sábado, 12 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12142: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (1): Comunicado do comandante do setor 2 da Frente Leste, de 27/1/1971, relatando duas ações: (i) A instalação de 2 minas A/C em Nhabijões, acionadas pelas NT em 13/1/71; e (ii) Flagelação ao aquartelamento do Xime, no dia seguinte


Página de rosto do portal Casa Comum, desenvenvolvido pela Fundação Mário Soares, e de  que se transcrever a seguir uma sinopse sobre "Arquivos e Memórias:"

"Os arquivos são essenciais à Memória. Preservar e disponibilizar a documentação dos nossos arquivos é, por isso, uma tarefa de grande prioridade. Para a gradual constituição de uma comunidade de arquivos de língua portuguesa temos, a partir de agora, esta Casa Comum.

"Com este projeto, sublinhamos a importância da conservação dos documentos para as gerações futuras, a confiança que os arquivos devem inspirar em matéria de preservação da autenticidade e da fiabilidade da informação de que são guardiães e a sua relevância enquanto elementos de identidade da memória e da história individual e coletiva."


Sobre o Arquivo Amílcar Cabral, disponível na Net desde 20/1/1973 (40º aniversário do assassinato do líder histórico do PAIGC), pode ler-se o seguinte: 

"Constituído por mais de 10.000 documentos (com cerca de 27.600 páginas), incluindo 1.300 fotografias, o âmbito cronológico dos Documentos Amílcar Cabral situa-se entre 1956 e 1976, com excepção de alguns documentos posteriormente incorporados por sua Filha, Iva Cabral, que se referem a actividades profissionais de Cabral e, também, a acontecimentos posteriores à sua morte. O Arquivo Amílcar Cabral, essencialmente organizado em Dakar e em Conakry, é constituído por documentação de cariz político, militar e diplomático produzida pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e pelo seu fundador, Amílcar Cabral." (...)

1. Em 23 de setembro passado, mandeio o seguinte email para a o portal Casa Comum, ao cuidado do administrador do arquivo e biblioteca da Fundação Mário Soares, o dr. Alfredo Caldeira: 

Meu caro Alfredo Caldeira:

Antes de mais, boa saúde e bom trabalho. Como já em tempos te manifestei verbalmente, tenho particular apreço pela paixão e rigor com que foram salvos, recuperados, tratados e disponibilizados, aos estudiosos e ao grande público, os documentos (ou parte deles) do Arquivo Amílcar Cabral. Esse trabalho é mérito da Fundação Mário Soares e dos seus dedicados e competentes técnicos, sob a a tua direção.

Esse trabalho merece ser melhor conhecido e reconhecido pelos antigos combatentes portugueses, mas também pelos guineenses que têm acesso à Net. É nesse sentido, e celebrando-se amanhã a efeméride dos 40 anos da independência da Guiné-Bissau, que eu te venho pedir a competente autorização, na tua qualkdiade de coordenador do projeto, para reproduzir, de acordo com as vossas normas técnicas e legais, alguns ou a totalidade dos documentos (na a maior parte fotos, incluindo as da Bruna Polimeni) a seguir listados, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné de que, como sabes, fui o fundador, e sou o principal administrador e editor. Publica-se há mais 9 anos, tem mais de 5 milhões de visualizações, possui um espólio de dezenas de milhares de fotos e documentos. 

Se assim o entenderes, contiunua a dispor do nosso blogue para os devidos efeitos, como fonte de informação e conhecimento,

Um Alfa Bravo (Abraço),
Luís Graça

2. A resposta veio a 2 do corrente:

Caro Luís Graça,

Obrigado pela tua mensagem e, como sempre tenho referido, pelo trabalho fantástico que tens feito no blog. 

Quanto às imagens solicitadas, levantam-se alguns problemas, que temos procurado evitar. Por isso, proponho a seguinte solução:

(i) Fotografias: cedemos cópia das fotografias com 72dpi de resolução e a dimensão máxima de 400 pixels;

(ii) Documentos: podem ser referenciados com um thumbnail (dimensão máxima 200 pixels) que serve de link para o documento em www.casacomum.org.

Todos estes elementos devem ser devidamente referenciados, conforme consta do campo "Fundo" na descrição que encontra no site.

Espero que entendas a solução proposta, que resulta de compromissos e equilíbrios com outras instituições.

Um grande abraço,
Alfredo Caldeira

Administrador
Arquivo & Biblioteca
Fundação Mário Soares
Rua de São Bento, 176
1200-821 - Lisboa
Tel: (+351) 21 396 4179
Fax: (+351) 21 396 4156
www.fmsoares.pt
www.casacomum.org

3. Transcrição de comunicado do PAIGC sobre acções levadas a cabo em Nhabijões (13/1/1971) e Xime (14/1/1971), referidas no poste P12139 (*), com revisão/fixação  de texto pelo editor L.G. O comunicado é manuscrito em papel de carta, com linhas.

