quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9368: Documentos (13): Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte I)





Guiné > Chão Manjaco > Pelundo > 1973 > O Coronel Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74), comandando exercícios com fogos reais, no Pelundo, na zona oeste da Guiné.

Fotos: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, com data de 8 do corrente, enviada por Luís Gonçalves Vaz, que estava no 25 de  Abril de 1974 em Bissau, sendo filho do Cor Cav Coronel Henrique Gonçalves Vaz, então Chefe do Estado-Maior do CTIG:



 (...) Conforme prometi envio-vos mais um artigo sobre a "Situação Militar no Teatro de Operações da Guiné no ano de 1974". Limitei-me a adaptar e transcrever certos excertos de um Dossiê Secreto, que faz parte do arquivo do meu pai,   autenticado pelo Chefe da 2ª Repartição, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela. Leiam-no e vejam, dentro dos vosso critérios,  se tem interesse para publicação no Blogue. Acho que a classificação deste Dossiê, com o tempo deve ter sido "desclassificado", podendo ser publicado, não acham? (...)


2. Situação Militar no Teatro de Operações da Guiné no ano de 1974 > Parte I



Adaptação e transcrição de alguns Excertos do "Relatório da 2ª Repartição do QG do CTIG”, autenticado pelo Chefe da 2ª Repartição, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela.


A partir de Janeiro de de 1974, o PAIGC passava verdadeiramente à ofensiva, a qual se caracterizava pela definição de duas áreas de incidência de esforço, diametralmente opostas, uma no extremo Nordeste do Teatro de Operações onde desenvolvia a Operação “Abel Djassi” (pseudónimo de Amílcar Cabral) e a outra a sul, no Cubucaré, para o que inclusivamente tinha constituído um novo órgão coordenador das operações de guerrilha nesta Zona, o Comando Sul.

As ações foram desencadeadas, numa e noutra das Áreas referidas, com base em novas unidades, das FARP, e com largo emprego de Artilharia e Armas Pesadas, nomeadamente Morteiro 120 mm e Fog 122mm.

Foto (à direita): Nino e Cabral. Font6e: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Além destes meios,  os Mísseis SA-7 Strela eram frequentemente utilizados, o que limitava grandemente o apoio da Força Aérea às guarnições terrestres e, a 31 de Março de 1974, apareciam as viaturas blindadas,  em Bedanda (Cubucaré), o que confirmava o grande aumento de potencial, assim como a crescente capacidade táctica e sobretudo logística do PAIGC.


Nas restantes áreas do Teatro de Operações  da Guiné aumentava igualmente de modo significativo a atividade de guerrilha dispersa em superfície, com relevo para o emprego de engenhos explosivos e ações de terrorismo urbano que alastravam até à própria capital (Bissau). Como exemplo citam-se as 17 flagelações com armas pesadas a outros tantos Aquartelamentos ou Povoações, num único dia (20 de Janeiro de 1974, data do aniversário da morte de Amílcar Cabral), o rebentamento de engenhos explosivos num café de Bissau (26 de Fevereiro de 74) que provocou um morto e a sabotagem no próprio QG/CTIG (em 22 de Fevereiro de 74), onde parte do edifício principal foi destruído.




Foto (à esquerda): SA-7b Grail Strela.  
O SA-7b possuía um novo motor de propulsão e um novo sistema de identificação, o que lhe permitiu passar a aquisição de alvos de 3,6 km para 4,2 km, e aumentar a velocidade de 430 m/s para 500 m/s.

Fonte: http://www.armyrecognition.com/



No sul a ofensiva aí realizada permitia ao PAIGC o controlo efetivo de uma área de razoável superfície em que se inseria o “corredor” de Guileje, percorrido frequentemente por viaturas das FARP, e que confinava com outra vasta área abandonada pelas Nossas Tropas desde 1969 – o Boé.

