sábado, 22 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10845: Conto de Natal (12): O meu Natal de 1966 em Mansabá (Manuel Joaquim)

1. Mensagem de Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 17 de Dezembro de 2012, descrevendo o seu Natal de 1966 em Mansabá:


O meu Natal de 1966 

Em 1966 passei o Natal em Mansabá, em ambiente muito diferente do do Natal de 1965 em Bissorã*, quer militar quer civilmente. Bissorã era uma vila e Mansabá uma aldeia. E quanto à vida militar, esta era agora muito mais dura e espartana no dia a dia passado na povoação, já que na actividade operacional poucas diferenças haveria quanto ao perigo e aos esforços desenvolvidos.

Então vamos lá à “reportagem” do meu Natal em Mansabá, usando o que ainda retenho na memória e algumas fotos:

Para mim a festa natalícia começou com um pequeno lanche tendo por base um bolo-rei que a minha querida e sempre prestável namorada tinha enviado de Lisboa. “O bolinho serviu para mais umas libações, para reavivar o ambiente, para identificar melhor o dia. Fomos 14 a manducá-lo. Parece-me que até houve uma fotografia. Se ela aparecer enviar-ta-ei.”- assim lhe respondi agradecendo a bela gentileza. A foto, se existiu, nunca me apareceu.

Não sei de outras festas de Natal no aquartelamento, devem ter existido, por isso vou só relatar a minha, passada na messe de sargentos. As “festividades” começaram ao jantar. Depois de bem “regados e comidos” seguiu-se a devida confraternização sempre acompanhada de líquidos mais ou menos alcoólicos, mais que menos (vd. foto 1). Num dos topos da sala montou-se um palco, alinhando várias mesas de refeição, onde se foram sucedendo as mais variadas atuações. Diversos “artistas” se exibiram, cantando ou dançando. Que grande exibição de dança flamenca fizemos, eu e mais dois ou três, com par “feminino” e tudo.

Foto 1

Acabada a sessão de canto e dança passou-se para a Tabanca Bar, para a “sossega”. Aqui, com o andar do tempo, as “camisas” de palha das garrafas que iam sendo esvaziadas viraram chapéus. Começou por mim essa utilização (foto 2) e não tardou ver- me a ser seguido no gesto, como se vê (foto 3):

Fotos 2 e 3

A cena começou então a ser “sacudida” com entradas inesperadas e improvisos declamatórios que chegaram a confundir os intérpretes, como se vê na foto abaixo onde três personagens parecem confusos no caminho a seguir (foto 4).

Foto 4

E o “happening” dos chapéus de palha terminou com a dita a arder em homenagem ao deus Baco (foto 5):

Foto 5

Com esta nossa atitude percebemos logo que Baco, o nosso adorado deus da “pinga”, tinha ficado tão satisfeito com a homenagem que nos incentivou a completarmos a liturgia com um refrescante banho de cerveja. Não nos fizemos rogados, como se pode ver na figura central da imagem (foto 6). Que linda figura a minha!

Foto 6

Acabada a homenagem baquiana, molhados e cansados, e alguns já bem toldados pelo “espírito” do deus romano, seguiram-se uns tempos de acalmia que foram curtos. Alguém se lembrou que, afinal, era dia de Natal e que nos estávamos alarvemente a desviar do espírito da comemoração, a do nascimento de Jesus.

Sentiu-se pairar sobre nós a voz da razão(?), ouvi a minha voz crítica interior a concordar com os possíveis ofendidos e, milagre!, inesperadamente alguém leva para a rua umas caixas de madeira e propõe fazermos uma fogueira de Natal. Dito … e mãos à obra!

As fotografias nºs 7-8-9-10 “iluminam“ o desenrolar do acontecimento:

Fotos 7; 8; 9 e 10

Definiu-se o guião a executar e que era o de, à volta da fogueira, se cantarem canções de Natal. Assim aconteceu e muitas gargantas, mais ou menos afinadas, algumas em voz gritada, soltaram com emoção as melodias que tinham aprendido na sua infância. Muitos de nós terão recordado outras fogueiras similares das suas terras longínquas e as canções que as acompanham!

-“Feliz Natal, feliz Natal … “

-“Alegrem-se os céus e a terra / cantemos com alegria / já nasceu o Deus Menino / filho da Virgem Maria” …

- “Arre burriquito / vamos a Belém / ver o Deus menino que a Senhora tem … “

 -“Adeste fideles …”

e algumas outras canções ecoaram pela tabanca, vindas das gargantas de soldados desterrados num lugar de guerra quando comemoravam o nascimento de alguém que veio ao mundo pregar a paz e a fraternidade.

Como que se sentia “presente” o espírito desses lugares longínquos que, naquela altura, também poderiam estar cantando canções de Natal à volta de uma fogueira. Uma sensação de comunhão cerimonial que a distância que nos separava não impedia. Senti-me comovido.

Findos estes improvisados momentos de convívio festivo dispersámo-nos, continuando alguns pela noite dentro extravasando os seus sentimentos com atitudes mais ou menos descontroladas, algumas incompreensíveis à primeira vista. Eu, cansado e moído emocionalmente, ainda procurei mais uma cerveja e dirigi-me à sala de refeições para me sentar e descansar um pouco. A sala não tinha ninguém naquela altura e dei por mim a olhar um quadro de “presépio” fixado na parede nua. Feliz Natal, dizia a composição. Senti-me a gostar de ser fotografado junto dela. Encontrei o “fotógrafo de serviço” que ainda andava por ali (infelizmente esqueci quem era). Montado o cenário, apostei que seria capaz de me equilibrar nele. E venci a aposta, como se vê por esta foto (Foto 11) que ficou para, felizmente, me fazer recordar a noite de Natal mais emotiva da minha vida.

Foto 11

É tempo de dizer que naquela altura eu não era crente, nem hoje o sou. Mas respeito a religião seguida pelos outros e todas as religiões me interessam como área de estudo. Gosto de frequentar templos e de assistir a cerimónias religiosas, gosto de estudar a teologia e a filosofia das religiões, “adoro” música e todas as artes com incidência religiosa.

Talvez assim se compreenda o teor da notícia que deste acontecimento dei à minha namorada. Dois dias depois, ainda na ressaca física e psíquica do que me tinha acontecido na noite de Natal, as emoções que então senti estavam a diluir-se; talvez porque não assentassem em fé religiosa mas na força do espírito amigo, solidário e comunitário daquele grupo de camaradas, força que então se manifestou a propósito de uma data de cariz religioso. Ou então a visão global do acontecido naqueles dois dias tenha feito arrefecer as referidas emoções e, por isso mesmo, me tenha trazido alguma desilusão:


“A noite de Natal cá se passou. Uma barulheira infernal, bebedeiras a torto e a direito, noite em branco, choros, convulsões, maluqueiras, gritos histéricos, socos, cabeças partidas, mesas, copos, cadeiras a quem aconteceu o mesmo.
Bem, isto não foi Natal. Foi Carnaval e do bom. Alegria falsa, no entanto. Se na noite de 24 para 25 ainda alinhei na coisa, ontem já não o consegui fazer. Era de mais. A alma estava tão triste!... E continua".