Comunicado


No dia 13/1/71, um grupo de 5 camarada[s] armados estalaram [instalaram] 2 minas anti-carro na estrada entre Nhabions [Nhabijões] e Bambadinca, causou os [causando aos] inimigos de grandes perdas em vidas humanas, e destruiu [destruindo] 2 viaturas cheio[as] de tropas tugas que tinham ido [iam] pra [para] Bambadinca buscar comida para aqueles que ficaram na[em] Nhabions [Nhabijões].


Os Inimigos sofreram grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos.

Por no [nosso] lado não houve nada mau.
Dirigido por [pelos] camaradas:
Mário Mendes e Mário Nancassá.

No dia 14/1/71, os nossos artilheiros bombardiaram [bombardearam] guarnição fortificada de militares tugas no Xim[e], com canhões e morteiros 82, causou os [causando aos] inimigos estagionados [estacionados ] de grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos.
Por nosso lado, não houve nada mal.

Bombardiamento [bombardeamento] foi dirigido por [pelos] camaradas:

Djambu Mané, António da Costa e Bicut Iula [ou Tula] [?]

[Assinatura ilegível]

Sector 2 da Frente Leste, 27/1/71


Fonte:

(1971), "Comunicado - Frente Leste", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40689 (2013-10-12)


Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07200.170.117
Título: Comunicado - Frente Leste
Assunto: Comunicado da Frente Xitole Bafatá sobre as acções militares do PAIGC em Nhabiam, Bambadinca e Xime.
Data: Quarta, 27 de Janeiro de 1971
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Diversos. Guias de Marcha. Relatórios. Cartas dactilografadas e manuscritas. 1960-1971.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos

4. Comentário do editor:

Segundo informação do António Duarte, nosso camarada, membro da Tabanca Grande, ex- furriel miliciano da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão".

O Mário Nancassá era, por seu turno, o chefe do grupo de sapadores do setor 2 (Xime/Xitole). Foi ele que montou as minas em Nhabijões. Foi ele que matou o sold cond auto Manuel Costa Soares, da CCAÇ 12... A guerra também tem rostos!

Cotejando as versões dos acontecimentos, do nosso lado e do lado do PAIGC, é óbvio que eram diferentes as preocupações de rigor factual, bem como a literacia dos combatentes de um lado e doutro.  Mas fica aqui, para informação e conhecimento dos nossos leitores, o que sobre nós diziam e escreviam os homens que. no passado, foram nossos inimigos e contra os quais combatemos,

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 11 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12139: A minha CCAÇ 12 (29): 1 morto e 6 feridos graves em duas minas A/C, no reordenamento de Nhabijões, Bambadinca, em 13/1/1971, aos 20 meses de comissão (Luís Graça)

Resumo: Em 13/1/1971, às 11h24, na estrada Nhabijões-Bambadinca um Unimog 411 que ia buscar a comida para o pessoal do destacamento, accionou uma mina A/C, causando um morto e 3 feridos graves.

O gr comb da CCAÇ 12, que estava de piquete em Bambadinca,  dirigiu-se de imediato ao local... No regresso, duas horas depois, cerca das 13h30, a GMC que transportava duas secções,  accionou outra mina A/C, não detectada, na berma da estrada, a 10 metros da anterior. As NT sofreram mais cinco feridos graves, de imediato evacuados para o HM 241. 

No dia seguinte, em 14/1/1971, o IN flagelou o Xime, da direcção de Ponta Varela, com morteiro 82, "à distância,  sem consequências".

Guiné 63/74 - P12141: (Ex)citações (227): Nas duas Açções Garlopa em que participei, com a CART 3494 e a CCAÇ 12, não tenho ideia de termos capturado elementos pop mas destruímos dois acampamentos e outros meios de vida (António J. Pereira da Costa, ex-cap art, CART 3494, jun/nov 1972)

1. Mensagem de António J. Pereira da Costa, cor art ref, com data de ontem:

Assunto - Operação Garlopa 2
Olá Camaradas

Reporto-me ao Poste P12135.

É pena que se tenham "perdido" a História e restante documentação das unidades.

No caso da CArt 3494 posso garantir que participei em duas acções de nome Garlopa enquanto estive no Xime e sempre com CCaç 12 a proteger o flanco esquerdo da CArt que progredia em direcção ao Poindom,  deixando o Geba no seu flanco direito.

