segunda-feira, 8 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11360: (Ex)citações (217): Lavadeiras... e favores sexuais na Empada do meu tempo (José Teixeira / Arménio Estorninho, "maiorais" da CCAÇ 2381, 1968/70)


Guiné  > Região de Quínara > CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/70) > 1968 > Postal de boas festas natalícias... Foto do álbum do Zé Teixeira.




Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba ou Empada (?= > 2005 > "E,m abril de 2005... tal como em 1968" (JT)






Guiné > Região do Cacheu > Ingoré > CCAÇ 2381 > 1968 > O 1º cabo Teixeira no início da sua comissão," com duas crianças vestidas com a farda da Mocidade Portuguesa". Já época, o Zé era um praticante do escutismo católico. Não sei se já era pelo seu nickname, "Esquilo Sorridente".  Sobre Ingoré escreveu ele: "Foram dias, em geral, alegres e descontraídos, os dias de Ingoré, com o pessoal da CCAÇ 2381 em treino operacional antes de ser colocado no sul (Buba, Empada, região de Quínara)" (JT).


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]

1. Três comentártios ao poste P11338:

(i) Luís Graça, editor [,  foto à direita, Candoz, páscoa, 2004]

Zé: Escreveste no teu diário: “Empada, 5/7/1969: (…) A situação moral é caótica. O sexo avança em toda a linha. Quase todas as jovens lavadeiras se prostituem por dinheiro.”

Era a tua perceção, na época. Seguramente que te baseaste na “evidência empírica”, em factos conhecidos, da tua experiência… Mas mesmo assim há sempre o risco da “generalização abusiva”… Fazemos isso todos os dias a partir das nossa experiência pessoal… É o que eu chamo “sociologia espontânea”, podendo no entanto levar-nos a tirar conclusões erradas…

De um modo geral, pode dizer-se que há um pouco de cientista social em cada um de nós. De certa forma, todos nós fazemos sociologia espontânea, psicologia espontânea, epidemiologia espontânea, investigação espontânea. Por exemplo: Quem é que, não sendo médico, não fez já automedicação para lidar com um problema de saúde ? Quem é que não tem uma teoria qualquer para explicar os trágicos acontecimentos do 11 de Setembro de 2001? Quem é que não aplica, na educação dos seus filhos, certas teorias explicativas do comportamento infantil? Quem é que não gosta de especular sobre a eficácia do comportamento do líder nos grupos e nas organizações? Quem é que não se sente capaz de comentar, numa roda de amigos, os resultados de uma eleição para a Assembleia Nacional ou a vitória de um candidato populista, à revelia das máquinas partidárias ou o peso do partido da abstenção ? Quem é que não tem uma teoria espontânea para ‘explicar’ as alterações climáticas ?

Enfim, os exemplos seriam infindáveis… Tu também tens o mesmo direito de afirmar, a partir do conhecimento da situação local, em Empada, em 1969: “O sexo avança em toda a linha. Quase todas as jovens lavadeiras se prostituem por dinheiro.” E comentar: “A situação moral é caótica”…

Mas o que eu gostava de saber era o seguinte. 

(i) Manterias, ainda hoje, esta afirmação, com o conhecimento que tens da Guiné de ontem e de hoje ?; 

(ii) A situação era igual noutras povoações por onde passaste, como Buba, Mampatá ou Aldeia Formosa ?; 

(iii) Havia diferenças entre as lavadeiras cristãs, animistas ou islamizadas (fulas, mandingas, beafadas) ?

Num território em guerra, num terra como Empada, onde havia algumas centenas de militares, deslocados, homens, jovens, brancos e negros, era natural que se criasse um “mercado do sexo”. Acontece em todas as guerras… Mas dizer que “quase todas as lavadeiras” faziam “favores sexuais” pode ser abusivo… ou exagerado. Ou provavelmente, não.

Tiras essa conclusão a partir de um número necessariamente limitado de casos… Não tinhas, nem nós tínhamos, nem ontem nem hoje, estatísticas sobre este problema (ou outros, afins, respeitantes à relação da tropa com a população).

