sábado, 1 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11661: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (3): No antigo corrredor da morte: Gandembel, Balana, Mejo, Guileje ... E as novas tabancas do Cantanhez: Amindara, Faro Sadjuma, Iemberém... E as crianças a correr atrás de nós: Poooorto! Poooorto! (Leia-se: Portugueses, Portugal)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mejo > 2 de maio de 2013 > O Zé Teixeira e o Régulo de Medjo – ex-combatente dos tempos de Guiledje, por detrás da tabuleta que assinala o "poço de Medjo", um dos melhoramentos da aldeia, tornado possível graças à solidariedade da ONG Tabanca Pequena, de Matosinhos




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mejo > 2 de maio de 2013 > Crianças e mulheres de Medjo


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana > 2 de maio de 2013 > O rio Balana e a sua ponte, a seguir a Gandembel.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Faro Sadjuma > 2 de maio de 2013 > O miradouro de Sutuba, para observação da vida animal...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez >  Faro Sadjuma >  Miradouro de Sutuba >  2 de maio de 2013 > ... Sem visita marcada, os habitantes locais não apareceram...




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Amindara > 2 de maio de 2013 > Mais outra tabanca que passou a ter água potável, graças ao apoio da ONG Tabanca Pequena...


 Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez >  2 de maio de 2013 > Cartaz publicitário do hotel  DjsamDjam,  em Faro Sadjuma


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Faro Sadjuma > 2 de maio de 2013 > Interior de um bangalô, no Hotel DjamDjam, em Faro Sadjuma, no interior da Mata do Cantanhez.


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]




Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau 

(28 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte III 

por José Teixeira [, membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa,  Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo ] (*)



O tempo voou sem nos apercebermos. Era já a hora ideal para almoçarmos em Faro Sadjuma, onde nos  esperava a Fatumata, com o saboroso petisco de sua lavra e as canções com cheiro ao Minho e Viana do Castelo, quando ainda estávamos a passar a ponte sobre o Balana. Local que o Francisco Silva quis fotografar para levar uma recordação ao Hugo Guerra, pois foi neste mítico lugar, ali mesmo ao lado de Gandembel, que este iniciou a sua guerra.

Para mim foi mais uma oportunidade de regressar a um passado de sangue,  suor e lágrimas, neste espaço de terreno desde Quebo (Aldeia Formosa) até Gandembel. Sinto felicidade imensa em passar por aqui e reviver estes locais, onde a vida germinou de novo. As tabancas surgiram por todo o lado, nos locais onde a terra é fértil e dá pão. Dá-me imenso gosto sentir a alegria e a vida desta gente pobre e humilde a palpitar. Os sorrisos de esperança espelhados nos rostos das crianças que correm ao lado da viatura a gritar POOOORTO! POOOORTO! o que quer dizer Portugueses ou Portugal,  substituindo o velho grito do inimigo de outros tempos:
– TUGA, vai-te embora!

Como me senti feliz ao poder apreciar as bajudas a tomarem banho no Balana sem se preocuparem com a nossa presença. Foi um regressar feliz a outros tempos, mas não naquele lugar. Deixei-me banhar por um sentimento de imensa felicidade ao sentir,  mais uma vez,  que a paz é possível e com paz a vida brota felicidade e bem estar.
Seguiu-se Guiledje, de passagem, uma hora depois, com promessa de voltarmos,  com tempo de sobra, no regresso,  para saborearmos este naco da história recente da Guiné-Bissau.

Por fim, quando o sol caminhava para o zénite, aportamos no Hotel Djamdjam, em Faro Sadjuma, para almoçar, deixando para trás Medjo e o seu régulo, o camarada Manuel Umaru Djaló, dos tempos duros de Guiledje.

O petisco, galinha à cafreal como só a Fatu sabe fazer, acompanhado por uns copos de fresquinho sumo de cabaceira, soube demais.

Após uma visita aos bungalôs ou moranças adaptadas a quartos de dormir com muita mestria, voltamos a Medjo, para conversar um pouco com o "velho" Umaru, que nos recebeu com a sua apreciada simpatia. Falou-nos do seu povo e do bem-estar da tabanca com a abertura do poço de água e respetivo fontanário, agora numa fase em que a água está mesmo no fundo. Foi necessário condicionar o fornecimento de água existente no depósito, destinando-a apenas para matar a sede, aguardando os melhores dias que se aproximam com a época das chuvas.

De novo na picada,  estamos de passagem na tabanca de Amindara, onde foi aberto outro poço com o apoio da ONG Tabanca Pequena, e em que se faz sentir os ganhos em saúde,  especialmente das crianças, associados ao bem estar resultante  da melhoria da qualidade da água para beber.

Seguimos para Iemberém, com tempo ainda para passar pelo Miradouro Sutuba,  à procura dos Macacos ComChimpazés Dari e  Búfalos, que por falta de marcação atempada da hora, não se dignaram aparecer.

Por fim, chegamos ao destino, onde nos acolheu com a simpatia que já nos habituaram o Abubakar [, engenheiro agrónomo da AD,]  e a Satu, sua esposa,  que nos preparou um petisco de galinha (Muita galinha se come na Guiné!),  com molho de mancarra, que soube muito bem depois de um excelente banho reparador.

Segui-se uma amena cavaqueira, que se prolongou até chegar o cansaço. Pelo fresco, recolhemos aos acolhedores quartos que nos estavam reservados. Enfim,  uma noite repousante!

Nesta rota passada a correr, vimos uma estrada ou picada cheia de gente num corrupio do dia a dia, muitas tabancas cheias de vida, muita juventude e muitas crianças que acenavam ou corriam atrás da viatura, gritando POOORTO, POOORTO. (Portugal, Portugal).

Que felicidade!

Zé Teixeira

[O título do poste é da responsabilidade do editor]

(Continua)
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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11660: Notas de leitura (487): "A Verdadeira Morte de Amílcar Cabral", por Tomás Medeiros (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Fevereiro de 2013:

Queridos amigos,
Mais um documento polémico sobre o pensamento e a obra de Cabral, vem do punho de um companheiro de juventude, um são-tomense que com ele conviveu na Casa dos Estudantes do Império e no Centro de Estudos Africanos.
É uma interessante reflexão sobre a evolução do pensamento da crítica colonial , e não é por acaso que ele considera que Cabral se sentia muito devedor de Aimé Césaire e Frantz Fanon.
Onde a polémica sobre de tom é no levantamento que o autor faz sobre as incompreensões sobre a Guiné e Cabo Verde, ele esmiuça as duas realidades distintas para comprovar que o líder do PAIGC foi um revolucionário que se deixou arrastar por uma utopia irrealizável.

Um abraço do
Mário


A verdadeira morte de Amílcar Cabral

Beja Santos

“A Verdadeira Morte de Amílcar Cabral”, por Tomás Medeiros, Althum.com, 2012, é um longo olhar de um companheiro africano de Amílcar Cabral, nalguns pontos altamente polémico, sob a formação do líder do PAIGC, o seu papel de lutador e uma análise sobre as razões do insucesso político das grandes mensagens que constituíram o sopro revolucionário de um dos maiores pensadores africanos. Tomás Medeiros estudou em Lisboa, acompanhou Cabral dentro e fora da Casa dos Estudantes do Império e é tido como um dos poetas importantes da literatura são-tomense.

Duas abordagens me parecem dignas de nota: o quadro histórico que ele descreve como propiciador da luta anticolonial e a apreciação demorada a que procede para demonstrar a inevitabilidade da cisão Cabo Verde-Guiné. Quanto ao mais, é a minha modesta opinião, a sua apreciação nada traz de novo, se tivermos em linha de conta o que de mais recente se escreveu sobre Cabral e a sua obra, nomeadamente os trabalhos incontornáveis de Julião Soares Sousa e Leopoldo Amado, isto para já não falar da tese de doutoramento de Tcherno Djaló intitulada “O Mestiço e o Poder – Identidades, dominações e resistências na Guiné” de que oportunamente se fará a competente recensão, é um trabalho que desvela as profundas crispações entre os mestiços e os guineenses negros.

Tomás Medeiros vai longe quando observa os documentos sobre a crítica colonial, remontam essas posturas sobre a negritude aos anos 20 do século XX, mostra como o fenómeno amadurecera no fim da II Guerra Mundial e estava estabelecida uma aliança implícita entre o pensamento político terceiro-mundista e o apelo à transformação revolucionária das realidades do mundo africano. Faz uma análise original da literatura portuguesa e a motivação suprema dos Descobrimentos, cita camões, Duarte Gama (um poeta do Cancioneiro Geral) Garcia de Resende (outra poeta do Cancioneiro Geral), recorda a literatura cabo-verdiana assente nos flagelos da seca e da fome e a resposta dada por Juvenal Lopes Cabral, pai do líder do PAIGC, um professor primário cabo-verdiano que se sentia medularmente português. Não é novidade para ninguém quando se refere que Cabral teve a sua aprendizagem política em Lisboa, mexeu-se na órbita do MUD, comportou-se como um oposicionista não engajado, participou ativamente na Casa dos Estudantes do Império e no Centro de Estudos Africanos. Na sequência de uma trajetória que o leva para o exílio, Cabral funda um partido de tipo novo, é ele quem decide a transferência da direção do PAIGC para Conacri, melhor aliado e mais perto do território não podia ser. Tomás Medeiros faz um bom resumo dos problemas teóricos que irão enquadrar as grandes tarefas que Cabral propõe ao PAIGC e daí a atitude de mobilização e a resposta pela luta armada.

Entrando na questão polémica da unidade entre Guiné e Cabo Verde, o autor faz uma citação do ideal de pan-africanismo de Cabral, no fundo ele gizou várias concessões de unidade: pan-africana, com os países comunistas mais relevantes, China e União Soviética, com a oposição portuguesa. Mal o PAIGC se lança na luta armada, Cabral descobre que não é possível separar a guerrilha do controlo da direção política, como ele dirá em 1969: “A direção político-militar da luta é única: é a direção política da luta. Nós na nossa luta, evitamos criar o que quer que seja militar. Somos políticos e o nosso Partido, que é uma organização política, dirige a luta no plano civil, político-administrativo, técnico e portanto militar. Os nossos combatentes definem-se como militantes armados. É o Bureau Político do Partido que dirige a luta armada e a vida, tanto nas regiões libertadas como nas que o não são”. Medeiros observa que Cabral dizia que a Guiné era um território independente com uma parte da sua parcela ocupada pelo inimigo. Na parte independente, os homens da cidade puderam instalar-se e desapareceu esta divisão entre a luta armada e os militantes do interior. Estaria neste raciocínio a mais poderosa utopia de Cabral: ver o desaparecimento inevitável do mundo velho, a cidade, sendo que nas zonas libertadas estavam a surgir os alicerces do mundo novo, assim, a luta de guerrilha servia para construir o espaço de onde se partiria para a nova visão do homem e do país.

