terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10912: O cruzeiro das nossas vidas (17): Relembrando as nossas separações e partidas...

1. A propósito da nova série "Cartas de amor e guerra" (*), está na altura de reler alguns dos postes que publicámos numa série já esquecida,  "O Cruzeiro das nossas vidas".... Só este material dava para fazer uma antologia... Recorde-se aqui os 16  postes já publicados, e os seus autores (um dos quais infelizmente já não está entre os grã-tabanqueiros vivos, mas cuja memória perdurará entre nós: Victor Condeço, 1943-2010):

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

(...) No chamado bar de Oficiais havia uma banda de música, composta se não me engano por três indivíduos de idade avançada, pelo menos para mim, o que tornava o ambiente ainda mais surreal. A mesa de pingue-pongue na varanda (não sei o termo náutico, tombadilho?), junto ao bar deixou rapidamente de ter clientes porque, julgo eu, devem ter acabado as bolas no Atlântico ao sabor das ondas.

Lembro-me ainda da excitação do pessoal quando se avistaram peixes voadores, porque tirando a experiência dos mais viajados, para a maior parte era algo que apenas pertencia aos livros de Zoologia. (...) O calor, quando entrámos no Golfo da Guiné, era insuportável, e somado ao barulho constante das máquinas do navio e ao cheiro a vomitado que tomava conta dos corredores, tornou o Natal a bordo algo de inesquecível, dando razão àqueles que, preocupados com o nosso bem estar, nos fizeram embarcar naquela data para a Guiné. (...)





19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)

(...) Embora muito me custe contrariar o Paulo Raposo, não ficaria de bem com a minha consciência se não rectificasse a observação que ele faz a meu respeito. A História não se compadece com imprecisões! Há que relatar os factos tal como eles se passaram efectivamente, sob pena de os vindouros tirarem conclusões erradas. E a rectificação é a seguinte: Eu não estava a mandar nenhuma mensagem de telemóvel, pela simples razão de que os radares do Uíge interferiam com a captação de rede do meu aparelho. Estava naquele preciso momento, no camarote onde íamos viajar, a perfurar um telex, outro aparelho muito em voga também naquela época. Fica reposta a verdade! A Bem da História!!!! (...)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)

(...) Talvez nem todos saibam que 90% do reabastecimento dos três teatros de operações [ - Angola, Guiné e Moçambique - ] nos 13 anos de guerra foram efectuados por via marítima, mas é verdade!

Talvez também nem todos se tenham apercebido que as áreas oceânicas que os nossos transportes de tropas atravessavam eram contíguas a mares territoriais de países hostis, países que, em muitos casos, tinham saído recentemente de situações coloniais. Países que assumiam protagonismo internacional crescente, que se organizavam a partir de Bandung, no movimento dos não-alinhados. Países que assumiam claramente posições agressivas contra a política ultramarina/colonial de Portugal. Países que faziam ouvir as suas vozes nas posições que as Nações Unidas iam assumindo contra a política do governo do nosso país. (...)

 21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)

(...) O material digitalizado que junto em anexo, pode ajudar a ilustrar esses mesmos cruzeiros e o Luís usará como lhe aprouver se neles reconhecer algum interesse. Trata-se da ementa do primeiro jantar de regresso da Guiné a bordo do NM Uíge e do programa de distracções para os cinco dias previstos da viagem, que afinal acabaram por ser seis. Os passageiros eram os militares dos BART 1913 e do BART 1914.

São portanto, recordações desse cruzeiro, iniciado a 26 de Abril de 1967, quando na Rocha do Conde Óbidos embarquei no Uíge com destino à Guiné. 
Já tinha quase vinte meses de tropa, já nem contava de ser mobilizado, mas fui, infelizmente todo o pessoal do meu curso foi contemplado com um destes cruzeiros. (...)


