sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9319: Notas de leitura (320): Anjos na Guerra, de Susana Torrão (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Dezembro de 2011:

Queridos amigos,
Já dispomos de muita informação sobre as nossas enfermeiras pára-quedistas, onde o livro de Susana Torrão faz a diferença é escutar estas ditosas profissionais de saúde à volta do seu próprio bilhete de identidade: como tudo começou, qual o cúmulo da sua realização, o que valeu a pena e como aquela experiência as transformou.
Cinco das 46 pára-quedistas contam a aventura do passado para o presente. Temos que ter orgulho no orgulho que elas guardam do que fizeram, do seu próprio medo, do desvelo em momentos de um sofrimento alucinante como conta Céu Pedro Esteves: “Eram dois homens que tinham perdido as duas mãos e ambos os olhos. Durante a viagem dizia-lhes: tenho aqui esta comida – e descrevia o que tinha no prato – como é que lhes sabe melhor? Também fazíamos isto. Dávamos o melhor de nós próprios”.
Com este depoimento fica tudo dito.

Um abraço do
Mário


Anjos na guerra:
Saber um pouco mais sobre as nossas enfermeiras pára-quedistas

Beja Santos

A historiografia da guerra não tem ignorado o trabalho das enfermeiras pára-quedistas; e se há desempenho que nunca foi contestado ou desvelo que tenha sido alvo de reparos, então as enfermeiras pára-quedistas gozam de uma posição intocável. Elas estão no pódio da abnegação e solicitude.

Em “Anjos na Guerra”, Susana Torrão retoma este filão de coragem e saudade, dá voz a um punhado de testemunhos e obtém relatos comoventes (Oficina do Livro, 2011). Como é sabido este Corpo de Enfermeiras foi criado em Maio de 1961, elas receberam o brevê em Agosto desse ano e a sua extinção ocorreu já na década de 80. O livro reconstitui o percurso desse grupo a partir das histórias de Céu Pedro Esteves, Ercília Pedro, Manuela Flores França, Rosa Serra e Francis Matias, 5 das 46 enfermeiras pára-quedistas. Cada um dos relatos, diz a autora, traça uma perspectiva diferente e dá a conhecer as várias facetas do quotidiano destas mulheres, num arco onde cabem os pequenos milagres de enfermagem, os preconceitos que tiveram de vencer, os testemunhos do sofrimento do combatente.

Tudo começou com Isabel Bandeira de Mello que nos anos 50 lançou a ideia e criou as bases para a formação das enfermeiras dos ares; complementarmente, os instrutores, outra peça-chave para a existência deste corpo de pioneiras, dão também a sua interpretação dos acontecimentos. Isabel Bandeira de Mello foi a primeira pára-quedista portuguesa e em 1956, depois de contactar com as pára-quedistas da Cruz Vermelha Francesa, lançou a ideia de formar um Corpo de Enfermeiras Pára-quedistas. Kaúlza de Arriaga, ao tempo Subsecretário da Aeronáutica, apoiou o projecto. Encontrou dificuldades mas conseguiu convencer Salazar, a Força Aérea e as escolas de enfermagem. Assim surgiram as primeiras mulheres nas Forças Armadas. Às candidatas pedia-se que tivessem “boa formação moral, profissional e religiosa, ser obrigatoriamente solteiras ou viúvas sem filhos e não ter cadastro.

A legislação que criou oficialmente as primeiras vagas surgiu em Maio de 1961 e foram aprovadas 11 candidatas. Fizeram o curso em Tancos com a duração de 9 semanas, receberam instrução de ordem unida, fizeram-se altos, familiarizam-se com o armamento, transmissões ou topografia, por exemplo. Em Agosto desse ano terminou o curso com a imposição das boinas às primeiras 5 enfermeiras. Partiram imediatamente duas enfermeiras para Angola, Maria Arminda Lopes Pereira e Maria Ivone Quintino dos Reis.