E chegamos à crítica mais profunda de Medeiros ao pensamento de Cabral. Se era certo que o líder do PAIGC resumia admiravelmente os ideais de inconformismo, de protesto, de honesto sentimento revolucionário, e personificava a revolta visionária da utopia possível, nem por isso deixou de confundir a Guiné com Cabo Verde; ele não aprofundou o estudo do capital simbólico, a escola, os intelectuais, os meios de comunicação e mesmo o universo simbólico das sociedades capitalistas e coloniais. A economia da Guiné em nada se assemelhava com a economia cabo-verdiana. As riquezas naturais da Guiné eram as matérias agrícolas e as madeiras; empresas norte-americanas e holandesas alcançaram o exclusivo da prospeção de petróleo e de bauxite. Estas comunidades guineenses estavam profundamente hierarquizadas, pesava a educação pela transmissão por via oral, basicamente não foram tocadas pela cultura portuguesa. Os negros de Cabo Verde não eram todos originários apenas do território ocupado pelos habitantes da atual Guiné Bissau, era esta a crítica que José Leitão da Graça fazia a Cabral, mas este manteve-se indiferente. Do ponto de vista cultural e linguístico, e Medeiros volta a citar Leitão da Graça, os cabo-verdianos e guineenses são diferentes uns dos outros. Em Cabo Verde só se fala crioulo e português, as línguas africanas continentais estão ausentes. Em Cabo Verde domina totalmente o cristianismo. A unidade Guiné/Cabo Verde existia por iniciativa e no interesse exclusivo dos colonialistas e negreiros portugueses estabelecidos em Cabo Verde. Cabral ficcionou uma unidade sem qualquer sustentação sólida. O cabo-verdiano tem orgulho nas suas origens, está próximo de África e de Portugal. Como escreveu um dia Germano de Almeida: “O simples facto de falarmos a mesma língua permite que saiamos de Cabo Verde, chegamos a Portugal e sentimo-nos em casa. Dificilmente penso que vou para o estrangeiro. Estrangeiro é o resto”.

É insignificante, continua a dizer Medeiros, saber como morreu Cabral. Quando mataram Cabral, ele já estava morto. Morto pelas teorias que defendia, sobretudo o suicídio da pequena burguesia, morto pelo enunciado político que apresentou na formação do partido. Cabral acumulou incompreensões. Ele tinha que morrer porque tudo aquilo que o movia não interessava. A pequena burguesia cabo-verdiana não estava interessada em suicidar-se porque beneficiava da condição do colonizado. No interior da Guiné, quem dirigia efetivamente a luta era os guineenses negros e alguns cabo-verdianos, mas estes últimos eram intrusos, os guineenses é que eram os verdadeiros donos da luta, quem morria eram os guineenses negros. Os cabo-verdianos nada tinham a ver com a cultura guineense e os guineenses muito menos com a cultura de Cabo Verde. Quando Cabral morreu acabou tudo o que tinha idealizado e pensado. Cabral falava na cultura popular, a da colher de pau e do pilão, assuntos que deixavam os cabo-verdianos indiferentes. E conclui: “A verdadeira morte de Cabral está no que ele foi e quis que o seu povo fosse e não se cumpriu, não está na sua morte física e circunstancial. E o silêncio que sobre ele e as suas teorias se abateu a seguir ao seu desaparecimento é a sua segunda morte”.
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11637: Notas de leitura (486): "Memórias da Guiné", por Fernando Magro (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11659: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (3): Os sem-abrigo refugiam-se no tarrafo (Manuel Vaz)

1. Terceira parte, de seis, do trabalho elaborado e enviado, para publicação no nosso Blogue, pelo nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67). 

Lembremos a sua mensagem de apresentação:
Este trabalho que vai ser publicado em 6 Postes, correspondentes a outros tantos subtítulos, foi concebido como "peça única". 
Posteriormente foi seccionado e ilustrado, sem perder as caraterísticas iniciais.

Um abraço
Manuel Vaz  


UMA VISÃO ALARGADA DO ATAQUE A GADAMAEL

DOS ANTECEDENTES ÀS CONSEQUÊNCIAS

3 - OS SEM-ABRIGO REFUGIAM-SE NO TARRAFO

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Nota do editor

Poste anterior da série de 12 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11560: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (2): A fronteira sul na mira de Amílcar Cabral (Manuel Vaz)

Guiné 63/74 - P11658: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (25): Os três Hospitais Militares que conheci

1. Mensagem do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, BissorãOlossatoMansoa, 1965/67), com data de 20 de Maio de 2013:

Caros amigos Luís, Vinhal e Magalhães Ribeiro:
Recebam o habitual abraço de saudação.
Junto mais um episódio (mais compilação) tirado das minhas memórias “Páginas negras com Salpicos cor-de-rosa”.

Saúde + saúde e muita saúde é o que vos desejo.
Rui Silva


Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

Do meu livro de memórias “Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”

25 - Hospital Militar de Bissau (HM 241) - Hospital da Estrela (HMP) - Anexo do HMP na rua Artilharia 1

É verdade, deu para conhecer os três. Estive internado, uns dias no primeiro, umas boas semanas no último. O da Estrela, só lá ia, depois, para consultas, mas deu para ver…
Embora fosse de imaginar, vi nos 3 hospitais o que jamais pensava ver.

Também deu para conhecer o Hospital civil de Bissau, aqui de visita. Edifício de aspeto idêntico ao Hospital Militar de Bissau, pelo menos quanto à fachada frontal e sua volumetria, embora com a entrada principal a meio daquela. Impressionou-me o aspeto arrumado, limpo e metódico, dado os condicionalismos daquela terra e daquele povo. Seria bom que, pelo menos, hoje ainda assim fosse. Este hospital ficava na estrada que ligava a fortaleza da Amura lá acima a Santa Luzia ali mais ou menos na direção e por trás das instalações da UDIB na avenida principal. Estrada orlada a mangueiros.

Chegado a Lisboa depois de 16 horas de voo a bordo de um velhinho DC6, na altura já na frota militar, com breve escala de 45 minutos em Las Palmas, fui de seguida em viatura militar para o HMP na Estrela, mas nem cheguei a sair da viatura. Segui logo para o Anexo. Ali na Estrela ficaram os casos a requererem mais cuidados, isto é, mais urgentes.

Era já alta madrugada do dia 6 de Janeiro de 1967. Dia de Reis.

Fui evacuado da Guiné para ser operado ao joelho direito. Motivo? Lesão meniscal e ligamentar com calcificação e outras complicações no joelho direito.

Aconteceu no Olossato a… jogar à bola.

Logo no dia seguinte ao eu ter regressado ao Olossato, vindo de férias da metrópole, tive um acidente incrível, se bem que de gravidade relativa constatada depois.

Estávamos em Julho de 1966.

A jogar futebol, dobrei a perna direita totalmente para o lado direito; a perna encostou à coxa do mesmo lado, do lado de fora, literalmente. Fechou como um canivete. O meu azar foi cair sobre a perna que estava então desligada do joelho. Este não demorou a inchar como um grande melão. Acidente arrepiante, também para quem assistiu. Foi a dar um pontapé em bicicleta (uma espécie de) e, no ar, senti a perna desligar-se pelo joelho.

A rótula veio-me parar ao meio da canela e instintivamente puxei-a para o sítio. Foram umas dores horríveis! Tive a sorte de a perna ter ido por si ao sítio, isto é à sua posição normal, como que impelida por uma mola. Fui transportado para a minha cama e não podia mexer a perna. E eu, que nem me podia mexer, ainda tive que correr para um abrigo nessa noite, pois o inimigo resolveu atacar.

Foi assim um azar acrescido: o inimigo resolveu vir-nos atacar nessa noite, o que até era raro. Nessa noite eles vieram de metralhadora pesada e de grande calibre, a julgar pelas fortes detonações e, como era de noite, tinham um efeito ensurdecedor. Parecia que estava ali perto. Destacava-se bem das armas ligeiras. Usavam também balas tracejantes, talvez da dita metralhadora, e que bem se viam no céu escuro, mas, para felicidade nossa, também muito altas passavam. Não sei como consegui levantar-me e atingir o abrigo mais próximo. Foram alguns minutos de fogo da parte deles, tido mais como de flagelação, a que a malta praticamente nem reagiu. A experiência da 816 já era grande, e gastar munições para quê? Eles até estavam tão longe!... Do outro lado da pista como era costume. O meu amigo Brandão com uma obusada, normalmente resolvia a questão.

De regresso do abrigo vi-me em sérias dificuldades para regressar à cama. Aquela surtida tinha-me agravado a lesão, pelo menos as dores redobraram.

Aguardei no Olossato então uns dias, por indicação do médico, que na altura estava lá, para ver se o inchaço no joelho desaparecia, e tudo se recompunha mas, como ao fim de uma semana o joelho continuava fortemente inchado e as dores continuavam, o médico tratou então de eu ser evacuado para o Hospital Militar de Bissau. Fui de Dornier.

Fiquei internado num quarto destinado a Oficiais e Sargentos no primeiro andar, e logo a primeira coisa que me fizeram foi extrair o sangue da hemorragia no joelho. Quando vi uma agulha de dois milímetros de diâmetro numa grande seringa apontada ao joelho fiquei apavorado.
Tratou disto o Ortopedista Dr. Martins Ferreira (operou-me mais tarde em 1975, passados 8 anos de ter chegado da Guiné !!), no hospital Santa Maria no Porto, por minha conta.
Procurei-o no Porto onde sabia que tinha consultório.
No hospital de Bissau fui então tratado. Tomei também comprimidos anti-inflamatórios e o ortopedista extraiu então do joelho e por diversas vezes mais sangue da hemorragia e também líquido sinovial.
Fui também radiografado. Sempre com aquele fueiro de vez em quando a entrar pelo joelho dentro. O Dr. Martins Ferreira enfiava a agulha com uma precisão tremenda. Que sorte! Artroscopia pelo meio, que pincel! Vi estrelas nesta e era bem de dia.

Depois de alguns exames ali, e algo recuperado, regressei à Companhia, esta já em Mansoa, vinda do Olossato, e continuei ali operacional.

Fui ainda para Cutia (destacamento) algum tempo e depois para o abrigo (bunker) de Uaque onde estive umas semanas integrado numa secção reforçada com guarnição de bazooka e morteiro. Deixei de andar no mato, mas passei a ser cigano. Acampa ali, acampa acolá.

Em Novembro e, como estava marcado, voltei ao hospital a Bissau para fazer novos exames ao joelho.
Fui então novamente radiografado e sujeito a outros exames, tendo o médico, o Dr. Martins Ferreira, constatado que eu tinha uma calcificação na zona onde eu tivera a rotura de ligamentos para além da rotura meniscal. Aqui o médico atribuiu um diagnóstico e terapêutica definitivos. Teria de ser operado e então entendeu o clínico que eu devia ser evacuado para a metrópole para ser observado e operado no hospital Militar da Estrela em Lisboa. 
Tinha então aqui acabada a minha missão na Guiné, no mato, pelo menos. Passados alguns dias, fui então evacuado para a metrópole, para a Estrela.
Assim aconteceu quando apenas faltava um mês para terminar a comissão na Guiné e regressar com a Companhia no Uíge.
A Companhia regressou no mês seguinte.