******

Notas finais sobre as imagens das fotos:
- Os militares das imagens pertenciam, na sua quase totalidade, ao BCaç 1857 (CCS, CCaç 1419, CCaç 1421).
- Apesar de reconhecer a maioria dos fotografados, optei por não os identificar, seja porque receio trocar os nomes de alguns seja porque de outros nem sequer tenho ideia do seu nome.
- Por fim chamo a atenção para a figura de um soldado que prestava serviço no bar. Aparece nas fotos nºs 6 (2º à esquerda), 8 (primeiro plano, à direita), 9 (1º à esquerda), 10 (à entrada da porta). Sem expressão, sem um sorriso, parece totalmente alheio ao que se passa, apesar de ser patente a sua curiosidade pelo que está a ver! Impressionante.

Para todos os meus camaradas da Guiné e restantes leitores deste blogue, umas Festas Felizes
Manuel Joaquim
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10839: Conto de Natal (9): O meu Natal de 1965 em Bissorã (Manuel Joaquim)

Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10842: Conto de Natal (11): O Neurónio do Natal (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P10844: Do Ninho D'Águia até África (37): Os Vinte Escudos da menina Teresa (Tony Borié)

1. Mais um episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177, este dedicado a uma das suas personagens já nossa conhecida, a menina Teresa, uma descarada, dizemos nós.

Do Ninho D'Águia até África (37)
 




Já lá vai algum tempo em que o Cifra andava para contar esta história, mas sempre que começava não tinha coragem para a acabar, mas pensando melhor ela também faz parte das suas memórias de guerra, pois a protagonista era a pessoa que escrevia as cartas que a mãe Joana, mandava ao Cifra, quando estava na Guiné, mas antes pedia aos amigos antigos combatentes, e não só, que depois de lerem, dessem duas ou três gargalhadas, se por acaso acharem graça, e tiverem alguma saúde e disposição para o fazer, oxalá que sim, mas que não fossem mal intencionados, pois eu tenho quase a certeza que vão ser, portanto cá vai.

A menina Teresa, não sei se estão lembrados, era uma vizinha, costureira e solteira, de quase sessenta anos, que como sabia ler e escrever, entre outras coisas era a conselheira da família do Cifra, que nessa altura era o To d’Agar, na sua aldeia do vale do Ninho d’Águia. Era muito boa pessoa no dizer da mãe Joana, mas o pai Tónio, sempre que a via chegar, dizia:
- Lá vem o “pau de virar tripas”!

Tinha tido um namorado quando era nova, de nome Alberto, que trabalhava numa fábrica de ferragens na vila, diziam que era um artista, trabalhava na forja, e com uma lima e um martelo fazia qualquer peça de ferramenta. Namorou com ela uns anos, até diziam as más línguas que já faziam vida de casados, o que naquele tempo era um sacrilégio, mas o Alberto procurando melhor vida, emigrou para o Brasil, onde tinha uns tios, e sempre com promessas de amor eterno, um dia sai de Portugal, no vapor Serpa Pinto, pois o Cifra recorda-se do nome do vapor. Ela sempre dizia, com as mãos juntas e a cara virada ao céu com uma voz, que o pai Tónio dizia que era “estérica”:
- O meu amor Alberto foi para o Brasil, no vapor Serpa Pinto, e é esse vapor que me há-de levar para os seus braços!

O Cifra, que nessa altura era uma criança, e se chamava To d’Agar, andava por ali, descalço, com um “bibe” vestido, quase sempre com um bocado de broa nas mãos, às vezes mesmo uma côdea, e não sabia o que era o vapor Serpa Pinto, mas a mãe Joana explicou-lhe que era onde os “brasileiros” e “venezuelanos” vinham a Portugal, muito bem vestidos, com um fato branco, que chamavam “terno” ou “paletó”, uns sapatos com duas cores, que normalmente eram brancos e castanhos, ou brancos e pretos, dependia da época, e alguns anéis nos dedos, e com as faces rosadas e gordas, sinal de que estavam muito bem na vida. Ficavam hospedados na pensão da vila, faziam correr o boato de que procuravam esposa, e alguns pais, com muita dignidade, pois queriam ver as filhas bem casadas e com futuro, vinham quase oferecer, e se não ofereciam directamente, faziam chegar ao conhecimento desses potenciais maridos, por intermédio de outras pessoas, que as suas filhas eram umas donzelas, que sabiam cozinhar, lavar e engomar, e que podiam levá-las à confiança, no vapor Serpa Pinto, atravessar o oceano e irem para esses países tropicais, pois além de todas estas virtudes, estavam vacinadas, iriam saber dirigir as suas casas, darem-lhe muitos filhos, pois eram muito boas parideiras, e ficarem muito ricos.

Bem, vamos mas é continuar, pois estamos a tomar um rumo que não é o original, daqui a pouco estamos todos desencontrados e perdemos o fio à meada, portanto continuando, a menina Teresa, depois de uma crise de choro, com alguma baba e ranho, que lhe durou quase um mês, até receber a primeira carta, que veio mostrar à mãe Joana, lavada em lágrimas, com o selo do Brasil, e que guardou no peito, mesmo junto ao coração. Ficaram a cartear-se, aquilo era, carta lá carta cá, e a menina Teresa, sempre esperando o carteiro.

O Alberto, no Brasil, trabalhava como um desalmado para arranjar dinheiro, pôr casa e mandar ir a menina Teresa, que era o grande amor da sua vida. Só que, na Baía, que era onde moravam os seus tios, logo na casa a seguir à que vivia, morava uma “baiana”, morena, cabelos negros, soltos e caídos, sempre com uma flor, descalça, selvagem, andava quase sempre com o mínimo de roupa no corpo, não usava roupa interior, talvez por causa do calor, tinha um perfume que o Alberto não sabia se era do seu próprio corpo ou era mesmo perfume, nunca tinha imaginado que existisse um aroma assim, provocativa, que ainda por cima tocava viola e cantava canções de amor entre outras coisas, com uma voz meiga, sedutora, procurando carinho, talvez mais qualquer coisa, na varanda, mesmo a provocar o Alberto que chegava do trabalho cansado. Aquela rapariga, bonita “baiana”, de nome Solange, sempre que o via chegar a casa, acenava-lhe da varanda, só com uma saia curta, que nem era saia nem era nada, aquilo era um farrapo de pano muito justo em alguns locais do seu corpo e largos em outros, onde fazia sobressair toda a sua beleza, uma camisa sem mangas, aberta na frente, mostrando ainda mais, tudo com que o Criador a contemplou, lhe dizia, com uma voz amorosa e quase cantando:
- Meu bem, qué tomá um sumo de maracujá, qué?. Tá fresquinho, meu bem! Senta um pouquinho aqui, que está gostoso, tá? Você é bonito Português, mi dá um carinho, tá?

Pronto, o Alberto passado dois meses já falava com sotaque brasileiro, bebia maracujá, comia farofa e uns salgadinhos, para si uma cerveja era “um chôpo”, e quando via a Solange, dizia:
- Meu bem, você está gostosa, que gostusura de minina, tá! Seu corpo se rebola, que perfume, você me põe louco, não dá para pensá, não! Tou perdido por você, me dá seu carinho, meu bem!

