terça-feira, 22 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9934: Efemérides (90): Guidaje foi há 39 anos: reconstituindo a 5ª coluna, de 22 e 23 de maio de 1973 (Victor Tavares e † Daniel Matos)

A 5ª coluna,  a caminho de Guidaje>  Operação Mamute Doido, com os páras da CCP 121 > 23 de Maio de 1973 [fusão de dois postes]

por Victor Tavares (*) 
e † Daniel Matos (**)


1A. Victor Tavares [, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121/ BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74). foto à direita]:

No início do mês de maio de 1973, as forças do PAIGC intensificaram os ataques aos destacamentos de fronteira, mais concretamente Guidaje, a norte, e Guileje, a sul. Em Guidaje a pressão das forças IN começou com ataques ao aquartelamento e depois às colunas de reabastecimento no período 7 a 30 de Maio de 1973. Nesse período realizaram-se seis colunas. Apenas a terceira conseguiu alcançar o objectivo sem problemas.

E porque fiz parte da quinta coluna (***), gostaria de dar algumas ideias do que passei na mesma aos tertulianos interessados na guerra de Guidaje.


Para começar quero dizer-vos que já li que os efectivos da CCP 121 que participaram nessa coluna eram na ordem de 160, quando na verdade seríamos pouco mais de metade. Mas avançando para o desenvolvimento, mais concreto, do deslocamento entre Binta e Guidaje, de má memória para os paraquedistas da 121, nesse dia fatídico para as nossas tropas recebemos a informação de que íamos fazer protecção a uma coluna auto que ia para Guidaje, e que regressaríamos de imediato, até porque não nos fora distribuída alimentação.


1B. Daniel Matos [1950-2011, ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74, foto à esquerda] ...


[Em 22 de maio de 1973,] do quartel de Binta, sensivelmente à mesma hora (sete e trinta) em que saíramos de Guidaje, avançara também nova coluna logística, com a missão de evacuar o pessoal, sobretudo os feridos. A CCP 121 faria protecção a oeste da estrada, cabendo a um destacamento misto de fuzileiros (42 homens dos DFE n.º 1 e n.º 4, comandados pelo primeiro-tenente Albano Alves de Jesus) a protecção a leste. Os picadores seriam de um grupo de combate da CCaç 14 (guarnição de Farim), participando também um grupo reduzido de elementos da CCaç 3. Um dos elementos, – o furriel miliciano Arnaldo Marques Bento, – deste grupo comandado pelo alferes Gomes Rebelo, acciona uma mina antipessoal, reforçada com outra, anticarro, e tem morte imediata. Também um picador – o soldado Lassana Calisa, – morre alguns metros adiante e a mesma mina provoca dois feridos graves. 


Ainda um outro engenho viria a ferir gravemente outro homem. Cerca do meio dia, um grupo de combate saiu de Genicó e veio reforçar a coluna. O tenente-coronel Correia de Campos manda abortar a coluna de reabastecimento e o pessoal regressa a Binta, onde chega apenas por volta das 18 horas.

2A. Daniel Matos

[A 23 de maio de 1973,] sai de Binta em direcção a norte uma coluna/auto comandada a partir de uma DO-27 pelo major 
paraquedista  José Alberto de Moura Calheiros. É protegida por uma unidade de fuzileiros especiais e por grupos pertencentes a unidades do Exército, nomeadamente da CCaç 3 e, como sempre, por uma equipa de picadores que rasga caminho lá bem na cabeça da coluna.

Ao chegar perto de Genicó liga-se aos cerca de 90 homens da CCP 121 que, sob o comando do capitão pára-quedista Armando de Almeida Martins, emboscada desde bem cedo, ali aguardam a sua passagem, para lhe fazer protecção. Os pára-quedistas faziam parte de uma força de intervenção, que incluía ainda uma companhia de comandos e uma companhia de fuzileiros, enviada para Guidaje para tentar romper o cerco e aliviar a pressão do PAIGC sobre o quartel.


2B. Victor Tavares:

Lá seguimos manhã cedo, [a 23 de maio de 1973,] até passar uma pequena ponte. Logo de seguida estacionámos e emboscámo-nos do lado esquerdo da picada, ficando a aguardar a chegada da coluna auto que, passado algum tempo, chegou já protegida do lado direito por um grupo de fuzileiros especiais, seguidos de elementos do exército.

