terça-feira, 31 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10213: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (3): A arte nalu... em vias de extinção (António J. Perereira da Costa)


Trim-trim


Banda


Matumbó


Canoa inhominga


Guiné > Região de Tombali > Cacine > CART 1692/BART 1914, 1968/69 > Peças de arte nalu, da autoria do mestre Mussé, e que integram a coleção de arte popular da Guiné do nosso camarada António J. P. Costa, ao tempo alf art QP.


Fotos: © António J. Pereita da Costa (2012). Todos os direitos reservados










Guiné-Bissau  > Região de Tombali > Cacine > 2 cde março de 2008 > Visita no âmbito do Simpósio Interbnacional de Guiledge (1-7 de março de 2008) > Cacine vista de uma embarcação no rio... à esquerda o antigo posto de socorros no tempo da CART 1692... Ainda hoje a povoação, embora degradada, está coberto de magníficos poilões e cabaceiras.


Foto: © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



1. Mensagem do nosso camarada António J. Pereira da Costa [, cor art ref], que estava aqui, na secção das reservas, à espera dos nossos Passatempos de Verão (*):


Assunto - A arte popular da Guiné

Olá, Camarada:

Já levantei este tema e, agora que tudo parece perdido, julgo que devemos voltar a ele e divulgar.

É um tema que pode interessar aos ex-combatentes e aos coleccionadores.

Conheci, em Cacine, um único artesão da arte Nalu. Passava horas a esculpir numa madeira branca que se cortava com facilidade.

Era o Mussé que usava, na cabeça, um gorro de linha, julgo que fabricado pelos fulas. Entre a cabeça e o gorro colocava, com o fornilho para fora, um cachimbo artesanal, já muito usado.

Entre as ferramentas que usava,. lembro-me de uma haste limpa-para-brisas de Unimog, devidamente afiada.

Trabalhava sentado no chã, à beira-rio,  no sítio que a figura mostra, perto do posto de socorros civil (à esquerda da foto).

Um capitão que por ali tinha passado, tentou arranjar-lhe um aprendiz. O miúdo ficava ao pé dele, mas não me parece que aprendesse com o "Mestre".

Por mim, comprei algumas peças e não permiti que as pintasse. Costumava pintá-las "a Robbialac" talvez por já ter perdido o saber das pinturas ancestrais.

Comprei uma Banda que os dançarinos colocam na cabeça, com um dos bicos para frente. E um tambor - um Matumbó (em minatura) -, um pássaro da palmeira - um Trim-trim - e um par de canoas inhomingas, em miniatura.

Mas ele fazia outras coisas.

António Costa

2. Comentário de L.G.:

Poucos de nós conviveram com os nalus, durante a guerra colonial. Para quem quiser saber mais este povo, que habita o Cantanhez há cinco  séculos, recomenda-se um trabalho, já aqui publicado, do nosso amigo Pepito.

Recomendamos também os vídeos sobre os "donos do chão", disponíveis na página da AD - Acção para o Desenvolvimento,  no You Tube. São excertos de um filme que está a ser realizado por Pedro Mesquista, com apoio dos nossos amigos e parceiros da ONG AD - Bissau.

Os donos do chão nalu 2012

Cantanhez de Pedro Mesquita em 2010

[Pedro Mesquita, cineasta português, e a sua equipa têm estado a recolher imagens para um filme cujo título provisório é "Os Donos do Chão", e que precisa de apoios para a sua finalização. Restante ficha técnica: Argumento - José Marques; Edição - Micael Espinha/Roughcut; Produção - Pedro Mesquita, José Marques, Catarina Schwarz, Joana Roque de Pinho; Música - João Bernardo; Apoios : AD, IUCN].

De acordo com a lógica com que foi criado esta série Passatempos de Verão, esperamos mais contributos dos nossos leitores sobre este este tema: a arte popular da Guiné, em geral, e arte nalu, em particular.

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10196: Passatempos de verão: Hoje quem faz de editor é o nosso leitor (2): O pangolim de cauda longa, do Cantanhez (António J. Pereira da Costa)

3 comentários:

Luís Graça disse...