Em nenhuma das duas [acções] foram capturados elementos da população, mas apenas destruídos dois acampamentos e restantes meios de vida.

Na primeira,  não houve contacto e o mato era muito denso, de tal modo que o DO-27 teve dificuldade em nos localizar e só quanto o acampamento começou a arder é que nos viu.

Na segunda, continuámos a destruição, mas com dificuldade. Tinha chovido e não nos forneceram granadas de mão incendiárias. Destruímos a pontapé  alguns Irãs que existiam a descoberto.
Demorámo-nos e, no momento em que as duas companhias, se reuniam, sofremos uma curta emboscada, sem consequências.

Em nenhuma das acções pedi fogo de artilharia e não fomos à Ponta do Inglês [, na foz do Rio Corubal].

A CArt 3494, no meu tempo, recolheu um Companhia de Paraquedistas que fora colocada (?) na Ponta do Inglês, mas não actuámos juntos.

Os dez elementos da população [, referidos no poste,] foram recolhidos no Geba, depois da LDG lhes ter afundado a canoa.

A História da Unidade contem inúmeras inexactidões,  a começar na minha apresentação, que foi a 22 de junho de 1972, e não em Agosto de 1972.

Um Ab.
António J. P. Costa

2. Comentário de L.G. [, foto à esquerda, em Bambadinca, 1969]


Tó Zé, tome-se boa nota das tuas observações e apontamentos... Infelizmente, eu só tenho a história dos dois batalhões anteriores, o BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72), além da história da CCAÇ 12 (de maio de 1969 a março de 1971), que eu próprio escrevi. Pode ser que apareça mais algum camarada com elementos novos, de memória ou documentais.  Pelos vistos, o Sousa de Castro possui uma cópia da história do BART 3873.

A esta distância, de mais de quatro décadas, a memória atraiçoa-nos. Valha-nos ao menos a existência dos preciosos mapas que o Humberto Reis em boa hora comprou, digitalizou e ofereceu à Tabanca Grande! (Ainda tenho alguns mais, "guardados", que só disponibilizo a pedido, nomeadamente os dos arquipélagos dos Bijagós)...

Já agora, fiquei a saber o que era uma... garlopasubstantivo feminino. Instrumento de carpinteiro, semelhante à plaina, mas maior do que esta. "garlopa", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/garlopa [consultado em 11-10-2013].

Mas vamos ao que interessa, e corroborando o que tu escreves: se consultares as cartas do Xime e de Fulacunda, e refrescares a memória, vais ver que era difícil chegar à Ponta do Inglês, a penantes... Concordo contigo. Por isso é que se usava a "helicolocação"... Sei não estiveste lá muito tempo, por aquelas bandas: de qualquer modo foram quase seis meses, o tempo de um gajo deixar de ser periquito...

Aliás, nem a nossa artilharia (o obus 10.5) lá chegava... Eu, que levei bastante porrada, ao longo da antiga estrada (ou picada) Xime-Ponta do Inglês,  nunca tive o privilégio de lá chegar, mesmo à ponta... da Ponta do Inglês. Nunca vi o famoso Corubal, nem os seus hipopótamos nem os seus crocodilos... Hoje, julgo que desapareceram, pelo menos os hipopótamos... Devem-nos ter caçado e comido durante a "guerra de libertação".  O mesmo aconteceu ao pobre do macaco-cão, que era abundante nas florestas do Corubal...

De resto, era quase impossível chegar, por terra, à Ponta do Inglês sem ser detectado pelos gajos de Baio ou da Ponta Varela e, depois, mais à frente, do Poindom... Aquilo era um ratoeira... Entrava-se naquela pensínsula, para levar porrada, se levássemos intenções (agressivas) de chegar ao Poindom... onde havia núcleos populacionais que o PAIGC procurava defender com unhas e dentes...

A última vez que as NT chegaram mesmo à Ponta do Inglês deve ter sido na Op Lança Afiada (março de 1969), a tal megaoperação que envolveu 1300 militares e carregadores civis...e em que 15% do pessoal foi helievacuada (por insolação, esgotamento, ataque de abelhas, etc.).

Quanto às "inexactidões" das histórias das nossas unidades...  bom, temos que saber viver com elas, despistá-las, remediá-las, remendá-las... Sempre é melhor do que não ter documentação nenhuma, por escrito... Temos que  ver também o que os outros, do outro lado, diziam de (ou escreviam sobre) nós... O que infelizmente também foi pouco.