Foto (à direita): Guiné, 1973 -  Guerrilheiros deslocando-se num carro blindado [, BRDM 2, de origem soviética] . Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



Em Abril de 1974, dado o “Esgotamento das Reservas” do Comando-Chefe, previa-se que o relançamento da Ofensiva no saliente Nordeste, orientava para sul, tornaria iminemte o abandono de Canquelifá  e o consequente isolamento de Buruntuma. Admitia-se ser intenção do PAIGC, unir a bolsa assim conquistada com a Região do Boé, por sua vez ligada à Zona onde se localizava o Corredor de Guileje, mais a sul, concretizando deste modo, uma ocupação territorial efetiva que carecia para reforçar a imagem do Estado da Guiné Bissau, parcialmente ocupado pelas Forças Armadas Portuguesas.


Foto (à esquerda) - Jacto Fiat G-91 da FAP, abatido por míssil Strela. Fonte:   Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



Nas áreas de incidência de esforços referidos, a situação era de tal modo grave - para a maioria das guarnições das Nossas Tropas, cujos sistemas de defesa não dispunham de “Obras de Fortificação”, que pudessem resistir com eficácia às novas armas pesadas do PAIGC, - que o Comandante Chefe alertava do facto o Estado Maior Geral das Forças Armadas, a 20 de Abril de 1974 (vésperas do Golpe Militar de 25 de Abril) por uma Nota que concluía nos seguintes termos:


“O facto de ter sido confirmada parte das notícias atrás mencionadas pela utilização de viaturas blindadas no ataque a Bedanad, confere certa verosimilhança às restantes notícias que referem a existência de Novas Armas Antiaéreas ou outras, pelo que aquela utilização e o conjunto de circunstâncias descritas na presente Nota, nomeadamente a análise das fotografias juntas, são motivo de grande preocupação para este Comando-Chefe, cumprindo-lhe assinalar as consequências que podem resultar da possível evolução do potencial de combate do PAIGC ou do seu eventual reforço com novos meios das Forças Armadas da Guiné, quer quanto à capacidade de resistência das Guarnições Militares que porventura sejam atacadas, quer às limitações de intervenção com meios à disposição do Comandante-Chefe, em especial meios aéreos. “


Após os resultados obtidos pela guerrilha a partir do início do ano, com ações maciças desencadeadas a nordeste do território e no Cubucaré, a Sul, que se traduziram no abandono de Copá pelas nossas tropas e no desequilíbrio das guarnições de Bedanda e Jemberem, o PAIGC tinha planeado e preparava-se para lançar nova ofensiva, no final da época seca de 1974 (Maio e Junho), a fim de explorar aqueles resultados.

Foto (à direita): Guiné, Bedanda, 1970: Resposta do Obus 14 a ataque de foguetes Katiusha, de 122 mm. Foto gentilmente cedida pelo Cor Cav na reforma Ayalla Botto (CCAÇ 6) ao Hugo Moura Ferreira. Fonte: BLogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



Logo que tomou conhecimento do Movimento das Forças Armadas (MFA), a 25 de Abril de 74, o Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) chegou a expedir ordens, no seguimento do que estava planeado, para que fossem desencadeadas ações com todos os meios disponíveis, com o objetivo evidente de tirar partido da situação em curso e explorar, de imediato, qualquer possível perturbação que admitiu pudesse existir no seio das nossas tropas.


No entanto a ofensiva planeada não chegou a concretizar-se e, inclusive,  a partir do início de Maio,  registou-se um nítido abaixamento da atividade de guerrilha.


Ao longo de todo o mês de Maio de 74 foi, de facto, notado um ligeiro aumento de atividade durante a segunda semana, seguido de novo decréscimo no final da mesma, o qual continuou posteriormente regular e constante.


A redução acentuada de atividade resultava de, em 21 de Maio, pouco antes do início da 1ª fase das conversações em Londres, o Secretariado do Governo do PAIGC ter difundido a seguinte ordem às FARP (documento com doze instruções):


(...) 11º) Devemos estar preparados para reagir violentamente contra todas as ações do Inimigo, 12º) Lembramos a todos os Militantes e combatentes que mais do que nunca é necessário estarmos vigilantes e que não podemos confraternizar com as Forças Inimigas enquanto não ficar claramente decidida a sua evacuação da Nossa Terra de acordo com os objetivos fundamentais da Luta que são: A Independência total e imediata do nosso Povo da Guiné e Cabo Verde. Estas decisões correspondem à situação Política e Militar do momento e devem ser estreitamente cumpridas. Saudações a todos os Camaradas. (...)