Céu Pedro Esteves é o que se pode chamar uma veterana de guerra, foi a enfermeira que mais tempo passou em África e nas três frentes de combate, três comissões em Angola, duas na Guiné e uma em Moçambique. A Guiné tem um papel privilegiado no seu depoimento. Viu um piloto desorientado a aterrar no Senegal, conseguiu orientá-lo e assim saíram da encrenca. Houve gente quente que lhe morreu nos braços. Estava uma vez na base, em Bissau, entrou por ali um casal novo aos gritos com o filho morto nos braços: “Eu olhei para a criança – que devia ter uns dois anos -, tirei-lha dos braços e fui com ela para o posto de socorros. Comecei a fazer a ressuscitação: massagem cardíaca, respiração boca a boca, a insistir… e o miúdo começou a fazer a expiração. Disse aos meus colegas para prepararem a medicação e lhe encontrarem uma veia. E chegou o momento em que o miúdo começou a respirar e a rir-se para mim. Eles não conseguiram apanhar a veia – como a criança estava em síncope, era difícil – até que eu lhe consegui apanhar uma veia na testa, pus-lhe o soro a correr e dei-lhe a medicação. Imagine a alegria daqueles pais quando lhes entreguei o filho vivo”. Olhando para trás, Céu Esteves não esconde o seu orgulho por tudo quanto lhe aconteceu como enfermeira de guerra: “Foi uma vida diferente. Valeu a pena!”.

Ercília Pedro trabalhou numa fábrica antes de ser enfermeira e tornou-se mulher de militar, a acompanhar o marido na Guiné. Aqui esteve dois anos como enfermeira pára-quedista, ficou sempre ligada a África, voltará várias vezes como voluntária. Falando da Guiné, assistiu às muitas tensões do hospital civil como responsável pela Urgência. Ercília e o marido viviam em Bissau, ela confessa que andava muitas vezes com o credo na boca e relata uma missão em que o marido participou e aquela força operacional esteve cercada pelos guerrilheiros, tendo morrido uma série de homens. Via chegar helicópteros, inquieta-se pela falta de notícias e foi a casa de outra enfermeira, a Manuela Flores França, esta respondeu-lhe laconicamente que o marido estava bem e que viria hoje. Ercília protestou com a secura da resposta o que obrigou a Manuela a um esclarecimento: “Ercília, eu só te quis dizer que o Pedro estava bem e que chegava hoje. Não querias que te dissesse sobre todos os que morreram e que eram da Companhia dele!... Tinhas tempo de saber cá”. Mesmo depois de ter abandonado a carreira de pára-quedista, continuou a dar apoio aos militares. Quando morria algum, acompanhava o corpo até à casa onde aguardavam o regresso a Portugal: “Sentia que representava a família”. E desabafa: “Um desses militares morreu no último dia antes de vir de férias a Portugal. Era do Pelotão do meu marido. Julgo que lhe tinha nascido um filho nessa altura. Estava muito feliz, e voltava dali a dias. Foram convocados para uma missão e o meu marido disse-lhe para ele não ir, uma vez que já estava substituído. Mas ele entendeu que devia ir, porque o substituto era novo e esta era a última operação dele. E foi. E ficou lá. O meu marido ficou de rastos, com peso na consciência, a achar que devia ter insistido mais. Mas eles tinham aquela ideia de que já tinham participado em tantas operações e que, por mais uma, não lhes iria acontecer mais nada”.

Maria Zulmira André foi a enfermeira que evacuou o capitão Pedro Peralta, do exército cubano, durante a “Operação Jove” em que participou o BCP 12 no corredor de Guileje. Ela recebera a seguinte incumbência: “Temos um ferido muito grave, que é necessário evacuar o mais rapidamente possível, e a Zulmira não o pode deixar morrer”.

Manuela Flores França é uma septuagenária activíssima, percorreu Angola, Guiné e Moçambique. Recorda a morte da enfermeira Celeste Ferreira Costa, apanhada pelo hélice de um avião. Com a passagem dos anos, começou a questionar a razão de ser daquela guerra e lembra-se muito bem de ouvir os soldados dizer na Guiné: “É para defender isto que vimos aqui dar a vida?”. Angola e Guiné-Bissau estão na lista das próximas viagens. Faz o balanço da sua vida: “Não estou nada arrependida. Voltaria a fazer o mesmo. Era daquela vida que eu precisava. Não tenho pesadelos, não tenho remorsos e acho que fiz o que devia. Dei tudo o que pude e o que eles precisavam. O nosso papel foi importantíssimo para as tropas portuguesas”.