Na frente da primeira viatura seguiam vários sapadores (picadores). É de referir que a mata envolvente era bastante aberta o que facilitava o contacto à vista com as outras nossas forças.

Entretanto, é dada ordem para iniciarmos a marcha lenta por forma a manter a ligação à vista com a frente da coluna. Nessa altura rebentou uma mina antipessoal, provocando 1 morto. Isto cerca das 8.30h. 

Recomposta a ordem, retomamos a marcha, até que, passados pouco mais de 15 minutos, novo engenho é accionado, desta vez por uma viatura, desfazendo parte dela e provocando mais 1 morto e 2 feridos graves. A partir daqui foi fazer a transferência da carga e retomar o deslocamento. Pouco tempo andámos para nova mina ser accionada provocando mais 1 ferido grave.

Nesta altura estávamos próximos de Genico [a seguir a Caur, vd. carta de Binta]. Perante estes acontecimentos foi dada ordem para que a coluna regressasse a Binta, uma vez que a zona se encontrava toda minada e seria de evitar correr mais riscos.

2.C. Daniel Matos:

Por volta das 8,30 horas, com a ligação à vista praticamente a ser efectuada, uma mina antipessoal é deflagrada e provoca a morte do soldado Bailó Baldé, da CCaç 3. Escassos minutos a seguir, quando a coluna recolhe o corpo e retoma o andamento, uma viatura acciona outra mina e causa mais uma morte imediata (soldado Fonseca Nancassa, também da CCaç 3) e dois feridos com gravidade. 

Uma terceira mina vem a ocasionar mais um ferido grave. Perante as adversidades da progressão, parecendo impossível ultrapassar o enorme campo de minas e armadilhas que encontrou em cada metro de caminho, é recebida ordem para que a coluna retroceda e regresse a Binta. Aos  paraquedistas , no entanto, é dito que devem avançar até ao destino, em missão de patrulha (operação Mamute Doido). Assim procedem, vindo a efectuar uma pausa para descanso, já na área do Cufeu. Conforme estas fatídicas jornadas demonstram à saciedade, seja ao longo da bolanha seja em torno da casa amarela que avistamos a cada passagem – ou do esqueleto que dela resta, – o Cufeu é uma zona propícia para as emboscadas, desde logo pelo número inusitado de morros de baga-baga atrás dos quais dezenas de corpos se podem ocultar e proteger-se das nossas balas.
3A. Victor Tavares:

Com tudo isto já passava do meio dia, quando é dada ordem para a CCP121 continuar a operação em patrulhamento, regressando os fuzileiros e o exército.

Em direcção a Guidaje seguiam os paraquedistas, até que foi feita mais uma de muitas paragens para descanso do pessoal, esta já na zona mais perigosa de todo o percurso, que era Cufeu.

Como me encontrava desde o início na retaguarda, desloquei-me até junto do meu comandante de pelotão, Tenente Paraquedista Hugo Borges, afim de saber qual seria o nosso destino, porque nos encontrávamos já bastante debilitados fisicamente. Foi nesse momento que a grande altitude apareceu sobrevoando a nossa posição uma DO 27 aonde se encontrava o Major Paraquedista Calheiros que, em contacto com o comandante da CCP 121, Capitão Paraquedista Armando Almeida Martins, informa-nos que teríamos de seguir para Guidaje porque já estaríamos perto.

Dada esta informação, regressei a retaguarda mas ao fazê-lo pedi ao Melo, apontador de MG 42, para ocupar o meu lugar (todos os operacionais sabem o desgaste físico e psicológico que tal posição provoca) porque eu já vinha a mais de uma dezena de quilómetros naquele lugar.

Entretanto inicia-se a marcha e, quase de imediato, rebenta na frente a emboscada, tendo os primeiros tiros dados pelas forças do PAIGC abatido logo os Soldados Paraquedistas, Victoriano e Lourenço e ferindo gravemente o 1º Cabo Paraquedista Peixoto, apontador de HK21 e MG42.

A reacção dos paraquedistas foi pronta e rápida: apanhados em zona aberta sem qualquer protecção reagiram ao forte poder de fogo do IN, conseguindo suster o assalto das nossas posições como se verificou na retaguarda onde guerrilheiros, alguns de tez branca, tentaram fazer um envolvimento as nossas forças, o que foi evitado pela elevada capacidade de organização em combate e disciplina de fogo, aliada à coragem dos nossos militares.

