segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10906: Notas de leitura (447): "Alpoim Calvão, Honra e Dever", por Rui Hortelão, Luís Sanches de Baêna e Abel Melo e Sousa (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Novembro de 2012:

Queridos amigos,
Aqui se põe termo à recensão sobre o livro dedicado ao comandante Alpoim Calvão.
A obra tem o mérito de compilar com linearidade e sequência histórica o percurso daquele que é o militar mais condecorado da Marinha portuguesa. Como é óbvio, reteve-se aquilo que tem a ver com a sua associação à Guiné, que foi muitíssimo e perdura, na justa medida em que o comandante Calvão, como o livro abona, mantém-se entusiasmado com as suas iniciativas empresariais que ele rotula “Por uma Guiné Melhor”.
O livro aparece bem documentado e, independentemente do lado encomiástico que o atravessa do princípio ao fim, torna-se leitura obrigatória para situar o herói nas suas duas comissões guineenses.

Um abraço do
Mário


“Alpoim Calvão, honra e dever” (2)

Beja Santos

A segunda comissão de Alpoim Calvão na Guiné abarca 1969 e 1970. No início, acumula as responsabilidades na Repartição de Operações Especiais do Comando-Chefe com as de comandante de uma Força Naval no Cacheu. Em Abril de 1969, o comandante-chefe manda reocupar as instalações de Ganturé, na margem direita do rio Cacheu, deixando a operação a cargo do Comando das Forças Navais. No norte da Guiné, as forças de Marinha em operações no Cacheu constituíram uma Força Tarefa, englobando vários tipos de lanchas, dois destacamentos de fuzileiros especiais, entre outros. Calvão é enviado para o rio Cacheu, exerce as funções de comandante desta Força Tarefa.

“Alpoim Calvão, honra e dever”, por Rui Hortelão, Luís Sanches de Baêna e Abel Melo e Sousa (Caminhos Romanos, 2012) conta-se como Calvão fazia pequenas incursões em território onde o inimigo se movimentava com certo à-vontade, acompanhado apenas por três ou quatro fuzileiros: “Numa dessas vezes, saiu durante a noite em patrulha com dois botes. Subiu o curso do rio Cacheu, penetrou por um dos seus numerosos afluentes e de lá, à força de remos e levados pela corrente, chegaram até junto de uma tabanca da população, emboscando-se nas proximidades. Ao nascer do sol, os 8 homens puderam assistir ao acordar de toda aquela gente a viram-nos encaminhar-se para o rio, para se lavarem e tomarem banho, sem suspeitarem sequer que estavam a ser observados. Após algum tempo a vigiá-los, o comandante manda o pequeno grupo a regressar à base. Tinha conseguido o seu objetivo, esta era uma das coisas com que o comandante Calvão mais se comprazia: pegar em jovens e inexperientes oficiais e mostrar-lhes a face da guerra, como ela era na realidade”.

Calvão não se dispensava de desembarcar para acompanhar as operações, isto quando não era muito habitual um oficial superior desembarcar com os seus homens, instalar no terreno uma base de fogo de morteiros e dar cobertura às forças que progrediam na mata com fogo de grande precisão. Os autores referem igualmente movimentações de Calvão por todo o teatro operacional e como estabelece relações com uma figura intrigante, o comerciante Mário Rodrigues Soares, de Pirada. A PIDE suspeita dele, no entanto ele é apresentado a Calvão, dele obtém informações da maior importância sobre o exército senegalês e a localização de bases do PAIGC nas proximidades. O livro regista importantes intervenções de Calvão em operações em Cobiana-Churo e a seguir vemo-lo a desenhar a operação “Nebulosa 1” em que um pequeno grupo de fuzileiros se instala na República da Guiné e destrói uma motora do PAIGC, a “Patrice Lumumba”, uma operação digna de um grande filme de aventuras com os fuzileiros ao assalto com luta corpo a corpo, seguindo-se a denúncia da operação pela República da Guiné-Conacri de um ato classificado como de pirataria. É por essa época que Calvão começa a congeminar a operação de ataque a Conacri, inicialmente com o objetivo de destruir das vedetas do PAIGC e a libertação de 26 prisioneiros portugueses que estavam na prisão de La Montaigne. O ministro do Ultramar dá instruções a Spínola para apoiar a Frente de Libertação da Guiné-Conacri que projetava um golpe de Estado e contava com o apoio de Portugal. Começavam a juntar-se as peças da operação “Mar Verde”, no maior segredo começa a compra de minas na África do Sul e a recolha da rebeldes e opositores de Sékou Touré que irão ser concentrados na ilha de Soga, nos Bijagós. Na fase anterior destes preparativos, Calvão não pára, chega a ir à ilha do Como numa altura em que Spínola andava furioso com o comportamento do DFE 7 que provocara graves desacatos em Bissau. Com tanto ou mais significado que a operação “Nebulosa 1” foi a “Nebulosa 2”, que não se pôde concretizar devido a denso nevoeiro, foi na operação "Gata Brava”, lançada no rio Inxanxe, fronteira da Guiné-Conacri que se abalroou o "Bandim" que foi afundado. Nesta sequência é novamente condecorado. Em 10 de Junho de 1970, no Terreiro do Paço, Calvão é condecorado com o colar da Torre e Espada.