Rosa Serra viveu em Mueda, que considera o pior sítio onde esteve. O seu primeiro destino foi a Guiné. A primeira evacuação que lhe coube foi uma menina que vinha com estilhaços: “Ela estava muito mais calma do que eu! A evacuação foi feita num DO e eu nunca tinha entrado num aviãozinho tão pequeno. Como a menina não precisava de vir deitada, peguei nela ao colo porque achei que ela fosse começar a chorar e a gritar. Veio ao meu colo nas calmas, olhava para baixo, para a mata, e ria-se para mim. Foi ela que me descontraiu”.

Estes anjos dos ares deram a mão a moribundos, procuraram acalmar militares em estado de choque, gente picada por abelhas, com o corpo desfeito, a gritar pela mãe. Salvaram vidas e impuseram-se no coração de todos os combatentes, por mérito próprio de quem tudo dá sem nada exigir.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9301: Notas de leitura (319): Milicianos, Os Peões das Nicas, de Rui Neves da Silva (Mário Beja Santos)

12 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez 'o palavreado d'encher' deste senhor colaborador; agora deselegante e desajustado - a Sra D. Manuela França não é 'uma septuagenária activíssima'; ninguem será uma coisa dessas, presumo...

A Sra D Manuela França foi Capitão Enfermeira Páraquedista e faleceu recentemente.

SNogueira

antonio graça de abreu disse...

E mais uma vez a política metida a martelo num texto sobre as nossas queridas enfermeiras pára-quedistas.
Leio:

"(Manuela França)com a passagem dos anos, começou a questionar a razão de ser daquela guerra e lembra-se muito bem de ouvir os soldados dizer na Guiné: “É para defender isto que vimos aqui dar a vida?”.

Como muito bem diz o nosso Luís Graça, este blogue é "para partilharmos memórias e afectos."

Porquê sempre a política,da mesma côr, que só nos divide?

Abraço,

António Graça de Abreu

Manuel Joaquim disse...

Ena pá, haja Deus!!!

Então não é que MBS virou bode "respiratório"? Coitado do bicho, já nem pode dizer uma!

Sans rancune, um abraço a todos

Anónimo disse...

Um conselho ao MBS, por favor antes de publicar qualquer recensão, ainda que seja apenas e só a transcrição de frases proferidas pelos personagens, neste caso Mulheres Grandes ou Mulheres de "Armas"( como dizia a minha querida mãe, quando queria elogiar as mulheres mães, mulheres trabalhadoras), que não de secretaria e que nem o respeito dos soldados tinham, era favor mandar os textos aos censor(es) mor.

Já não há pachorra para tanta, verborreia.

F.....hoje praticamente, não dormi, ontem enterrei um grande Amigo e vosso camarigo da Guiné, a quem tinha sido diagnosticado um tumor cerebral, apenas hà três semanas, e por isso em vez de estar na cama a olhar o tecto, resolvi vir passar um pouco de tempo convosco. Mais valera ir passear, do que estar a aturar estes desaforos.

Desculpem o desabafo, mas já me bastaram vinte e oito meses a aturar um "menino" de Lisboa, que tudo sabia e porque assim era, até no cozido à portuguesa punha VINAGRE, não sei se me faço entender.

Cumprimentos a Todos os Combatentes

A.Almeida

Henrique Cerqueira disse...