Quero referir que simultaneamente toda a nossa coluna ficou debaixo de fogo IN numa extensão de mais de 300 metros.

É de realçar também a organização e o poder de fogo dos guerrilheiros do PAIGC que, equipados com bom armamento, bem melhor que o nosso, caso das Degtyarev, RPG2, costureirinha PPSH, Kalashnikov, Canhão Sem Recuo, RPG7, Morteiros 61mm e 81mm, mísseis terra-ar Strela (estes a partir do início de 1973 começaram a derrubar a nossa aviação tirando-lhe capacidade de actuação no teatro de operações).

Não era por acaso que as forças do PAIGC estavam tão bem organizadas nesta zona e neste período, tinham como comandantes Francisco Santos (Chico Té) e Manuel dos Santos (Manecas), dois dos mais temidos pelas nossas forças, além do comandante Nino Vieira.

3B. Daniel Matos:

Retemperadas as forças, o pessoal da companhia de caçadores paraquedistas reinicia a marcha e é de pronto surpreendido por constringente emboscada. Dois dos pára-quedistas que seguem na frente (António das Neves Vitoriano e José de Jesus Lourenço, este com apenas 19 anos) têm morte imediata; o 1.º Cabo Manuel da Silva Peixoto, apontador de HK-21, é colhido por uma rajada e fica gravemente ferido. O fogo inimigo é muito intenso, a frente prolonga-se por algumas centenas de metros e dura três quartos de hora praticamente consecutivos. Há quem garanta ter avistado gente branca do outro lado.

“Os militares José Lourenço, António Vitoriano e Manuel Peixoto iam na primeira linha e foram os primeiros a cair”, relata muitos anos mais tarde Hugo Borges, na altura da emboscada tenente, comandante de pelotão (hoje general).

À mistura com tiros de Kalashnikov ouvem-se estrondos de canhões sem recuo e roquetadas das RPG-7, que causam pelo menos mais duas baixas graves: a do soldado Palma, que se encontrava a tentar desencravar a metralhadora MG 42 do soldado António Melo, que foi também ferido e ficou imediatamente em coma (viria a falecer após evacuação, já na metrópole). 

Apesar da resistência das NT, a ofensiva só é contida graças ao apoio aéreo que desta vez corresponde ao chamamento. Os Fiat lançam bombas de cinquenta quilos ao longo de meia hora bem medida sobre a zona de acção IN (cuja força é estimada em cerca de setenta guerrilheiros). 

Algumas viaturas saíram de Guidaje e foram ao encontro dos paraquedistas. Fizeram inversão de marcha para se carregarem os corpos das vítimas e regressarem à origem. Abrindo um novo trilho, conseguem chegar à aldeia de Guidaje, não sem que os guerrilheiros retirados do Cufeu após o bombardeamento da aviação os tenham atacado de novo, mas de longe e sem consequências. 

O Cabo Peixoto não resiste aos ferimentos e morre também neste dia 23 de Maio, – imagine-se! – considerado o “Dia dos Paraquedistas” por ser há precisamente 17 anos (desde 1956) a data da fundação, em Tancos, da Escola de Tropas Paraquedistas!...

O Batalhão de Caçadores Paraquedistas (n.º 12) teve durante as campanhas na “Guiné Portuguesa” cinquenta e seis baixas, (três oficiais, seis sargentos e quarenta e sete praças).

Os corpos dos militares da CCaç 3 que protegiam a coluna inicial e que pela manhã foram vitimados pelo rebentamento de minas (mormente os de Bailó Baldé e Fonseca Nancassa), ainda devem ter sido transportados pelas mesmas viaturas que os camaradas 
paraquedistas  trouxeram para Guidaje, pois viriam a ser ali sepultados, dias depois, conjuntamente. Se assim não fosse, teriam sido levados pelos fuzileiros e elementos do Exército que regressaram a Binta e o tratamento aos seus esquifes teria sido diferente.

4A. Victor Tavares:

Continuando a relatar o desenrolar da operação: durante o contacto fomos flagelados com morteiradas e canhoadas que rebentavam a poucos metros de nós, tendo uma delas ferido gravemente os Soldados Paraquedistas Palma e Melo, este com grande gravidade, ficando de imediato em estado de coma e vindo a falecer, na Metrópole.