Apesar das determinações do SG [Secretariado Geral] do PAIGC, anteriormente descritas, não deixaram dúvidas sobre o adiamento das Operações de Guerrilha até nova ordem. Alguns grupos combatentes continuaram a ignorá-las durante vários dias, nomeadamente a Norte, na Região onde o corredor de Lamel intercepta o Itinerário Farim-Jumbembem, e no Sul, no Sector do Cubucaré.

Por outro lado o comando das FARP continuou a expedir ordens para o planeamento e preparação, até ao fim de Maio (de 1974), de diversas operações, em especial na Zona Sul, as quais seriam desencadeadas se o andamento ou o resultado das conversações de Londres (de 25 a 31 e Maio) não fossem aceitáveis.

Adaptado por: Luís Gonçalves Vaz  (Tabanqueiro 530)

(Continua)

18 comentários:

Unknown disse...

Caro Luís Gonçalves, sem desprimor por trabalhos teus, já aqui publicados na 'Tabanca', desejo tão somente agradecer-te (talvêz também por outros amigos)ter-nos achado merecedores deste teu post.
Obrigado.

Carlos Filipe
ex-CCS BCAÇ3872 Galomaro/71

Anónimo disse...

Que agradecido que o Camarada Carlos Filipe ficou com este post!.

Ora, do mesmo, aquilo que alcanço, é o relato de meras previsões elaboradas por quem estava em Bissau, nas Reps., pois sempre tinham que ir fazendo alguma coisa, no mínimo, movimentando e fazendo circular papéis de um lado para o outro.

De facto e na verdade, no terreno as coisas não se passavam em conformidade com as aludidas previsões que, naturalmente, eram efectuadas com fundamento naquilo que se ia ouvindo dizer, bem como no que era "contado" ou relatado por alguns elementos do IN que iam sendo detidos na mata e posteriormente levados para Bissau.

E o que é que a maior parte desses elementos conheciam em concreto ?, nada.

Daqui se verifica, que a propaganda não era descurada nem era palavra vã para os lados do paigc. Nada mais.

Joaquim Sabido - em Jemberém em 74
Évora

Anónimo disse...

Só vou falar do que vivi no terreno e com factos concretos e sem especulações.
Sobre Copá, onde se encontrava um conterrâneo meu e que foi ferido,foi inqualificável a irresponsabilidade do comando de sector, colocar apenas um pelotão sem quase meios de defesa junto à fronteira.
Jemberém, deixo ao critério do camarada Jaquim Sabido, comentar, apenas digo que fizemos fogo de artilharia de Gadamael para o perímetro de Jemberém, o que surpreendeu, digo eu, o paigc.
Bedanda foi atacada com viaturas blindadas, mas sem grande éxito,diga-se.Mais uma vez uma estratégia imcompreensível dos altos comandos, visto que entre Gadamael e Mampatá-Quebo não havia qualquer aquartelamento, o que tornava fácil a infiltração até Bedanda.
Gadamael e aqui falo com conhecimento de causa.
Se tentassem o ataque directo, nem com 3 mil homens lá entravam e seria uma carnificina de parte a parte.Tínhamos material de guerra em quantidades astronómicas.Granadas de obus tinhamos à volta de 10 mil em stok, e em cada espaldão em média 300 e prontas a disparar, isto é, já com espoleta colocada.
Quando éramos flagelados era sempre ou quase sempre do território da Guiné-Conakry.
Foram mobilizados muitos graduados de artilharia de costa para serem reconvertidos em artilheiros de campanha.
Desde de janeiro até abril entregaram-se vários guerrilheiros.
Quando das conversações para o cessar fogo,vários altos quadros do paigc me confessaram que estavam exaustos de tantos anos de guerra.
Quase metade dos efectivos, na principal base no sul, junto a Kandiafara, tinham gonorreia, isso mesmo "esquentamentos".
Para mim em termos políticos a guerra já estava perdida antes de ter começado,agora afirmar que estávamos a beira de um colapso militar em 74 vai uma grande distância.
A propaganda, mas que era apenas e só propaganda, faz parte de qualquer guerra.
Com todo o respeito pela opinião de cada um, eu falo de factos, EU ESTAVA LÁ.
Termino dizendo que "ainda bem que acabou daquela forma",porque se não tivesse sido assim ,não sei se ainda estaria no mundo dos vivos.