Em todo o caso,  há alguns documentos interessantes no Arquivo Amílcar Cabral (disponível na Casa Comum, a tal comunidade de arquivos de língua portuguesa que a Fundação Mário Soares tem vindo a desenvolver, com diversas parcerias). Há documentos dos "outros" que vale a pena cotejar com os "nossos"... Só com o contraditório e a triangulação das fontes podemos avançar no conhecimento histórico. Vou fazer isso,  um dia destes, a propósito das duas minas A/C que accionámos em Nhabijões, em 13/1/1971... Numa nova série que terá como título qualquer coisa como "Taco a taco... A guerra vista do outro lado"... Para já tenho curiosidade em saber quem foram os filhos da mãe que puseram as duas minas, uma das quais matou o nosso (da CCAÇ 12) Manuel  da Costa Soares, aos 20 meses de comissão (. Infelizmente não chegou a conhecer a filha que nasceu e cresceu na metrópole. Era natural de Oliveira de Azeméis).

Boa noite, Tó Zé,  um abraço. E que os fantasmas da antiga picada do Xime-Ponta do Inglês  não te assombrem.  LG

PS - Junto se anexa a pag 75 da Hustória do BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), onde se faz referência à Acção Garlopa, de 19/7/1972, e na qual participaram, além da CART 3494 e da CCAÇ 12, dois gr comb da CCP 121/BCP 12, que foram largados de helicóptero no objetivo.




Cópia da pág. 75 da História da Unidade, BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), gentilmente cedida pelo Sousa de Castro.
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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12116: (Ex)citações (226): Não me lembro do Oh! Alexandre... mas é muito natural que ele se lembre de mim: afinal, em dois terços do tempo de comissão, fui eu que comandei a CCAÇ 798... Também se deve lembrar do alf mil Pinheiro, que comandava o destacamento de Ganturé e que foi evacuado com 14 perfurações no corpo, na sequência de uma emboscada na estrada para Gandembel (Manuel Vaz, Gadamael, 1965/67)

Guiné 63/74 - P12140: Parabéns a você (638): Cátia Félix faz hoje 30 aninhos, e está em Vila Nova de Foz Coa, sua terra natal...A Tabanca Grande alegra-se e está presente na festa!...


A nossa jovem e querida amiga, hoje farmacêutica, Cátia Félix, é natural de Vila Nova de Foz  Coa e faz... 30 aninhos!... Sei que vai ter uma surpresa nesta sábado!... E mais não se pode dizer!....

Recorde-se que a Cátia é amiga da Cidália, viúva do nosso malogrado camarada António Ferreira, 1º Cabo Trms, CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), morto em 17 de Abril de 1972 na emboscada do Quirafo. A Cidália é mãe da filha que que o António nunca chegou a conhecer.  A Cátia ajudou a Cidália a fazer o luto... 40 anos depois! Uma história extraordinária de solidariedade humana e de amizade!
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P12137: Parabéns a você (637): Benito Neves (ex-fur mil at cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67) e Eduardo Campos (ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar. Nhacra, 1972/74)

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12139: A minha CCAÇ 12 (29): 1 morto e 6 feridos graves em duas minas A/C, no reordenamento de Nhabijões, Bambadinca, em 13/1/1971, aos 20 meses de comissão (Luís Graça)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca >  CCS / BART 2917 (1970/72) > Janeiro de 1971 > Cemitério de viaturas de Bambadinca... O estado em que ficou o "buirrinho", o Unimog 411, conduzido pelo sold cond auto, da CCAÇ 12, Manuel da Costa  Soares, que teve morte imediata, aoaccionar uma mina A/C, à saúda de Nhabijões,  aglomerado populacional, em fase de reordenamento, e que era de maioria balanta, com parentes no "mato", sendo considerado sob "duplo controlo"... A sua proximidade ao Rio Geba e à grande bolanha de Sambasilate davam-lhe um valor estratégico...

Foto:  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. (Editada e legendada por L.G.)













Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Nhabijões > CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) > Um grande aglomerado populacional, de maioria balanta, com parentes no "mato", e que era considerada sob "duplo controlo"... A dispersão das diversas tabancas (1 mandinga e 4 balantas: Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe), sua proximidade ao Rio Geba, fazendo ponto de cambança para a margem direita (Mato Cão, Cuor...) e as duas grandes bolanhas (um delas a de Samba Silate, uma enorme tabanca destruída e abandonada no início da guerra), foram motivos invocados para começar a construir, a partir de novembro de 1969, um dos maiores reordenamentos da Guiné no tempo de Spínola. A aposta era também a conquista da população, fugida no mato e sob controlo do PAIGG, vivendo ao longo da margem direita do Rio Corubal (desde a Ponta do Inglês até Mina/Fiofioli)

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)