Curiosamente, este José Marques é o mesmo jornalista (na altura do "Correio da Manhã") que fez a cobertura jornalística do Simpósio Internacioanl de Guilejem, em Março de 2008... Se bem me lembro, era o único jornalista português. Verifico agora, com agrado, que ele também bebeu a "água do Rio Cacine"... Recordo-me de ele nos ter acompanhado na visita, de barco, que fizemos a Cacíne, em 2 de março de 2008. A Guiné tem esta magia, toca quem um dia pór lá aterrou, desembarcou, naufragou, aportou...

Torcato Mendonca disse...

Nunca,creio eu, tive,na minha passagem pela Guiné, contacto com os Nalus.Sabia serem povos do Sul.Agora, depois do que acabo de ler,tomo conhecimento sobre a sua fixação na Guiné. Sabia serem artesãos e terem estatuetas bonitas. Se bem me lembro só tinha visto uma.Era a que estava na capa do livro do Mário B. Santos, representando uma ave nalu. O Livro é Mulher Grande (Mindjer Garandi). Ainda, se não erro e tenho preguiça na procura,a esposa do Cherno Baldé é Nalu.
Apareceram agora esta pequenas esculturas, trazidas pelo Antº J P da Costa, e com as notas anexas, dele e do Luís Graça. São de facto lindas. É artesanato puro, certamente com significados vários e a merecerem atenção e estudo. Tenho poucos objectos, só os que enviei para cá quando estava em Fá, comprados ao Gilas (sem interesse) e com interesse os que foram feitos pelos Mandingas.
Assunto a ser tratado porque gosto e agradeço os elementos agora trazidos neste poste. Obrigado.Ab T.

Luís Graça disse...

A Alice, minha mulher, e nossa grã-tabanqueira, tem uma "afilhada" nalu, a Alicinha do Cantanhez. Aliás, temos. Assumo o meu papel de "padrinho". É amorosa, a filha da Cadi, que ela conheceu no sul da Guiné, em março de 2008. A Cadi é uma rapariga linda, um torrão de açúcar. Já teve um filho que lhe morreu, de paludismo, aos 4 meses. O Nuninho. Escrevi-lhe um poema. Era afilhado da Júlio e do Nunio Rubi.

A Alicinha tem sobrevivido. Conheci há dias o pai, António Baldé, fula, e nosso antigo camarada. Fez a tropa na CCAÇ 11, em Paunca. É natural de Contuboel. Tem 67 anos. Só conhece a filha de fotografia e vídeo. É um pai babado. Vive em Portugal há cerca de 10 anos. Somos nós que lhe damos notícias da mãe e da filha. Tem casa em Caboxanque na margem esquerda do Rio Cumbijã. Um dia prometo ir lá passar umas férias. É apicultor, e quer votar à sua terra. Espantoso, como o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Ele vivia na zona de Cascais, onde era segurança. A empresa fechou, o Baldé está no desemprego. Um advogado, seu amigo, arranjou-lhe casa em Alfragide. Somos, pois, vizinhos de "tabanca". Vou vê-lo mais vezes. Só há dias é que o conhecemos. Um homem tranquilo e sábio, que trabalhou com o Pepito muitos anos em projetos agrícolas. Foi assim que esse foi parar ao sul.

Ajudou-nos agora a fazer sumos com os frutos secos que a Cadi nos mandou, através do nosso amigo Pepito: veludo, cabaceira, alfarroba... Os sumos são uma delícia...

Mãe e filha estiveram muito doentes, no princípio do ano. Valeu-lhes a ajuda dos nossos amigos Pepito, Zé Teixeira e Tiago Teixeira a quem deixamos aqui a manifestação pública do nosso agradecimento. Muito em particular, ao Dr. Tiago Teixeira, que tem uma relação especial com o hospital de Comura, gerido pelos franciscanos. Esperamos poder estar com ele (e com o pai) no encontro anual da Tabanca de São Martinho do Porto, no próximo dia 11 de agosto. Com ele, com o JERO e com o João Martins, dois camaradas que são vizinhos da família Schwarz da Silva.