Caros Camaradas
A Guerra já acabou.Porque será que se vê política em tudo que se escreve???E que mal vem ao mundo se é introduzida aqui e acolá alguma politica?A nossa vida queira-mos ou não não é dissociável da política.
Eu quero mesmo é mais uma vês manifestar a todas as enfermeiras para-quedistas o meu grade carinho ´pois que foi no meu primeiro encontro com o inimigo que ao termos feridos graves e estarmos todos numa desorientação total,cheios de medo e quando chegou o Heli com a enfermeira e esta sai em pleno mato vestida com uma camisola branca e cheia de calma nos ajuda a transportar os feridos para o Héli sempre com palavras de apoio e conforto.Já o escrevi num poste e volto a afirmar que ainda hoje guardo em meu coração toda a gratidão possível por essas MULHERES que tão heroicamente nos ajudaram.
É sobre elas neste poste que eu acho que deve ser realçado o meu comentário.
Um abraço para todos
Henrique Cerqueira

Hélder Valério disse...

Caros amigos

Reparei que é referido ter sido este trabalho do Beja Santos enviado a 6 de Dezembro do ano passado, embora só agora seja publicado.

O trabalho é sobre o conjunto do livro "Anjos na Guerra" e não sobre esta ou aquela personalidade em particular.

Lamentavelmente, uma das pessoas de que a autora do livro se socorre para lhe dar corpo, D.ª Manuela França, Cap. Enf. Páraquedista Manuela França, 'deixou-nos' muito recentemente e essa situação até foi objecto de notícia há cerca de dois dias.

Não se pode inferir do que o Beja Santos refere, qualquer atitude de desrespeito. Na minha opinião a expressão citada de "septuagenária activíssima" peca, não por ela em si mesma, que me parece ser até elogiosa (quantas vezes são referidas pessoas que apesar de terem uma idade convencionada 'já avançada' se reconhece serem portadoras de uma energia invejável?), mas sim por acabar por confgurar como que uma espécie de 'humor negro', tendo em atenção ter havido entretanto o falecimento de tão ilustre personalidade.
Trata-se, na minha opinião, de um infeliz caso de inoportunidade linguística, não vejo razão para se cruxificar, por este caso, O Beja Santos.

Quanto a outro tipo de 'comentários' é, também na minha opinião, um bocado doentio...

O cerne da questão (e a questão é o livro sobre os "Anjos na Guerra") é que se trata da divulgação de mais um livro, desta vez com um outro aspecto particular das participações nas diversas frentes das gurras de África e permite que mais pessoas se possam aperceber e/ou tomar conhecimento da sua existência e decidirem-se (ou não) a adquiri-lo, lê-lo, apreciá-lo.

Qualquer dia (e parece já não faltar muito) podemos ter um tipo de raciocíno semelhante ao que passo a indicar... "É pá, disseram que o Beja Santos espirrou! Ai sim? Então se espirrou deve estar constipado. Se está constipado deve ter o nariz vermelho. Se está, é por que 'vermelho'. Confirma-se, é comunista! E dos perigosos, pois não consta que tenha açaime".

Ora, francamente!

Abraços
Hélder S.

Anónimo disse...