No Hospital Militar de Bissau para onde eram evacuados naturalmente e principalmente os feridos em combate com maior gravidade e de atenção imediata. Muitas das vezes os helicópteros aterravam em plena zona de combate para resgatar os feridos. Havia também em boa verdade muitos acidentes nos quartéis ou fora destes e que nada tinham a ver com a guerra. Cheguei a calcular que seria 50/50%. Os feridos, e às vezes muito, assim a precisarem de cuidados hospitalares urgentes, eram quase todos transportados nos Alouettes, primeiro nos que traziam uma ou duas macas no exterior, os Alouettes II. Como me intrigou as macas no exterior ao princípio, quando estava em Brá, em trânsito para o mato. Os Alouettes passavam mesmo por cima do quartel que não distava muito do Hospital; mais tarde os Alouettes III já com espaço para os feridos virem no interior. Estes helicópteros também, pelo menos alguns, equipados de helicanhão. Portanto tinham também parte ativa no combate e com caraterísticas especiais, e mais a temerosa e talvez a principal função que era a recolha de feridos no mato, muitas vezes debaixo de fogo inimigo. Salvar um camarada e defender a pele concomitantemente. Feridos mais leves ou doentes a não requererem tratamento imediato vinham de Dornier e depois eram transportados de Bissalanca para o Hospital Militar de Bissau ou então aguardavam por colunas-auto, normalmente pelas de reabastecimento.

Alouette II – Quando chegamos à Guiné eram estes os helicópteros que operavam com as tropas. Os tais que transportavam os os feridos de gravidade e outros acidentados em macas fixadas do lado de fora da aeronave. Impressionou-me esta disposição. 
(Foto do Álbum fotográfico do camarada Abílio Duarte, Furriel Miliciano da CART 2479 e que aqui com a devida vénia se reproduz).

No Hospital de Bissau muitos casos de Paludismo, Dengue e Iterícia ou Hepatite ; estes, doentes amarelinhos, cor canário, grande parte em trânsito para o Hospital da Estrela em Lisboa. Ainda eram uns poucos. Dificilmente eram curados ali.
No Hospital de Bissau julgo, que se tratavam ali também muitos casos de doenças patológicas e/ou sazonais. Os casos mais complicados, como feridos em combate e de grande gravidade (alguns mesmo muito), hepatites, fraturas ósseas mais complicadas (dizia-se que o clima não ajudava nada à consolidação dos ossos) seguiam para Lisboa.
O Hospital em Bissau tinha bons clínicos e cirurgiões. Era certo e comum dizer-se.
O Hospital Militar em Bissau um pouco afastado da cidade (aí 3-4 Kms.) na estrada para o aeroporto militar, logo a seguir o aeroporto civil, mais adiante Safim, depois Nhacra e mais lá para adiante Mansoa.

Tinha 2 andares: em cima, os primeiros quartos, quem entrava logo depois da escadaria, eram para Sargentos e Oficiais. Por lá andei uns dias. Primeiro aquando da lesão e então mais tarde após o veredito médico a aguardar transporte para a metrópole.
Um terraço dominava o andar em todo o comprimento do edifício. O banco de urgência logo ali acima das escadas e Bloco operatório também ficava por ali.
No andar de baixo camaratas onde ficavam os soldados. Julgo que também que as divisões quer em cima quer em baixo também eram seletivas, isto é, o que era infeto-contagioso tinha instalações e cuidados próprios naturalmente.
Havia missa regularmente no terraço, no topo norte.

Na altura, havia lá um cirurgião que se dizia fazer autênticos milagres. Era um homem franzino, baixo e já um pouco calvo. A indumentária no trabalho era em truces, de chinelos (havaianas), avental, touca e máscara cirúrgica, esta descaída no peito quando fora da sala de operar, nos corredores.
Simplicidade e descontração extremas, mas mãos de milagreiro. Julgo que o apelido era Garcia e não me devo enganar muito tratar-se do Dr. Fernando Garcia de que fala o Poste 5581.
Chegou ao que disseram lá no hospital a massajar o coração de um ferido diretamente no órgão pois o buraco que trazia assim o permitia e salvou o homem. Julgo que ainda por aí muita gente que chegou a ver o manto da morte a querer cobrir-lhe e um ou outro cirurgião (e haviam lá dos bons) afastou milagrosamente aquele manto. Casos difíceis, feridos de guerra… doenças tropicais… insalubridade da água, etc., etc.

Um soldado contou-me, já, depois de restabelecido, que chegou ali bastante ferido e chegou a ouvir de um médico para ser posto de lado, pois estava feito. Posto de lado para seguir para a morgue! “Oh (!) meu Furriel eu a ouvir aquilo e eu sabia que estava vivo mas não tinha forças para o dizer e ouvir ali que estava sem hipótese”, contou-me ele já depois “Vivinho da Silva” Salvou-se! Não cheguei a saber como. Alguém o viu mexer… se calhar!
Havia doentes com serviço ambulatório e outros de consulta externa para tratarem dentes (isto é, arrancar) e outros problemas mais ou menos passageiros. Aquele clima (ou a água?) deitava abaixo dentes e cabelo… no mínimo. Na minha Companhia houve quem deitasse petróleo (ou com este no composto) na cabeça, para evitar a queda do dito cujo.
Atrás do hospital ficava então a morgue. O fim da linha.

O meu Natal de 1965 foi alegre e a malta esteve muito bem disposta lá no Olossato. O Capitão ordenou rancho melhorado e toda a Companhia consoou no refeitório dos soldados. Mesas e bancos em tábua corrida, mas um ar de rica festa e de alegre convívio. Houve teatro em palco construído para o efeito e um orfeão bem ensaiado pelo Alf. Esteves.
O capitão Riquito distribuiu tarefas de representação quase para toda a gente. Espectadores? Os nativos das tabancas e vieram muitos.

Já o Natal de 66 e ali no HM 241 e embora eu já estivesse com um pé na metrópole nem por isso. O que me foi dado ver naquele dia, foi penoso, dramático, que ficou arquivado no cérebro e… para sempre!!

Eu conto.
Na noite de consoada ou de Natal - não posso precisar qual - foram postas mesas compridas cá fora um pouco atrás do edifício hospitalar e fez-se ali a ceia de Natal com rancho melhorado para toda a gente do Hospital. Tudo muito bem arranjado, dentro dos condicionalismos e dos meios. A certa altura e já fazia um pouco noite apercebo-me da chegada de helicópteros; chega um, outro e logo outro, do outro lado do hospital. Já são muitos, pensei eu.

A CCAÇ 816 chegou a atuar com a colaboração dos Alouette III, que aqui vemos durante uma operação ao Morés em Fevereiro de 1966. Estes helis, mais espaçosos interiormente, já transportavam os feridos no seu interior. Eram também equipados (alguns?) com helicanhão, o que lhes permitia terem também ação direta no teatro da guerra.

Os helicópteros aterravam em sítio criado e assinalado para o efeito do lado da frente do hospital e do lado direito, isto é do lado oposto à porta de entrada principal do hospital.
Discretamente saí da mesa e por curiosidade desloquei-me para a morgue pois apercebi-me que o movimento era mais naquela direção. Estavam a entrar 6 cadáveres de camaradas combatentes, entre eles 2 Furriéis (disseram lá).
Bastante maltratados, estropiados uns mais que outros, os cabelos tesos como arames e puxados num só sentido. Fora a forte deslocação de ar proporcionada por minas certamente, pensei eu. Indescritível! Lembro-me que pela porta da morgue entreaberta dava para ver o pessoal distraído e relativamente alegre nas mesas de consoada. Que contraste! Lembrei-me automaticamente das famílias daquelas grandes e infelizes vítimas que na Metrópole estariam a consoar ou na ceia de Natal e nem sonhariam por certo o que estava a acontecer aos seus “meninos”.
Saí da morgue, agora com um arrepio e a meditar. Sentei-me novamente à mesa e a vida fez-se continuar para aqueles que como eu ali estavam por este ou aquele motivo a necessitar do hospital. Não me sentia o mesmo já. Deve haver no Blogue alguém que saiba deste acontecimento. 
Notem:
 - 24 ou 25 de Dezembro de 1966
- Emboscada forte com pelo menos 6 mortos e alguns feridos. Minas acionadas, certamente.
- Julgo que foi lá para o Sul.

Equipa desportiva em estágio? Não, não senhor! Uma equipa de mancos e coxos no HM 241. Do lado esquerdo, com o braço sobre o muro, o Machuco e, sentado no muro ao lado do Machuco, estou eu. Cada um tinha o seu problema e muito diverso. Havia casos bicudos (típicos do clima tropical) para os médicos diagnosticarem… e tratarem

No hospital logo fiz amigos.
O Sargento Inácio que era um grande ponto e que ali estava a queixar-se dos intestinos. Acabei por saber que aquilo era mas era um pé para ver se saía do Exército, pois ele era do Quadro e não queria mais aquela vida.
Conheci o “Machuco” que esteve entre a vida e a morte, muito mais perto desta do que daquela, pois teve um nó nos intestinos e esteve neste estado e no mato, a aguardar transporte, cerca de 15 dias. Todo este tempo também sem comer por não poder. A figura do “Machuco” assustava, pois ali só havia pele e osso. Máquinas à volta do Machuco num quarto isolado. Vi com satisfação, quando passava no corredor, a sua progressiva reabilitação. Outro milagre!...
Foi também ali que encontrei um Furriel conhecido de Chaves e que tinha as pernas cheias de estilhaços, mas já em período de franco restabelecimento. As pernas estavam todas sarapintadas.
Conheci outros mais. Ali estavam, uns por isto, outros por aquilo, ou seja, uns por doença, outros por ferimentos em combate mais ou menos graves e outros e não eram poucos, por acidente com viaturas militares. Casos complicados… as doenças ditas tropicais, e a serem estudados (pensei eu).

A sala das refeições dos sargentos no HM241. O cabo atrás de mim, em pé e à esquerda, que nos servia à mesa, era o mesmo que prestava serviço na Morgue…

Assisti ali via rádio ao Mundial de 1966.
No dia 5 de Janeiro por volta das 9 da manhã entrava então no DC6. O aspeto do avião não era o melhor. “Queres ver que…”, pensei eu. Deixava o pesadelo da Guiné (isto até valia mais… do que pensar no avião)

No Hospital da Estrela, onde o pessoal que estava no Anexo ia as consultas em viatura militar que levava o pessoal para o efeito, ainda deu para ver numa enfermaria (e o que se viu meu Deus!) que ficava não no edifício principal mas sim já do lado direito da Basílica, ali no princípio da rua Sto. António à Estrela, o meu bom amigo do Sarrico (conhecido no RI 10 de Aveiro) que tinha ficado muito maltratado quando uma granada de mão incendiária (mais tarde retiradas oficialmente das operações) rebentou num bolso das calças do camuflado.
Tive oportunidade de ver estas granadas e a sua segurança era feita, depois de tirar uma cápsula, que se soltava facilmente, por uma fita branca, tipo fita de nastro, com alguns decímetros de comprimento enrolada à volta e que impedia o acionamento e a posterior deflagração da granada. Bastava a fita desenrolar-se, por simples descuido, até que a granada ficava pronta a despoletar.
O Sarrico foi vítima da fragilidade, em termos de segurança, destes engenhos. Andava sempre com uma no bolso!!... Foi vítima daquilo que ele julgava ser uma pronta defesa.
Não tive coragem de lhe falar, se é que ele me ouvia; uma enfermeira tentava dar-lhe leite à boca. O Sarrico estava muito mal, o bom do Sarrico que não largava a sua máquina fotográfica mesmo no teatro da guerra. Um dia passou pelo Olossato e esteve comigo. Ele com a sua inseparável máquina. Pouco tempo depois, soubemos do infausto acontecimento.
Paz à tua alma bom Sarrico.