Um alfa bravo para todos

Um artilheiro de Gadamael

C.Martins

Luís Gonçalves Vaz disse...

Meu caro Joaquim Sabido.

Com todo o respeito por quem esteve na linha da frente a combater, devo dizer-lhe que estes relatórios serão importantes, no sentido de que "de uma forma organizada e sistematizada" fundamentarão a reconstituição de uma história, de que o Senhor fez parte! isso não é importante? Por exemplo, o meu caro Joaquim Sabido, diz que esteve no ano de 1974 em Jemberém! correcto? Agora eu vou-lhe dizer que com os elementos deste "Relatório" eu até lhe posso adiantar que o Joaquim Sabido (se estava lá em Maio de 74) teve em Maio um cerco quase constante com uma grande concentração de forças do PAIGC, foram sete fortes Bombardeamentos, posso-lhe até dizer os dias em que foram atacados e tudo mais !!! O Comando-Chefe mandou retirar as nossas forças para Cacine!!! Será que estas informações não terão interesse?, eu acho que é um Relatório com muita importância! e antes de me despedir, vou-lhe dizer os dias em que fortes contigentes do PAIGC atacaram Jemberém, a saber: nos dias 1,2,6,9,13,24 e 27 de Maio, mais uma emboscada ao Regimento de Jemberém no dia 6 de Maio de 1974....... São estes relatórios que possibilitarão que os vossos descendentes possam ler nos "futuros manuais de História", aquilo que todos os ex-combatentes passaram, e hoje fico por aqui.

Aceite um abraço meu

Luís Gonçalves Vaz

Anónimo disse...

Caro Luís Vaz

Com o respeito pela memória de seu Pai, que conheci vagamente, mas que me pareceu uma pessoa com honor, e sem por em causa o que ele escreveu,quero confessar-lhe, que os que estávamos no terreno tínhamos uma visão muito distinta de quem estava nas reps do QG.
Primeiro, os relatórios enviados nem sempre diziam toda a verdade e às vezes até eram completamente adulterados.
Não quero, apesar de todos estes anos já passados, parecer um delator.Quem, como eu, estava no terreno compreende perfeitamente o que quero dizer.
Quando afirma que o COM-CHEFE ordenou a retirada de Jemberém para Cacine, deve certamente estar confundido, porque isso foi feito após as conversações com o paigc e e na retracção programada das NT.
Em gadamael, a retracção para Cacine e Bissau foi feita como estava programada e em boa ordem e segundo as normas militares.
Posso dizer-lhe que aceitamos o cessar fogo com o paigc sem sequer consultar o QG,quanto mais pedir autorização. Eu, por exemplo, fui à Guiné-Conakry apenas com o consentimento do Comandante Heitor Patrício.
Podia continuar, mas só quero reafirmar que aquilo que se passava no terreno passava completamente ao lado de quem estava no QG.
Termino com um facto verídico e caricato.
Um dia um alferes de um pelart de obus 14 perdeu uma peça em aço da culatra chamada "cogumelo", e pediu-me se eu lhe podia enviar um.
Claro que lhe enviei um que tinha em stok, e justifiquei a falta com uma flagelação em Gadamael durante a qual o dito foi destruído.
Ninguém em Bissau levantou qualquer dúvida,por ignorância ou até porque nem sequer leram o relatório..assim ía a nossa guerra.
Que fique bem claro que não estou a por em causa os escritos do seu Pai,apenas e só pretendo esclarecê-lo.
Nem tudo o que parece é..e então na guerra quase nunca é.

Um abraço

C.Martins

Anónimo disse...