A operação “Mar Verde” está suficientemente relatada e documentada que não se justifica retomar a narrativa aqui exposta. Sabe-se o que aconteceu e as consequências que teve, as muito boas e as muito más. Calvão guardou elementos que iria mais tarde, a partir de Lisboa, procurar desenvolver para infiltrar opositores de Sékou Touré para dar informações. Em finais de Dezembro, considerou-se que Calvão devia partir da Guiné e não ser alvo de atenções nacionais e internacionais. Começa por ser enviado para a Capitania do Porto de Lisboa, recebe depois guia de marcha para o Comando Naval do Continente onde vai chefiar a Divisão de Operações do Estado-Maior, regressar depois a comandante da Polícia Marítima do Porto de Lisboa. É neste período que Calvão forja a ideia de constituir uma rede de informações estratégicas, projeta o “Plano Carpa” (origem de uma rede de informações que tinha como objetivo a República da Guiné e o PAIGC e designada pelo nome de código “Dragão Marinho”) e expõe o projeto ao chefe de Estado-Maior general das Forças Armadas. Logo surgem duas operações, a “Medusa Verde” e a “Furão Curioso”, sempre envolvendo infiltrações em Dakar e os serviços do seu antigo informador na Guiné, Mário Rodrigo Soares. Em Agosto de 1972 o plano “Dragão Marinho” é apresentado ao ministro da Defesa Nacional. Previa instalar uma rede de informações em localidades dos países vizinhos da República da Guiné e previa-se estender a rede a alguns países europeus. Uma das ideias centrais era instalar uma quinta coluna no interior da República da Guiné. Decorrem através de um contacto em Londres iniciativas para contactar Amílcar Cabral, no sentido de preparar o terreno para futuras operações.

São várias as iniciativas de Calvão neste serviço de informações, uma delas foi o desaparecimento no navio panamiano “Esperanza II” que transportava armamento e munições com destino à Frelimo. Calvão mandara colocar uma armadilha a bordo, o desaparecimento está até hoje envolto em mistério. Assim se chega ao 25 de Abril. Calvão irá envolver-se em processos conspirativos, conhecerá o exílio e regressará a Portugal em finais de Março de 1978, apresentando-se na Armada. Seguidamente, o livro “Alpoim Calvão, honra e dever” aborda o drama dos guineenses que combateram à sombra da bandeira portuguesa e que continuam ostracizados e o conjunto de iniciativas em negócios em território da Guiné-Bissau, empregando antigos combatentes, ali passa longas temporadas procurando resolver o problema de transportes de matéria-prima, ampliando um fábrica de caju, nomeadamente em Bolama.

A parte de documentos apensados tem inegável interesse. Para além da panóplia de louvores e das condecorações, temos ali reproduzido um opúsculo de 1966 sobre a doutrina do PAIGC, extratos de uma exposição de Mário Rodrigo Soares enquanto agente duplo, testemunhos sobre a operação “Mar Verde”, a conceção do Plano Carpa, o Plano Dragão Marinho, entre outros.
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Nota de CV:

Vd. poste de 4 de Janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10895: Notas de leitura (446): "Alpoim Calvão, Honra e Dever", por Rui Hortelão, Luís Sanches de Baêna e Abel Melo e Sousa (1) (Mário Beja Santos)

2 comentários:

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