segunda-feira, 24 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11755: Blogpoesia (347): A outra guerra; Meus cabelos brancos; Serenatas do sul de África; Lembrando serões (J. L. Mendes Gomes)

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A outra guerra e outros poemas recentes (J. L. Mendes Gomes)


A outra guerra...


Passei por mim,
ao virar da rua, 
...fazia luar.

Quase não me reconhecia.
Fazia tanto eu não me via.
Tinha crescido. Mudara tanto.

Era miúdo quando me vi partir.

Cresci. Fiz-me homem.
Parecido com meu pai.

──Por onde tens andado? ── me perguntei.
Olhei para mim, surpreendido.
── Como crescestes, tanto! 
Há tanto que te não vejo.
Por onde andaste?...
diz-me lá, meu velho. 
Sentia tantas saudades tuas.

Nossa Mãe morreu...
e tu não estavas ao pé.
Perguntou por ti...
Suas últimas palavras...
── O meu Quim Luís...nunca mais o vejo! ──
Depois expirou.
──  Estás um homem feito!...
Conta-me lá...quero saber tudo.
Sei que foste à guerra...
E nada mais...
Deves ter tanto p'ra me contar!
Por aqui foi tudo igual...
Só tu não estavas...
E sempre à espera duma má notícia...
Ainda bem que não...
Deus assim não quis.
Tens outra guerra à espera.
E bem pior...
a guerra na paz...

Mafra, 23 de Junho de 2013


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Meus cabelos brancos


Meus poucos cabelos brancos
Esvoaçam ao vento,
Como se fosse uma floresta virgem.
Uma seara verde.
Poisam neles os passarinhos.
Nos seus recantos escuros
Fazem ninhos,
Depois amor.
E dos ovos saem
Bicos abertos
Que sorriem vivos.
Querem viver.
Querem voar.
Vou deixá-los crescer.
Em liberdade pura.
Para os ver voar,
Chilreando alegres,
Poisando nas flores
Desde que à noite voltem
E durmam soltos
Nos meus cabelos,
Como se fossem ninho.
Benditos sejam
Estes cabelos brancos,
Minhas telhas brancas
Do luar de Agosto...


Ovar, 19 de Junho de 2013
20h40m
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Serenatas do sul de África



Apetece voar,
perto das estrelas,
oceano além
e poisar no cabo de África,
para ouvir o canto divinal
deste coro de musas,
que cantam África
como mais ninguém.
Ressuma a selva,
Planuras sem fim,
Colinas ao sol,
Árvores gigantes,
Beijando as nuvens,
Rios famintos,
Lagos de mar,
Onde a vida virgem,
Em pujança a arder,
Ainda cheira a esperança.

Onde mãos irmãs,

Brancas e negras,
Entrelaçadas,
Cantando ao sol,
Cavam a terra
E semeiam o pão.
África negra e branca
Duas irmãs...
Aleluia!...
Aleluia!..


Ouvindo André Rieu,

Mafra, 19 de Junho de 2013
7h49m
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Lembrando serões...

Como uma lenda antiga
Que os avós contavam,

Ao serões de inverno,
Lareira a arder,
No rigor do frio,
A chuva a cair,
O vento a soar,
Bramidos de mar,
Oiço enlevado,
Minhas ondas internas,
Contando segredos,
Contos de fadas,
Me fazem sonhar.
Lembro as horas,
Tão longe,
Carregadas de amor,
Brincando às cegas,
Noitadas sem fim,
Sem querer dormir,
Ao pé dos meus pais alfaiates,
Que ganhavam o pão,
Na oficina a coser e brunir.
A roupa a estrear
Para a festa da igreja,
Com música e andores.
Que estava a chegar.
Em Pedra Maria,
E demais arredores,
Nos quinze de Agosto,
Senhora da Assunção,
Com gente feliz...

Ouvindo “ silêncio” de Beethoven

Ovar, 12 de Junho de 2013
15h58m

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes
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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11727: Blogpoesia (346): O Menino Homem (Felismina Costa)

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