De qualquer modo, temos aqui um problema interessante para discutir no blogue, com bom senso, ponderação e cautela. Só podemos invocar a nossa experiência, limitada. Se queres o meu depoimento, digo-te que tive em Bambadinca uma lavadeira mandinga, e nunca lhe pedi “favores sexuais” nem ela mos ofereceu. Pagava-lhe o que era justo pelo seu trabalho de lavadeira. E não mais do que isso. Quanto ao resto, ia às “meninas de Bafatá” de tempos a tempos… Por outro lado, a maior parte de nós não tinha “quartos privativos", com exceção talvez dos nossos comandantes… E era mais fácil “partir catota” na tabanca do que no quartel…

Zé: eu sei que eras (e és) um católico (,presumivelmente praticante), tinhas e tens a tua ética e fé cristãs, e que nessa época chocava-te a “miséria moral” a que se tinha chegado em Empada…

Como sabes, sempre apreciei a tua autenticidade e franqueza, valores que não são de hoje. Recebe este comentário com (bom) humor... Um xicoração fraterno. Luis Graça

Quinta-feira, Abril 04, 2013 9:16:00 PM
 
(ii) Arménio Estorninho [ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70)

Caro Irmão Maioral Zé Teixeira:  da leitura feita concordo quase no seu todo no descrito e relevando o acidente do Sold Cond Auto Albino Carneiro de Oliveira,  o "Cantiflas", não ridicularizando no seu todo [a tua frase:] "em Empada, em 1969, o sexo avança em toda a linha."

Quanto ao "Cantiflas" que,  depois de um duche e ainda molhado, fora apanhado desprevenido ao tocar nas pontas descarnadas de um cabo eléctrico e que tinha sido retirado de um candeeiro... Tal acidente deveu-se porque a lâmpada de um candeeiro não acendia, para verificar o motivo fora chamado o eletricista e,  tendo concluído que não era avaria do candeeiro mas do cabo de ligação, por isso iria substitui-lo (eu estava presente). No entanto ele esquecera-se de executar o serviço.

Conquanto à noite fora posto em movimento o gerador elétrico, em que o fio condutor ficou com corrente e como o neutro estava partido por isso não fechava o circuito.  Assim, por negligência,  deu-se a morte de um camarada e bom amigo.

Recapitulando sobre o "sexo em Empada, em 1969," não concordo no excesso e na generalização.  Pois,  tirando aquela meia dúzia de bajudas que eram do conhecimento geral, que se acomodaram a outros tantos "felizardos" e não se indicam os seus nomes... Quanto ao resto eram situações isoladas em que quem tinha quarto ou abrigo semiprivado, tinha a possibilidade de receber visitas e com a canção do bandido em "troca de" era ofertado algo compensatório.

Com um Abraço de Maioral
Arménio Estorninho

Sábado, Abril 06, 2013 2:35:00 PM
 
(iii) Zé Teixeira  [, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381,  IngoréAldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70]

[Foto à esquerda: O Zé, na Tabanca Lisboa, em 2005]


Caríssimos amigos:  Ao reler a frase que escrevi no meu diário de guerra " o sexo avança em toda a linha"...apetece-me rir às gargalhadas. Na verdade,  eram outros os tempos e outra a visão da realidade, sobretudo na área dos afetos.

Eu era um jovem escuteiro católico com ideal de vida projetado para a paz, o respeito pelo outro e a disponibilidade para SERVIR, a viver forçado e contrariado uma guerra. Vivia,  assim, num ambiente de guerra, onde o respeito pelo outro era imposto pela força da G3. Intimamente revoltado, remetia-me a algum isolamento,  a um silêncio que me asfixiava.

Este escrito foi, visto à distância do tempo que curou as feridas, uma generalização abusiva, como diz o Luís Graça,  que resultou do conhecimento de alguns acontecimentos reais que me chocaram como homem, como cristão e como escuteiro.

Nos primeiros tempos de Guiné, em Ingoré, quase nunca saí do perímetro do quartel à enfermaria. 