E depois de olhar o seu corpo esbelto e selvagem, dizia baixinho, e só para si:
- Como pode o pessoau, viver no Portugau? Qui bágunça, tá! 

E não se lembrava mais da menina Teresa, que até já começava a ter uma espécie de bigode, que a cabeleireira, quando vinha fazer a permanente na vila, lhe colocava um produto que tinha vindo de França, que, como já sabem de relatos anteriores, até cheirava mal, e que lhe fazia desaparecer o bigode por uns tempos, que agora passava dias e dias atormentando-se, esperando o carteiro, e nada. Os dias, semanas, meses e anos foram passando e já passava dos cinquenta, estava quase nos sessenta anos esperando o carteiro. Ia à vila arranjar a permanente, e pouco mais, já tinha o cabelo “grizalho”, estava a ficar magra, e sempre com uma cara de amargura, dizendo que não tinha sorte.

Já chega de pormenores, agora vamos ao assunto principal, a menina Teresa, um dia ao escrever uma carta, que a mãe Joana, mandou para o Cifra, dizia mais ou menos isto:
- Meu querido filho, vou terminar, e que a bênção do céu te proteja, agora a menina Teresa, vai falar contigo, adeus meu filho.

Então a menina Teresa pedia na carta ao Cifra, se lhe podia trazer da Guiné, um “Falo” ou seja um “Phallus”, ou mais propriamente um “Pénis” em madeira de ébano preto, que era para dar boa sorte na sua vida, e mais à frente explicava o tamanho e tudo, com alguns pormenores que o Cifra não quer explicar, pois então sim, os seus amigos antigos combatentes, e não só, iriam mesmo pensar coisas que até eram, e depois dizia que se não o encontrasse, se o podia mandar fazer em algum artesão africano, pois tinha visto, quando ia à cabeleireira, fazer a sua permanente, numa revista francesa, que os faziam na África. Também mandava uma nota do Banco de Portugal, de vinte escudos, para a despesa.

O Cifra não vai contar mais nada, ainda se encontra na província da Guiné e não sabe o que lhe vai acontecer, pois apesar de ser um razoável militar, é um fraco guerreiro, mesmo muito fraco, e também, apesar de estar rodeado de arame farpado, e ter a protecção do Curvas, alto e refilão, do Setúbal, do Mister Hóstia, do Trinta e Seis, do Marafado e do Furriel Miliciano que anda sempre com um cigarro feito à mão na boca, o Pastilhas, o Arroz com Pão e o Sargento da Messe, que dizem que é burro, passe a expressão, sem falar no Comandante, mas só às vezes quando põe cara de comandante, só lhe dão trabalho e problemas, mas fiquem atentos, pois quando o Cifra chegar à sua aldeia do vale do Ninho d’Águia, irão saber o final da história.

(Texto, ilustrações e fotos: © Tony Borié (2012). Direitos reservados) 
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10816: Do Ninho D'Águia até África (36): O Life Boy (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P10843: Tabanca Grande (375): José da Luz Rosário, ex-Fur Mil do Pel Canh S/R 2298 (Cabuca e Buruntuma, 1971/72)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano José da Luz Rosário, ex-Fur Mil do Pel Canh S/R 2298, Cabuca e Buruntuma, 1971/72, com data de 18 de Dezembro de 2012:

Caro Luís Graça e restantes Editores

Chamo-me José da Luz Rosário, vivo em Setúbal, conheço o vosso colaborador Hélder Sousa, sigo já faz algum tempo o Blogue "Luís Graça e Camaradas da Guiné", e também estive nessa então 'Província Portuguesa' de 26/01/71 a 18/11/72.

Pertenci ao Pelotão de Canhão S/R 10,6 - 2298/RI15, como Fur Milº e estive em Cabuca e Buruntuma .

Envio estas fotos que foram tiradas em Buruntuma no ano de 1972, na esperança de algum camarada fazer o favor de as comentar.  Creio que a companhia era "Os Roncos de Buruntuma", em duas das fotos reconheço o ex-Fur Milº Enfº Soares também ele de Setúbal.

O meu pelotão esteve em reforço das companhias dos Batalhões sediados em Piche (Cabuca, Canquelifá, Ponte Caium e Buruntuma). Tenho algumas histórias para contar, que a seu tempo irei partilhando com todos vós.

Aproveito para enviar um abraço especial para o Hélder, e desejar um Santo Natal para todos.

PS: Alguém me sabe dizer o que é feito do ex-Fur. Mil. Coutinho que fez também parte do Pel de Canh S/R 2298?





2. Comentário de CV:

Caro camarada Rosário:

Está feita a tua apresentação ao Blogue e ao mesmo tempo publicada a tua pretensão para encontrares os teus camaradas de armas.

Este Blogue tem como missão incentivar os ex-combatentes da Guiné a depositarem as sua memórias escritas e em fotografia nesta página, que constituirá no futuro um espólio, quase fiel, dos acontecimentos de guerra naquele TO, contados na primeira pessoa, descontando algumas imprecisões originadas pelo tempo já decorrido. Prometeste contribuir, pelo que ficamos à espera que cumpras a tua promessa.

Os Roncos de Buruntuma que referes, é a CCAÇ 3544/BCAÇ 3883, Companhia de que apenas temos duas entradas no nosso Blogue. Poderás encontrar referências neste link: CCAÇ 3544
Em relação ao Batalhão 3883 poderás aceder a partir daqui: BCAÇ 3883

Oxalá encontres os teus companheiros de luta dos tempos de Buruntuma.

Cumprindo a tradição, deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores, acrescentando ainda os nossos melhores votos de que tenhas umas Boas Festas em família, com paz e saúde, e que o novo ano seja bem melhor do aquilo que nos prometem.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10831: Tabanca Grande (374): Bom dia! Aqui estou! Fui ali e já voltei! (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P10842: Conto de Natal (11): O Neurónio do Natal (Jorge Cabral)

1. Mensagem do nosso camarada, sempre Alfero, Jorge Cabral, com data de 20 de Dezembro de 2012, contendo um pequeno grande conto de Natal.

Caros Amigos!
Com um Grande Abraço de Natal!


O Neurónio do Natal 

Um neurónio no coração?

Espantados os médicos, discutiam.

Podia lá ser...

E o ancião esperava. Não lhe doía nada, até sorria.

O estranho caso foi estudado por todo o mundo.

E o nome do paciente divulgado - Jorge Cabral.

Mas o mistério continuava... Até que um rapazola, ajudante de enfermeiro, exclamou:

"É um neurónio da época! Se calhar o sacana do velho ainda tem Natal!"

J.Cabral
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10840: Conto de Natal (10): O Natal de uma criança (José Câmara)

Guiné 63/74 - P10841: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (4): Mensagem de Natal do nosso camarada José Saúde


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos uma mensagem. 



Feliz Natal 2012



Camaradas, 



A Guiné traçou-nos um destino que levou a conhecermos uma realidade quiçá jamais imaginada. Hoje, no recanto dos nossos lares, trazemos à tona da memória imagens contidas num baú que nunca recusaremos visitar. Recordo que essa comissão militar na Guiné faz parte inequívoca de um recheio de lembranças por nós vividas num clima de guerra, onde o imprevisto, não obstante a data comemorada, se assumia como um inconstante. 