Ainda relacionado com as granadas que rebentavam junto a nós, aí poderíamos ter mais mortos e feridos, mas a nossa sorte foi o terreno ser mole porque as granadas enterravam-se e os estilhaços saíam em V. Faço esta afirmação porque a dois, três metros da minha posição de combate, rebentaram 3 granadas e felizmente nada me aconteceu. Já a quarta granada veio mais longa, atingindo os paraquedistas atrás referidos, quando se encontravam a desencravar a MG42 da qual o Paraquedista Melo era apontador, de grande categoria (este camarada era uma autêntica máquina de guerra).

Ainda debaixo de fogo começaram a ser socorridos os feridos da retaguarda, pelo enfermeiro 1º Cabo Paraquedista Fraga.

Ainda antes de terminar este feroz combate, os bombardeiros Fiat 91 bombardearam as posições IN tal foi a duração do mesmo (mais de 30 minutos).

Terminado o contacto, tratou-se de improvisar a maca para transporte do Melo, o outro ferido, o Palma, seguiria a pé, já que o ferimento era no pescoço. Entretanto chega-nos a indicação da frente que tínhamos mais feridos e mortos (os átras referidos Peixoto, Vitoriano e Lourenço).

Entretanto, quando chegamos à frente, deparamos com os corpos dos nossos camaradas que jaziam no chão, dois já defuntos, e um ferido de morte, este a ser assistido pelos enfermeiros dos pelotões.

A partir daqui aguardava-se a chegada de viaturas que vinham de Guidaje. Chegadas estas, carregaram-se os mortos e feridos. Nnessa altura fui à viatura onde se encontrava o Peixoto para ver qual era o seu estado. Apertando o meu braço, diz-me ele:
- Tavares, desta vez é que eu não me safo. - Aí respondi-lhe:
- Não, tu és forte e tudo vai correr bem, tem calma.

Quando desci da viatura depois de ver os ferimentos, fiquei com a convicção de que só por milagre é que o Peixoto se safava: fora atingido por vários tiros em zonas vitais .

De seguida iniciámos a marcha rumo a Guidaje, para pouco tempo depois a coluna na frente ser novamente atacada, desta vez sem consequências de maior, para as forças que seguiam na frente, Fuzileiros e Paraquedistas, seguidas das viaturas e na retaguarda os restantes Paraquedistas que ainda tentaram fazer um envolvimento às forças do PAIGC, o que não resultou derivado à distância ser grande e as mesmas terem abandonado as suas posições de ataque.

5. Daqui até Guidaje não houve mais qualquer incidente. Chegados, fomos instalados ao longo das valas, montando segurança durante os dias que ai permanecemos, sete ou oito. Durante esses dias foram elementos dos Comandos Africanos que regressavam da Operação Ametista Real (no período de 17 a 20 de Maio de 1973) na qual também participou a Companhia de Paraquedistas 121 (Assalto à base de Kumbamory) dentro do Senegal. Participou também o grupo do Marcelino da Mata.

Em Guidaje também aí encontrámos parte de um destacamento de Fuzileiros que aqui se encontravam sitiados há alguns dias e que pertenciam ao destacamento de Canturé.

A seguir relatarei a permanência em Guidaje durante 9 dias e o funeral dos meus camaradas paraquedistas . (...)

PS - No que atrás relato não estão incluídas algumas passagens muito importantes que entendo de momento não publicar. (****)




Guiné > Região do Cacheu > Carta de Binta (1954) (Escala 1/50 mil)  > Detalhes: posição relatiav de Binta, Genicó, Cufeu e Ujeque (na picada Binta-Guidaje).

__________

Notas do editor:

(*) 25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

Vd. também poste de 9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

(**) 5 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973


(***) Os historiógrafos militares Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso falam em 6 colunas, realizadas nas seguintes datas:

1ª coluna: 8 a 9 de maio de 1973;
2ª coluna: 10 de maio [ vd. aqui o testemunho do nosso camarada A. Merndes, da 38ª CCmds]
3ª coluna: 12 de maio;
4ª coluna: 15 de maio;
5ª coluna: 22 de maio;
6ª coluna; 29 de maio.

(In: Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973 - Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi. 2009, p.45).