Guiné > Zona leste < Setor L1 > Carta de Bambadinca (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa  dop agloemrado populacionalde Nhabijoes, a oeste de Bambadinca

Infografia: Blogue Luís Graça & camaradas da Guiné (2013)

1. Em homenagem (póstuma) ao sold cond auto Manuel da Costa Soares, da CCAÇ 12, morto; em homenagem ao Luis R. Moreira (da CCS/BART 2917), ao Joaquim Fernandes, ao António Fernando Marques, felizmente todos vivos e membros da nossa Tabanca Grande; ao Ussumane Baldé, ao Tenen Baldé, ao Sherifo Baldé, ao Sajuma Baldé (todos da CCAÇ 12, soldados do recrutamento local, provavelvelmente já falecidos); e ainda ao soldado cond da CCS/BART 2917, Ribeiro Silva... todos eles gravemente feridos em duas minas anticarro que explodiram no dia 13 de Janeiro de 1970, à saída de Nhabijões (um dos reordenamentos que era a menina dos olhos de Spínola).

Eu também nunca mais esquecerei aquela data e aquele topónimo, Nhabijões. Nunca mais esquecerei a correria louca que fiz com um Unimog 404, carregado de feridos, pela estrada fora, de Nhabijões até Bambadinca, até ao nosso aeródromo aonde nos esperava o helicóptero para uma série de evacuações ipsilon.

Ainda hoje não sei explicar por que fui eu, além do condutor, o único do meu gr comb (, o 4º que estava de piquete,) que fiquei praticamente incólume mas inoperacional: umas contusões na cabeça (por projecção contra a parte inferior do tejadilho da GMC), e na perna direita; a G-3 danificada; tonto e cego de tanta poeira; etc.

Nhabijões era considerado um centro de reabastecimento do IN ou pelo menos da população sob seu controle.  Iam a Bambadinca, mas calmas, fazer compras... As afinidades de etnia e parentesco, além da dispersão das tabancas, situadas junto à  bolanha que confina com a margem esquerda do Rio Geba, tornavam impraticável o controle populacional, pelas autoridades administrativas e milçiatres.

Impunha-se, pois, reagrupar e reordenar os 5 núcleos populacionais, dos quais 4 balantas (Cau, Bulobate, Bedinca e Imbumbe) e 1 mandinga, e ao mesmo tempo criar "polos de atracção" (sic) com vista a quebrar a muralha de hostilidade passiva para com as NT, por parte da população que colaborava com o IN (desde o início da guerra, em 1963).

A partir de nvembro de 1969, um  gr comb da CCAÇ 12 passou a patrulhar quase diariamente as tabancas de Nhabijões cujo projeto de reordenamento estava então em estudo, a cargo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

A CCAÇ 12 participaria diretamente neste projeto de "recuperação psicológica e promoção social" (sic)  da população dos Nhabijões, fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa, constituída pelo alf mil op esp António Manuel Carlão, fur mil Joaquim A. M. Fernandes, 1º cabo at Virgilio S. A. Encarnação e sold arv Alfa Baldé que foram tirar o respetivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969;  e ainda 2 carpinteiros, ps 1º cabos aux enf Fernando Andrade de Sousa [, vive na Trofa], e Carlos Alberto Rentes dos Santos [, vive em Amarante].  E indiretamente,  criando as condições de segurança aos trabalhos.

Numa primeira fase fez-se  a desmatação do terreno, a fabricação de blocos (de adobe) e a construção de cerca de 300 casas de habitação e 1 escola. Durante este período a CCAÇ 12 realizou  várias ações, montando nomeadamente linhas descontínuas de emboscadas entre os 5 núcleos populacionais de Nhabijões, além de constantes patrulhas de reconhecimento e/ou contacto pop.

A partir de janeiro de 1970 seria destacado um pelotão da CCS/BCAÇ 2852 a fim organizar a autodefesa de Nhabijões. Admitia-se a possibilidade do IN tentar sabotar o projeto de reordenamento, lançando acções de represália e intimidação contra a população devido à boa colaboração prestada às NT.

A partir de abril de 1970, o reordenamento em curso passou  a ser guarnecido por 1 gr comb da CCAÇ 12. Na construção de novo destacamento estiveram empenhados o Pel Caç Nat 52 e a CCAÇ 12, a 3 gr comb, durante vários dias.

A segunda fase do reordenamento (colocação de portas e janelas, cobertura de zinco em todas as casas, abertura de furos para obtenção de água, etc.) começou  quando o BART 2917 passou a assumir a responsabilidade do Setor L1 (em 8 de junho de 1970), após terminar a comissão do BCAÇ 2852.

