu comentário anterior por ter sentido que o nome de guerra "Jovens Assassinos" não se coadunava com a docilidade do soldado açoriano. Também não é menos verdade que conheci muitos dos militares que compunham a CCaç 3326, com os seus graduados e mantenho correspondência com alguns. Foi a um desses graduados que me dirigi para aclarar um pouco sobre aquele nome de guerra.

Tal como deixara antever antes, nunca houve nome de guerra Jovens Assassinos de Mampatá, mas uma alcunha feita por forças exteriores à Companhia.

Por ter entendido que essa alcunha não orgulhava o meu correspondente, camarada e amigo, pedi-lhe e foi-me concedida a devida autorização para usar as suas próprias palavras na explicação do que então aconteceu.

Com a devida vénia:

“Quando chegámos a Mampatá entrámos a "matar" naquela zona em que praticamente se havia perdido o controle e rapidamente o reconquistamos .

Foram uns primeiros 7 ou 8 meses verdadeiramente infernais. Mas atenção:
NÃO FOMOS NÓS QUE NOS BAPTIZÁMOS COMO "JOVENS ASSASINOS DE MAMPATÁ"
Nós fomos baptizados assim pelo PAIGC e por outras Companhias que souberam do nosso percurso ao fazermos a "limpeza" da zona.

Não tenho orgulho nisso, por que as guerras têm sempre o lado injusto. Mas era a lei da sobrevivência. Eram eles ou nós.”

De notar que o grande e único juízo de valor que esse nosso camarada faz, que importa realçar, é a sua afirmação “Não tenho orgulho nisso”, nesse nome, acrescento. Nas mesmas circunstâncias, como filho dos Açores e de Portugal, eu também não teria, nem tenho.

Um abraço amigo,
José Câmara
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9052: Tabanca Grande (306): José Santos, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 3326 (Mampatá e Quinhamel, Jan 71/Jan 73)

Vd. último poste da série de 9 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9016: Memória dos lugares (162): Farim do Cantanhez e suas gentes... (João Graça)

4 comentários:

JD disse...

Camaradas,
Apoio a ponderação do José Câmara.
Não fica bem a adopção de epìtetos bestias que nos alienam, até porque, mesmo no ambiente de guerra, devemos respeitar o inimigo.
Abraços fraternos
JD

JD disse...

Camaradas,
Onde se lê bestias, deve ler-se bestiais.
De facto, no ardor da luta, chegava-se a ter comportamentos que contrariavam os mais elementares princípios da condição humana, por exemplo, vilipendiar os mortos.
Não encontro nenhuma justificação para esses actos que cheguei a reprimir.
Com certeza que o autor da frase não teve presente as circunstâncias em que a Companhia foi assim baptizada, pelo que, admito, não terá a carga que a crú lhe podemos associar.
Abraços fraternos
JD

Anónimo disse...

Quando andei por aí 66/67, antes de marchar para Medjo, fazia Aldeia, Mampatá, Colibuia, Cumbijã apenas com um condutor num jeep.
Como gerente da messe e porque tinha um orgulho (parvo?)na qualidade e na quantidade do que punha nas mesas, pegava num Unimog com dois ou três soldados, levávamos petróleo, sal, açúcar, marchávamos por Contabane, metíamos por estrada que não conhecíamos, chegávamos a tabancas onde os miudos fugiam de medo a branco, trocávamos as coisas por galinhas, cabras, leitões. um dia tive de devolver as cabras porque chegaram ao quartel queixas que as cabras haviam sido roubadas por quem no-las vendeu. Piorou tudo depois da chegada da Companhia que estava em Medjo e trocou connosco, e muito pior ainda a partir da Páscoa de 68 com a instalação da tropa em Gadembel.
Abraços
José Brás

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caros camaradas

A Cart, 2519 a que eu pertencia quando se instalou em Mampatá por volta do fim de Agosto de 1969, depois da construção da estr. Buba-Ald. Formosa de má memória, recebeu como missão interceptar as colunas do PAIGC no corredor de Missirá que se deslocavam de Sul para norte via Nhacubá-Uane-Xitole.
Para cumprimento desta missão todos os dias um G.Combate reforçado fazia emboscada no dito corredor em quanto outro G.Combate patrulhava as emidiações perto do corredor.
Neste contexto de acção foram diversas as vezes que interceptámos as colunas do PAIGC que na sua maioria era composta por carregadores civis, (população nativa controlada pelo PAIGC)que se tornaram vitimas da guerra por força das circunstâncias do fogo aberto por nós quando caiam na zona da emboscada.
Era habitual depois da emboscada fazermos aproximação e reconhecimento ao local para recolher o material e feridos do IN se os houvesse e confrontarmo-nos com a realidade da acção.

Fomos também muitas vezes apeliados de ASSASSINOS pela Rádio Conakry julgo que era norma o trato dado a todos nós pelo PAIGC quando tinham baixas.
Por isso acho que o termo Assassinos de Mampatá, a meu ver é um termo mais antigo que a CCAÇ 3326, herdou quando rendeu a minha Companhia em Mampatá.
Quanto á expressão:
" Quando chegámos a Mampatá entrámos a Matar, naquela zona em que praticamente se havia perdido o controle e rapidamente o reconquistámos"

Camaradas, lamento dizer mas não é correcto e posso confirmar pelos relatórios que tenho em meu poder.
Toda a Zona era complicada sim, mas dominada pelas nossas forças que se movimentavam por toda a ZA causando vários desaires ao PAIGC, conforme se pode ver nos documentos e Historial da CART 2519
Agora julgo existir aqui é uma discrepância, pois como é sabido que as condições apartir do segundo semestre de 1971 tornaram-se mais duras e cresceram de intencidade por força de uma acção mais forte das tropas do PAIGC.........

Posto isto...

Um abraço

Mário Pinto