domingo, 11 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11928: Fotos à procura... de uma legenda (22): Os régulos felupes de Djufunco e os seus banquinhos onde mais ninguém se pode sentar (sob pena de morte!) (José Teixeira)



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Djufunco > 9 de maio de 2013 > Foto nº 21 >   Os régulos da tabanca, felupes,  Alberto Sambú (o mais novo, que vai á frente, vestido de verde) e o Necolá Djata (o mais velho, vestido de vermelho, que vai atrás)... Para que ninguém ouse sentar-se no banco dos régulos (, sob pena de morte!) , estes têm o cuidado de o trazerem sempre consigo, como se pode ver nesta foto em que acompanham os tugas  na visita à tabanca. O mais novo ainda se faz acompanhar de uma vassourinha para limpar a terra e areia dos pés. Cada terra tem seus usos e costumes, mas este é, com o devido respeito, deveras estranho. (JT)
Foto (e legenda): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Ediçãor: LG]

1. Comentário de L.G.: Alguém quer complementar a legenda do José Teixeira, aventurando-se numa tentativa de explicação, mais etnológica, deste "tabu" (é proibido sentar-se no banco do régulo, sob pena de morte) ? É um passatempo de verão, para estes dias de canícula... Os editores, mais ou menos em férias, agradecem... e desafiam os especialistas em usos e costumes jurídicos dos felupes da Guiné-Bissau...

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Nota do editor

8 comentários:

Luís Graça disse...

Para que o tabu tenha eficácia penal e simbólica, é preciso que Djufunco seja também um Estado dentro de outro Estado... Ou seja, é preciso que os régulos tenham o poder efetivo de, em caso de tarnsgerssão, "limpar o sebo" ao infrator, *a revelia do poder central, distnate, de Bisssau... Ou é suficiente a eficácia simbólica ?

Luís Graça disse...

... Zé, ainda bem que nos avisas, não vá um de nós, um dia destes, visitar Djufunco e, chegado lá, cansado da viagem, sentar-se no primeiro banquinho que aparece...

E será que os homens não largam mesmo o banquinho ? Mesmo quando dormem ou satisfazem outras das necessidades fisiológicas básicas como, por exemplo, fazer regulozinhos ?...

Obrigado, Zé, esta é a foto do... mês!

Luís Graça disse...

É, malta, toca a consulltar estte trabalho do pai do Pepito...



SILVA, Artur Augusto da
Usos e costumes jurídicos dos Felupes da Guiné / Artur Augusto da Silva. - Trabalho apresentado ao Concurso Científico e Literário aberto pelo Centro de Estudos, em 1959, no qual obteve o prémio «Honório Barreto», ex-aequou com outro original do Dr. Maurício de Oliveira Lecuona.
In: Boletim Cultural da Guiné portuguesa / Centro de Estudos da Guiné Portuguesa. - vol.XV, nº 57 (Janeiro 1960), p.7-52.


http://memoria-africa.ua.pt/Catalog.aspx?q=TI%20usos%20e%20costumes%20juridicos%20dos%20felupes%20da%20guine

Luís Graça disse...

Sobre os felupes, ver também (, além dos marcadores do nosso blogue,) este documento, escrito por um chefe de posto tuga, reproduzido pelo nosso camaradas A. Marques Lopes, estudioso das coisas e das gentes da Guiné-Bissau:

http://www.slideshare.net/Cantacunda/felupes-9294961

Zé Teixeira disse...

Fique claro que obtive esta informação sobre o uso do banco através de um estudo de um camarada militar que esteve na região felupe nos primórdios da guerra e fez um levantamento sobre usos e costumes dos felupes.
vou tentar localizar o estudo para o pôr em comum.
De qualquer modo é estranho esta conduta dos régulos de se fazerem acompanhar para todo o lado com o seu banquinho e se repararem o banco do Régulo principal está forrado da cor do seu gorro.

zé Teixeira

Antº Rosinha disse...