(****) Último poste da série > 9 de maio de 2012 > 
Guiné 63/74 - P9874: Efemérides (55): Cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné (2) (Magalhães Ribeiro)


12 comentários:

António Martins Matos disse...

O meu respeito e admiração a todo o pessoal que esteve envolvido nas colunas para o Guidage, em especial à CCP-121.
AMM

Luís Graça disse...

Escreveu o Victor em outubro de 2006:

"No que atrás relato não estão incluídas algumas passagens muito importantes que entendo de momento não publicar"...


Victor, bravo camarada, herói da Guidaje, de Gadamael, de Gampará... Diz-me lá se não está na hora, cinco anos e meio depois, de "abrir o livro e mostrar as páginas todas", salvaguardando sempre - de acordo com as regras do nosso blogue - a honra e o bom nome dos nossos camaradas ?

Repara que tudo isto se passou no século passado, há quase 4 décadas atrás... Há gente que está viva, há gente que já morreu, há gente vai morrer...O Daniel Matos, por exemplo, ator e testemunha presencial da batalha de Guidaje -
já não está infelizmente entre nós, para poder retificar, corrigir, melhorar, acrescentar, confirmar ou desmentir o que quer que seja... Por isso, este poste é também um homenagem a dois grandes portugueses, tu e o Daniel... Presto um minuto de silêncio a todas as vítimas, de um lado e do outro, dessa dura batalha...LG

Anónimo disse...

Camaradas

Estes acontecimentos referentes a Guidaje, carecem apenas de pequenos reparos já feitos no excepcional trabalho do malogrado Daniel Matos mas que volto referir pois penso que o Daniel estava na disposição de retocar o seu extenso texto quando foi atraiçoado pela doença que o viria a vitimar.

Quanto ao Vítor Tavares, da “grande” CCP – 121 apenas quero dizer que ele é um dos “causadores” da minha entrada no blogue a par do Amílcar Mendes da 38ª Ccmds, um grande abraço para eles, e o meu reconhecimento destas duas Companhias de Intervenção na resolução do cerco a Guidaje.

Agora os reparos:

A 22 não existem colunas, apenas dia 23 (5ª coluna), segue para lá depois da coluna ter abortado por ordem do Cmdt Correia de Campos, apenas a CCP – 121 segue para lá.

Nessa coluna os mortos referenciados pelo Daniel:

Fur Arnaldo Marques Bento
Sold Lassana Calissa, morrem em combate no dia 9 Maio, na 1ª coluna, e são da
14ª Ccaç de Farim.


No relatório desta coluna Binta-Guidaje, da autoria do Alf Joaquim Gomes Rebelo, ele afirma que os corpos dos Sold Bailó Baldé e Fonseca Nancassa vítimas mortais da
Ccaç 3 que ele comandava, foram transportados para Binta, na retirada das forças que compunham esta coluna.

Esta versão é a mais credível porque a CCP-121, única força a seguir para Guidaje não levou qualquer viatura para Guidaje, portanto nunca poderiam estar sepultados em Guidaje.

Mas de facto na Pag 197 do livro:

Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume – Mortos em Campanha, Tomo II Guiné – Livro 2

Consta que estão sepultados em Guidaje, o que na minha modesta opinião será engano.

Finalmente falta a coluna de 19 Guidaje – Binta, que tem de retroceder para Guidaje, pois são fortemente atacados.

Com o máximo respeito pelo trabalho dos historiadores, devo lembrar que houve ainda mais duas colunas a 11 e 12 Junho, que significou o acabar da questão Guidaje.
Depois voltamos à normalidade.


Nem de propósito penso brevemente dar novas sobre a minha desditosa coluna, se o meu camarada que ia na coluna, me cedeu informações preciosas sobre a mesma me der autorização para publicar, senão pedirei permissão porque o que tenho em mão é de muita importância para esclarecer muita coisa.

Abraço
Manuel Marinho

antonio graça de abreu disse...

Foi há 39 anos e não esquecemos.

Há dez dias atrás o Mário Beja Santos, post 9886, de 12 de Maio afirmava:

"Os paraquedistas não conseguiram romper o cerco (a Guidage), as colunas de reabastecimento foram rechaçadas".

O Mário Beja Santos é o personagem
mais activo e influente neste blogue.
O que o leva a continuar a fazer este tipo de afirmações que são uma monstruosa mentira e insulto a todo nós, um insulto à memória dos nossos mortos?