Oh! Hélder, desculpa, sei que o Post,nem é teu, mas deixa-me invocar(como suporte) o teu nome, pois já não consigo controlar-me(e todavia é o que eu quero,sobretudo).
Porra! É demais!....
Claro que corroboro tudo o que disseste e o que deixaste antever no teu comentário anterior(e não é por seguidismo ou coisa que o valha, apenas porque é também o que eu penso, o que eu sinto, não vá pensar-se por aí, que pertencemos à mesma Loja Maçónica, quando afinal, mal nos conhecemos, e tu confirmarás,- que me lembre, apenas por uma vez, mal nos cumprimentamos, num colóquio que o Jorge Cabral fez na Universidade onde lecçionava, algures ali para o Campo Grande, onde estivemos 4 ou 5 camarigos, o Luís esteve como orador convidado, e isto há já mais de 1 ano seguramente.Como confirmarás, não estaremos "concertados" para falar a uma "voz".
Mas falamos, disso não restam dúvidas, mas apenas porque vimos, sentimos as coisas da vida,as boas e as más, com o distancionamento certo(não confundir com "frialdade" insensibilidade, rigidez de raciocínio, sei lá, eu diria, quase "egocentrismo" no sentido de:...depois de mim, o vácuo).
Bem, voltando à recensão(o cerne da questão).
1 - É, no meu entender, das menos salpicadas de política(daquela que eu aceito dialogar, ou seja daquela que inequívocamente está ligada ás questões da vida, das pessoas, dos seus problemas, enfim da problemática da vida dos homens e das mulheres neste mundo cada vez mais difícil, por culpa destes(nós todos) mesmos homens e mulheres). Da outra política-politiqueira- só quero distância.
2 - Se daqui a alguns anos, poucos, quando ficar septuagenário, se ficar, me apelidarem de "septuagenário activíssimo" só me congratularei por isso. Não verei nisso, seguramente "deselegância e desajuste" antes pelo contrário...
3 - Quanto à "política a martelo" metida na recensão, melhor, na transcrição que a recensão faz do conteúdo do livro, na parte respeitante à n/malograda camrada Cap. Enf. Paraq. Manuela França, francamente, quantos de nós não terão ouvido isso, quantos de nós não terá proferido isso, até por razões não necessáriamente convergentes?...
Corroboro o que dizes, qualquer dia até o "espirro" do MBS, ou de outro qualquer "não alinhado" dará, depois de "devidamente" analisado, lugar a mais um, perigoso "inimigo da dita democracia plena de direitos e oportunidades actual".
E de vez em quando ouço dizer..(transcrevo) Acho que vou parar, por uns tempos....
Sem ofensa, e salvaguardando os diferentes contextos, e as pessoas envolvidas, apetece-me dizer, pedir(não ordenar), Porque nom te callas?..- Al menos por un ratito, de tiempo claro!.

Abraços, sinceros(a todos)
Francisco Godinho

João Carlos Abreu dos Santos disse...

.... citando Edith Piaf:
"Non, rien de rien, non, je ne regret rien, ni le bien, ni le mal (...)", etc.

O mesmo afirmou, por outras palavras, a (nossa) recém-falecida irmã d'armas:
«Não estou nada arrependida. Voltaria a fazer o mesmo. Era daquela vida que eu precisava. Não tenho pesadelos, não tenho remorsos e acho que fiz o que devia. Dei tudo o que pude e o que eles precisavam. O nosso papel foi importantíssimo para as tropas portuguesas.»

Se me é consentido emitir opinião, creio que a persistente e notória carência de objectividade, por parte de MBS em diversas das suas recensões literárias, nada tem a ver com o que se pretende, desde início, seja o espírito de salutar convívio, neste caso, bloguístico.

Votos de uma boa Noite de Reis, com bolo a condizer e um copito de Porto.

Cpts,
Abreu dos Santos

Antº Rosinha disse...

Com a passagem dos anos, começou a questionar a razão de ser daquela guerra e lembra-se muito bem de ouvir os soldados dizer na Guiné: "É para defender isto que vimos aqui dar a vida?"

Beja Santos ao reproduzir esta frase que a paraquedista Manuela França ouvia aos soldados, retrata na perfeição o sentimento que qualquer jovem de vinte anos sentia.

O que é que a desolação de certas regiões e carências respectivas, mesmo que nem a vida estivesse em risco, podia dizer a qualquer jovem?.

Claro que subentendemos esta frase acompanhada de umas tantas car(v)alhadas, ou não?

Quantos capitães do quadro não diziam isso?

Mesmo sem politiquices, não havia motivação possível.

Até chego a compreender a alergia de escritores como Lobo Antunes, àquelas terras e aos retornados.

Eu próprio e colegas que por profissão andavamos à anos por desertos, montes e vales, ficávamos putos quando ouviamos Salazar dizer com aquela voz afunilada: "As nossas colónias são muito invejadas".

Mas quem é quer esta merda? diziamos nós em coro.

Beja Santos poupa-me os miolos e dinheiro ao ler-nos estes livros.

antonio graça de abreu disse...

Meu caro Rosinha

Há uma semana atrás, comentando palavras tuas sobre a boa vida na Angola colonial, escrevia o Juvenal Amado

"Amigo Rosinha acredito no bem estar que se tinha em Angola e pelas saudades que ficaram a quem lá viveu, só depreendo que se vivia bem melhor lá do que cá."