Estou com insónias
Trabalhei até à meia-noite
Deixem-me desabafar.
Um dia 3 da matina,sugestionado por um sentinela que ouvia viaturas para o lado Sangonhá, também eu comecei a ouvir viaturas.
Começa o "fogachal" séries de 5 tiros de obus,acordei certamente tudo o que era aquartelamento na zona do Cantanhez.As minhas desculpas retroactivas para todos.
Após ter feito mais de 60 tiros, um furriel pergunta-me se estava a fazer batimento de zona...que não..era por causa das viaturas e os gajos estavam a gozar comigo, nem sequer paravam as viaturas.
Ah.. este barulho..é a maré a vazar.
Estava farto de ouvir aquele barulho, mas sugestionado pelo sentinela nem pensei em tal coisa..
Este acontecimento não chegou ao conhecimento dos altos comandos em Bissau..este e tantos outros.
Nos "entretantos" pelas ondas do éter choviam perguntas de preocupação dos aquartelamentos vizinhos.
Foi um batimento de zona devido a terem sido detectadas viaturas em andamento...qual maré a vazar qual carapuça.
Aqui confesso a minha "nabice"
..as minhas desculpas para todos aqueles que descansavam no regaço de Morfeu.
Apetecia-me dar um tiro de obus..calma..calma..é só um processo de intenção..nada mais.

C.Martins

Unknown disse...

Caros Amigos
Um dia em meados de 72, Spinola aterra em Galomaro.
Depois da recepção na pista, dirige-se para as instalações dos oficiais, onde esteve em reunião, concerteza.
Após meia hora (não me recordo exactamente) atravessa a parada e dirigiu-se à sala de Cripto.
No primeiro caso, pude circular quer pelas trazeiras, quer pela frente das instalações, sem nenhum constrangimento.
No segundo caso, a porta dos criptos ficava dez metros o máximo de distância em frente à porta do meu abrigo.
O que é facto é que fui proibido de permanecer do lado daquela porta.
Pergunta. Onde se desenrolou o acto mais importante daquela visita ???
Isto para exemplificar que o facto de estar-mos aqui ou ali, naquele dia, depois ou antes, pode não nos dar resposta real.
Ou ainda o facto(s) de ter ido aqui ou ali, ter disparado ou não sob ordens, pode não significar a decisão interna local. Quantas mensagens circularam dos STMs e CRIPTOs para os oficiais e em sentido inverso, e nós nem nos apercebemos ?? Quantas vezes sairam em operações fora da rotina supostamente em resposta a um acontecimento, e esse acontecimento era destinto, em outras latitudes e caracteristicas diferentes. Tudo isto sem se aperceberem. Por isso o estatuto ''eu estive lá'' não é suficiente para o conhecimento objectivo das causas efeitos.
Além do mais quantos de nós estavam objectivamente interessados em compreender exactamente o funcioamento da máquina ??

Joaquim Sabido, a quantos posts, já ficou agradecido e esfusiante ???

Um abraço para todos e cada um.

Carlos Filipe
ex-CCS BCAÇ3872 Galomaro/71

Luís Gonçalves Vaz disse...

Meu caro C Martins:
Antes de mais, agradeço a sua frontalidade, bem como registei com agrado a sua referência ao meu falecido pai! No entanto eu não estou confundido, apenas adaptei/transcrevi algumas passagens do "Relatório da 2ª Repartição do QG do CTIG”, autenticado pelo Chefe da 2ª Repartição, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela.
Como tal, que fique aqui bem registado, que estes relatos, NÃO SÃO ESCRITOS PESSOAIS do meu falecido pai, coronel do CEM Henrique Gonçalves Vaz, esses já foram publicados noutro poste. Por outro lado, não duvido nada do que me diz, nomeadamente que por vezes os Relatórios poderão não interpretar a 100% a Realidade, mas no conjunto, "Uma ideia da realidade" do que passou deve dar! Quanto a "Jemberém", o Relatório relata os ataques referidos (Falamos de ataques pós 25 de Abril) e diz que retiramos antes da data prevista! e que os aquartelamentos não foram ocupados pelo PAIGC, antes das datas previstas, ........ logo continuo, ok?
Abraço
Luis Vaz

Anónimo disse...