Hospital da Estrela HM1 
Foto tirada da Net. Ao legítimo autor faço a devida vénia para aqui a reproduzir


No Anexo do HMP na rua Artilharia 1

- Do site www.exercito.pt/sites/HMP/Historial
Em 1961, o Aquartelamento de Campolide deixou de ser ocupado pelo Regimento de Artilharia n.º 1, sendo aí instalado o Centro Ambulatório de Doentes e Convalescentes, anexo do HMP, face ao grande número de evacuados do Ultramar-.

O Anexo ficava muito perto do Hotel Ritz, mais abaixo o parque Eduardo VII. No HMP uma equipa médica do qual fazia parte o ortopedista Dr. Aníbal Costa que foi médico do Sporting e da Seleção Nacional acharam por bem pouparem-me à operação pois não era atleta e podia fazer uma vida normal, tal como o joelho se encontrava. Estive então algumas semanas a fazer fisioterapia até passar à disponibilidade e com a condição se mais tarde tivesse problemas com o joelho, o processo era sempre reaberto e teria sempre assistência médica via militar.

Muita gente ali no Anexo. Muitos em convalescença de doenças diversas mas sobretudo para os camaradas se adaptarem às próteses normalmente construídas e montadas na Alemanha. Um ginásio bem equipado com aparelhos diversos e outro equipamento, para muitos, que com próteses, tentavam recuperar de algum modo a locomoção perdida.

Éramos transportados numa viatura militar que saía todos os dias à mesma hora para o hospital da Estrela para consultas e outros acompanhamentos clínicos.

Só saiam para fora, para a cidade, aqueles que tinham autorização, por escrito, do respetivo clínico responsável. Havia porteiro devidamente fardado (farda não militar) com ordens muito rígidas no portão de saída em ferro, largo, virado para a rua Artilharia 1.
Vi ali no Anexo um militar com uma prótese de uma perna quase completa a tentar correr sempre que se deslocava como a convencer-se e a convencer que era igual aos outros. Que determinação! Sensibilizante!

Preparativos para o embarque das tropas que vão combater na Primeira Guerra Mundial. Parada do Quartel de Artilharia 1 em Campolide 
(foto e legenda extraída do Blogue historia-dos-tempos.blogspot.pt/fotos e histórias/Portugal na grande guerra e que, com a devida vénia, aqui se reproduz)

Em relação aos princípios 1967, quando ali estive, a foto acima nem faz muita diferença pois do lado esquerdo havia uma edificação térrea também, talvez agora (na altura em que lá estive) restaurada e onde ficavam os nossos quartos, julgo dos Sargentos, um gabinete de enfermagem e outro de administrativos.
O edifício alto à direita parece-me o mesmo. Não cheguei a saber a que serviços se prestava.
Mais adiante no correr do edifício havia uma cantina onde podíamos comprar de tudo e a preços mais acessíveis.
Ao fundo, a seguir à árvore, perto da pequena casa que se vê ao centro, existia então o Pavilhão dedicado à fisioterapia e à recuperação locomotora possível dos infelizes camaradas que usavam próteses.
Ainda cá para trás e do lado esquerdo também ficava o refeitório da malta. Tínhamos direito a um copo de vinho. Acho que não se comia mal. Cozinheiros civis atarefavam-se bem em servir a malta.

Até ao portão de saída, desde o sítio onde está a tropa na fotografia, ainda eram cerca de 100 metros para o lado direito. Dava para a rua Artilharia 1.
Tinha o privilégio (assim como muitos outros) de poder sair, pois o médico responsável julgou que o meu problema não era de todo impeditivo. Muitos também e julgo que os que eram de Lisboa faziam o seu tratamento e iam para casa para depois voltarem. Muitos portanto em regime ambulatório.

O movimento frenético de uma cidade como Lisboa era alheia ao drama dos seus hospitais militares. Também não podia ser de outra maneira (ou podia?... talvez não)

La vie était (et est toujours) de sorte.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11278: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (24): O Sampaio armadilhou os seus tomates e deu mesmo estouro

Guiné 63/74 - P11657: Em busca de... (224): Pessoal do Pel Rec Daimler 998 (Bula, 1964/66), camaradas do meu pai, ex-1º cabo António F. C. Bonito, o "Vidigueira (Ricardo Bonito)


Capa do resumo descritivo da História do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá, Mansoa, Bissau, 1970/72).  Cortesia do seu ex-comandante,  o alf mil cav Ernestino Caniço, hoje médico em Tomar e nosso tabanqueiro. Estas pequenas unidades de cavalaria ainda estão subrepresentadas no nosso blogue. Por exemplo, não tínhamos até agora qualquer referência ao Pel Rec Daimler 998 (Bula, 1964/66).

Foto: © Ernestino Caniço (2011). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do nosso leitor Ricardo Bonito:

De: Ricardo Manuel Bogango Bonito
Data: 29 de Maio de 2013 às 16:19
Assunto: Pedido de informações

Boa tarde,

Deixe-me primeiro que tudo dar-lhe os parabéns pelo excelente blogue.

A razão porque lhe envio este e-mail é para tentar saber algo mais sobre um período da vida do meu Pai, proporcionando-lhe assim reviver algo que o marcou.

Assim gostaria de saber como será possível identificar / encontrar os camaradas que combateram ao seu lado em Bula.

As informações de que disponho são as seguintes:

António Francisco Carvalho Bonito (“Vidigueira”)

1964 / 66

1.º Cabo 1976 / 63
Pelotão de Reconhecimento Daimler 998.

Agradeço desde já a atenção dispensada,

Com os melhores cumprimentos,

Ricardo Bonito

2. Informação do nosso colaborador José Martins:

Mobilizado no Regimento de Cavalaria 6, no Porto, o Pel Rec Daimler 998 chegou à Guiné em Outubro/64, prestou serviço em Bula, regressando em Julho/66.

Elementos retirados do 3º Volume da CECA. Não sei se existe alguma informação - historia ou notas - sobre esta pequena unidade.

Tambem poderá ter alguma referência na Caixa 124 - 2ª Divisão - 4ª Secção relativa à história do Batalhão de Caçadores nº 513 (RI 7-Leiria) que tinha a responsabilidade quando o PELREC 998 chegou, até 24 de Maio de 1965, data em que foi substituído pelo Batalhão de Caçadores nº 600 (RI 15-Tomar), que não tem história da unidade. 

Em 25 de Agosto de1965, foi o Batalhão de Caçadores nº 1861 (RI 15-Tomar) que ficou com a responsabilidade de Bula, Caixa 69 - 2ª Divisão - 4ª Secção.

3. Comentário de L.G.:

Meu caro Ricardo, é um gesto bonito, de amor filial, o seu, ao quererer ajudar o seu pai, nosso camarada, a encontrar camaradas do seu Pel Rec Daimler 998, e a reconstituir o "puzzle" das memórias do seu passado como combatente na Guiné.

Obrigado por nos ter contactado. O nosso blogue é um elo de ligação entre todos os camaradas que passaram pela Guiné durante a guerra colonial, de 1961 a 1974, dos 3 ramos das Forças Armadas Portuguesas, de todas as especialidades e de todas as incorporações.

Infelizmente, não temos ainda ninguém que represente, no nosso blogue, o Pel Rec Daimler 998. Temos referências, embora na sua maioria, escassas, a outros Pel Rec, conforme listagem a seguir. Em contrapartida, temos muita gente que passou por Bula, incluindo malta da cavalaria. Sobre esta localidade há já 200 referências.   Pode ser um começo a exploração destas referências. Mande-nos alguams fotos, digitalizadas, do seu pai e do pelotão do seu pai. Isso pode ajudar a localizar outros camaradas. Fica convidado a representar o seu pai no blogue, se for sua vontade continuar a colaborar connosco. Afinal, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Por outro lado, costumamos aqui dizer que todos os Filhos dos Nossos Camaradas, Nossos Filhos São.

Sinta-se, paois,  à vontade para trazer o seu pai até nós e sentá-lo sob o poilão da nossa Tabamca Grande. Para já sugiro que lhe mostre também o mapa de Bula (1953), aqui disponível "on line". Um Alfa Bravo (ABraço) para si e para o seu pai. Dê notícias.
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Pel Rec Daimler 805 (1)
Pel Rec Daimler 1133 (2)
Pel Rec Daimler 1136 (1)
Pel Rec Daimler 2046 (11)
Pel Rec Daimler 2049 (2)
Pel Rec Daimler 2206 (10)
Pel Rec Daimler 2208 (11)
Pel Rec Daimler 3085 (4)
Pel Rec Fox 1165 (2)
Pel Rec Fox 2260 (1)
Pel Rec Fox 3115 (3)
Pel Rec Fox 42 (10)
Pel Rec Fox 693 (1)
Pel Rec Fox 8870 (3)
Pel Rec Fox 888 (1)
Pel Rec Panhard 1106 (1)

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11653: Em busca de... (223): Pessoal do Pel Mort 1242 (Buba, outubro de 1967/ agosto de 1969) cujos nomes ficaram gravados na "pedra de Buba"... O que é feito de ti, camarada Clemente, ex-alf mil e comandante ? E de ti, Simão ? E de ti, Laginha ?... E de vocês todos, 44 anos anos depois de terem regressado no T/T Uíge, em 23/8/1969 ?

Guiné 63/74 - P11656: Parabéns a você (582): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11647: Parabéns a você (582): António Vaz, ex-Cap Mil, CMDT da CART 1746 (Guiné, 1967/69)

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11655: Quem dirigiu os destinos da Guiné (2/3): Capitania-Mor de Bissau, Centralização do Governo em Bissau, A autonomização, Governadores e Delimitação das fronteiras (José Martins)

1. Continuação da publicação do trabalho "Quem dirigiu os destinos da Guiné" compilado pelo nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70):



QUEM DIRIGIU OS DESTINOS DA GUINÉ (2)

CAPITANIA-MOR DE BISSAU
(Continuação)

BARTOLOMEU DE SOUSA TIGRE – Promovido a Coronel e nomeado governador em 30 de Agosto de 1763, chegou a Santiago em 30 de Agosto de 1763. Tendo oficiado o Senado da Câmara de que ia ocupar o cargo para o qual havia sido nomeado, verificou que no Senado apenas havia um cónego, que acumulava, também, o cargo de governador de armas, cuja posse lhe havia sido concedida pelo juiz ordinário Romão da Silva, que servia, também, de ouvidor. A administração do arquipélago estava em completo abandono. A posse do novo governador foi conferida por um vereador da Câmara, simultaneamente escrivão da mesma. Apesar de criterioso e enérgico, não completou o seu mandato, por conflitos com o ouvidor Gomes Ferreira.

D. JOÃO JÁCOME BAIENA HENRIQUES – Toma posse em 27 de Dezembro de 1766 e morre a 4 de Maio do ano seguinte. O governo interino que devia ser exercido pelo Senado da Câmara, foi usurpado pelo comandante das tropas. Este facto levou a que, por alvará de 1770, fosse estabelecido que o substituto nato do governador fosse o Bispo.

