sexta-feira, 29 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10087: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (23): Esse tal de linguajar de Luanda, só foi possível ouvi-lo em 2012 na Ilha de Luanda, porque em 1961 não se deu ouvidos às catanas de Holden Roberto (UPA)

1. Comentário, de 26 do corrente, de António Rosinha [, ex-fur mil, em Angola, 1961; topógrafo da Tecnil na Guiné-Bissau, depois da independência, ] ao poste P10074:


Conheci angolanos, caboverdeanos, guineenses, com peneiras, que usavam com mais propriedade o idioma do que nós, os colon, desde o Minho ao Algarve e Ilhas.(*)


E o escritor angolano que mais tentou acrioular o idioma foi um branco, português, do interior de Portugal, que foi em criança para Luanda e foi criado e estudou com jovens dos muceques (arredores) de Luanda.

Esse escritor foi Luandino Vieira com o livro Luuanda, com dois U, o tal que ganhou um prémio que a PIDE não gostou, e mandou-o para o Tarrafal. (**)

Eu, pessoalmente,  tenho imenso orgulho de ouvir o Português falado, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro,  em Belo Horizonte, em Bissau ou em Luanda.

Penso que pouca gente se pronuncia tão abertamente como eu contra os processos de Luandino Vieira e Agostinho Neto, do MPLA, e de Amílcar Cabral, do PAIGC, e todos os que iniciaram aquela guerra contra nós,  os tugas,  colonialistas e imperialistas.

Mas não tenho dúvidas que esses portugueses representavam o tal lusotropicalismo de que às vezes se fala, e eram uns lusófilos [e lusófanos] extraordinários.

E da maneira como digo aos quatro ventos, sem complexos, que estiveram errados em iniciar aquela guerra, só porque os ventos da história mandavam, tambem digo sem complexos que têm todo o direito de usar o idioma luso, e adaptá-lo a eles,  como fizeram os brasileiros.

Pena que esteja em grande riscos de desaparecer o nosso português em certas paragens.
Cumprimentos.
Post Scriptum: 

Luís Graça, e António Costa,  esse tal de linguajar de Luanda, só foi possível ouvi-lo em 2012 na Ilha de Luanda, porque em 1961 não se deu ouvidos às catanas de Holden Roberto (UPA).

Nem chegávamos a saber quem era Amílcar Cabral.

Gostei de ouvir portugês em Guaratinguetá!

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9904: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (22): Havia mais "PALOP" (entendimentos) antes das independências




Sítio Lusofonia, "uma plataforma de apoio ao estudo da lusofonia no mundo"... Além de verbetes sobre diversos autores e literaturas africanos lusófonas, também apresenta um valiosos glossário africano, de A a Z, com vocábulos lusófonos, de diversas origens: (A) Angola, (C) Cabo Verde, (G) Guiné-Bissau, (M) Moçambique, (S) São Tomé e Príncipe, (Ge) Geral. Há termos comuns: por exemplo, Balaio (cesto), Bué, Cipaio, Maca, Mais Velho,  (M)bunda (nádega), Muxima (coração), etc.  de origem angolana, mas que se usam também na Guiné-Bissau e/ou em Portugal. Outros são de origem geral: Bazar (fugir), piripiri, Puto (Portugal), Xingar (chatear)...

 (**) Excerto de Vida e Obra de Luandino Vieira:

(...) José Vieira Mateus da Graça, conhecido por Luandino Vieira, nasceu a 4 de Maio de 1935, em Vila Nova de Ourém, tendo ido viver para Angola aos três anos com os pais.

Cidadão angolano pela sua participação no movimento de libertação nacional,  escolheu o nome de Luandino como homenagem a Luanda e contribuiu para o nascimento das República Popular de Angola. Fez os estudos primários e secundários em Luanda, tornando-se depois gerente comercial para garantir o seu sustento.

Acusado de ligações políticas com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) foi preso em 1959 pela PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado), no âmbito do que ficou conhecido como "processo dos 50". 

Em 1961 voltou a ser preso pela PIDE, tendo sido condenado a 14 anos de prisão e a medidas de segurança. Em 1964 foi transferido para o campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), onde passou oito anos, tendo sido libertado em 1972, em regime de residência vigiada, passando a viver em Lisboa.

Entre outros prémios literários, Luandino Vieira venceu o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores (1965), o Prémio Sociedade Cultural de Angola (1961), o da Casa do Império dos Estudantes - Lisboa (1963) e o da Associação de Naturais de Angola (1963).

A partir de 1972, e já a residir em Lisboa, Luandino Vieira iniciou a publicação da sua obra, na grande maioria escrita nas prisões por onde passou.

Regressou a Luanda em 1975, onde exerceu cargos directivos no MPLA e foi presidente da Radiotelevisão Popular de Angola. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos - cuja condição sempre reivindicou, apesar de ter nascido em Portugal - exerceu funções de secretário-geral deste organismo desde a sua fundação a 10 de Dezembro de 1975 até 1992. (...)

Entretanto, foi-lhe atribuído em 2006 o Prémio Camões, o maior galardão literário para a língua portuguesa, que recusou "por motivos íntimos e pessoais", segundo o que alegou num comunicado de imprensa. Sabe-se por entrevistas dadas sobretudo ao Jornal de Letras Artes & Ideias que não aceitou o prémio por se considerar um escritor morto e que como tal o Prémio deveria ser entregue a alguém que continuasse a produzir. Tal facto veio-se alterar, pois O livros dos rios é um novo romance de Luandino Vieira (o primeiro de uma trilogia intitulada De rios velhos e guerrilheiros) editado pela Editorial Caminho em Novembro de 2006. (...).

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