Em Mampatá vivíamos em comunidade com a população, pois não havia quartel, mas o respeito pela pessoa quer pela atitude do José Belo,  o alferes comandante do Gr Cpmb que logo à partida chamou à atenção para duas realidades concretas: Todos somos homens e todos queremos regressar a casa, para tal temos de conviver com a população de forma a não criar o mínimo atrito. A tabanca era pequena, todos se conheciam e se respeitavam e faziam respeitar. É natural que tenha havido um caso ou outro de intimidade, sem deixar marcas.

Em Buba a azáfama era tanta que não havia tempo para se pensar nestas coisas.

Ao regressar à Guiné, retemperado após um mês de merecidas férias em Portugal, fresquinho de ideias e ideais, chego a Empada onde a companhia se tinha instalado e encaro com as estórias de A, B, C,...O casado com um filho que anda com fulana, o alferes que julgava que era o único e quando deu pela situação, à noite formava-se uma carreirinha à espera de vez....etc. A casa das meninas (duas irmãs), o prometido noivo que era virgem e foi pedir ao camarada para ir falar à catraia para o atender bem e claro o tal camarada foi à frente e quem pagou foi o "noviço"...Tudo isto foi um choque para mim,  aliado ao casp da velhinha que se prostituía por um cigarro que até o fumava com o lume dentro da boca, etc.

Tudo isto provocou em mim um choque,  a juntar a tudo o resto e o desabafo saiu no diário. Bem ou mal está lá, porque reflete um estado de espírito. Exagerado, porque não reflete a verdade. Eram apenas algumas lavadeiras e alguns camaradas e sobretudo era o efeito da realidade humana - seres sexuados. Senti que havia alguma falta de respeito pela pessoa humana, pela maneira como as jovens eram motivadas a fazerem "favores sexuais" pelo valor do dinheiro. Tinha conhecimento de uma jovem na Chamarra que o marido, ao saber que ela estava grávida de um branco, a repudiara e a pôs fora de casa. Enfim! (*)

Zé Teixeira
______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 26 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11319: (Ex)citações (216): É lamentável que se perfilhe a teoria propagandista do IN/PAIGC, segundo a qual este cercou Guiledje em Maio de 1973 (Carlos Silva)

16 comentários:

Luís Graça disse...

Qual foi o papel de Empada no início da guerra ? Tenho ideia, pela informação de que disponho, que esta comunidade foi muita afetada pela guerra... Talvez mais do que outras da região de Quínara... Muitas famílias foram "cortadas ao meio", com elementos separados pela guerra: uns ficaram do "outro lado", outros ficaram do "lado de cá"...

Seria bom termos depoimentos sobre o início da guerra, em Empada, em 1963... Ou até antes... Poucos camaradas nossos sabem o que se passou aqui em 1962 e 1963...

Anónimo disse...

Lavadeiras que lavavam a roupa,outras lavavam "tudo..mesmo".

Sexo puro e duro..libido às carradas..hormonas a ferver.
"Pecados"carnais..e outros que tais.

Cabeças de "baixo" descerebradas.
Guerra..ansiedades (stress)..despejo da "horta"..só de tomateiros.

Prostituição tão velha como o mundo.

Dignidade e algumas "indignidades".
Nada de novo nos diferentes pontos cardeais.

Os sociólogos têm aqui um tema vasto para estudo.
A propósito nunca houve muitos mulatos na Guiné..porque seria !!

C.Martins

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

A sexualidade é, desde sempre, um tema sensível, em particular se tivermos em conta a carga moral ou moralista de cariz cultural ou religioso que o acompanha nas nossas sociedades.

Falando de relações sexuais entre a tropa e as nossas mulheres (locais) que não podem ser confundidas com prostituição, sendo esta uma dimensão distinta dentro do mesmo e grande campo sociológico, a minha opinião é que no decurso da guerra e em função do aumento do numero do contigente militar no TO, da fixação mais prolongada, da diminuição da frequencia das operações e saidas ao mato em determinados sitios, da aclimatização e perda relativa do medo da diferença e do outro, do estranho, etc..etc, terá havido maiores espaços sociais de convivialidade e de aproximação entre as partes que, por sua vez, favoreceram e facilitaram as relações de intimidade.