JOAQUIM SALEMA SALDANHA LOBO - Nomeado a 29 de Março de 1768 e tomou posse em 13 de Dezembro do ano seguinte. Porque a cidade da Ribeira Grande se encontrava bastante degradada, o governador mudou-se para a vila da Praia, enquanto a Câmara, o ouvidor e o Cabido da Sé, se mantinham na Ribeira Grande, e o Bispo mantinha-se na ilha de Santo Antão. Em 1771 reportava que a secretaria e o arquivo do governo, mais não era que uma mala de pinho, onde se encontravam 17 livros, alguns alvarás e documentação vária que, pelo muito manuseamento, já se encontrava em estado adiantado de deterioração. No período de oito anos, tempo que durou a sua governação, teve de se opor com energia contra os abusos da Companhia de Grão-Pará. A população do arquipélago que em 1774 registava 50.640 habitantes tinha, no ano seguinte 28.000, consequência da fome que assolou a província.

ANTÓNIO DO VALE DE SOUSA E MENESES – Foi nomeado em 10 de Março de 1777, tomou posse em 21 de Maio desse ano, na vila da Praia. Era filho de António Maria de Sousa Meneses, governador da província entre 1756 e 1761. Foi na sua governação que o Senado da Câmara de Santiago solicitou, ao rei, além de algumas providências para acudir à miséria do arquipélago, a extinção da Companhia de Grão-Pará. Sobre a exposição enviada ao rei, o Conselho Ultramarino deu um parecer, no sentido de colonizar as ilhas com “casais naturais de Moura, Golegã, Ribeira do Sado e outras terras de clima semelhante aos das ilhas, juntando-se-lhes 800 a 1000 casais de pretos resgatados na Guiné que no fim de dez anos de trabalho ficariam livres.”

DUARTE MELO DA SILVA E CASTRO d’ALMEIDA – Nomeado no dia 20 de Junho de 1780, tomou posse em 19 de Fevereiro e morre 30 dias depois. A sucessão foi efectuada nos termos do alvará de 1770. No porto da Praia, em Abril de 1781 uma esquadra inglesa foi atacada por outra de nacionalidade francesa, em total desrespeito pela jurisdição portuguesa. A esquadra francesa fugiu, comandada por Suffren, depois de ter sido derrotada.

Bispo D. Frei FRANCISCO DE S. SIMÃO – Foi incumbido do governo da província, devido à sua competência e zelo, em 16 de Novembro de 1782, vindo a falecer no dia 10 de Agosto de 1783, tendo desempenhado o cargo exemplarmente.

ANTÓNIO MACHADO DE FARIA E MAIA – Foi nomeado em 23 de Agosto de 1784 vindo a tomar posse a 30 de Março do ano seguinte. A sua governação foi marcada por conflitos permanentes com o ouvidor geral Ferreira da Silva, e com um grupo político reunido à volta da família Freire de Andrade. O governador da província refere, num relatório, que as receitas da província não iam muito além de um conto de reis, referindo que a casa do governador era constituída “por um quarto chamado de casa de espera; uma sala de visitas que era coberta de lona; uma casa de jantar e um quarto de nova construção; e um quarto que servia de secretaria. A cozinha e outras dependências eram cobertas de palha”.

FRANCISCO JOSÉ TEIXEIRA CARNEIRO – Nomeado por decreto de 2 de Abril de 1789, toma posse em 21 de Janeiro do ano seguinte.

JOSÉ DA SILVA MALDONADO d’EÇA – Apesar de nomeado em 27 de Setembro de 1793, só veio a tomar posse em Junho de 1795. Uma das missões do seu governo, era colaborar no povoamento da ilha de S. Vicente, que seria dirigida por Carlos da Fonseca Rosado, deslocando algumas famílias das ilhas do arquipélago. O governador morreu em 10 de Setembro de 1795, pelo que foi constituída uma junta governativa, que incluía o Bispo, o ouvidor interino Francisco da Silva Pereira e João Freire de Andrade. Dado o Bispo se manter em S. Nicolau, a governação era, na realidade, efectuada pelos dois últimos elementos da junta.

MARCELINO ANTÓNIO BASTOS - Tomou posse em 3 de Novembro de 1796 e promoveu a cultura do café, assim como tentou florestar a província, tendo sido enviadas sementes de louro, pinheiro bravo, castanheiro, cedro e outras, mas apenas o louro se desenvolveu. Foram estabelecidas carreiras de correio marítimo ou paquetes, entre as ilhas e Portugal em 20 de Janeiro de 1798. Também graças a este facto o governador Bastos conseguiu melhorar a situação financeira da província, que anos atrás não passavam de 1.000$000, passaram em 1801 para 10.160$000 e no ano seguinte para 19. 670$000, orçando as despesas em 11.460$000 reis. Faleceu em 29 de Novembro de 1802.

D. ANTÓNIO DE COUTINHO LENCASTRE – Moço fidalgo da Casa Real é nomeado governador por carta de 13 de Maio de 1803. No início do seu governo houve um aumento substancial do número de soldados na província, o que levou ao lançamento de um imposto especial, para fazer face a esta despesa, o que levou a uma revolta popular. Os navios cabo-verdianos, assim como os próprios portos da província, são atacados por esquadras estrangeiras, o que leva a que a guarnição militar seja aumentada para 400 militares. Novos impostos são lançados para fazer face às novas despesas, o que provocou novas revoltas e a consequente exoneração do governador. A metrópole estava em guerra com a França e a Espanha: Eram as Invasões Francesas. Foi Morais e Castro que assumiu a governação interina de Cabo Verde em 1812, mas pouco depois o Coutinho Lencastre foi reintegrado, tendo ocupado o cargo durante 14 anos. 

ANTONIO PUSICH – Naturalizou-se português em 1791 e foi nomeado em 6 de Fevereiro de 1818, quando era Capitão-de-mar-e-guerra. O arquipélago não lhe era estranho, já que tinha estado em Cabo Verde como Intendente da Marinha e outras atribuições independentes do governador. Pusich, enquanto intendente, introduziu uma espécie de acácia, que ficou conhecida como “flor do intendente”. Foi afastado do cargo por um movimento revolucionário liberal, em 1 de Maio de 1821, sendo o governo entregue a uma Junta Provisória. Uma carta régia de 1º de Abril já tinha nomeado Luiz Xavier Palmeirim, para governador, mas não chegou a tomar posse.

JOÃO DA MATTA CHAPUZET – Sendo Coronel adido do Corpo de Engenheiros, foi nomeado, em 8 de Maio de 1822, governador militar e, em 1 de Fevereiro de 1825, foi nomeado governador-geral. Apesar de ter sido “desviado” para a metrópole o rendimento da urzela cabo-verdiana, com muita dificuldade conseguiu impor disciplina na administração geral e nas finanças. Em1826 foi, juntamente com o Bispo D. Frei Jerónimo do Barco, nomeado deputado por Cabo Verde.

CAETANO PROCÓPIO GODINHO DE VASCONCELOS – Capitão-de-mar-e-guerra, foi nomeado governador em 7 de Setembro de 1826, tomando posse no dia 13 de Dezembro seguinte. Há historiadores que se referem a este governador como “nada fez nem de bom nem de mau, passando o tempo a tornear”. 

D. DUARTE DA COSTA DE SOUSA MACEDO – Nomeado por decreto de 25 de Agosto de 1830, com o vencimento anual de 3.600$000 reis. Foi um período muito difícil, que foi assinalado por estiagens e fome, sendo socorrida por filantropos da América do Norte. Incapaz de resolver o problema, o governador apresenta a demissão em Janeiro de 1833, sendo nomeado D. José Coutinho de Lencastre, filho do antigo governador D. António Coutinho de Lencastre, mas com a mudança de regime no reino acabou por não se concretizar. A 8 de Setembro de 1833 chega a Cabo Verde a notícia da vitória dos constitucionalistas sobre os miguelistas, que leva à deposição do governador e a nomeação de uma junta governativa. D. Duarte da Costa de Sousa Macedo embarca para a Gâmbia e daí para Portugal. Foi neste governo que se puseram em circulação as “cédulas” a que depreciativamente chamavam baralho de cartas.

MANUEL ANTÓNIO MARTINS – Foi nomeado, por decreto em 17 de Dezembro de 1833, perfeito de Cabo Verde e Costa da Guiné, por “ter coadjuvado a causa da Rainha e da Carta Constitucional e de ter dado provas de amor da Pátria”. Com base na nova organização administrativa do ultramar, de 1832, foi também nomeado José Joaquim Lopes de Lima, oficial da armada, como secretário da prefeitura. Depois de tomarem posse na vila da Praia, e porque o governador tinha residência e interesses na ilha da Boa Vista, o governo foi transferido para esta ilha. Capitão de um navio mercante, foi surpreendido, por um temporal em 1792, quando se encontrava na ilha de São Miguel que levou o navio para a ilha da Boa Vista. Também foi aventada a hipótese de que, este temporal, foi aproveitado para desviar os valores que estavam a bordo. Chegado à ilha começou a sua actividade, casou com uma das filhas de Aniceto Ferreira, estendeu a seu comércio ao negócio do sal e era administrador da urzela, antes de ser nomeado governador. Após a revolta miguelista, foi deposto e substituído por António Carlos Coutinho, conselheiro da prefeitura e juiz de direito. Mesmo depois da exoneração não deixou a sua actividade, quer politica quer comercial, até que, face a várias acusações de inimigos e até Pereira Marinho, que lhe sucedeu no cargo, foi preso.

JOAQUIM PEREIRA MARINHO – Coronel de Artilharia, foi nomeado a 4 de Junho de 1835 e empossado em 12 de Setembro seguinte. Houve uma revolta de escravos, de Cabo Verde, que pretendiam matar os seus senhores e fugir para a Guiné, tendo sido dominados e castigados. Com a queda do ministro Sá da Bandeira, o governador foi exonerado, com apenas um ano do cargo. Era normal que as nomeações para os cargos de governadores, capitães-mor, ouvidores ou outros administradores, tivessem a duração de três anos, mas com a implantação do regime constitucional, a nomeação e manutenção no Cargo passaram a depender da confiança do respectivo ministro. Seguiu-se um conflito do antigo com o novo governador da província, tendo havido a intervenção de navios franceses e a retirada do governador exonerado para a Guiné.

DOMINGOS CORREIA AROUCA – Coronel do exército colonial, é nomeado em 16 de Junho de 1836 e toma posse a 24 do mês seguinte. Em Outubro desse ano, enquanto o governador se encontrava ausente na ilha do Fogo, o governador anterior resolve tomar conta do governo na ilha da Praia, pelo que, durante algum tempo, a província tem dois governadores, e o arquipélago fica “dividido” em dois grupos de ilhas. 

JOAQUIM PEREIRA MARINHO – Entretanto promovido a brigadeiro, foi reconduzido no cargo de governador por decreto de 13 de Janeiro de 1837. Em 2 de Abril de 1839 deixou o governo, por ter sido transferido para Moçambique.