A partir de julho de 1970, a CCAÇ 12 deixou de guarnecer o destacamento de Nhabijões, tendo-se constituído um pelotão permanente da CCS/BART 2917 enquadrado por graduados da CCAÇ 12. Passei lá algumas "boas noites", com os gajos do PAIGC a comer e a beber nas nossas barbas,,, Nunca se atreveram a atacar-nos, à malta do destacamento à noite... mas no dia 13/1/1971 deixaram-nos dois "presentes envenenados", à saída no destacamento, na estrada (de terra batida) para Bambadinca, que ficava a escassos quilómetros... 

A. Continuação da séria A Minha CCAÇ 12, por Luís Graça (*) (**)... Estávamos com cerca de 20 meses de Guiné, e de intensa atividade operacional, desde que na segunda metade do mês de julho de 1969 tínhamos sido colocados em Bambadinca, como subunidade de intervenção ao serviço do comando do BCAÇ 2852 (até maio de 1970) e depois do BART 2917 (a partir de junho de 1970)... Éra previsível que,  a partir de fevereiro/março, começasse - para os quadros especialistas metropolitanos, pouco de mais de meia centena, que formavam a extinta CCAÇ 2590 e anova CCAÇ 12 - a tão desejada rendição individual.




Fonte: Excertos da História da Unidade - CCAÇ 12/CCAÇ 2590 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), cap II, pp. 44/45.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11077: A minha CCAÇ 12 (28): Dezembro de 1970: Flagelação ao pessoal e às máquinas da TECNIL, na nova estrada em construção, Bambadinca-Xime (Luís Graça)

(**) Vd. postes relacionados 

13 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10936: Efemérides (115): Nhabijões, 13 de Janeiro de 1971, morte na picada (Luís Rodrigues Moreira)


22 de janeiro de 2011> Guiné 63/74 - P7655: A minha CCAÇ 12 (11): Início do reordenamento de Nhabijões, em Novembro de 1969 (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P12138: FAP (75): Queda, recuperação e destruição, pelas NT, de um T6G, acidentado na região do Boé, com proteção dos paraquedistas (Vitor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca,1967/69)



Foto 1 > Este é T6G 1791 que um alferes periquito mandou para o capim perto de Madina do Boé.


Foto 2 > Aqui é pessoal a desmontar o todo o material que foi possivel. Esta operação foi feita sob  a indispensável protecção de tropas paraquedistas [BCP 12].



Foto 3 > Já não me lembro deste pessoal a não ser do sargento ajudante Manuel Matacão




Foto 4 > Este é o avião que o brigadeiro Hélio Felgas [, na altura coronel,] viu quando da retirada de Madina de má memória e que eu assisti [, em 6 de fevereiro de 1969]. Mas através destas fotos também se pode analisar a capacidade técnica dos mecânicos da FAP, apesar da sua tenra idade.


Foto 5 > Esta será a fase em que já se procedia à preparação da aeronave para ser destruída através do incêndio para que o inimigo não pudesse recuperar alguma coisa de útil. A carcaça ficou lá depois de incendiada.

Fotos (e legendas): © Vitor Oliveira (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

1. Esta sequência fotográfica já foi publicada no nosso blogue, aquando da apresentação do Vitor Oliveira à nossa Tabanca Grande em 13/5/2009. Também foi publicada no blogue dos nossos amigos Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74. Na altura, em formato reduzido e sem o devido enquadramento.

 Não encontrei até agora mais nenhuma referência a este acidente que custou uma aeronave à FAP. E nem sabemos em que ano é que foi (1967 ? 1968? 1969 ?). Sabemos que no ano de 1968 o Vitor Oliveira voava muito com o sargento Honório, em missões de proteção de colunas de Lamego para Beli (, destacamento cuja guarnição é mandada retirar por Spínola, em 15/7/1968). Talvez estas fotos sejam dessa altura, de meados do ano de 1968, o que está por confirmar). Todavia, nada melhor do que esperar um esclarecimento adicional, da parte do Vitor. Fico-lhe desde já obrigado, a ele ou qualquer outro dos nossos camaradas que tenham informações sobre este acidente da FAP.

É natural que o PAIGC tenha, posteriormente,  fotografado os restos da aeronave e tenha reclamado, como mérito seu, o seu abate. No Arquivo Amílcar Cabral, disponível "on line" no portal Casa Comum, desenvolvido pela Fundação Mário Soares,  há diversas fotos de aviões "abatidos"... Um deles poderia ser este T6G,,, Obviamente que era um grande trunfo, em termos de propaganda, interna e externa, independentemente da verdade dos factos...  Muitas das fotos do arquivo (que está integralmente tratado pela FMS) não tem legendas com datas e lugares precisos. Ou muito simplesmente carecem de legenda. LG

2. Sobre este assunto, o Vitor Oliveira mandou-me o seguinte esclarecimento (com conhecimento também ao Vitor Barata, editor do blogue Especialistas da Base 12, Guiné 65/74:).