No caso concreto de Fajonquito, uma tabanca grande para a época que recebera numerosas familias fugidas da guerra a volta e habitada por uma população Fula e Mandinga, coexistiram lado a lado uma espécie de prostituição semi-profissional, protagonizada por algumas mulheres viuvas ou solteiras sem esperanças de voltar a casar, quase sempre de outras etnias não muçulmanas e que, por isso, eram imunes a pressão comunitária local. Mas, também, algumas bajudas Fulas cairam no charme dos jovens brancos e pasmem-se, era por amor, pela curiosidade e gosto da aventura ou simplesmente por violação as vezes consentida e fraqueza pessoal ou humana.

Os casos da prostituição eram bem controlados porque eram feitos por profissionais do sexo que não raras vezes alugavam os serviços de pessoas terceiras dentro de um grande sigilo profissional.

Paradoxalmente, a maior parte dos filhos "mestiços" que resultaram dessas relações fortuitas aconteceu com as nossas bajudas Fulas ainda jovens e inexperientes, quase crianças sem contar com os casos de aborto ou de infanticídio.

Os primeiros casos conhecidos e que resultaram em filhos de carne, osso e cabelos ondulados ou de capim seco, são de meados de 1969, mas a maior parte aconteceu depois de 1970 tempo que coincide com as duas últimas companhias.

Conheci muita bajuda fula ingenua e doidamente apaixonada por soldados metropolitanos, mas infelizmente, parece que não havia recíprocidade de sentimentos. Aos soldados apeteciam-lhes fazer sexo e descarregar suas baterias com as nativas e mais nada, pois a mentalidade colonial de superioridade racial debaixo dos seus camuflados não lhes permitia ter outra forma de ver as coisas e de se relacionar com o nativo, "indígena" logo inferior.

É evidente que hoje, todos nós temos uma forma diferente de ver as coisas e de justificá-las.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

Luís Graça disse...

"Aos soldados apeteciam-lhes fazer sexo e descarregar suas baterias com as nativas e mais nada, pois a mentalidade colonial de superioridade racial debaixo dos seus camuflados não lhes permitia ter outra forma de ver as coisas e de se relacionar com o nativo, "indígena" logo inferior" (Cherno Baldé dixit).

É o Cherno Baldé, "menino e moço de Fajonquito", que escreve esta frase, ou é o dr. Cherno Baldé, homem grande e pai de família ? Obrigado, amigo e irmão, pelo teu depoimento sobre a situação em Fajonquito nos últimos anos da guerra, no que diz respeito às relações entre a tropa e a população local.

Devo, no entanto, chamar a atenção para o facto de, em muitos sítios, a NT ser cosntituída por tugas e guineenses, deslocados... (pelotões de caçadores nativos, pelotões de artilharia, companhias africanas como a minha CCAÇ 12, destacamentos de fuzileiros especiais, batalhão de comandos africanos, etc.).

Um alfa bravo. Luis

Anónimo disse...

Manifesto exagero...Relacionei-me

com muitas lavadeiras, nenhuma se

prostituíu.


Claro que nos meios urbanos, que

melhor conheci,Bambadinca e Bafatá,

existia prostituição.

Mais de quarenta anos depois,

sinto-me obrigado a defender a

virtude das minhas queridas

bajudas...

Abraço.

J.Cabral

Zé Teixeira disse...