JOÃO DE FONTES PEREIRA DE MELO – Capitão-de-mar-e-guerra, foi nomeado em 2 de Abril de 1839. Com o seu bom senso e imparcialidade, serenou os partidários dos ex-governadores Martins, Arouca e Martinho, conseguindo restabelecer a ordem na administração. Levou consigo a família, instalando-se na Ilha Brava, tendo como ajudante às ordens o seu filho António Maria de Fontes Pereira de Melo. Exonerado em 1842, voltaria a ser nomeado anos mais tarde.

FRANCISCO PAULA DE BARROS – Coronel de Infantaria, foi nomeado por decreto em 5 de Abril de 1842, tomando posse em 8 de Julho. Promoveu a cultura da purgueira, da qual se extrai o azeite-da-purgueira, que se tornou o produto de maior exportação da província. Acompanhado dos chefes dos serviços militares e civis, visitou o distrito da Guiné. Em Agosto de 1842, deu-se o início da publicação do Boletim Oficial.

D. JOSÉ MIGUEL DE NORONHA – Brigadeiro, foi nomeado em 31 de Dezembro de 1844, vindo a tomar posse em 26 de Junho seguinte. Teve como secretário-geral José Maria de Souza Monteiro. Simultaneamente com o Capitão Fontes Pereira de Melo foi, em 1848, eleito deputado por Cabo Verde. Um vapor inglês ao aportar, em 1846 na ilha da Boa Vista, transmitiu à população a febre-amarela, que vitimou 315 pessoas, considerando-se extinta em Fevereiro de 1847. Conseguiu um donativo, do governo britânico e de outras entidades, no montante de mil libras.

JOÃO DE FONTES PEREIRA DE MELO – Nomeado, pela segunda vez, em 13 de Maio de 1848, toma posse em 26 de Junho. Como a urzela tinha deixado de ter procura, a sua apanha passa a ser livre, por decreto de 6 de Julho de 1849, ficando apenas sujeita aos direitos de exportação a 1$400 reis, por quintal, para o estrangeiro e a metade para o território nacional. A cultura da purgueira e do café eram as preferidas pela população.

Mapa da costa da Guiné, não datado
© Ilustração do I Volume de História da Guiné de René Pelissier


CENTRALIZAÇÃO DO GOVERNO EM BISSAU
 
Uma fonte consultada indica que, no final de 1851, o governador de Cabo Verde Fortunato José Barreiros decide unificar, a administração das praças de Cacheu e de Bissau, num governo único da Costa da Guiné, com sede em Bissau.
As alegações para este acto, foram:

a) A conveniência de dar unidade à acção governativa daquela colónia e de alargar as atribuições do chefe do distrito, de forma a poder tomar em devido tempo as providências necessárias;
b) As dificuldades e demoras de comunicações com o governo-geral de Cabo Verde, que não podia exercer sobre a costa africana a devida fiscalização, dando assim lugar a frequentes irregularidades e abusos de autoridade;
c) A necessidade de se reprimir "o escandaloso comércio que alguns comandantes das baterias faziam com o povo e com os próprios soldados em prejuízo da instrução e disciplina militar …".

Por estas razões publicou, em 10 de Setembro de 1851, uma portaria nomeando o Tenente-coronel Alois da Rôlla Dziezaski, Governador da Costa da Guiné, interino, com um vencimento de 600$000 reis/ano. Os governadores de Cacheu e Bissau mantiveram as suas funções, sendo reduzido o seu vencimento anual de 400$000 para 240$000.
Porém, uma outra fonte, indica que foi durante a governação de Manuel António Martins, a 30 de Março de 1834, que é concentrada em Bissau a governação do território. O certo é que, na listagem de Governadores da Fortaleza de Bissau existem nomes que induzem em duvida se se trata de governadores de Bissau ou da Guiné.
As listagens consultadas, e sobre as quais foram elaboradas as que constam deste texto indicam, sem dúvida, que o primeiro Governador nomeado aquando da separação dos territórios de Cabo Verde e Guiné, foi o Tenente-coronel Agostinho Coelho.

FORTUNATO JOSÉ BARREIROS – Brigadeiro, nomeado em 25 de Julho de 1851 toma posse a 23 de Agosto. Em virtude das repartições públicas se encontrarem na ilha Brava, é ali que se fixa. Prevendo a hipótese de transferir a capital da província para a ilha de S. Vicente, promove o desenvolvimento do Mindelo.

ANTÓNIO MARIA BARREIROS ARROBAS – Major do Estado-maior é nomeado em 6 de Abril de 1854 e toma posse no dia 3 de Dezembro. Fez uma visita à Guiné. Na sua governação e dada a sua boa administração, recolheu muitas cédulas e letras, emitidas pelo governo local em que, os credores, tendo perdido a esperança de reaver os fundos aplicados, as ofereciam ao estado, em reconhecimento da boa administração de Arrobas. Foi eleito deputado em 1858.

SEBASTIÃO LOPES DE CALHEIROS E MENESES – Capitão do Estado-maior, nomeado por decreto de 25 de Novembro de 1857 e tomou posse a 28 de Março seguinte. Pouco depois da posse, efectuou uma visita ao distrito da Guiné. A vila da Praia foi elevada à categoria de cidade por decreto de 29 de 1858. Ao deixar a província em Junho de 1860, foi substituído interinamente por Januário Correia de Almeida, director das Obras Públicas.

CARLOS AUGUSTO FRANCO - Foi nomeado em 6 de Setembro de 1860 e tomou posse em 23 de Março de 1861.

JOSÉ GUEDES DE CARVALHO MENESES – Nomeado por decreto de 2 de Abril de 1864, rumou a Cabo verde, acompanhado pelo Dr. Macário de Sousa Pinto Cardoso, seu secretário-geral. Tomou posse em 25 de Abril.

CAETANO ALEXANDRE DA ALMEIDA ALBUQUERQUE – Capitão-de-fragata, foi nomeado em 11 de Fevereiro de 1869 e tomou posse em 29 de Março. Deslocou-se à Guiné onde, em 21 de Abril de 1870, tomou posse, solenemente da ilha de Bolama, uma vez que a questão que pendia sobre a soberania da mesma foi decidida a favor de Portugal contra a Inglaterra, com a intervenção do presidente dos Estados Unidos da América, Ulysses Grant. Foi exonerado em 26 de Fevereiro de 1870.

JOSÉ MARIA DA PONTE HORTA – Lente da Escola Politécnica, foi nomeado em 26 de Fevereiro de 1870 e toma posse a 16 de Maio. Para reintegrar o seu antecessor, foi exonerado em 9 de Junho desse ano.

CAETANO ALEXANDRE DA ALMEIDA ALBUQUERQUE – Exonerado e substituído por José Maria da Ponte Horta, foi reintegrado no seu posto em 9 de Junho de 1870, mantendo o cargo até 28 de Fevereiro de 1876. A província fica a dever-lhe a urbanização da cidade da Praia. Mais tarde, foi governador da Angola e da Índia.

GUILHERME QUINTINO LOPES MACEDO – Tenente-coronel de Artilharia, foi nomeado por decreto de 14 de Fevereiro de 1876, tomando posse a 8 de Abril. Esteve poucos meses na província.

VASCO GUEDES DE CARVALHO MENESES – Tenente-coronel de Infantaria, foi nomeado em 30 de Setembro de 1876, tomando posse em 22 de Dezembro.

ANTÓNIO DO NASCIMENTO PEREIRA SAMPAIO – Capitão-de-fragata, foi nomeado por decreto de 9 de Maio de 1878, tomou posse em 13 de Junho desse mesmo ano. Foram de sua iniciativa a colocação de faróis nas ilhas de S. Vicente e Santiago. Governou até 1881.

Progressão da conquista e da Administração Portuguesas 
© Ilustração do II Volume de História da Guiné de René Pelissier


A AUTONOMIZAÇÃO DA GUINÉ 

Pouca gente pensaria que, no final daquele ano de 1878 fosse algo mais, que a mudança de ano, porém, mudou muito mais que isso.
Era mais um dos muitos combates que se iam travando no território da Guiné de Cabo Verde, já que se encontrava na dependência daquelas ilhas.
No norte do território, na embocadura do Rio Cacheu, ficava a povoação de Bolor que, dada a sua situação, tentava impedir a instalação de estrangeiros na zona. Não havia instalações fortificadas e, ali, existia uma guarnição de quatro soldados cuja missão era hastear a bandeira portuguesa, quando passavam barcos perto, dando sinal de soberania.
O governo de Cabo Verde reconhecia que Bolor era um local onde os portugueses eram recebidos como amigos. Tinha rei, autoridades e soldados. Era um território dentro dum território.
A norte de Bolor, as povoações de Jafunco, Ossor, Igim e Lala, necessitavam de atravessar o território, da primeira, para poder escoar os seus produtos pela Ponte de Bolor, o que lhes estava vedado.
A povoação de Bolor sentiu-se ameaçada e pediu ajuda a Cacheu, mas acabou por ser arrasada em 21 e 22 de Setembro de 1878, perde a totalidade do gado, tem cerca de trinta mortos e os habitantes refugiam-se em Cacheu, cujo administrador vai a Bolor mas, o régulo de Jufunco recusa apresentar-se e intitula-se rei de Bolor, recusando a oferta de 300$000, montante que era hábito oferecer aos vencedores para que estes aceitassem a paz.
O capitão-mor de Bissau António José Cabral Vieira pede auxilio a Cabo Verde, que lhe envia o reforço de um oficial e cinquenta e dois soldados, aumentando para duzentos e trinta e quatro soldados, em todo o território.
O capitão-mor resolve avançar para o confronto já que, aos notáveis de Cacheu, não lhes agradava a ideia de uma solução negociada, que era de frágil duração. A acção foi levada a efeito, mas com a condição de serem os voluntários e os auxiliares, a levar a cabo o ataque. Ficando o capitão–mor de Bissau a bordo do palhabote Guiné, é lançado o ataque por cerca de trezentos auxiliares, na tentativa de retomar Bolor, enquanto a força, que veio de Cabo Verde, fica de reserva sob o comando do Tenente Calisto dos Santos e do Alferes Sousa.
O régulo de Jufunco, previamente avisado, dá duro combate aos auxiliares e, depois de os dispersar, avança sobre a reduzida força militar, que estava de na praia. Surpreendidos com o ataque, com que não contava, a força militar tenta retirar, mas a maioria acaba por ser massacrada, em terra ou na água, já que o bote que estava na praia e utilizaram para tentar regressar ao palhabote, não resistiu ao peso dos seus ocupantes.
O barco, a bordo do qual se encontrava o capitão-mor António José Cabral Vieira, ainda tenta reagir com disparos de artilharia, mas sem êxito. Recolhe apenas quatro sobreviventes e retira.
O Capitão-mor de Bissau reclama ser ouvido em Conselho de Guerra, para poder justificar o desaire; reclama o envio de um reforço de 500 soldados e um vapor, para assim vingar a honra e retomar Bolor.
O governador de Cabo Verde, António de Nascimento Pereira de Sampaio responde, informando não ter meios para satisfazer o pedido. A 19 de Janeiro de 1879 nomeia um interino e envia, não a força solicitada, mas cinco oficiais e cinquenta soldados, além algum de material de guerra. O inquérito levado a cabo revela-se, se não inconclusivo, pelo menos de resultados duvidosos.
Um decreto de 18 de Março de 1879, desanexa a Guiné do governo de Cabo Verde e nomeia Governador da novel província Agostinho Coelho, enquanto o que resta do Batalhão nº 1 de Cabo Verde é transferido para a Guiné, que passa a depender directamente do governo central, em Lisboa.