Camarigo Luís Vaz;

Confirmo que do post entendi perfeitamente que os documentos não pertenciam ao acervo de apontamentos ou documentos elaborados pelo Sr. seu Pai, mas que eram da lavra dos Srs. Oficiais da 2ª Rep., e autenticados pelo então Sr. Major Capela.

Confirmo, igualmente, que me encontrava em Jemberém nas datas referidas no teu comentário supra. Todavia, apesar de continuarmos a embrulhar não houve dia nenhum em que não saísse do aquartelamento/buraco, pelo menos, um pelotão, ou grupo de combate, como queiram, no sentido de nunca baixarmos a guarda, ora a bater a estrada de Cadique (até ao 1º pontão), sempre pelo interior da mata, pois a estrada encontrava-se fortemente minada, ora para outras zonas.

Em Maio de 74, quando com o meu grupo detivemos dois elementos do paigc que se encontravam na interior da mata, com o auxílio de um tradutor, conseguimos saber, antes de os levar a Cacine para seguirem até Bissau, para onde foram transportados de helicóptero, que afinal, eles se encontravam exauridos e quase de rastos. Isto confirma aquilo que o Camarigo C. Martins refere no seu comentário relativo à situação que tinha e vivia em Gadamael.
Situações de que ele e eu tivemos oportunidade de conversar em Junho passado em Monte Real. Sendo certo que ele nos ajudou com os 14 de Gadamael, sob orientação do Alf. Mil. Artilheiro dos 10,5, que connosco estava em Jemberém, conforme ele bem descreve.

No entanto, sempre que conversei com Camaradas que por lá estiveram antes de nós, pelo que me relataram de outros tempos e de outros embrulhanços, eu considerava-me um felizardo. Daí que não consiga alcançar a propalada mas afinal somente prevista, porque não se verificou nem verificava, eminente ofensiva em tão larga escala.

Já aqui disse, ter-mos sido, de facto, os primeiros a sair do buraco, se foi antes da data prevista por Bissau ou não, não sei. Certo é que, antes de sairmos, armadilhámos o aquartelamento e com ele rebentámos, não tendo ficado nada em pé. Podem chamar a isto orgulho balofo, pateta, o que quiserem. Era assim que entendia e continuo a entender, sendo certo que nada, mas mesmo nada, me move contra os elementos combatentes que integravam o paigc de então, mas daí até andar aos abraços e a confraternizar com eles, vai uma enorme distância.

Quando o Camarigo Luís Vaz colocar um outro post, relatarei uma situação que vivi, por via de uma ordem directa dada pelo Sr. seu Pai.

Aceitem o Abraço Camarigo, do
Joaquim Sabido
Évora

Luís Gonçalves Vaz disse...

Caro camarigo Joaquim Sabido:

Já percebeu que, o que me move dar estas informações neste "canal", é simplesmente contribuir para uma História, construída com "verdades", com factos, que vos honrem enquanto protagonistas de uma guerra que vos impuseram na flor da idade, bem como honrar a memória dos que morreram em combate.... daí lhe agradecer todas as "rectificações" que o camarigo Joaquim Sabido aqui postou, com toda a credibilidade que lhe reconheço. Como tal só lhe posso agradecer o seu contributo. Quanto à desactivação de Jemberém, o Relatório, fonte das minhas informações, indica que foi a 4 de Junho, um mês antes, fora do âmbito do Plano aprovado posteriormente (?), devido aos fortes ataques sofridos durante todo mês de Maio de 74, que provocaram estragos irrecuperáveis (sic). diz ainda que o PAIGC não o ocupou antes antes da data do acordo de Cacine, 29 de Julho de 74. Estes dados são verdadeiros? Já agora gostava de saber? Quanto à sua história, que envolve ordens directas do meu pai, ficarei ansiosamente à espera dela, como tal, brevemente irei postar mais um artigo sobre a "Retracção do nosso Dispositivo Militar", no TO da Guiné. Hoje fico por aqui.

