sexta-feira, 4 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9851: Notas de leitura (357): As grandes Operações da Guerra Colonial (2), edição do "Correio da Manhã" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 26 de Março de 2012:

Queridos amigos,
Era de exigir mais e melhor a estes textos apresentados como “As Grandes Operações da Guerra Colonial”.
Há dados que não batem certo, há topónimos ilegíveis, há explicações bem duvidosas para factos naturalmente complexos. E teme-se mesmo que o leitor se sinta desorientado com a informação avulsa que acompanha algumas destas brochuras.
Um abraço do
Mário


As grandes operações da guerra colonial (2), edição do Correio da Manhã

Beja Santos

Da série “As grandes operações da guerra colonial”, com textos de Manuel Catarino, foram publicadas 16 brochuras que eram distribuídas num encarte com os diferentes volumes de “Os Anos da Guerra”, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, edição do Correio da Manhã. A maior parte das brochuras tem a ver com a Guiné. Em texto anterior, aqui se referiu a operação “Tridente”, as operações “Grifo” e “Ciclone II” em que os Paraquedistas passaram por Guileje com infortúnios e também colhendo sucesso; depois aparecem os Paraquedistas na operação “Vulcano” em que não conseguiram progredir na zona de Cassebeche sem o apoio do fogo aéreo; referiu-se a captura do capitão Peralta numa operação conduzida pelos Paraquedistas da Companhia 122, a operação “Jove”. Ainda desta 4ª brochura importa agora referir a operação “Grande Empresa”, um esforço de fixar no Cantanhez tropas, a partir dos finais de 1972.

Tudo começaria pela destruição de importantes posições da guerrilha, conquistando a população que seria retirada do controlo do PAIGC. Escreve Manuel Catarino: “A gigantesca operação foi desencadeada por duas companhias operacionais do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 12, então comandado pelo Tenente-Coronel Sílvio Araújo e Sá, e pelo Destacamento de Fuzileiros Especiais 1 – que, numa primeira fase, ocuparam pontos estratégicos do Cantanhez, na margem sul do rio Cumbijã, e permitiram o desembarque e a instalação em segurança da CCAÇ 4541, da CCAÇ 4540 e da CCAV 8352. A ambiciosa ação militar, cujo planeamento foi atribuído à Secção de Informações e Operações do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 12, chefiada pelo Major Moura Calheiros, teve início no dia 12 de Dezembro”.

A primeira posição inimiga que se pretendeu neutralizar situava-se entre Guileje e Bedanda, era imperioso destruir esta base de guerrilha. Na manhã de 12 de Dezembro, os Páras da Companhia 122 atacam a base, ataque que foi precedido de bombardeamento aéreo. A primeira tentativa de assalto foi rechaçada. A força atacante ensaia um segundo assalto, novo insucesso. Então, o Comando da operação envia de Cufar mais 5 helicópteros. O Capitão Valente dos Santos, ferido, tem um comportamento heroico, apesar da gravidade do ferimento não quis ser transportado para a base. É agora o Capitão Terras Marques quem comanda a operação, encaminham-se para o objetivo apoiados por mais bombardeamentos aéreos. No termo da manhã, a base caiu finalmente. A “Grande Empresa” conheceu a segunda fase com a ocupação de Caboxanque, Cadique e Cafine, na margem sul do rio Cumbijã, por Paraquedistas e Fuzileiros Especiais. Dezenas de Paraquedistas ocupam Caboxanque, outros tantos tomam posição em Cadique e duas lanchas sobem o rio Cumbijã com o Destacamento de Fuzileiros Especiais 1, que ocupa as bolanhas de Cafine. Ocupadas as posições na margem do rio as Companhias de Infantaria e Cavalaria sobem o Cumbijã em lanchas da Armada. Depois de algumas peripécias (o desembarque da CCAÇ 4540, em Cadique atrasou-se, houve camiões que ficaram atolados).

Seguiu-se o esforço de conquistar a população. E o inimigo reagiu, passou a flagelar os aquartelamentos que começavam a erguer-se em Caboxanque, Cadique e Cafine. A população do Cantanhez começou a colaborar com a tropa portuguesa: “Dirigentes locais do PAIGC, chefes das milícias e guerrilheiros foram presos ou abatidos. As informações recolhidas em tabancas permitiram cercar o comissário político do PAIGC na região: morreu em 29 de Dezembro, de arma na mão. O comandante militar da guerrilha no Cantanhez foi feito prisioneiro e o guerrilheiro que o substituiu foi morto em combate (…) Mas, menos de um ano depois, com a retirada dos Paraquedistas que tiveram de ir acudir a Guileje e a Guidage, a região deixou outra vez de ser nossa”.

A undécima brochura refere-se ao ataque a Conacri, a operação “Mar Verde”.
O seu conteúdo é sobejamente conhecido de todos. Já foi anteriormente referido que a organização dos textos é de uma disciplina duvidosa, neste, totalmente a despropósito, fala-se do acidente em que perderam vida três deputados, em Julho de 1970. Igualmente as conclusões do autor sobre a operação “Mar Verde” são muito duvidosas: a PIDE é o bode expiatório. Diz-se que: “As forças de assalto desembarcaram em Conacri – mas não encontraram nesses locais aquilo que a PIDE lhes garantira que iriam encontrar. As informações não eram exatas”. Como se sabe, muitas coisas correram ao contrário, muito do que falhou nada teve a ver com as informações da PIDE.