A vulnerabilidade, em certos casos, como a nossa tropa instalada no terreno se deparava, tinha contornos deveras trágicos. Prevalecia, por vezes, mentes fortes para debelarmos a imprevisibilidade da escuridão de um mato tenso e propício para as investidas do IN. Noutros casos eram as velhas picadas que traziam preocupações acrescidas. Ah, e os usuais ataques aos quartéis não podem, e muito menos devem, passar ao lado dessas intensas preocupações. 

Éramos jovens! Nada, ou quase nada, detinha a nossa enorme vontade de sobrevivência. Vivemos, quotidianamente, a generalidade dos clamores de uma guerra não dava tréguas. Ficaram os resquícios da nossa presença em terras guineenses. Imagens que não se dissolverão no tempo. 

Actualmente revivemos esse mundo de guerrilha atroz dantes partilhado em plena Guiné. Diz o poeta que o Natal é sempre que o homem quiser. Subscrevo na íntegra essa contemplativa mensagem. Ainda assim, há sempre tempo de sobra para obsequiarmos os camaradas com imagens que fizeram “ronco” no Natal de 1973. Esta, por exemplo, foi o meu simpático postal ilustrado que enviei para familiares e amigos a partir de Nova Lamego – Gabu - para a então metrópole e que serve, ainda hoje, para endossar aos meus camaradas que pisaram o mesmo solo guineense. 


Um abraço camaradas deste alentejano de gema, 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


19 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10827: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (3): Natal, mas para quando? (José Martins)


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10840: Conto de Natal (10): O Natal de uma criança (José Câmara)

1. Mensagem de Natal do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 21 de Dezembro de 2012:


O Natal de uma criança

É Natal! As recordações sucedem-se em catapulta. Lembramos os familiares, os amigos, os que partiram e os que estão longe. Revemos situações mais ou menos alegres e outas mais ou menos tristes. O nascimento do Menino nas matas e bolanhas de África ainda nos fazem chegar as lágrimas aos olhos.

Aqui, no blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, onde nos vamos encontrando, dia após dia, fomos formando uma grande família. O sangue que lhe corre nas veias tem muitos cromossomas, mas apenas um nome: Guiné!

Tal como em todas as famílias normais e razoáveis deste mundo, esta nossa família também tem os seus contratempos, as suas questões, as suas desavenças. Mas também sentimos que, quando necessário é, somos capazes de contemporizar. Esta é a grande força do blogue, a grande força das famílias que se prezam.

Nos últimos dias, perante um abalo que fez remexer muitas paixões, no que senti ter tido alguma culpa, vi imensas boas vontades à volta do poilão. Por isso, sinto que hoje temos a capacidade para sermos mais fortes que antes. Mesmo que, para tanto, tenhamos que aprender a sermos meninos uma vez mais na vida.

Na minha família, as nossas netas, como crianças que são, foram educadas a partilhar postais da sua escolha entre si. Eram elas que tinham que os produzir. Daí não admirar ter ficado sensibilizado com algumas das suas escolhas, que eram religiosamente dependuradas na árvore de Natal.

Uma das minhas cinco netas, a Isabella, então com sete anos, dependurou na árvore de Natal um postal feito e escrito por ela, endereçado às primas, também minhas netas. Por que com as crianças estamos sempre a aprender, guardei aquele postal que senti ser o que melhor espelha a dávida do Natal: a partilha de Paz e Amor!

Se me permitem, deixem-me partilhar convosco, o postal de Natal mais bonito que eu, avô babado, algum dia vi dependurado numa árvore de Natal.


Natal de 2010 visto pelo coração de uma criança de 7 anos: partilha, paz, amor.
O Natal não é um dia qualquer, é o da celebração da vida, da amizade, da elegância, da cortesia, da boa vontade. O Natal é tudo aquilo que de bom nós queremos para os nossos semelhantes. Que a mensagem da minha neta entre nos vossos corações e vos traga um sorriso de criança.

Hoje, quando me virem na janela dos vossos computadores, podereis ter a certeza que estou ali celebrando convosco e os vossos familiares um Feliz e Santo Natal.
José Câmara
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10839: Conto de Natal (9): O meu Natal de 1965 (Manuel Joaquim)

Guiné 63/74 - P10839: Conto de Natal (9): O meu Natal de 1965 em Bissorã (Manuel Joaquim)

1. Mensagem de Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 17 de Dezembro de 2012:

Meus caros camaradas Luís, Carlos e Eduardo:
Aqui vai para publicação no blogue, se o entenderem, um texto sobre o meu Natal de 1965.

Para os três grandes, um grande abraço do
Manuel Joaquim



O meu Natal de 1965

O Natal surgiu dois meses depois da minha chegada a Bissorã, terra que eu sentia muito acolhedora mas … não esquecia que muitos dos seus habitantes poderiam estar ligados por laços familiares e/ou afectivos ao IN e alguns deles seriam mesmo guerrilheiros.

A propósito, usei um aerograma especial para enviar as Boas-Festas à minha namorada:


“Minha querida, a minha muita vontade de te fazer companhia nesta quadra de promessas e esperanças não é, infelizmente, suficiente para transportar o meu corpo até junto de ti. (…) desejo afirmar-te que a esperança (…) me não abandona. 1966 ultrapassá-lo-ei (…) . Não tenho tido muito tempo para te escrever. As nossas actividades redobram nesta altura para evitar que haja qualquer coisa que nos perturbe mais profundamente (…)”.

Não tenho grande memória deste Natal, melhor dizendo, dele só retenho duas imagens. Uma é a de ver um pequeno grupo de crianças com uma pequena caixa de uns 25cm de altura, tendo dentro dela um rudimentar presépio com a figurinha do menino iluminada pela fraca luz de uma pequena vela ou, talvez, de um qualquer pavio embebido em óleo. As crianças, vi-as ao princípio da noite, “assediavam” o pessoal militar que encontravam nas ruas da vila e recitavam pequenas frases a propósito do Menino Jesus, entrecortadas por “parte um peso, parte um peso!” enquanto elevavam a caixa para se ver melhor o seu conteúdo. Pertenceriam, creio, à pequena minoria cristã da vila da qual não me tinha dado conta até então.

A outra imagem é muito diferente, refere-se à “socialite” local, digamos assim para facilitar.

Na noite de Natal o decano dos comerciantes libaneses sr. Michel, acho que era este o seu nome, preparou uma recepção na sua casa, para a qual convidou os comandantes das companhias alocadas em Bissorã, CArt 643 e CCaç1419, seus oficiais e 1.ºs sargentos e sendo o restante pessoal militar representado por um furriel e por um praça de cada uma das companhias. Posso estar enganado mas é a ideia que tenho.

Da CCaç 1419 fui eu o furriel escolhido. Não sei se “de motu próprio” ou cumprindo decisão superior, o 1º sarg. da Companhia fez-me o convite que eu aceitei, algo contrariado, após alguma insistência.

Para a ocasião vesti o meu fato “de ir à missa” comprado na então famosa casa de moda da baixa lisboeta, a Casa Africana, uns dias antes de embarcar. “Ótimo para usar em África”, disse-me o vendedor em resposta à minha inicial informação de que estava prestes a embarcar para a Guiné e precisava de um fato para levar.