Os usos e costumes africanos sempre foram respeitados oficialmente pelas autoridades coloniais.

Não só respeitados como as autoridades apoiavam os chefes tribais a serem respeitados.

Mesmo nos casos mais estranhos como as cerimónias de fanado masculino e feminino e mesmo óbitos com rituais totalmente diferentes do colon.

Isto que todos em geral estamos carecas de saber, o respeito aos usos e costumes antigos pelo colon, no caso da Guiné após a independência já não houve grande respeito por parte de muitos revolucionários do PAIGC que vieram com cursos universitários e militares dos países do leste e de outras partes.

Não menciono casos pessoais, mas muitos destes estrangeirados revoltavam-se imenso contra esses autoridades tradicionais e não o escondiam.

Hoje talvez já não haja tantos jovens africanos "europeizados" ou "arabizados" ou "estalinizados" a reagir contra, mas talvez porque a maioria deles divorciaram-se dos laços tradicionais ou desapareceram para a Europa ou Américas e estão-se desafricanizando dessas tradições.

As tradições africanas será durante muitos gerações uma auto-defesa tribal.

Mas continuando assim, este blog ainda vai servir de estudo da história para futuras gerações de guineenses.

Anónimo disse...

Seräo "assim" täo originais?
Näo tinha o Salazar um desses banquinhos?

Luís Graça disse...

Releia-ase o que aqui publicámos em tempos sobre as sociedades des e culturas africanas, da autoria de Artur Augusto Silva:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/11/guine-6374-p9117-incitacoes-36-para.html


(...) Sanção: desprezo da comunidade, suicídio, doença e morte, banimento


A desobediência tem como sanção um elemento moral da mais alta transcendência: o desprezo da comunidade. O homem que as sofre, na maioria dos casos, só no suicídio encontra uma fuga para o terrível isolamento em que passa a viver.


Por vezes, pode juntar-se ao desprezo da comunidade uma outra sanção moral, de fundo religioso: a doença e a morte provocadas pelos espíritos dos antepassados que velam pela boa ordem do povo.


Só em caso de extraordinária gravidade é que a colectividade toma uma deliberação extrema: o banimento daquele que infringiu o costume instituído pelos antepassados.


O parentesco ou a ligação em classes de idade é o vínculo que une os homens.


Regulação do(s) conflito(s)


E as próprias lutas dentro da tribo, mais se assemelham a competições desportivas do que a guerras, porque nunca ultrapassam o aspecto desportivo. Veja-se como entre os felupes, por exemplo, quando duas tabancas entram em guerra, logo surge outra tabanca que vai apreciar a luta e não deixa que esta atinja grande crueldade. Quando os árbitros vêm que a contenda toma foros de crueldade, logo intervêm e apaziguam os beligerantes.


Este sistema anárquico não vive, como pretendiam os teorizadores europeus do século passado, de um individualismo sublimado, mas de um comunitarismo onde o indivíduo não existe.


Entre estes grupos anárquicos, não existe nenhum chefe — os balantas e os felupes, por exemplo, não os têm — e o único comando ou regra de vida é o costume legado pelos antepassados.


Poder-me-ão dizer que entre os felupes existe um chefe, «o Aiu». Mais uma observação precipitada daqueles que querem generalizar as nossas instituições a todos os povos.


O Aiu é um chefe que não comanda, nem é obedecido. Limita-se a revelar o costume. Mas porque o costume tem base mística, o Aiu é também o grande revelador.


O poder das crenças religiosas, uma liberdade ampla, uma vida comunitária sólida e uma igualdade de fortuna, mantêm a paz social e a felicidade do povo.


Entre os felupes, há uma palavra comum para designar LIBERDADE, PAZ, FELICIDADE: «kasumeie».


Como acontecia na Roma antiga, tudo o que perturbe a ordem, é considerado um sacrilégio. E sacrilégios são a ambição, a riqueza, a vaidade… (...)