Quanto à 13ª brochura, o conteúdo prende-se com a viagem secreta de Spínola ao Senegal.
O texto começa com o encontro de Salazar com Spínola, em Abril de 1968 e a sua indigitação para governador, à mistura fala-se de Portugal e o Futuro, aflora-se a atividade inicial de Spínola, fala-se a seguir das operações no Chão Manjaco para negociar a incorporação de forças de PAIGC no Exército Português, é sabido como tudo redundou em bárbaro massacre. O autor dá a seguinte explicação: “O assassínio dos negociadores portugueses só se explica por uma ordem vinda da direção do PAIGC, já então minada por desconfianças entre fações. A cúpula política do partido, na altura instalada na cidade senegalesa de Dakar, soube da traição em marcha – e, perante o risco da rendição vir a ser seguida por outros chefes da guerrilha, agiu com brutalidade. Dirigentes intermédios do partido, como M´Bana Cabra e Júlio Biague, foram enviados ao Chão Manjaco e confrontaram os comandantes locais – que acabaram por colaborar na chacina dos negociadores portugueses e dos seus guias para se limparem da traição. André Gomes, o interlocutor privilegiado dos Majores, continuou comandante do Chão Manjaco. Após os massacres, a guerrilha continuou adormecido no Noroeste da Guiné”. Permanece o mistério sobre as razões efetivas desde bárbaro massacre, como se sabe.

É conhecido o teor das conversações entre Senghor e Spínola e o veto de Marcelo Caetano à continuação de novos encontros, é-lhe indiferente um cessar-fogo por um período de transição de 10 anos e um sufrágio no território para se saber se a população quer a independência total ou a integração numa federação. E vem aí o argumento de que era preferível uma derrota militar com honra a um acordo negociado com terroristas.

Nunca mais as relações se irão recompor. Recorde-se que Luís Cabral em “Crónica da Libertação” desmente categoricamente que Amílcar Cabral alguma vez tenha sustentado as teses de Leopoldo Senghor ou lhe tenha pedido para ser intermediário em negociações. A ser verdade, as expetativas postas nestas conversações foram muito mais voláteis do que consta nas exposições de Spínola a Caetano.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9835: Notas de leitura (356): As grandes Operações da Guerra Colonial, edição do "Correio da Manhã" (Mário Beja Santos)

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu tenho a coleção completa, terei muito gosto em emprestar os exemplares citados.
Quanto às imprecisões estou de acordo, eu próprio denunciei algumas.
Vejamos:
Muitos inquiridos foram-no passados muitos anos, uma coluna com oitenta ou cem homens em bicha pode ter muita distância, houve acontecimentos que se passaram à frente, no meio ou atrás que muitos não foram protagonistas e referem-se ao "ouvi dizer" outros vestem a pele de protagonistas.
Todos os que estiveram no terreno, com maior ou menor participação, merecem a minha admiração e quero realçar o papel dos maqueiros/enfermeiros, que debaixo de fogo eram chamados à frente ou à rectaguarda para socorrer os camaradas feridos, com desprezo pela sua própria vida.
Um AB
A. Dâmaso

Manuel Peredo disse...

A narração dos acontecimentos do dia 12 de Dezembro no Cantanhês não corresponde ao que realmente se passou.O capitão Valente dos Santos nesse dia fazia parte do meu pelotão e quando foi ferido foi logo evacuado juntamente com mais três ou quatro feridos,entre os quais estavam o enfermeiro e o operador de rádio.Veio então outro pelotão em reforço comandado pelo alferes Danif e voltámos ao local onde tínhamos sido atacados,por sinal era a minha secção que ia á frente.Encontrámos várias granadas e munições e quando estávamos a distribuir o material capturado pelo pessoal,sofremos novo ataque que nos causou um ferido grave.Esse ferido era o furriel Aníbal Martins que veio a falecer três dias depois no hospital militar de Bissau:éramos muito amigos e em Bissalanca dormíamos no mesmo quarto.Eu não vi nenhuma base inimiga de que tanto se fala nem o Capitão Terras Marques fez parte do nosso grupo.Quem escreveu nos jornais devia tentar informar-se junto de quem viveu estes acontecimentos.

Anónimo disse...

"A luz é evitada por escaravelhos, ladrões e ignorantes".

"A ignorância é geralmente a irmã da maldade".

"A ignorância não tem dúvidas"

Alguns canalhas mentem e interpretam descaradamente demonstrando assim a sua necessidade visceral de tecerem loas ao inimigo.

Alguns covardes fazem da mentira o seu modo de vida...

Que a terra lhes seja pesada!!!

Cumprimentos,
Constantino Costa

antonio graca de abreu disse...

Leio subscrito pelo inefavel cronista de guerra e aceite, sem pestanejar, nem tergiversar, pelo sabio Mario Beja Santos


ªmenos de um ano depois, com a retirada dos Paraquedistas que tiveram de ir acudir a Guileje e a Guidage, a região, o Cantanhez,deixou outra vez de ser nossa”.

Como todos sabemos, os paraquedistas nao foram acudir a Guileje, como todos sabemos, os aquartelamentos portugueses e da tropa africana no Cantanhez mantiveram se. Cobumba, Chugue, Bedanda, Caboxanque, Cadique, Cafal, Cabedu, Jemberem. Nenhum foi abandonado. Com dificuldades, muitas, claro, mas aquilo era mesmo uma guerra ou seriam uns soldados acampados, picnicando pelas terras do sul.
Abraco,

Antonio Graca de Abreu