Amigos Vitor e Luis: 

Deram-me um livro sobre a Guiné que é Batalhas da História de Portugal: Guerra de África: Guiné, em que  na página 120 aparece uma foto de um T6G a ser reparado em MADINA DE BOÉ... Isso não  era possível porque a pista mal dava para aterrar uma DO27. A pista ficava no fundo dos montes.

Eu devo ser dos especialistas que mais vezes esteve em Madina e uma vez mais o meu grande amigo HHonório  estivemos metidos dentro de um abrigo uma hora e tal até que acabasse o tiroteio entre as nossas tropas e o inimigo.

Tenho estes voos registados na minha caderneta de voo.

Sem mais um grande abraço.

Vitor Oliveira

1º Cabo Melec.

3. Comentário de L.G.

Vitor, o livro de que falas é o do Fernando Policarpo (Batalhas da História de Portugal, Guerra de África, Guiné, 1963-1974, Vol. 21, Academia Portuguesa de História, Matosinhos, QuidNovi Editores,2006). A legenda da p. 120 só pode estar errada. Quando vir o Fernando Policarpo (e até pode ser já na próxima segunda feira, se ele for ao mesmo almoço-convívio, a que eu vou, em Ribamar, Lourinhã).De qualquer modo, ficamos sem saber quando (dia, mês e ano) se deu este acidente com o T6G, nas imediações de Madina do Boé.  Um abraço. LG

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11737: FAP (74): A instrução do AL III no meu tempo: em Janeiro de 68, eu e mais cinco pilotos do P1 de 67, juntamente com quatro pilotos da Academia Militar e o Senhor Dom Duarte de Bragança, iniciamos com o Al II o curso de helis... Saí de Tancos com um total de 291 horas de voo, e no dia 1 de Outubro de 68 fazia uma evacuação (TEVS) em Cabuca.... (Jorge Félix)

Guiné 63/74 - P12137: Parabéns a você (637): Benito Neves (ex-fur mil at cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67) e Eduardo Campos (ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar. Nhacra, 1972/74)


Benito Neves (ex-Fur Mil Atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67) é membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007.

Eduardo Campos (ex-1.º Cabo trms,  CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar. Nhacra, 1972/74) é nosso grã-tabanqueiro desde 21 de maio de 2008.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12136: Efemérides (144): o macabro espetáculo dos corpos a boiar no Rio Corubal, em Cheche, visto por mim, de cima, da DO 27 3329, nesse trágico dia 6/2/1969 (Vitor Oliveira)

1. Mensagem do Vitor Oliveira,e x-1º cabo melec, FAP,  BA12,
Bissalanca, 1967/69, com data de 8 do corrente  [, Foto à direita:
é membro da nossa Tabanca Grande desde 13/5/2009]:




Camaradas,  tendo recentemente lido no site Tabanca Grande diversas versões ácerca do triste acidente junto ao Cheche [, no Rio Corubal],  quando as nossas tropas abandonaram Madina de Boé [, Op Mabecos Bravios], devo dizer que  algumas delas não são as verdadeiras.

Isto porque nesse terrível dia 6 de Fevereiro 1969 estava a sobrevoar a coluna no avião T6G 1724 com outro T6 no tempo 3h 10m. A Força Aérea tinha,  em Nova Lamego, 6 T6 uma DO e um Heli .Estavam sempre dois T6 a fazer protecção. Este pormenor não li em parte nenhuma. 

Quero dizer o seguinte:

1º O acidente deu-se por excesso de peso na jangada.

2º  Não houve nenhum ataque do inimigo.

3º O Heli que se encontrava lá não era o Heli canhão, o piloto era 1º Sargento Ribeiro.

4º Passado umas horas apareceu,  de Heli,  o General Spínola que acompanhou a companhia até Canjandude.

Para terminar quero vos dizer que é para nunca mais esquecer o que se passou no dia 12 de Fevereiro. Eu, com o Tenente Coronel Piloto Costa Gomes e um Tenente Piloto do qual não me recordo do nome,  sobrevoámos o rio na DO27 3329 no total de 4h 05m, onde vimos o triste espectáculo,  os crocodilos de volta dos corpos que estavam a boiar.

Para provar tenho estes voos registados na minha caderneta de voo.
Sem mais um grande abraço.