11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)

(...) O TT Niassa, em Maio de 1969 e conforme reza a Ordem de Transporte nº 20 do ME, transportou a CCAÇ 2590 e também as Unidades indicadas no seguinte quadro, com o itinerário e horários que mais abaixo se discriminam. (...) Tratou- se de uma dupla viagem Lisboa–Bissau–Lisboa–Funchal–Bissau–Lisboa. teve início a 5 de Maio, em Lisboa, e terminou, novamente em Lisboa, a 13 de Junho de 1969. (...)- Transportou de Lisboa, na totalidade, 52 oficiais, 187 sargentos e 1299 praças além de 1727 toneladas de carga, depois de corrigidos alguns desvios de última hora à previsão acima feita e conforme a seguinte listagem do quadro abaixo. (...)


 
15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1953: O cruzeiro das nossas vidas (6): Ou a estória de uma garrafa, com o SPM de Mansoa, que viajou até às Bahamas (Germano Santos)

(...) Já não me recordo muito bem, mas nesse dia de Natal ou no dia a seguir, alguns de nós - talvez uns quatro ou cinco - decidimos carpir as nossas mágoas com alguém que estivesse noutras paragens, e do mar nos quisemos servir como meio de comunicação. Vai daí, lançámos ao mar algumas garrafas com as mais variadas mensagens. A minha era tão só um cartão de visita, no qual acrescentei o SPM do Batalhão ou do local para onde íamos (Mansoa).

O tempo foi passando e a guerra também. E surpresa das surpresas. Em finais de Janeiro de 1972 (um ano e pouco após ter deitado ao mar a garrafa), recebo uma carta proveniente dos Estados Unidos da América, mais concretamente de Milwaukee, datada de 19 de Janeiro desse ano e assinada por uma Senhora de nome Lillian Drake, dando-me conta de ter encontrado a garrafa com o meu cartão. (...)



3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)


(...) Penso que, tal como tantos outros que partiam com a “alma a sangrar” mas em navios cheios de militares, tive sorte com a viagem para a Guiné. Em pleno verão, 10 de Agosto de 1966, com mar chão, saiu de Lisboa o “Rita Maria”, navio misto de carga e passageiros, que nesta viagem levava poucos militares sendo a maioria dos passageiros civis, nomeadamente estudantes, com destino a Cabo Verde. Ainda foi a Leixões só para meter carga, depois Mindelo e Praia com paragens curtas e finalmente Bissau. (...)


13 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2044: O cruzeiro das nossas vidas (8): Porto de Lisboa, Cais de Alcântara (Luís Graça)

(...) Foi daqui que todos partimos (...) . Todos ou quase todos (os das ilhas adjacentes, partiam do Funchal ou de Ponta Delgad). Vocês ainda se lembram ? A Administração do Porto de Lisboa comemora 100 anos. No vídeo (promocional) O Porto de Lisboa há uma escassa referência ao passado. Mas não se pode ignorar ou escamotear os anos de brasa da guerra colonial... Há uma odisseia, há quase um milhão de homens a partir e a chegar. E depois de 1974, há mais meio milhão de homens, mulheres e crianças que retorna de África, com os seus parcos haveres. Por ar e por mar. Uma formidável muralha de contentores irá separar Lisboa e o Tejo, irá cortar o contacto visual dos lisboetas com o seu rio... Passei há tempos por lá... Muita coisa mudou... O edifício, arquitectura do Estado Novo, é o mesmo... As infraestruturas portuárias e toda a envolvente é que mudaram... Hoje é um pomposo terminal de cruzeiros de luxo, por onde passam os maiores navios do mundo, como o Queen Mary II... Sentimentos contraditórios assaltam-nos quando voltamos ao passado.(...)



15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2050: Cruzeiro das nossas vidas (9): Do Funchal para Bissau no Ana Mafalda (Carlos Vinhal)

(...) Entretanto o tempo foi passando, e no dia de saída para a Guiné, 13 de Abril de 1970, já a bordo do navio “Ana Mafalda”, o sargento Rita veio ter comigo e com o Carneiro para nos dizer que não precisávamos de procurar alojamento a bordo, pois iríamos no camarote deles que tinha quatro beliches.