Obrigado Cherno pelo ponto de vista que expressas e que é o resultado de uma visão atenta dos acontecimentos in loco.
Tu, melhor que qualquer um de nós podes explicar bem este fenómeno. Creio que na realidade a visão ou concepção de ser "superior" do militar branco só em poucos casos lhe permitia um apaixonamento real, mas da outra parte também se colocavam reservas a meu ver naturais, porquanto um militar branco não ficaria na Guiné, após a passagem à "peluda"
Muitos de nós tínhamos assumido compromissos de namoro, noivado e casamento em Portugal.
No entanto conheci camaradas que se apaixonaram por jovens africanas e não eram correspondidos, pois já estavam prometidas em casamento na maior parte dos casos. Também conheci jovens africanas apaixonadas por camaradas meus.
Eu ainda hoje trago na mente a imagem da minha lavadeira, como a mais linda mulher que conheci, a qual estava prometida a um filho do chefe de tabanca, pelo que se distanciava de nós. Nas vezes que voltei à Guiné, tive a oportunidade e a alegria de me reencontrar e conviver com ela e com o marido
As intimidades partilhadas, eram em muitos casos resultantes de um aproveitamento por parte do militar branco do seu poder económico e o poder das armas, aliados às necessidades hormonais como diz o C. Martins, de uma juventude afastada do seu modus vivendi.







Zé Teixeira disse...

Luís
no relatório da C.Caç 2381 " Os Maiorais" está escrito:
" Logo que eclodiu o terrorismo através de vicissitudes e peripécias várias a destruição da nossa parte das tabancas que apoiavam o IN,destruição das tabancas que nos apoiavam por parte do IN.. Os campos foram-se a pouco e pouco estremando, refugiando-se a população que nos era favorável em Empada e arrastando o In para fora do nosso alcance as restantes populações, refugiando-se e organizando-se nas zonas da Península de Pobreza, Dassalame, Aidará, Cá Beafada e Cã Balanta...Assim, segundo os dados de 1963 o nº de contribuites era de 2.388 e o total de habitantes com mais de 16 anos era de 8.827. atualmente existem do nosso lado 437 contribuintes com um nº de habitantes de 1.354"

Por aqui se pode ver os efeitos negativos da guerra na região, nos primeiros tempos. ^Sabe-se que a região era muito rica em campos de arroz. Aliás as companhias estacionadas em Empada iam todos os dias até à Ponderosa montar segurança às bolhanhas onde a população se dedicava à agricultura.
Em 2005 tive a oportunidade de conhecer o Sr Manuel atual proprietário do aquartelamento de Jugudul, hoje transformado numa fábrica de aguardente de cana. Este senhor era um dos filhos de um comerciante que geria todo o mercado agrícola da Região de Empada. Foi-me dito por ele que o seu pai e irmão mais velho tinham morrido em Empada no início da guerra, ficando ele com o negócio, que entretanto foi se esgotando face ao desenrolar da guerra.

Logo no pós guerra comprou o quartel com o apoio do Nino e transformou-o numa fábrica de aguardente que ainda hoje existe

Zé teixeira

Cherno disse...

Caros amigos Luis e Zé,

A minha visão deste fenómeno em particular não pretende ser completa, nem neutra e muito menos deve ser vista como imparcial, é simplesmente uma opinião de quem (con)viveu a época com as suas naturais limitações de análise, viu e sofreu juntamente com os seus irmãos "mulatos" as dificeis experiencias e as mil e uma interrogações sem respostas de crianças que estavam a crescer num mundo que a partida não devia ser deles e eram tratados em conformidade.

Acontece que o fenómeno dos filhos mestiços entre nós não era de todo inédito, pois já os comerciantes lusos, em tempos anteriores, tinham feito filhos num contexto diferente e com comportamentos diferentes.

Os da primeira vaga (comerciantes) eram mais responsáveis e assumiam sempre a sua progenitura, muitos dos quais eram enviados para estudar em colégios na metrópole e não havia problemas de maior.

Os filhos da tropa, abandonados, quase todos, viraram brancos "Mpelelé" no periodo após independência.

As promessas de casamento entre familias, eram de facto uma realidade, particularmente no seio dos grupos islamizados, mas também não se pode apresentar nenhum caso em que um soldado "tuga" fosse apresentar-se aos pais de uma bajuda com uma proposta séria de casamento, nenhum.

Posso garantir-vos que a maior parte das mulheres casadas com soldados nativos ou milicias daquela época já estavam prometidas a outras familias ou pessoas, mas sempre que foram colocadas perante factos reais (por força do estatuto militar, capacidade financeira ou decisão firme das filhas e pretendentes), os anciões guineenses souberam sempre decidir pela razão, pela bondade e bom senso que caracteriza a mentalidade primitiva dos africanos da época.