Carta de situação referida a 8 de Novembro de 1963 
© Guerra de África – Guiné, Fernando Policarpo


GOVERNADORES DA GUINÉ 

AGOSTINHO COELHO – Tenente-coronel, tomou posse em 20 de Abril de 1879, governando durante dois anos.

PEDRO IGNACIO GOUVEIA – Capitão-tenente, conselheiro, foi nomeado em 10 de Novembro de 1881, tomando posse a 16 de Dezembro, tendo sido exonerado a seu pedido em 26 de Dezembro de 1884.

FRANCISCO PAULA GOMES BARBOSA – Oficial da Armada, tomou posse em 17 de Março de 1885. Demissionário, desde 17 de Março de 1885, o governo da província é assumido pelo Juiz de Direito Duarte de Vasconcelos, do Coronel Castela do Vale e do Secretário-geral Jaime Lobo Brito Godins, constituindo um Conselho Governativo.

Carta de situação referida a 7 de Abril de 1974 
© Guerra de África – Guiné, Fernando Policarpo


Delimitação das fronteiras DA GUINÉ 

Com a chegada dos liberais ao poder, as colónias ou domínios ultramarinas, passam a ser designadas como Províncias Ultramarinas. Estes territórios ainda não tinham as suas fronteiras definidas, pois estas variavam com a sorte das armas. A Guiné era um enclave em território francês, com fronteiras com o actual Senegal e a Guiné Conacri, enquanto os ingleses assediavam as ilhas Bijagós, a partir das suas possessões a sul na costa da Guiné.
Porém, as fronteiras “iniciais” desta província iam para além das fronteiras que viriam a ser encontradas nas convenções havidas com a França e Portugal, em relação à delimitação das mesmas na África Ocidental.

Esta era uma situação inédita, já que Portugal nunca havia estado “sentado à mesa de negociações” para definir as suas fronteiras. Foram dezasseis difíceis sessões, já que se encontravam em discussão, não só as fronteiras da Guiné, mas também as de Angola, que se prendiam com a questão do território referido como “Mapa Cor-de-Rosa”.
Com a autonomia administrativa da Guiné em 1879, havia necessidade de consolidar as fronteiras, pelo que foi constituída uma comissão para fixar no terreno, a linha divisória acordada na convenção de 12 de Maio de 1886, assinado em Paris, entre as partes interessadas, ratificada por El-Rei D. Luís em 25 de Agosto de 1887 e publicado no Boletim Oficial da Guiné em 24 de Setembro desse ano.

A fronteira, estabelecida com base no meridiano de Paris, ficou definida:
• A Norte do território, a partir do cabo Roxo para Leste, sensivelmente a igual distância dos rios Casamança e de São Domingos, até á intercepção do meridiano 17º,30 de longitude de Paris com o paralelo 12º,40 de latitude Norte. A partir deste ponto, até ao meridiano de 16º, a fronteira confunde-se com o paralelo 12º,40;
• A Leste, a fronteira segue o meridiano de 16º,00 desde o paralelo 12º,40 até ao paralelo 11º,40.
• A Sul, a partir da foz do rio Cajet, deve manter-se a igual distância do rio Componi e do rio Cacine, ao principio, e depois do rio Grande até terminar da intercepção do meridiano 16º,00 com o paralelo 11º.40 de latitude Norte.

Uma comissão composta pelo Oficial da Marinha E. J. Oliveira e Costa, o antigo secretário-geral da Guiné Augusto César de Moura Cabral e o Capitão Bacellar, por Portugal e o Capitão H. Brosselard, o Tenente Clerc e o publicista F. Galibert, por parte da França, acompanhados das respectivas comitivas e carregadores, inicia, em Janeiro de 1988, o reconhecimento das fronteiras, mas como há divergência na interpretação de alguns pontos do convénio, a missão é suspensa.
Só anos mais tarde, em 1901, nova comissão constituída pelos portugueses 1º Tenente João de Oliveira Muzanty, e pelos Guardas-Marinha Teles de Vasconcelos, Jaime de Sousa, Proença Fortes e alguns oficiais do Exército da Guiné, e a comissão francesa era constituída pelos oficiais Payne, Benoit, Brocard, Forget, Leprince e o Dr. Maclaud, se retomam os trabalhos.
Foram cinco anos de trabalhos de campo, em que houve incidentes e discussões, resultante de alguns erros existentes nos mapas utilizados no convénio de 12 de Maio de 1886. Na altura dos encontros para a definição das fronteiras, supunham os membros da mesma que, o regulado de Cadé se situava mais a leste, portanto dentro do que seriam as fronteiras da África Ocidental Francesa. Para obviar esta situação, acordaram em fazer uma reentrância, no que seria o território da Guiné Portuguesa, colocando o regulado de Cadé na parte francesa e acrescentando, igual área, no sul da parte portuguesa.
Os trabalhos terminaram em 1905. A 6 de Julho de 1906, com a troca de notas diplomáticas, entre os dois governos, ficou encerrado o processo de limitação das fronteiras da Guiné.

JOÃO EDUARDO BRITO – Coronel, nomeado em 2 de Setembro de 1886, toma posse a 24 do mesmo mês. Por conselho da Junta Médica muda-se para a ilha Brava em Novembro, ficando o Secretário-geral, César Augusto Moura Cabral, encarregado do governo. 

EUSÉBIO CASTELA DO VALE – Tenente-coronel, comandante do batalhão de Bolama, é nomeado Governador interino por decreto de 5 de Abril de 1887. 

FRANCISCO TEIXEIRA DA SILVA – Contra-almirante da Armada, é nomeado em 5 de Abril de 1888, tomando posse a 30 de Maio. Por motivos de saúde, governa durante poucos meses, retirando-se para a ilha Brava e dali para a metrópole.

JOAQUIM DA GRAÇA CORREIA LANÇA – É nomeado governador interino em 5 de Dezembro de 1888, é autor de um relatório, dos poucos que foram publicitados na época.

AUGUSTO RODRIGUES GONÇALVES DOS SANTOS – Major, governa interinamente desde 22 de Fevereiro de 1890, até à entrega do governo ao seu sucessor.

LUIZ AUGUSTO VASCONCELOS E SÁ – Coronel, toma posse em 26 de Junho de 1891. Retira-se para a metrópole em 24 de Abril de 1893, por motivos de saúde, entregando a governação ao Secretário-geral interino Dr. César Gomes Barbosa, regressando em 23 de Outubro de 1893. No início do ano de 1895, regressa de novo a Lisboa, entregando a governação a César Augusto Moura Cabral, secretário-geral.

EDUARDO JOÃO DA COSTA OLIVEIRA – Capitão-tenente, nomeado interinamente para o cargo de governador por decreto de 4 de Abril de 1895, deixa a governação em 28 de Novembro desse ano, a seu pedido.

PEDRO IGNACIO GOUVEIA – Capitão-tenente, é nomeado pela segunda vez para o cargo em Novembro de 1895, tomando posse a 24 de Janeiro seguinte. Gravemente doente, entrega o governo ao Secretário-geral César Augusto Moura Cabral, e embarca para Lisboa em 25 de Agosto de 1897, tendo falecido durante a viagem.

ÁLVARO HERCULANO DA SILVA – 1º Tenente da Armada, toma posse a 22 de Dezembro de 1897. Já tinha prestado serviço na província da Guiné, como comandante de flotilha.

ALBANO MENDES DE MAGALHÃES RAMALHO – Oficial da Marinha, nos últimos meses de 1898, governou interinamente.

(Continua)
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 28 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11644: Quem dirigiu os destinos da Guiné (1/3): A descoberta da Guiné e de Cabo Verde; Governadores de Cabo Verde; Capitães-Mores e Governadores; Capitania-Mor do Cacheu e Capitania-Mor de Bissau (José Martins)

Guiné 63/74 - P11654: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (15): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte III : O Dauda (filho do vento e mascote da companhia), o 1º cabo escriturário Cardoso, o faxina Rochinha, e...o batismo de fogo, no final das chuvas, em outubro de 1967



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O quarto do Zé Neto... Na mesinha de cabeceira, uma foto da esposa Júlia, de quem tem três filhas. A Júlia é nossa tabanqueira.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > A secretaria... [ O Zé Neto deixou-nos o seu álbum fotográfico (, obtido a partir dos seus diapositivos), organizado por temas, mas as fotos, individualmente, não estão legendadas. Não sei se o 1º cabo Cardoso, escriturário, aparece aqui na foto. Também não nos parece que o Cap Corvacho esteja neste grupo, segundo informação do cor art ref  (e nosso tabanqueiro) Nuno Rubim, que é do curso a seguir ao dele. O Corvacho também já morreu].



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O 2º sargento José Neto (que exercia as funções de 1º sargento da compnhia) junto a um abrigo e a uma viatura do Pel Rec Fox 1165, que era comandado pelo alf mil cav Michael Winston Schnitzer da Silva.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O obús 8.8 (1)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > O obús 8.8 (2)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) >  O Dauda, a "mascote da companhia" (1), com outros meninos da Tabanca, a brincar numa poça de água, junto à capelinha...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O Dauda,  a "mascote da companhia" (2)... Vivia praticamente com os militares...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > O Dauda, a "mascote da companhia" (3)... Dizia-se, na caserna, que era cara chapada do pai... O Dauda terá morrido há 4 anos atrás, com cerca de 45 anos... Era casado e pai de duas filhas. A família vivia em Bissau.

Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Dauda era filho de Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa. O pai biológico  de Dauda, dizia-se,  era um militar português que passara por Cacine, em 1965/66.  O Dauda teve no Zé Neto um protetor. E, história espantosa, em janeiro de 2010, a Júlia Neto, viúva do cap ref José Neto (1929-2007), foi conhecer a esposa e as duas filhas do Dauda (, entretanto falecido ainda há pouco tempo), em Bissau.

Sobre este reencontro, escreveria o Pepito mais tarde, no nosso blogue: "Quando o Capitão começou a colaborar com a Iniciativa de Recuperação de Guiledje, a única coisa que pediu foi: 'Procurem e encontrem-me o Dauda, filho abandonado por um militar que tinha estado neste quartel e que sempre tratei como um filho e que gostaria de voltar a ver'. Para ele, Capitão Neto, com aquele coração enorme que tinha, nunca conseguiu perceber como se pode abandonar uma criança pequena e desinteressar-se definitivamente dela. A sua mulher Júlia Neto veio a Guiledje e encontrou a mulher e as filhas do Dauda e … perfilhou-as imediatamente. A família Neto, toda ela, tem um coração de ouro".

E com o Dauda que começa a III parte das memórias de Guileje, da autoria do Zé Neto, e que já publicámos na I Série do nosso blogue, em janeiro de 2005. O Zé Neto úm dos primeiros 50 camaradas a ingressar no nosso blogue. Hoje somos 12 vezes mais, a maior parte dos tabanqueiros não o conheceram nem têm acesso à sua colaboração, dispersa. Daí também esta nova edição dos seus postes sobre Guileje, no ano em que celebramos o 9º aniversário. Faz há 40 anos, a 22 de maio de 1973, que retirámos de Guileje.