Ficámos contentes, pois ficaríamos mais bem instalados que os restantes camaradas furriéis. Os camarotes dos oficiais e, dos sargentos do quadro, eram no casario superior do navio enquanto que os furriéis iam nos camarotes do casco, junto à linha de água. Já agora, diga-se que os soldados e cabos iam nos porões, instalados de qualquer maneira. Para piorar a situação, o navio já trazia dos Açores uma Companhia açoriana com o mesmo destino que o nosso, a Guiné. (...)



13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)

(...) O Velho Niassa... Foi este o navio que nos transportou à Guiné, e também de regresso a Portugal. Antes tinha sido um cargueiro, farto de cruzar oceanos, tal como o Uije, o Alfredo da Silva e outros. Foi no inicio da guerra colonial adaptado ao transporte de tropas. (...) Além dos enjoos e das noites mal dormidas a bordo, recordamos também que tinha uma agradável sala de jantar, destinada apenas a oficiais e sargentos. Já do alojamento para os soldados o mesmo não se pode dizer, em todos os cantos do porão tinham sido improvisados dormitórios, as condições eram deploráveis. A comida era razoável, no entanto a sopa, embora fosse a mesma todos os dias, no menu tinha todos os dias um nome diferente... O bar onde se bebia whisky, cerveja e se jogava à lerpa, dispunha de um pequeno conjunto musical que à meia tarde tocava sempre os mesmos trechos musicais, enfim o seu repertório não era muito vasto (...).

21 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3338: O cruzeiro das nossas vidas (11): Viagem para a Guiné em época de Carnaval (Jorge Picado)

(...) Uma vez que o embarque era na segunda-feira de Carnaval, dia 9 de Fevereiro de 1970, tive de abalar para Lisboa no dia anterior onde pernoitei. As despedidas ocorreram no almoço desse domingo em minha casa onde reuni toda a Família mais chegada. Afinal, ainda que não manifestássemos, não sabíamos se voltava-mos a rever-nos.

Chegada a hora e depois de todos fazerem das tripas coração como se costuma dizer, para não haver fracos, meti-me no carro dum tio de minha mulher (que por ironia do destino até fazia parte do colégio que elegia então o Presidente da República... por isso vejam lá com que prazer ele levaria o sobrinho que ia defender aquilo em que ele acreditava!!!), juntamente com o meu sogro e os meus 2 rapazes de 6 e 5 anos (já que o de 2 anos ainda era muito novo) e abalámos para Lisboa. (...)


23 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3345: O cruzeiro das nossas vidas (12): Uíge, 5 de Fevereiro de 1969, destino Guiné (António Varela)

(...) No dia 5 de Fevereiro de 1969, depois das despedidas da família e do desfile militar, fui ainda contemplado pelo Movimento Nacional Feminino com um livrinho sobre a Guiné, uma imagem religiosa e um maço de tabaco (Três Vintes). O cais da Rocha de Conde de Óbidos estava apinhado de gente para o último adeus, emocionado.

O navio que me transportou e ao BART 2865 foi o Uíge, fomos colocados oficiais e sargentos nos camarotes e os soldados no porão. Com o navio todo inclinado para o lado do cais, num último adeus sentido, com muitos lenços brancos a acenarem para os filhos, maridos, irmãos, namorados, que se afastavam agora a caminho do mar largo, com destino à Guiné. (...)


15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3894: O cruzeiro das nossas vidas (13): S.O.S., fogo a bordo do Carvalho Araújo (Luís F. Moreira)

(...) Dia 25 de Novembro de 1970, cerca das 10.00 horas, tudo a postos para embarcar mais uma carga para a Guiné. Todas as cerimónias habituais, ninguém ligou nada. Portaló colocado ao navio e começaram a entrar os militares que pertenciam às Companhias, em seguida aqueles que iam em rendição individual, (era o meu caso), e quando toda a gente pensava que íamos seguir viagem, começaram a chegar carrinhas militares, mas celulares.