Fig. 1: Exemplos de publicidade da Casa Africana, empresa extinta nos finais do século passado. ( Imgs retiradas da Internet)

E lá fui de fatinho azul-ténue, muito leve, com risquinhas verticais pretas e muito finas. A confraternização correu bem. Houve “comes e bebes” e muita conversa, geral e particular, entre os convidados e o dono da casa. Recordo bem a qualidade do uísque, uma maravilha, do resto tenho noção vaga duma conversa do anfitrião discorrendo sobre as suas relações com personagens conhecidas na política e na sociedade empresarial, tanto na Guiné como em Portugal (no Continente, como então se dizia). Não sei que idade teria o sr. Michel mas para mim era um homem já idoso, um senhor culto, bem viajado, bom conversador e de óptimo trato. Penso que teria sido, antes da guerra, um grande comerciante. Em 1965 a sua actividade comercial já estava muito reduzida.

Havia música mas não havia “garotas”! A animação não foi muita mas deve ter havido alguma já que o evento durou umas boas horas. O certo é que não me lembro dela. Talvez por causa do meu estado de espírito naquela altura como se pode adivinhar pela breve referência que fiz ao assunto num aerograma enviado à namorada:


“Há por aqui umas famílias de emigrantes libaneses que nos proporcionaram umas festazinhas agradáveis na quadra que passou há pouco. Mas o sofrimento cá anda roendo a alma. E para muitos de nós a bebedeira foi a fuga. O whisky aqui é barato. Assim a bebedeira fica barata também.”

Uma nota final:
Interessante o lembrar-me ainda hoje da qualidade do uísque do sr. Michel e não me lembrar de muitas outras coisas mais importantes. Pensando bem, compreendo. Pois para quem andava afogando mágoas, eu por exemplo, curtindo alegrias e lavando o estômago com VAT69, J. Walker red label e outros deste género, encontrar e saborear o uísque do velho libanês foi um momento inolvidável. Aquilo não era uísque, aquilo é que era whisky!

Para todo o pessoal deste grande blogue, muito Boas-Festas!
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10838: Conto de Natal (8): Oportunidade para mudar de vida (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P10838: Conto de Natal (8): Oportunidade para mudar de vida (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), com data de 18 de Dezembro de 2012:

Meus camarigos Luís, Carlos, Eduardo e Virginio e todos os camarigos da Tabanca Grande
Os meus votos de um Santo e Feliz Natal e os desejos de um Novo Ano bem melhor do que este que está a acabar.

A vós deixo este "presente" de Natal: o meu Conto de Natal de 2012

Um abraço sempre camarigo do
Joaquim Mexia Alves


CONTO DE NATAL 2012*

Oportunidade para mudar de vida

A tarde chegava rapidamente ao fim. Era Inverno, e por isso mesmo, muito cedo o Sol baixava por entre as árvores. Estava cansada, muito cansada!
Tinha passado todo o dia à beira da estrada, à espera, numa vida em que se tinha embrenhado e a envergonhava, mas da qual não arranjava forças para sair. E diziam que a prostituição era uma vida fácil! Pior ainda, pois tinha que à noite ir para aquele bar, fazer de conta que estava bem-disposta e gostava daquela vida! Reconhecia que o enorme cansaço que sentia era muito mais psíquico, do que físico.

Há tempos que a ideia de sair daquela vida, era um constante pensamento, que em todos os momentos lhe tirava o descanso e o pouco bem-estar que ainda pudesse sentir. Lembrava-se bem do namoro com aquele rapaz, que parecia ter tudo o necessário para acabar num feliz casamento. Depois engravidou, e começaram as complicações. Ele apresentou-lhe aquele “amigo” e quando deu por si estava num bar a beber taças de suposto “champagne”, com homens que não conhecia. Daí até ao sexo pago foi um instante! Vá lá, tinha resistido ao aborto, e aquela filha que estava em casa, era agora a sua única razão de viver.

Ao princípio tudo pareceu fácil, e até se convenceu que não fazia mal nenhum a ninguém, nem a ela própria. Já que tinha aquele corpo, aproveitava-o para ganhar dinheiro e depois … Depois haveria de sair daquela vida. Tantas promessas daquele patife! Era preciso agora ganhar dinheiro, dizia ele, e depois quando tivessem um “pé-de-meia”, partiriam para outras paragens onde não os conhecessem, e haviam de viver felizes.

Mas não era possível fazer nenhuma poupança, porque ele tirava-lhe tudo o que trazia para casa, para gastar com os amigos. E quando o que trazia deixou de chegar para tudo o que ele queria, começou a obriga-la a ir para a estrada, onde ainda se sentia mais aviltada e destruída. Há já há algum tempo que sentia vergonha de si própria e agora que os anos iam passando preocupava-se muito mais com o futuro da sua filha, e com o facto de um dia ela poder saber o que era a sua vida.

Veio-lhe à memória a casa dos seus pais. Não era gente com dinheiro, mas era gente de amor e lembrava-se bem do carinho com que a tratavam, (era filha única), e dos exaustivos conselhos do seu pai acerca daquele namorado que, dizia ele, não prestava para nada. Mas a juventude que julga tudo saber, tinha-a levado a sair de casa para seguir o seu grande amor! Grande amor??? Se pudesse agora ver-se livre dele, seria o melhor presente de Natal que alguém lhe podia dar, porque, lembrou-se, era dia 24 de Dezembro, véspera de Natal, a noite dos presentes em casa dos seus pais.

Uma tristeza profunda estremeceu-a! Não, não iria passar mais esta noite de Natal naquele bar, vivendo aquela vida! Tomou uma decisão e disse para si mesma: Vou passar por casa à hora que ele não está, (deixo um recado com uma desculpa qualquer), pego na menina, e vou passar a noite de Natal a casa dos meus pais, pois tenho a certeza de que me hão-de receber.

Tomada a decisão, pareceu-lhe sentir um alívio imenso no cansaço que a assolava. Chegou a casa, tomou um banho rápido, desejando que mais do que o corpo, lhe fosse lavada a “alma” para se poder encontrar com os seus pais. Escreveu uma qualquer desculpa num papel, pegou na filha e saiu rapidamente para a casa da sua infância, que ficava numa terra muito próxima.

Passado pouco tempo já batia à porta da casa onde tinha crescido e brincado com tanta felicidade. A porta abriu-se, e, ao espanto inicial, sucederam-se quatro braços que a apertavam e esmagavam de amor! Já na sala começou a ensaiar um discurso de desculpas, de justificação, mas os seus pais disseram-lhe com carinho para se calar, sentar no sofá, pôr os pés em cima da mesa pequena e descansar, porque se tinham apercebido do seu enorme cansaço.

Pegaram na neta e foram para o quarto ao lado. Ela sentiu-se num casulo de amor! Um calor inexplicável fazia-se sentir no seu coração e ela fechou os olhos desejando que aquele momento nunca mais acabasse. Sem saber como, viu-se de repente no meio da praça da sua terra e muita gente à sua volta, gesticulando e gritando. Percebeu que a insultavam, lhe chamavam prostituta e que a queriam expulsar da sua terra. Cheia de medo e vergonha, as lágrimas corriam-lhe pela cara abaixo.