Um abraço

Luís Gonçalves Vaz
(Tabanqueiro 530)

Anónimo disse...

Caro Luís Vaz

Em primeiro lugar este relatório, segundo me foi dado perceber, foi feito em data muito posterior aos acontecimentos relatados, daí as contradições e até datas incorrectas.
Quando descritas as datas dos ataques a Jemberém, estes, posso garantir de forma contundente e absoluta que não foram feitos em Maio mas sim em Abril.
Recordo-me perfeitamente que o primeiro contacto em Gadamael com elementos do paigc, e por inicitiva destes, foi foi feito em 27 de Abril e o segundo a 29 e estando estes em Gadamael é feito um ataque a Jemberém, para surpresa nossa e consternação, que me pareceu sincera, deles, confrontados com a situação desculparam-se dizendo que tinham dificuldade nos contactos entre eles.Posteriormente vim a saber que o comissário político do bigrupo desobedeceu às ordens e foi fuzilado, segundo informações deles.
Em maio NÃO HOUVE qualquer ataque em todo o sector do cop 5.
Na segunda semana de maio fui à Guiné-Conakry, a convite dos elementos do paigc e se tivesse havido algum ataque e segundo o relatório foram quase diárias, jamais teria ído e como é evidente não seria só por uma questão de segurança.
Na primeira semana de Maio deslocaram-se a Gadamael alguns elementos do MFA em heli. acompanhado por um heli-canhão que sobrevoou durante todo o tempo da estadia,cerca de uma hora, o aquartelamento, tendo sempre apontada a metralhadora não para a mata em redor, o que seria normal, mas para o interior do aquartelamento, contra o qual me insurgi e ao perguntar a um major de quem é que tinham medo este apenas esboçou um sorriso cínico.
O primeiro aquartelamento na zona sul a fazer a retracção foi Gadamael nos primeiros dias de junho, tendo-se feito de forma faseada, e quem saíu primeiro foi o meu pelart e a ccaç 20.
Como vê caro Luís nem sempre o que parece é.
A única coisa que me falha serão apenas datas precisas, mas não a sequência dos acontecimentos.
Cada um que tire as conclusões que quiser.

Um abraço

C.Martins

Anónimo disse...

PS
Só mais um esclarecimento.
O paigc tinha previsto um incremento das acções militares para maio e junho !!!!!
Boa, logo no inicio da época das chuvas, mas que grande estratégia.

C.Martins

Anónimo disse...

PS

Volto à carga que não de cavalaria.
Se o paigc tivesse a veleidade de cercar Jembarém, como é suposto no relatório, com o camarada do pelart 10,5 de Jambarém a orientar-me o tiro, garanto, e sem qualquer ponta de basófia, que era tiro ao alvo.
O grande problema da artilharia é na chamada contra-bateria sem rectificação de tiro, mas quando este é feito por quem sabe é uma autêntica carnificina.
Neste caso existiam as condições ideais, eu a fazer tiro e o camarada de jambarém a rectificar.
Saberiam os elementos do paigc do alcance do obus 14 ?
E as cabeças pensantes da rep em Bissau?
Algum era de artilharia ?

C.Martins

Anónimo disse...

Caro Camarigo C. Martins;

Com o devido respeito e amizade, além do mais porque, após a longa conversa que mantivemos no último encontro do Blog, em Monte Real, no dia seguinte, após os vapores dos bebes desse dia se terem evaporado, remexi em algum dos poucos neurónios que vão teimando em se manter activos e recordei-me perfeitamente de ti, de termos estado juntos e à conversa quer no bar quer no refeitório,pois como em Monte Real te disse, estive uns cinco ou seis dias em Gadamael, para onde o Sr. Com. Patrício e sus muchachos me transportaram depois de me terem encontrado em Cacine, onde eu com dois camaradas tínhamos ido numa daquelas banheiras com um motor atrás, para trazer o correio, que já não chegava a Jemberém havia quase um mês.
Então, como já era quase noite, ele não nos deixou regressar sózinhos a Jemberém e levou-nos para Gadamael. Eu, nessa época, trajava quase sempre à civil: T-Shirt, calças de ganga e uns ténis da Sanjo, daí que, o Sr. Cap. Imaginário, quando eu estava no bar de oficiais, me tivesse dado ordem de saída, pois estava no bar errado, lá lhe expliquei então que era Alfa Lima Foxstrot, Mil.