Porquê, Mário Beja Santos, porquê? Não acredito que seja por deficiente informação.
Então porquê?

Romper o cerco a Guildage custou muitos mortos, a memória desses mortos merece respeito, honra e dignidade.
"Respeito e admiração" como diz o nosso tenente-general António Martins de Martins.

E mais não digo.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Fui ver: no post 9886 o Beja Santos fez a recensão de uma edição do Correio da Manhã. Agora, querem dar-lhe uma sova por ter escrito (ou transcrito) o que acima se refere: ""...as colunas de reabastecimento foram rechaçadas". Não é verdade: só cinco é que foram, em virtude das emboscadas e minas, que causaram danos materiais e baixas nas NT. Mas houve uma coluna que passou. Essa é que conta.
Portanto, para a verdade histórica, é conforme!
Enquanto antigo combatente de facto, não tenho qualquer problema em assumir uma derrota. Mas não é de derrotas que se fala, antes, do elevado custo para fazer um percurso num determinado período da guerra. A derrota, se assim se pode dizer, seria servida mais tarde.
E que dizer da acusação de insulto? Serão insultuosas as leituras diferentes da de cada um?
Qual será o quadro de referências de uma pessoa, que, descuidando a realidade, procura numa parcela daquela a verdade absoluta?
À vossa consideração.
JD

Anónimo disse...

Caro José Diniz

Sem pretender entrar em causas que não me dizem respeito, vamos ver se no entendemos em relação às colunas para Guidaje.

-1ª - Dia 8 / 9 Maio – Não passa (é a minha).

-2ª- Dia 10 Maio – A coluna chega a Guidaje (apenas 1 dia depois da nossa), é rompido o cerco.

- 3ª Dia 12 Maio – A coluna chega sem incidentes a Guidaje

- 4ª Dia 15 Maio- A coluna chega sem incidentes a Guidaje

- 5ª Dia 19 Maio – Guidaje-Binta – A coluna não passa

- 6ª Dia 23 Maio – Coluna não passa, mas ao paras da 121 chegam a Guidaje

- 7ª Dia 29 Maio – Coluna chega a Guidaje ( vou nesta)

- 8ª Dia 30 Maio – Regresso a Binta das colunas retidas desde 15 Maio

- 9ª Dia 11 e 12 fazem~se mais duas colunas ida e volta

Balanço: 2 Colunas que não chegam (Binta – Guidaje).
1 Coluna que não chega (Guidaje – Binta).

Depois disto tudo (mês infernal em Guidaje), nada mais acontece de extraordinário na nossa zona de acção, até começamos a fazer a estrada para Guidaje em princípios de 1974, e houve apenas uma emboscada onde sofremos 1 morto mas o IN teve muitos mais.

A situação em Binta e arredores não era em Abril de 1974, diferente daquela dos começos de Janeiro / 73.

Quanto aos fascículos, sou também de opinião que não se deveriam levar a sério, por carecerem de verdade, toda a gente pode escrever o que quiser, mas ser o blogue a dar cobertura a lixo pretensamente literário sobre a guerra na Guiné, é outra coisa diferente.

Um abraço
Manuel Marinho

antonio graça de abreu disse...

Faço minhas as palavras do Manuel Marinho:

"o blogue a dar cobertura a lixo pretensamente literário sobre a guerra na Guiné".

É assim tão difícil de entender?

Abraço,

António Graça de Abreu

Henrique Cerqueira disse...

Opinião minha.
Eu não consigo entender,quando sertos camaradas da Guiné afirmam e escrevem neste espaço que o "blog dá cobertura a lixo".
Ora eu penso que alguns camaradas dão como certo a propriedade do blog e eu não penso assim,pois que acho eu...este blog é para contarmos as nossas experiências na Guiné e até algumas "Hestórias ou Estórias"mais ao menos reais ,outras mais ao menos inflacionadas...Mas quando as pessoas ás veses por falta de assunto(será?)escrevem o que lhes dá na gana esquecendo a principal finalidade deste blog e entrando em constante "ataque" a outros camaradas e ás veses até se esquecem que publicaram livros e que as suas narrativas contradizem as suas opiniões actuais...desculpem lá eu não entendo,a "GUERRA JÁ ACABOU"e há malta que teima em continuar e o pior é que é uma teimosia gratuita.
Malta visada ou não,é esta a minha opinião e gostaria muito de não perder este espaço que é o Blog "Luís Graça & Camaradas da Guiné "
Um abraço para todos
Henrique Cerqueira

António Martins Matos disse...