Viu então um homem que se destacou do meio de toda aquela gente, e com uma voz cheia de força, mas de carinho também, disse: Aquele que de vocês que nunca errou ou cometeu nenhum mal, pegue no braço dela e leve-a até aos limites aqui da terra. E ao dizer isto, aquele homem olhava-os nos olhos, firmemente.

Lentamente deixaram de se ouvir gritos, todos aqueles homens e mulheres baixaram as cabeças e começaram a sair da praça, em silêncio. Então o homem aproximou-se dela, enxugou-lhe as lágrimas com os seus dedos e disse-lhe: Pelos vistos ninguém te expulsou! Também eu não te expulso, antes te abraço! Vai à tua vida, mas muda-a enquanto podes! 

Pareceu-lhe que o homem lhe pegava no braço, mas quando acordou percebeu que era o seu pai que delicadamente lhe dizia: Anda, vem comer, a ceia de Natal está na mesa!

Lembrou-se da catequese em criança e da passagem bíblica em que queriam apedrejar a mulher adúltera, e percebeu que num sonho Deus lhe tinha “falado”, e dado uma nova oportunidade para a sua vida. Tinha finalmente a força de que necessitava para pôr fim àquela vida! Soube naquele momento que tudo tinha mudado e que não voltaria a fazer da sua vida a desgraça que até então vivia. E alegrou-se, por ela, pela sua filha, pelos seus pais.

Feliz aproximou-se da mesa e a sua mãe disse-lhe: Como estavas a dormir, foi a tua filha que colocou o Menino Jesus no presépio.

Olhou para os seus pais com todo o carinho de que era capaz, pegou na sua filha ao colo e disse: O Menino Jesus já não está no presépio. Está no meu coração!

Marinha Grande 10 de Dezembro de 2012

Com este Conto de Natal, desejo a todas as amigas e todos os amigos que lêem este blogue um Santo Natal, na paz e no amor de Deus em suas famílias.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste publicado no Blogue Que é a Verdade? do nosso camarada Joaquim Mexia Alves

Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10836: Conto de Natal (7): Um Natal ainda mais triste (Domingos Gonçalves)

Guiné 63/74 - P10837: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (4): Desembarque no Xime, da LGD 105, dos piras do BART 2917, em finais de maio de 1970



Foto nº 141



Foto nº 128


Foto nº 129


Foto nº 143


Foto nº 144

Guiné > Zona Leste > Setor L1 > LDG 105 > Desembarque no porto fluvial do Xime > Possivelmente finais de mais 1970, quando se deu a rendição do BCAÇ 2852 pelo BART 2917... Presumo que sejam os "piras"... O José Carlos Lopes terá ido ao Xime duas vezes. Esta terá sido um delas. A foto nº 141 não é de um "pira", mas de um "velhinho", em fim de comissão... Preciso de confirmar com ele.

Quanto à LDG 105, era minha conhecida: ia frequentemente ao Xime, transportando homens e materiais para a zona leste. Foi nela que fiz a viagem Bissau-Xime, em 2 de junho de 1969, a caminho de Contibuoel, opara formar a futura CCAÇ 12.

Aproveito para agradecer ao meu camarada Lopes o ter autorizado a publicação destas fotos do seu álbum, e desejar-lhe festas felizes nesta quadra natalícia. Ainda há o Humberto Reis me lembrou que o Lopes tinha uma das melhores máquinas fotográfica de Bambadinca no nosso tempo, senão mesmo a melhor, uma Asa Pentax.

Fotos: © José Carlos Lopes (2012). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10794: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (3): a zona ribeirinha de Bambadinca alagada, no tempo das chuvas (1968 ou 1969)


Guiné 63/74 - P10836: Conto de Natal (7): Um Natal ainda mais triste (Domingos Gonçalves)

1. Mensagem de Natal do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68), com data de 13 de Dezembro de 2012:

Em primeiro lugar, ao aproximar-se mais uma quadra festiva, para todos nós muito importante, venho por este meio desejar, ao camarada Luís Graça, um Feliz Natal, e um ano de 2013 repleto, só, de coisas boas, que aprecie, em especial muita saúde. E, claro, que a crise de que tanto se fala e escreve, o não atormente.
Este meu sincero desejo é extensivo a todos os camaradas que, à sombra da árvore enorme, que se ergue no centro da Tabanca Grande, vão contando as suas velhas histórias.

Aproveito para disponibilizar um apontamento respeitante ao Natal de 1967, que, se interessar, pode ser publicado.

Quanto ao vaticínio sobre a morte do Blog, não acredito na voz dos profetas. Nos tempos que correm, as profecias não fazem sentido. Tudo quanto é humano, terá um fim. Mas também é certo que os humanos criam muitas coisas que, mesmo quando vivem para além da barreira dos cem anos, deixam ficar do lado de cá. O Blog, pode muito bem ser uma dessas coisas.

Domingos Gonçalves


Natal

Às quatro horas e meia da manhã acordei ao som de rebentamentos de granadas.
Levantei-me imediatamente, pensando que se tratava de um ataque a Guidage. Felizmente era fora do nosso sector.

Às sete horas levantei-me novamente. O pessoal da companhia acabava de sair para picar a estrada de Sansancototo e do Caur, para facilitar a passagem de um grupo de tropas que vinha de Farim.
Às 9 horas, dois grupos de combate saíram para Udasse, onde foram montar uma emboscada.
Na realidade não foram para o sítio que constava da ordem de operações, mas para outro bastante mais próximo, após acordo prévio com o capitão.

Antes do almoço atravessei o Cacheu, num bote de borracha, com alguns homens, e fui armadilhar os terrenos da margem Sul do rio. De tarde fui montar armadilhas em todos os locais que o inimigo pudesse utilizar para se aproximar de Binta. Deixei tudo minado. Durante a ceia de Natal não podíamos correr o risco de sermos atacados pelos gajos.

A ceia de Natal correu sem qualquer espécie de entusiasmo. Materialmente falando até não faltou nada de importante, mas neste ambiente, o Natal tinha sempre de ser frio e triste. Era o último que passávamos na Guiné.
No fim da ceia, o capitão meteu-se nos copos e tomou uma valente bebedeira.

Dia 25 
Levantei-me cedo. Durante a noite consegui ter um sono repousante, sem pesadelos ou sobressaltos. Mesmo não sonhando com presépios, e música de anjos, tive uma noite tranquila. Mas, sem que me tivesse apercebido, durante a noite passou-se algo de anormal.

Pela manhã verifiquei, com surpresa, que o capitão estava cheio escoriações, e caminhava com dificuldade, com o auxílio de uma bengala. Alguns furriéis apresentavam, também, ferimentos, aparentemente ligeiros, e tinham aparência misteriosa. Comecei a pensar: Será que o meu sono foi tão profundo, que nem me deixou ouvir um ataque dos turras, concretizado durante a noite de Natal?

Fiquei na dúvida. Eu que tenho um sono leve, que acordo sempre ao menor ruído, como é que não escutei nada? Será que, durante a noite, as granadas choveram sobre Binta, sem que de nada me tenha apercebido? Na vida tudo pode acontecer, mas essa possibilidade não se me afigurava plausível.