Mas como digo no início, com respeito e amizade, há que dizer e garanto que fomos atacados até não sei já que dia do mês de Maio de 74mas importa dizer que sempre respondemos à altura, isto na minha modesta opinião, como é óbvio. Se bem me lembro, no decurso do mês de Maio, ainda embrulhámos pelo menos umas seis vezes. Inclusivamente, até já não nos queriam deixar abastecer de água no poço comum, onde nós íamos pela manhã e eles ao final da tarde. Até aí atacaram a secção que num desses dias tinha sido incumbida de providenciar pela água.
Tivemos que montar um dispositivo e umas manobras, para de lá trazermos as viaturas com os bidons do precioso líquido e calhou-me a mim e a outros camaradas procedermos ao resgate do material entretanto lá deixado.

Abraço Camarigo, do
Joaquim Sabido
Évora

Anónimo disse...

Caro camarada Joaquim Sabido

Como referi em comentário anterior, quando fui à Guiné-Conakry, na segunda semana de Maio,não houve mais qualquer ataque no nosso sector --cop 5., tenho a certeza absoluta,quando te referes a esses ataques terão sido nos últimos dias de Abril e talvez nos primeiros dias de Maio.
Sobre a tua estadia em Gadamael confesso que não me lembro, e sobre a cena caricata na pseudo-messe esta era comum a oficiais e sargentos,cá em baixo onde estavam as ccaçs, e lá em cima na ccav é que era individualizada, mas quem te mandou andares à civil no meio da guerra..."ganda maluco".


UM GRANDE ALFA BRAVO

C.Martins

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... citando:
- «A 3ª Comp. [3ª/BArt6520/73-RAL5, que em 04Abr74 havia desembarcado em Bissalanca e em meados de Mai74 rendeu a 3ª/BCac4514/72 em Jemberém], [...] em 02 e 03Jun74, na sequência de fortes e frequentes ataques e flagelações ao aquartelamento, foi evacuada para Cacine, vindo a ser desactivada por despacho de 07Jun74, do CTIG, por insubordinação do aquartelamento de Jemberém.»
Isto, consta a pp.247 do tomo II do 7ºvol. da "Resenha (...)", editado em 2002 pelo EME.
Acaso não traduza os factos ocorridos, talvez o ex-alferes milº Joaquim Sabido nos possa elucidar.
Cpts,
Abreu dos Santos

Anónimo disse...

Palavra de honra que começo a ficar meio maluco de tanta confusão nas informações aqui expressas.
Insubordinação do aquartelamento de Jembarém devido a frequentes ataques em junho ???
Caro camarada Abreu dos Santos, provavelmente esse relatório também foi feito em 75.
Nunca ouvi falar de tal acontecimento.
Não sei precisar o dia, mas na segunda semana de Maio acompanhei Pedro Pires e outros altos dirigentes a Cacine onde decorreram conversações sobre o cessar fogo e retracção das NT.
Repito, se houve algum ataque a jambarém foi nos primeiros dias de Maio.
Eu ainda não estou senil e recordo-me muito bem.
Nos primeiros dias de junho iniciou-se a retracção em gadamael.
Começo seriamente a pensar que alguém aldrabou completamente os acontecimentos.

C.Martins

Norberto Gonçalves Pereira disse...

Fiz parte da 3ª Compª do Bat.6520/73/RAL5/CTG, que esteve em Jemberém, que abandonamos em 3/4 de Jun74, por força de ameaças de ataque ao arame por parte do PAIGC, sendo feita a retirada para cacine. A retirada foi apoiada pela Marinha Portuguesa, visto o exército recusar-se a fazê-lo.Eu era furriel na altura e posso partilhar alguns factos passados com autêntica veracidade. Um abraço e espero notícias de colegas, especialmente do Alferes Marcelino, julgo chamar-se assim.