Reconheço e aceito o meu etnocentrismo, obrigado e mais não digo,

Cherno Baldé



Anónimo disse...

PS: E, por sinal, sao estes filhos de comerciantes lusos, Caboverdianos e Saotomenses que, mais tarde, bem instruidos e conhecedores do mundo e da realidade portuguesa, vao formar a nata da elite politica que vai reivindicar o direito a emancipacao e a independencia dos territorios do ultramar.

Cherno

Torcato Mendonca disse...

TUDO POR UMA QUECA?
NA GUINÉ, EM PARIS, LISBOA...COM UMA GUINEENSE, FRANCESA, SUECA OU PORTUGUESA...é uma queca. Subsiste, para mim claro, só um problema - que seja bem dada e que tudo, depois da dita, não traga problemas.

Se me o permitem, mais ele claro,faço das palavras do nosso amigo e camarada Jorge Cabral as minhas. Só!

Ab, T.

Anónimo disse...

Caros camaradas

Claro que era tudo por uma "queca",o resto ..bem.. julgo que houve de tudo,violações..não denunciadas..abortos..infanticídios..mas julgo que a grande maioria foram consentidas..por desejo mútuo..algumas paixões ou amor até.

Quanto ao que o Cherno diz na sua douta opinião.."que nos considerávamos superiores"..tem razão..mas pessoalmente nunca me considerei nem me considero superior..tínhamos isso sim poder que mais não fosse pela força das armas.

Quanta sensualidade e erotismo e até beleza tinha e tem a mulher negra.. e nós não éramos de pau..as coisas aconteciam naturalmente.

C.Martins

José Botelho Colaço disse...

Não falo de sexo porque no Cachil não tinha-mos nem bajuda nem mulher grande, bem que o capitão rodava a secção que ia a Catió para assim descarregarem baterias.
Empada eu em 1964 tinha lá amigos que fiz via rádio!

Colaço. C. caç 557 Ilha do Como.













Unknown disse...

Essa da "superioridade colonial e racista" é de bradar aos ceus. Para não lhe chamar estupidez. Mas enfim, os novos colonos é que sabem como é.

Unknown disse...

Dei algumas fodas por amor e nunca me senti superior. Nem nunca forcei nenhuma mulher. Mulher é mulher seja de que nacionalidade for ou a cor que tiver.Sim, também tive prostitutas que nem profissionais sabiam ser.

Luís Graça disse...

Mensagem enviada ontem a toda a Tabanca Grande, pelo correio interno:

Amigos e camaradas:

Fica aqui um desafio... Comentários e comentadores precisam-se... Mesmo que o tema seja "sensível"... Na Guiné, no nosso tempo, nada foi "a preto e branco"...

Luis Graça

Antº Rosinha disse...

Não se deve confundir uma simples queca de um soldado ou de qualquer jovem numa breve passagem (2 anos) pela África colonial, com o fenómeno da mestiçagem luso-africana ou luso-brasileira.

Toda a secular colonização portuguesa foi baseada num ambiente mestiço.

Os últimos anos (13) de guerra do Ultramar colonial, que representam o fim do império, não são representativos do ambiente colonial.

O ambiente mestiço das colónias portuguesas (antes da guerra) era muito respeitável, e foi pena que se extinguiu ou esteja em vias de extinção porque era um modelo digno de ser preservado e imitado.

O PAIGC guineense eliminou esse ambiente mestiço com o 14 de Novembro de 1980.

Penso que se está mantendo e desenvolvendo esse fenómeno em São Tomé, Caboverde e Portugal.

O "bulling(?) sobre estudantes mestiços no liceu de Bissau, após o 14 de Novembro era perigoso e muito difícil.

Colega meu Sãotomense teve que reenviar os filhos para Portugal, nesses tempos.

Pessoalmente penso que era naquele bem-estar mestiço que sonhavam os fundadores do MPLA. PAIGC e FRELIMO, quando resolveram partir para a independência.

Cumprimentos