Imediatamente surgiu um boato, constava que tinha havido distúrbios a bordo e que os tropas envolvidos já não iam seguir connosco, mas iriam presos. Passado algum tempo tudo se clarificava, as carrinhas começaram a encostar ao navio e a descarregar os presos que transportavam, eram militares que iam de facto para a Guiné de castigo e com a indicação de serem colocados em locais de maior porrada. (...)


10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5248: O cruzeiro das nossas vidas (14): Queremos o Uíge (António Dias)

(...) A grande maioria de nós viajou para as Áfricas de barco. Durante 2 anos (menos os 2 meses de férias) ouvi os meus camaradas soldados (a sonhar/dormir) - "QUERO O UÍGE"! Em especial nos destacamentos pois era ali que estava mais perto deles naquelas noites tropicais.

Ainda tenho o folheto da "Última Ceia" no Uíge a caminho da Guiné para os que viajaram em 1.ª classe, gostarei de partilhar com aquele pessoal. (...)

24 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5703: O cruzeiro das nossas vidas (15): O dia do embarque (José Marques Ferreira)

(...) E lá entrei no barco, qual carga de gado vivo, que se chamava «Sofala». Como era preciso cumprir as ordens de Salazar (porra, sempre este nome a vir à baila, quando falamos da nossa juventude toda ela passada sob o síndrome da guerra colonial), que dizia «rápido e em força». Nem que fosse preciso tratar as pessoas como meros animais, que entravam num cargueiro sem condições para transportar o que quer que fosse, quanto mais pessoas!!! Ele eram porões e mais porões, num cargueiro enorme, “carregado” de milhares de homens uniformizados militarmente, qual quantidade enorme de carne para canhão, ali metidos, tendo ainda, por baixo desses porões, uma quantidade enorme de outros soldados com viaturas, armamento, máquinas e munições… muitas munições. (...)

29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6274: O cruzeiro das nossas vidas (16): Uma viagem calma no Carvalho Araújo a caminho da Guiné (António Tavares)

(...) Ao meio-dia de 24.04.70 e após o terceiro apito arrastado, o mais longo dos anteriores, zarpou o “paquete” Carvalho de Araújo, adornado a estibordo, com o BCaç 2912 e alguns tropas individuais a bordo, num total de 500/600 militares.

À medida que o barco se aproximava da barra os choros e gritos lancinantes dos familiares, na Gare Marítima de Alcântara, iam sendo inaudíveis. Fomos almoçar, a comida era razoável… nunca tinha comido tanta marmelada e queijo à sobremesa como naqueles dias... ainda era a doçura do mel… o fel viria dias depois! (...)


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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 8 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10910: Cartas de amor e guerra (Manuel Joaquim, ex-fur mil, arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67) (1): A separação e a partida

12 comentários:

Henrique Cerqueira disse...

Eu na realidade não poderei considerar o Cruzeiro da minha vida.Mas,poderei isso sim, lhe chamar a Viagem da minha vida.É que quando "Viajei"para a Guiné foi por mim considerado um "presente"(invenenado).Eu explico:É que Viajei precisamente no dia dos meu Vigéssimo segundo aniversário,ou seja,no dia 19 de Junho de 1972 embarquei no Boing 707 dos TAMs em Lisboa e passei cerca de duas horas em Viagem e mais uma com paragem na Ilha do Sal sem direiro a visita turistica.Pior ainda foi que nos obrigaram a viajar com farda nº2 com blusão e tudo está-se mesmo a ver o que aconteceu quando saímos do avião em Bissau.
Felizmente havia um oficial no desmbarque e que era penso eu uma espécie de comitiva de receção que nos mandou imediatamente despir os blusões.
Bom isto foi apenas o relembrar um pequenito episódio das nossas viagens de sonho patrocinadas a quem celebrava o aniversário e aos outros também para não ficarem tristes.
Um abraço
Henrique Cerqueira

Luís Graça disse...