Mas, não. Afinal, os turras não tinham atacado Binta, durante a noite. A história daqueles ferimentos, daquelas escoriações, e de todo aquele mistério, tinha outros contornos.

Já de madrugada, depois de ter andado na companhia do deus Baco, que de santo não tem nada, e é mesmo alheio à ideia de Natal, durante algumas horas, o capitão lembrou-se de que lhe assistia o dever sagrado de passar uma ronda para verificar se as sentinelas estavam vigilantes, e nos seus lugares. Como as sentinelas estavam na periferia da tabanca, a distância a percorrer era considerável, pelo que a ronda só podia ter lugar, se fosse feita de Jeep. Vai daí, a cair de bêbado, o nosso homem subiu para a viatura, desencaminhou um grupo de furriéis para lhe fazer companhia e deu início ao trabalho, a que se propusera.

Mais uma vez ficou provado que o vinho traz as pessoas para o seu verdadeiro lugar. Ele que, por norma, não se preocupava com este tipo de tarefas, sob o efeito do vinho acordou para o cumprimento do dever, a que nenhum chefe deve fugir. Mas, o vinho que lhe lembrou as obrigações, foi o mesmo que lhe tirou o tino, e a visão. O homem, altas horas da noite, enfiou o Jeep num grande buraco, com todos os passageiros que transportava. E só a muita sorte impediu que a noite de Natal se transformasse em mais um grande pesadelo, para todos nós.

A irresponsabilidade não teve limites. Um anjo do Natal – o anjo da guarda -, pairava nos céus de Binta, durante aquelas horas que não foram de grande azar.

Ainda bem que tudo assim aconteceu, e o desastre apenas provocou ligeiros danos pessoais.
Certo é, porém, que se o inimigo nos tivesse atacado durante a noite, as coisas poderiam ser bastante piores.

Felizmente que a irresponsabilidade nem sempre traz com ela consequências trágicas. É que, se tivesse havido um ataque, 50% dos homens da companhia, devido à bebedeira, não estavam em condições de utilizar as armas.

E tudo isto tornou o Natal ainda mais triste.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10832: Conto de Natal (6): Natal na Guiné, As Capelinhas e os Quincons (António Estácio)

Guiné 63/74 - P10835: Notas de leitura (441): "Prece de um Combatente Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", por Manuel Luís Rodrigues Sousa (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Setembro de 2012:

Queridos amigos,
Trata-se de uma gema de sinceridade, aquilo que chamamos partilha de afetos.
Manuel Sousa toca-nos pela sua observação de todo aquele tempo em Jumbembém, está ali o registo de muita camaradagem e do saber superar tanta inquietação e provação. Os lazeres, os pequenos negócios de bar e barbeiro, os desvios manhosos de um cabritinho para o forno, a história da tijela do fuzileiro de Ganturé que ele irá oferecer ao Paulito, ficamos com a impressão de que estamos a assistir ao crescimento de um ser humano que ganha consciência que nada ficará como dantes.
E assim foi.

Um abraço do
Mário


"Prece de um combatente": memórias de um soldado em Jumbembém (2)

Beja Santos

“Prece de um Combatente, Nos Trilho e Trincheiras da Guerra Colonial”, de Manuel Luís Rodrigues Sousa, 1ª Edição, 2012, pode ser adquirido através do Sítio do Livro, Lda. (www.sitiodolivro.pt).

São as memórias de um nosso confrade, que combateu em Jumbembém, no sector de Farim, ali viveu em 1973 até Julho de 1974. 
Trata-se de uma escrita cuidada, profundamente afectiva, é alguém que se compraz a falar do quotidiano, das armas, dos patrulhamentos, da missão árdua e responsável do picador, dos reforços, da correspondência para as madrinhas de guerra. 

Respeita a ordenação temporal, descreve com pormenor o que aconteceu em Guidage, naquele terrível mês de Maio de 1973, fala do que viu, também. Em Março ou Abril de 1973, Jumbembém foi reforçado com um pelotão de caçadores nativos. Em 17 de Junho, um dos elementos deste pelotão pediu ao seu comandante, alferes Nuno Gonçalves da Costa, para seguir na coluna de Jumbembém para Cuntima, mas o alferes não autorizou a sua deslocação, tratava-se de um militar indisciplinado, aquela negativa era uma forma de o castigar. O militar desfechou dois ou três tiros de G3 no seu superior, recorde-se que nessa época não havia possibilidade de se evacuar quem quer que seja por falta de meios aéreos, o oficial veio morrer dos ferimentos.

Estamos perante um autor que não quer omitir até os seus pequenos pecados, como desviar laranjas que estavam ao seu cuidado, alambazou-se, mas sempre com o cuidado de ir tirando todas as caixas para que o desfalque não fosse notado. 

Manuel Sousa é um homem atento e a natureza prende-o, vemo-lo observador do arvoredo, das tempestades e dos tornados, dos obeliscos onde, perto, se hasteava a bandeira nacional, enumera as músicas que se pediam ao PIFAS (Programa Informativo das Forças Armadas). Dá-nos conta do que escrevia às suas madrinhas de guerra, caso de um aerograma datado de 12 de Março de 1973: 

“Vejo em si a minha confidente, imagino-a até como a minha Nossa Senhora que me ampara e, como tal, veja nesta minha missiva uma oração, uma prece deste combatente, para que continue a conceder-me a graça da sua simpatia e do seu conforto”.

Dentro deste espírito de observação, não regateia elogios a camaradas pela sua vigilância evitaram desaires. É o caso do Zé ou Zeca e também conhecido por “Oh Égua”. O Zé tinha olhos de lince, em 5 de Novembro de 1973, ia o pelotão ativar a picada entre Jumbembém e Lamel, em direção a Bricama, depois do esforço de desobstruir um caminho há muito sem uso, estavam a descansar mas o Zeca permaneceu de pé e veio dizer aos camaradas que tinha visto uns gajos entre o mato ali à frente. Quando logo a seguir foram atacados ripostaram e puseram em fuga o grupo guerrilheiro, tudo graças ao olho vivo do Zé.

Grande parte do seu relato está centrado num chão cheio de minas e armadilhas, importa não esquecer que Jumbembém ficava perto de um corredor bastante frequentado pelos guerrilheiros que vinham do Senegal, todas as picadas apareciam minadas com bastante frequência e a propósito conta episódios onde prevaleceu a sorte e outros onde triunfou a morte. 

Em Janeiro de 1974 foi passar férias a Bissau, o seu sonho era tirar a carta de condução, juntara cuidadosamente 500 escudos por mês, quando acabou as férias fez exame e foi aprovado. Em Fevereiro regressa a Jumbembém por via do rio Cacheu. É informado que numa violenta emboscada entre Jumbembém e Lamel perdera a vida mais um camarada bem como três outros militares de um pelotão de madeirenses, ao que parece pelo mau manuseamento de um dilagrama. As minas são uma presença constante e ele escreve episódios felizes de minas desativadas nas diferentes picadas seja em direção a Cuntima ou a Canjabari ou a Farim. Em pleno carnaval Jumbembém foi flagelada, não houve feridos mas as paredes ficaram cravadas e esventradas pelo impacto das granadas do RPG7.