Há aqui muitas ideias cruzadas, algumas deturpadas, outras esquecidas.
Há igualmente alguns fantasmas que devem (têm) de ser exorcizados.
Proposta:
Que, sob a batuta do LG e à volta de uns Maltes, se reúnam os que viveram o acontecimento, partir a pedra, do início até ao fim, até ficar pequenina, depois...abraços de "missão cumprida".
Eu, que vi esta história de cima, desde já me inscrevo.
Abraços
AMM

Luís Graça disse...

Pois, eu apoio incondicionalmente a proposta do AMM: à volta de uns "maltes", ou de uns "tintos", ou de uns "brancos" (que eu não "racista" nem "esquisito"...), que a gente faça um fim de semana de "brainstorming", seguido de um "brainwriting"...

Só precisamos de uma boa "caserna" para a malta se sentir, à vontade, sem constrangimentos... (Aceitam-se propostas...).

Seria a nossa versão dos "estudos gerais da Arrábida"... Alinho nessa ideia genial!... Monte Real é pró convívio!

PS - A ideia fundamental da metodologia do "brainstorming" (tempestade cerebral ou de ideias, à letra) é a de que é proibido fazer "juízos de valor" sobre as ideias dos outros...

Todas as ideias (mesmo as aparentemente mais loucas, ignóbeis, reacionárias, utópicas, revolucionárias, criminosas, fantasistas, fascistas, politicamente incorretas, desalinhadas, sem pés nem cabeça, etc...) serão sempre "bem vindas" (sic) e passam a fazer parte integrante do "banco de ideias" do grupo...

Meus caros: È assim que o mundo "pula e avança"... E era assim que a gente devia deixar o nosso testemunho para o futuro... Eles, sim, os nossos filhos, netos e bisnetos é que nos vão julgar, daqui a 25, 50, 75, 100 anos... Nós não temos esse direito, muito menos o privilégio... E de resto que adiantará ? Nessa altura estaremos mortos e enterrados, cremados, esqucidos... Vão-nos julgar "sem dó nem piedade"... a menos que a gente deixe no ar... um cheirinho da nossa graça, do nosso bom humor, da nossa maneira peculiar de ser e de estar no mundo, de viver, de comer, de beber,de amor... "Eram uns bacanos, uns gajos porreiro, fixolas, os nossos kotas!... E andaram na guerra e ajudaram a mudar este país"...

Era assim que eu gostava de ser lembrado, eu e a minha geração, quando bater a bota...

Henrique Cerqueira disse...

Caros Camaradas.
A ideia do "brainstorming"(raisparta de palavra tão difícil de escrever)ou seja "tempestade na carola"é uma das ideias fantásticas para este Verão.Quando trabalhei numa firma Holandesa era comum este tipo de "tempestades"e era fantástico pois que era proibido gosar com qualquer tipo de ideias que apareciam e normalmente no final saiam óptimas soluções e aprendiamos a respeitar tudo e todos em prol de um bem comum.Eu aprovo a ideia incondicionalmente.Só há para mim um problema é que sou do Porto e verei alguma dificuldade na participação de um "ajuntamento"que justifique,no entanto veremos as ideias que irão aparecendo.
Um abraço a todos os tertulianos.
Henrique Cerqueira

Henrique Cerqueira disse...

Caros Camaradas.
A ideia do "brainstorming"(raisparta de palavra tão difícil de escrever)ou seja "tempestade na carola"é uma das ideias fantásticas para este Verão.Quando trabalhei numa firma Holandesa era comum este tipo de "tempestades"e era fantástico pois que era proibido gosar com qualquer tipo de ideias que apareciam e normalmente no final saiam óptimas soluções e aprendiamos a respeitar tudo e todos em prol de um bem comum.Eu aprovo a ideia incondicionalmente.Só há para mim um problema é que sou do Porto e verei alguma dificuldade na participação de um "ajuntamento"que justifique,no entanto veremos as ideias que irão aparecendo.
Um abraço a todos os tertulianos.
Henrique Cerqueira