Henrique, é óbvio que o título da série é irónico... Na maior parte dos casos, foi a primeira vez que viajámos, de barco e para longe... E a viagem estava longe de ser turística...

Falta-nos também a descrição, mais detalhada, das viagens por via aérea, como ocorreu no teu caso, em junho de 1972... Fica também o desafio para os camaradas dessa época nos enviarem textos com o relato... dos cruzeiros aéreos.

Um abração para ti, Henrique. Um beijinho para a Ni. LG

Luís Graça disse...

Caros amigos aqui evocados e citados: é bom de vez em quando lembrar-nos uns dos outros...

Afinal, já somos tantos que podemos correr o risco de passar semanas sem a gente "se ver por aí"...

Força para o novo ano... LG

Luís Graça disse...

Sobre o transporte marítimo de tropas para o Ultramar, convirá (re)lembrar o seguinte:


(i) Na sequência de grandes investimentos públicos e privados, a nossa marinha mercante atingia, no final da década de 1950, o seu desenvolvimento máximo;

(ii) Nessa época (gloriosa, para um antigo senhor dos mares como Portugal...) contava, nomeadamente, com 22 navios, no total de 167 000 toneladas;

(iii) Dessa frota, destacavam-se os quatro gigantes: Santa Maria, Vera Cruz, Príncipe Perfeito e Infante D. Henrique, com cerca de 30 000 toneladas cada um;

(iv) Estes últimos eram capazes de transportar, cada um, mais de 1000 passageiros ou mais de 2000 militares;

(v) Muitos destes navios vão ser requisitados em diversas ocasiões para transporte de tropas, em especial especialmente na fase inicial da guerra (1961);

(vi) Estas unidades da marinha mercante foram essenciais para manter o esforço de guerra (e de paz) em África;

(vii) Os navios mais requisitados para esse efeito foram o Vera Cruz, o Niassa, o Lima, o Império e o Uíje;

(viii) O Niassa foi o primeiro navio a ser requisitado como transporte de tropas (T/T) e de material de guerra (portaria de 4 de Março de 1961), tendo seguido de imediato para a India:

(ix) O Vera Cruz foi o que fez mais viagens, chegando a realizar 13 num só ano;

(x) Em 1961, efectuaram-se 19 travessias por nove navios da nossa marinha mercante em missão militar;

(xi) O ritmo foi aumentando à medida que a força expedicionária em África crescia: em 1963, efectuam-se 27 viagens por oito navios; em 1967, 33 por nove;

(xii) Até ao fim da guerra colonial, o mar vai ser a grande via de ligação ao nosso império;

(xiii) Mais de 90 por cento da carga e de 80 por cento do pessoal de origem metropolitana, mobilizado para o ultramar, é transportado em navios.

... Hoje parece que perdemos - irremediavelmente ? - a nossa vocação marítima, deixando-nos cair prostrados aos pés da deusa Europa...

Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril / Universidade de Coimbra

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Presunção e água benta...quem não se sente...etc. Vi alinhadas estas maravilhosas descrições de momentos nossos riquíssimos que aqui ficam. Fui ver as minhas " Crónicas dos Palmeirins de Catió" que aqui foram partilhadas...e dei logo com a do post nº 1330..onde relato uma das nossas habituais viagens por águas da Guiné...Faxz bem ir lê-lo...e as que fiz também sobre a vinda para Bissau...a partir do Cais da Rocha...e outras...teria ficado contente se alguém se tivesse lembrado delaas. Porra! Quem não se sente...nunca andou na porrada da Guiné!...Eu andei...

Anónimo disse...