Agora és tu a dizer:

"Eu próprio e colegas que por profissão andávamos há anos por desertos, montes e vales, ficávamos putos quando ouvíamos Salazar dizer com aquela voz afunilada: "As nossas colónias são muito invejadas".
Mas quem é quer esta merda? diziamos nós em coro."

Agora, meu caro Rosinha, é "esta merda"? Angola não é provavelmente o país mais rico de África? Não tenho ponta de simpatia pelo Salazar, mas o pequeno ditador até tinha razão.

Por ti, tenho todo o respeito, Rosinha, conheces Angola e creio que também a Guiné, melhor do que todos nós.

Quanto a mim, vou meter a viola no saco e deixar-me de comentários. Reconheço que por vezes fui um pouco excessivo no que disse, e muitas vezes não me entenderam. Somos todos plurais e diferentes.
Não faz mal, não quero incomodar ninguém. Tenho quinze livros publicados, quem eu sou está dentro desses livros. Se me quiserem conhecer melhor, eu estou lá.
Isto aqui são só desabafos, não é importante, embora frequentemente eu tenha tentado defender princípios e valores em que acredito e que fazem parte de mim.
Peço desculpa se alguma vez ofendi alguém, incluindo o MBSantos.
Estou de bem comigo próprio.

Um abraço a todos e os comentários do António Graça de Abreu acabaram neste blogue.

Toda a amizade do camarada de armas

António Graça de Abreu

Unknown disse...

Caro Luís Graça e restantes editores, responsáveis por este Blogue, se entenderem que devo ser excluido. Estão perfeitamente à vontade. Compreenderei porque é necessário manter o barco, que tanto trabalho vos deu a construir, à superficie.

Restantes amigos, cá temos o 'refugado' apuradinho e cheiroso.
Será que alguns escrevinhadores, não releem o texto como se fosse produzido por outrém ??.

Manifestas posições de hostilização e faccionismo frontal.
Não há boa vontade ou compreenção que suporte tanta raiva à liberdade de expressão,pensamento e opinião. Apetecia-me ir buscar frases do ditador salasar, caetano ou spinola p/ vos aconchegar as consciências.
Não há inteligencia mediana que suporte isto, que notóriamente, está a ser forjado fora do Blogue.

ps. repito que não conheço pessoalmente a esmagadora maioria dos membros do blogue.

Com os meus cumprimentos
Carlos Filipe
ex-ccs BCAÇ3872 Galomaro/71

Antº Rosinha disse...

Amigo Graça e Abreu, eu tive 20, 21, 22 e 30 anos, e nesse tempo sabia lá eu se havia russos, chineses, americanos que sabiam tanto como Salazar que aquelas terras eram do melhor que havia em África?

E só pensavam, como dizia Salazar, que qeriam "aquilo" para eles?

Salazar era Salazar e todos desconfiavamos, injustamente vejo hoje, daquilo que ele afirmava.

Hoje compreendo tanto isso, como sabia naquele tempo onde havia os melhores ambientes femininos em Luanda, Lobito ou Nova Lisboa.

Hoje até me pergunto se Salazar não sabia tão bem como eu como uma farra de quintal era uma maravilha em Angola.

Para mim. que andei anos e anos, de Abril a Novembro, com uma tenda de campanha às costas (das costas dos contratados que eu tratava "com peixe podre" segundo o poeta), sabia lá eu aquilo que Salazar já se tinha esquecido.

Eu, Graça e Abreu, só comecei a olhar para a política do Salazar e dos Russos e Cubanos e Kennedy, quando ingressei numa das minorias em Portugal: Não era preto nem cigano, fui retornado.

Como retornado vi-me obrigado a estudar para compreender o que fui e o que sou.

Mas continuo a estudar, e cada vez descubro coisas novas sobre nós.

Imagina o que descobri agora: Que os "cérebros " que agora estão a ir para Angola, são os netos daqueles que fomos para lá de "tamancos".

António, espero que não fiques muito desiludido por eu ler de vez em quando o candidato a Nobel, Lobo Antunes e Beja Santos.

Um abraço