Constituem-se amizades e ele refere os nomes, tal como descreve quezílias e pancadarias, cenas de mau vinho, de um modo geral no dia seguinte a malta abraçava-se e desapareciam os ressentimentos. Havia empreendedorismo em Jumbembém, era o caso do Amadeu, que decidiu instalar um tipo de esplanada com serviço de cafetaria e também de barbeiro, bem como o serviço de fotografia, este então um verdadeiro sucesso.

Na véspera do 25 de Abril de 1974, Jumbembém experimenta uma flagelação com mísseis, era a primeira vez que viam o efeito desta arma, deu para perceber que os guerrilheiros iam progressivamente ajustando o fogo, mas não provocou grandes danos.

Com o 25 de Abril, inicialmente nada mudou, sucederam-se as minas entre Jumbembém e Lamel, a ponte de Lamel foi totalmente destruída, felizmente as minas anticarro foram detetadas a tempo e destruídas. Em 11 de Junho, os guerrilheiros do PAIGC visitam Jumbembém. Todos tiraram uma fotografia para a posteridade. E escreve: 

“Findo o encontro, foram disponibilizadas viaturas para transportar os guerrilheiros até Fabantã, através da velha picada em que o Zeca nos alertou. No dia seguinte, foi marcado encontro entre as suas partes junto a ponte de Lamel, para levantamento de minas que uns e outros tinham colocado ali nas proximidades. Reparei que um dos chefes do PAIGC se fazia transportar num pequeno jipe descapotável, de estrutura muito frágil. Era um veículo de origem sueca”

Segue-se a despedida de Jumbembém, há semblantes muito tristes de alguma população: 

“Deixávamos para trás aquela gente com quem tínhamos convivido desde Janeiro de 1973 a Junho de 1974 com a angústia estampada no rosto pela incerteza do seu futuro”

Passam por Canturé, aqui vão ficar a substituir os fuzileiros. O autor conta que trouxe uma tigela em inox que ofereceu a um menino, o Paulito, fora recolhido pelos seus pais, ele nunca esqueceu esta prenda, a tigela dos fuzileiros de Ganturé.

A comissão de Manuel Sousa está a acabar, em 29 de Agosto embarcam em Bissalanca para Lisboa, feito o espólio de fardamento segue para Santa Apolónia, está praticamente sem dinheiro mas a camaradagem tudo resolve. Do Porto parte em direção ao Tua, está sem cheta mas está por ali um táxi que pertence a Cândido “Russo”, de Castanheiro do Norte, aldeia que se situa entre o Tua e Carrazeda de Ansiães: 

“Sabia que ele era também proprietário de uma pequena indústria de alfaiataria, com sede naquela aldeia, onde um meu primo, o Orlando, tinha trabalhado. Solicitei então para me levar a casa, depois de lhe dar a conhecer a afinidade que eu tinha com o Orlando, com a condição dos seus serviços serem pagos pelos meus pais no destino”

É a alegria do regresso, segue-se a caminhada de 9 quilómetros até à aldeia de Folgares.

A vida recomeça sempre, Manuel Sousa vai para a GNR, chega a sargento-ajudante. As suas memórias chegam ao fim, há fotografias e lembranças de muita gente, depois os convívios polarizam a saudade destes homens de Jumbembém. Há fotografias do antes e do depois, há muitas fotografias, o blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné também cooperou.

O que é sincero e genuíno vem sempre ao de cima, acaba por tomar conta desta prosa, e tocar-nos pela autenticidade, do princípio ao fim. Vale mesmo a pena acompanhar o Manuel Rosa naqueles tempos de Jumbembém.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste anterior de 17 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10811: Notas de leitura (440): "Prece de um Combatente Nos Trilhos e Trincheiras da Guerra Colonial", por Manuel Luís Rodrigues Sousa (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10834: Álbum fotográfico do Alberto Pires, Teco, ex-fur mil, CCAÇ 726 (Guileje, out 64/ jun 66) (Parte VI): A vida de um quartel de fronteira (Parte II)



Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64)  > Foto nº 9 > Aspeto parcial da tabanca


Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64)  > Foto nº 8 > Outro aspeto parcial da tabanca




Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64)  >  Escola, a 5 km de Guileje, atacada e destruída



Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64)  >  Dois militares tugas com um grupo de jovens da tabanca


Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64)  > O furriel mil Faustino partilhando uma refeição com as mulheres grandes


Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64)  >  O alferes mil Lima e outros militares com três mulheres grandes



Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64)  >  O sold José Fidalgo (falecido em 2005), contemplando a imagem de uma santa da sua devoção,  talvez  a Virgem Maria.


Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64)  >  O Teco ( ou o o Carlos Guedes ?)  e o José Paralta (viola)



Guiné> Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (1964/64) >  Foto nº 7 > Julgamos tratar-se da lendária viatura Fox, de matrícula MG-36-24, que resistiu a tudo e todos, acabando ingloriamente, como ferro velho, nas mãos do PAIGC em 25 de maio de 1973. Julgo que o Pel Rec Fox 42 (Aldeia Formosa e Guileje, 1962/64) foi a primeira subunidade de cavalaria a passar pro Guileje. O Armando Fonseca (também conhecido como o Alenquer) esteve aqui como soldado condutor, mas já não apanhou a CCAÇ 726. "Chegámos a Guileje  pela primeira vez em finais de 1963, vindos de Aldeia Formosa, e aí montámos o primeiro aquartelamento, seguindo-se depois Ganturé, Sangonhá, Cacoca, etc. Pertencendo ao Pelotão de Reconhecimento Fox 42, por esses locais andámos apoiando as tropas que se iam instalando ao longo desse percurso a caminho de Gadamael onde se encontrava, isolada por terra, uma Companhia de Caçadores" (...).

  Fotos: © Alberto Pires (Teco) (2007) / AD - Acção para o Desenvolvimento. [Editadas por L.G.]. Todos os direitos reservados


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Alberto Pires, mais conhecido por Teco, natural de Angola, ex-fur mil da CCAÇ 726, a primeira subunidade a ocupar Guileje em 1964)... A companhia esteve em Guileje entre Outubro de 1964 e Junho de 1966.

As fotos que estamos a publicar pertencem a um lote que o Teco pôs à disposição do Núcleo Museológico Memória de Guiledje e do nosso blogue (são mais de 60 fotos). Não trazem legenda, mas estão agrupadas por temas: (i) CCAÇ 726 (Guileje); (ii) construção de abrigos (Guilje); (iii) destacamento de Mejo; (iv) operação militar; e (v) guerrilheiros mortos (neste caso, são apenas duas as fotos disponibilizadas)...

Estas fotos que publicamos hoje, têm a ver com o primeiro tema. As fotos foram editadas por nós com vista à melhoria do seu enquadramento e resolução. Sabemos que o Teco e o Carlos Guedes têm em mãos a elaboração de uma publicação com a história da CCAÇ 726. E esperamos que um dia destes eles nos ajudem a melhorar a legendagem do álbum. (LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10788: Álbum fotográfico do Alberto Pires, Teco, ex-fur mil, CCAÇ 726 (Guileje, out 64/ jun 66) (Parte V): A vida de um quartel de fronteira (Parte I)