Mensagem do José Colaço, 7/1/2012, 23h57:

Caro Luís Graça

Não tenho dados que contrariem a tua afirmação no comentário sobre o navio Niassa ser o que mais cruzou o Oceano a caminho da Guiné, mas em 1963 os navios que mais se viam no cais em Bissau em principio devido ao seu calado eram os navios Alfredo da Silva, Manuel Alfredo e Ana Mafalda eu próprio fui para a Guiné no Ana Mafalda embora no regresso já tenha vindo no Niassa.

Um abraço e boa noite

Luís Graça disse...

... Meu caro J.L. Mendes Gomes:

Isto é apenas uma amostragem... Felizmente que há mais relatos de viagens (as tuas, a do Hékder Sousa, e outros). Limitei-me apenas às da série "O cruzeiro das nossas vidas"...

Boa música, bom inverno/inferno... em Berlim... LG

Anónimo disse...

Eu sei!...Foi só para vos "picar"...Muito fazem vocês!...A minha admiração sincera.
Um grande abraço a partir de Berlim, onde me sinto assim:




Sinto um amargo na boca .
Morro de sede.
Não me deixa beber.
Sinto uma dor no meu peito.
Queria correr e não posso,
Só p’ra te amar.

Andam fantasmas à solta,
Como corvos famintos,
Que eu não posso espantar.
Queria dormir e sonhar
E não posso.

Abriram as portas reais
Às hordas de abutres da tróika.
Ó se e dependesse de mim!...
Atava-lhes uma corda ao pescoço,
Iam todos bem presos,
Lá p’ròs fundos
do mar...

Zehlendorf, 9 de Janeiro de 2013
2h16m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes


Anónimo disse...

Bom dia a todos,
Foi bom reler estas histórias.
Abraços
Filomena

Abílio Magro disse...

28MAR1973, Aeroporto de Figo Maduro, Abílio Magro, 21 anos, Fur. Milº Amanuense, embarco num DC6 da FAP com destino ao TO da Guiné, efectuando o meu baptismo de voo, já que se tratava da minha 1ª viagem de avião.
Calhou-me em sorte um lugar à janela, junto à asa direita da aeronave.
Á minha esquerda senta-se um barbudo e espadaúdo Fuzileiro com aspecto de já ter algumas comissões no "papo".
O DC6 arranca e, à medida que a velocidade aumenta, sinto que tudo aquilo treme e fico com a sensação de que, a qualquer momento, vai saltar um qualquer parafuso ou rebite.
Já nem sei se quem treme sou eu, ou a aeronave.
Passada, talvez 1 uma hora, olho pela janela e vejo um dos motores da asa direita a verter óleo às golfadas.
Calculo que as minhas feições tenham tomado um aspecto de aflição tal, que o Fuzileiro barbudo sentado a meu lado se apressou a sossegar-me:
- Não se preocupe, tem 2 motores em cada asa e aguenta "x" horas com só 1 em cada lado e, se pararem os quatro, aguenta "y" tempo a planar.
Para quem voava pela 1ª vez, aquela informação "sossegou-me completamente (!!!)".
Acabamos por aterrar na ilha do Sal, onde não saímos do Aeroporto e, depois de feita a manutenção, lá seguimos para Bissau, onde chegamos passadas 4 horas, de farda nº2, com blusão e camisola interior de manga comprida.

Henrique Cerqueira disse...

Meu camarada e amigo Luís
É claro que interpretei "irónicamente"o título do artigo.Tentei usar da mesma ironia.Em breve tambem irei tentar descrever as minhas viagens para a Guiné e volta.Assim como vou pedir á Ni que conte as suas viagens com os mesmo destinos e essa sim cheia de "aventuras"tanto em voo como até no aeroporto de Lisboa aquando do transbordo para o Porto.
Um abraço a todos
Henrique Cerqueira

Anónimo disse...

A C.Caç 4540, da qual fiz parte saiu da Guiné em AGOSTO/74.Foi realmente o cruzeiro das nossas vidas.

Vasco Ferreira