domingo, 22 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10181: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (5): A emboscada das abelhas

1. Segunda estória dos Fidalgos de Jol enviada pelo nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), na sua mensagem de 15 de Julho de 2012:


ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (5)

A “Emboscada” das Abelhas

Lendo há algum tempo atrás um episódio do nosso camarada Luís Faria sobre o que consigo se passou com um “ataque” de abelhas, que poderia ter consequências trágicas (felizmente tudo não passou de um valente susto), veio-me à lembrança uma situação semelhante (salvo as devidas proporções) que comigo se passou.

Estando dois dos nossos grupos de combate em progressão para realizar mais uma emboscada em possível local de passagem do inimigo, baseados no relato de um elemento da população, em dada altura da deslocação e, já muito perto do objectivo, fomos surpreendidos por uma autêntica debandada pelo pessoal que seguia na frente, com cada um a correr para seu sítio, sem que nos fosse dada qualquer explicação sobre o que estava a acontecer, e numa autêntica desorganização.

Sendo o meu grupo o que seguia na retaguarda, com o mato bastante denso e sendo difícil de descortinar o que realmente se estava a passar, perante tal cenário, mesmo sem até então termos ouvido qualquer tipo de contacto (tiros), logo nos colocámos todos em posição de combate prontos para uma eventual protecção aos nossos camaradas em apuros.

Não tardou porém muito tempo, para que igualmente o meu grupo se levantasse das suas posições e, desordenadamente, cada um se pusesse a fugir para o seu lado, pois do que efectivamente se tratava era de um violento ataque de abelhas, que ainda conseguiu fazer várias vítimas, algumas das quais com bastantes ferradelas.

A minha sorte e do guia das milícias que comigo de perto seguia, de seu nome Vermelho, foi termos connosco um pano de tenda com o qual nos cobrimos completamente, conseguindo assim escapar ao ataque e a algumas picadelas.

Foi um valente susto, felizmente também aqui sem consequências de maior, mas ainda demorou algum tempo até que conseguíssemos recompor todo o pessoal, mas o que desde logo ficou decidido é que naquele local já não iríamos emboscar. É que ainda tínhamos presente o que havia acontecido a um camarada Furriel da Companhia do Pelundo, que algum tempo antes numa situação semelhante, levou tantas ou tão poucas ferradelas, nomeadamente na cabeça, que ficando inconsciente teve de ser evacuado de helicóptero.


Jolmete, Maio de 1972 > Posto de vigía

Jolmete, Maio de 1972 > Junto à entrada do meu abrigo

Jolmete, Maio de 1972 > Com o Fidalgo, filho do Cájan e neto do Régulo

Jolmete, Junho de 1972 > Na hora da correspondência

Jolmete, Julho de 1972 > Convívo com o pessoal do Pelundo. O meu irmão é o mais alto ao meio.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10170: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (4): De caçador a caçado

4 comentários:

Anónimo disse...

belas estórias
bem contadas
parabéns
filomena

Anónimo disse...

Muito obrigada pelas suas palavras.
Estas estórias ajudam esquecer os maus momentos e a reviver aqueles que, de uma ou outra forma, acabaram por se transformar em boas recordações.
Um Abraço,
Augusto Silva Santos

Manuel Carvalho disse...

Caro Augusto

Enviei para o Vinhal ontem fotos do Jolmete de Jun/68, vais ver a diferença.Vi a foto com o filho do Cajan ao colo.O Eduardo Moutinho o ano passado esteve em Jolmete e falou com o Cajan, é o Régulo.Lembro-me muito bem dele alto, magro e sempre de cabeça muito levantada e com um sorriso.A Amélia também estava lá e de saúde.

Um abraço e saúde para todos.

Manuel Carvalho
CCaç2366 Jolmete

Anónimo disse...

Olá Manuel Carvalho,
Vai ser interessante fazer a comparação, que obviamente será abismal. Se o pessoal do meu tempo já se queixava de falta de condições face às outras Companhias, no vosso tempo então nem consigo imaginar...
Lembro-me algum tempo atrás do Manuel Resende me ter falado sobre essa visita a Jolmete. Por acaso nessa altura também lhe enviei essa foto do filho do Cajan. Era um indivíduo excepcional. Para o meio, tinha cultura e educação acima da média. Via-se que estava educado para ser o futuro régulo. O seu porte, também no meu tempo, definia bem que era alguém com importância. Era um bom elemento e muito respeitado, por ser muito leal para connosco. Ainda me lembro-me na última vez que atacaram o quartel, ele ser dos primeiros a pegar na arma e querer sair de imediato para o exterior com o grupo da milícia.
Um Grande Abraço
Augusto Silva Santos