2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte III


(i) Dauda,  filho vento e mascote da companhia


Como já escrevi, eram todos de etnia fula, de raça negra, com excepção de um menino mestiço.
Este menino, na altura com onze, doze meses de idade, era filho da Sona, uma jovem de Cacine, comprada pelo alfaiate de Guileje para ser a sua terceira esposa.

Tinha o nome de Dauda, mas era tratado por todos nós por Viegas, apelido do pai, capitão que comandara a companhia de Cacine. Ainda hoje, quando revejo as dezenas de fotografias que fiz do garoto, acho que poderíamos anteceder Silva a Viegas…

Foi pela minha mão que o miúdo deu os primeiros passos. E foi por ele que, suponho, arrisquei a vida quando, num ataque bem apontado, as morteiradas atingiram a zona da cozinha, lenheiro e depósito de géneros.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 >  Uma dos dos abrigos enterrados... Na foto vê-se uma bazuca pendurada e, do lado direito, a máquina de costura do alfaiate da tabanca...

Foto (e legenda): © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


Ao correr para o abrigo ouvi o choro duma criança. O Viegas tinha jantado connosco, como de costume, e tive a quase certeza de que era ele. Retrocedi e apanhei-o junto ao coberto que servia de messe de sargentos. Arrastei-o até à entrada do abrigo e, uns instantes depois, uma granada explodiu no monte de lenha a menos de quatro metros de distância, projectando cavacas em todas as direcções.

Dos meus troféus faz parte a empenagem que sobrou dessa granada, que nunca limpei, e que a minha mulher resmunga que só serve para sujar o móvel onde está. Não é que suje, mas também nunca me apeteceu contar-lhe a história desse bocado de ferro com alhetas e terra empastada.

Quanto à actividade militar, a das tropas operacionais era intensa e da minha parte não o era menos. O Capitão Corvacho, ainda em Brá, dividiu o comando da companhia em duas partes distintas: a parte operacional era dirigida por ele e a administrativa por mim. Basta referir que o meu Registo Geral (caderno mensal em que são escriturados todos os homens e as suas mais diversas situações) tinha muito perto de trezentos títulos.


(ii) O meu escriturário, o 1º cabo Cardoso, empregado de sapataria em Viseu, e meu braço direito

Creio que é a terceira vez que o trago a esta história, mas não posso deixar de salientar a enorme ajuda do meu escriturário, o 1º Cabo Ramiro Pais Cardoso, um jovem que antes da tropa era empregado duma sapataria em Viseu, sua terra natal, cuja dedicação e competência me levaram a decidir e recomendar ao nosso Capitão que, durante a minha licença na Metrópole, ele ficasse a exercer as minhas funções, prescindindo da regulamentar substituição pelo 2º Sargento C... P..., que só constou no papel e nos actos imprescindíveis… tais como dispensa de serviço de escala.

(iii) O Rochinha, meu fidelíssimo faxina, manufactor de calçado na vida civil, básico na tropa por ter os pés chatos...

E aproveito também para prestar o meu profundo apreço pelo meu ultra zeloso faxina pessoal, o Rochinha, de seu nome completo António Casimiro da Rocha, natural de Passais, freguesia de Fiães, concelho de Vila da Feira. Dizia-se mal classificado pela tropa, pois era manufactor de calçado e não sapateiro como constava nos seus documentos e roía-se todo por ter sido privado de especialidade, ficando portanto básico, só pelo facto de ter os pés chatos.

Cuidava de mim e dos meus pertences com uma dedicação extrema. Um dos seus cuidados era fazer-me o café às horas certas de acordo com a nossa combinação. Ficou histórica a sua presteza quando, durante os dois dias de viagem marítima de Buba para Gadamael, às horas marcadas me aparecia o Rochinha com o cafezinho fumegante.

E o único convidado para a bica que ele admitia era o nosso Capitão e o Dr. Oliveira Martins quando estava connosco. Fartou-se de me pedir para o deixar ir a uma operação, mas sempre lhe neguei a vontade, porque, se por um lado lhe estava vedada essa actividade, por outro eu não podia prescindir da sua colaboração.

De parceria com o Ramiro, que o ensinou a escrever à máquina, dava volta à papelada mais trivial com segurança e a contento de todos, pois nunca abusou da sua relativa proximidade com o comando da companhia. Antes pelo contrário. Algumas vezes ajudava um ou outro camarada menos expedito a trazer-me este ou aquele problema que necessitava da minha intervenção.


 Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Mais um dos abrigos enterrados... e local de brincadeira da criançada...

Foto (e legenda): © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

(iv) O nosso batismo de fogo já no final das chuvas, em outubro de 1967

O resto da estação das chuvas, de Junho a Setembro [de 1967], foi passada na expectativa das tradicionais boas vindas que os turras costumavam dar às guarnições novas.

Havia informações de que o IN tinha deslocado para aquela zona dois bigrupos (*) e possivelmente, tal como nós, andavam a adaptar-se ao terreno. Até que, em meados de Outubro, tivemos o primeiro ataque, muito mal realizado, graças a Deus.

Primeiro, já tínhamos conhecimento dos seus movimentos e da hora provável da flagelação e segundo, acercaram-se demasiado do perímetro fortificado e ficaram expostos ao fogo das nossas armas ligeiras, principalmente dilagramas (1) e bazucas. Além disso as suas granadas de morteiro, embora tivessem o alvo constituído pelas coberturas de zinco das nossas instalações iluminado pelo luar, caíram todas longe da tabanca, sem causar o mínimo estrago.

Em contrapartida, deixaram no terreno algum armamento, peças de roupa ensanguentada e sinais de uma retirada pouco organizada. Soube-se depois que esta acção foi o baptismo de fogo da maior parte dos atacantes, uma espécie de exercícios finais de recrutas, mas a sério. E para mim também o foi, já que a campanha do Lap Sap, de 1952, em Macau (2), não conta, porque não cheguei a sentir o calafrio provocado pela incerteza de onde irá cair a próxima?

Tínhamos acabado de jantar e cada qual foi para o seu buraco, porque, como já referi, estávamos à espera do ataque. No meu quarto-abrigo a segurança era mais que suficiente e dispus-me a escrever um aerograma para a minha mulher a mentir-lhe, como sempre fiz em relação aos perigos que corria, dizendo-lhe que estava tudo bem comigo, que estivesse descansada e por aí fora.

Ao estrondo da primeira granada de morteiro que caiu lá para o fundo da pista seguiu-se o corte da electricidade, já programado. Acendi a minha lanterna de pilhas e fiz um leve risco no alto da folha para assinalar o acontecimento. Com o continuar dos rebentamentos, começou a ouvir-se o som característico das costureirinhas e das Kalash, o que pressupunha a intenção de flagelação seguida de tentativa de assalto.

Até essa altura eu tinha a convicção de que a história de medo de pôr os cabelos em pé não passava disso mesmo, um rifão como outro qualquer. Mas a veracidade estava bem presente. Por momentos senti um arrepio de frio na espinha e os cabelos, e pêlos dos braços, a eriçarem-se.

Compreendi rapidamente que estar ali sozinho não me era emocionalmente favorável e arrastei-me até ao abrigo fortificado que ficava por trás do meu quarto onde encontrei os elementos da guarnição muito calmos a fazerem uns disparos tiro-a-tiro pelas seteiras ao mesmo tempo que comentavam:
- Estes gajos são loucos. Se avançam para cá das árvores caiem todos como tordos.

Ao fim de muitas horas, quando o silêncio se consolidou, fiquei pasmado ao olhar para o meu relógio e constatar que a coisa tinha durado menos de quarenta minutos. Acompanhei o Capitão na volta pelos abrigos e palhotas da tabanca e certificámo-nos de que o ataque nem uma beliscadura causou.

Em conversa sobre o acontecido eu disse-lhe que me tinha arrepiado com medo, embora sabendo que estava em local seguro. Respondeu-me que também ele já tinha passado por isso, mas que, com a continuação, uma pessoa se habitua.

Entramos assim num ciclo de duas campanhas: eles executavam a sua de noite e nós a nossa de dia. Quanto aos ataques que sofremos daí para o futuro, e foram muitos, apenas quero salientar, para além do que descrevi sobre o Viegas, dois ou três pormenores:

Na gíria das transmissões essas acções do IN eram alcunhadas de festival o que se estendeu ao dia-a-dia do pessoal. Muitas vezes as nossas sentinelas detectavam o som da saída das granadas do tubo e disparavam uma rajada ao mesmo tempo que gritavam:
-Festival!!!

Quando a primeira granada chegava já estava quase tudo abrigado. Uma ocasião tal não sucedeu e se alguém pode acreditar em milagres, esses são o Capitão Corvacho e o Alferes Michael (3). Ao correrem para junto da posição do Morteiro de 81 mm, seu posto de combate na circunstância, por pouco não foram atingidos por qualquer coisa que não identificaram de imediato. Quando acabou a flagelação constatou-se que essa coisa era uma granada de morteiro que não explodiu e estava semi-enterrada no solo.

Tomaram-se as precauções necessárias e no dia seguinte a granada foi puxada por um extenso cabo de aço. Mas antes, como bom artilheiro, o Capitão mediu o ângulo de chegada do projéctil com o qual calculou a direcção e a distância de onde tinha sido disparado, para futuras retribuições (4).

Providencialmente o turra tinha-se esquecido de sacar a cavilha de segurança da espoleta antes de meter a granada no tubo!!!

(Continua)

[Subtítulos da responsabilidade do editor]
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Notas do autor


(1) Dispositivo de Lançamento de Granadas de Mão, um engenho português que se adaptava ao cano da espingarda automática G3. Com uma munição especial, facultava o lançamento de granadas de mão a distâncias consideráveis em tiro curvo. Era terrivelmente eficaz quando lançado sobre as copas das árvores, pois as granadas explodiam e fragmentavam-se em direcção ao solo.

O seu uso exigia do atirador muita perícia e, principalmente, concentração, pois se na confusão fosse utilizada munição normal a granada explodia imediatamente. Deu-se um percalço destes com um atirador da CART 1612 que matou dois soldados.

(2) Incidentes das Portas do Cerco que isolaram Macau durante três semanas, nos quais os chineses mataram o Soldado Moçambicano Jacinto Mundau.

(3) Michael Winston Schnitzer da Silva [, alf mil cav, comandante do Pelotão de Reconhecimento Fox nº 1165, ou Pel Rec Fox 1165]


(4) O Morteiro é uma arma de tiro curvo, mas diferente dos obuses ou canhões. Grosso modo pode dizer-se que o projéctil descreve uma trajectória parecida com um V invertido. O alcance da arma (distância para o alvo) é obtido pelas tabelas de inclinação do tubo de lançamento e variação das cargas propulsoras. Assim, identificado o projéctil descobre-se com facilidade a arma que o lançou. Com uma arma igual, ou outra com os ajustes calculados, há muitas probabilidades de fazer um disparo inverso e atingir as redondezas da posição da arma inimiga.
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11635: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (14): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Partes I/II: Formação e mobilização da companhia, que foi render a CCAÇ 1477