Vitor Oliveira (Pichas)

1º Cabo Melec

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Nota do editor:

Último poste da série > Guiné 63/74 - P12052: Efemérides (143): Passados 41 anos o reencontro com o camarada d’armas Eduardo Ferreira do 1º Pelotão da CART 3494 (Sousa de Castro)

Guiné 63/74 - P12135: Acção Garlopa, no setor L1, subsetor do Xime, com a CART 3494, a CCAÇ 12 e a CCP 121, que levou à captura de 10 elementos da população, em 19/7/1972 (Sousa de Castro)






Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74) > População sob controlo do PAIGC, no subsetor do Xime, capturada no decurso da Acção Garlopa, em 19 de julho de 1972, num total de 10 elementos.

Fotos (e texto):  © Sousa de Castro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem do Sousa de Castro, o nosso tertuliano nº 2 (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) [, foto à esquerda, no Xime, 1972] , com data de 8 do corrente;

Caros camaradas depois de ler o poste P12128, leva-me a concluir que tem a ver com a actividade da CART 3494 em Julho de 1972 conforme página 75 da História do BART 3873 que anexo, bem como as fotos de elementos da população capturados nessa operação (Acção Garlopa). Junto igualmente um síntese da actividade operacional, no subsector do Xime, editada por mim.

Com os melhores cumprimentos, A. Castro.
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2. Comentário de L.G.:

Meu caro António:  Obrigado pela tua rápida resposta. Conheci, bem demais, como tu sabes, o subsetor do Xime, aquando da minha comissão na CCAÇ 12 (169/71). Era raro não haver contactos com o IN na região de Poidon/Ponta do Inglês, sempre que a gente lá ía, em força (cinco  a oito grupos de combate, 2 destacamentos).

Em 21 de janeiro de 1970,   a CCAÇ 12, a 3 Gr Comb reforçados (destacamento A) e a CART 2520 (unidade de quadrícula do Xime, a 2 Gr Comb) (Dest B), no decurso da Op Safira Única, foram à região da Ponta do Inglês e, sem dar um tiro, recuperaram 15 elementos da população, destruiram dois acampamentos e aprisionaram um guerrilheiro "em férias", armado de pistola Tokarev (*)...

Recordo-me que os prisioneiros ficaram às ordens do comando e CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Lembro-me particularmente do ar aterrorizado das crianças, nuas, ao ouvir o ronco de uma GMC... Eram miúdos nascidos no mato (a partir de 1963). Já não recordo de qual terá sido o seu destino: como era usual, eram entregues à autoridade administrativa local e acabavam por ser integrados nalguma tabanca mais próxima, com gente da sua etnia (balantas ou beafadas). 

Todos os anos era o mesmo drama, com esta pobre gente que trazíamos do mato, em geral na altura da época seca ou no princípio da época das chuvas, e para qual não havia, no quartel de Bambadinca, as condições mínimas de acolhimento e muito menos uma política de integração... Esse drama será presenciado, no ano seguinte, pelo alf mil capelão Arsénio Puim, que pertenceu ao batalhão seguinte, o BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Vd., a este propósito, , as suas memórias de Bambadinca.

Quanto à população a que te referes, capturada pelas NT (onde lá estão novamente os desgraçados da CCAÇ 12, já com com 3 anos de guerra!), na sequência da Acção Garlopa... Pelas minhas contas, é capaz de ser a mesma. Tu referes-te a 10 elementos capturados em 19 de julho de 1972 (E as fotos documentam-no). O jornalista do Diário de Lisboa, Avelino Rodrigues (que esteve 2 semanas na Guiné, não sei exatamente quando) acompanhou Spínola numa operação, já  também na pensínsula da Ponta do Inglês, em que foram capturados 10 elementos da população, balantas (7 mulheres, um velho e duas crianças). Spínola (,a companhado pelo jornalista) foi ao mato (possivelmente já perto do Xime, em Madina Colhido) recebê-los e tranquizá-los (**). Serão depois recebidos no palácio do Governador, com novas fatiotas, rádios a pilhas e dinheiro! Podes ler a segunda crónica, do jornalista, com data de 29/8/1972, aqui, no magnífico arquivo da Fundação Mário Soares. Podes ampliar a imagem (p. 12). Devo, de resto, dizer que é uma excelente reportagem, feita com rigor, isenão e objetividade, que honrou o grande jornalismo português que se fazia na época. Não sei o que é a censura ("exame prévio") cortou, se é que cortou (como vai cortar ao Expresso, em 1973 e 1974)!... 


(**) 8 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12128: Notas de leitura (524): (Mário Beja Santos): Reportagem do enviado especial do Diário de Lisboa, Avelino Rodrigues, CTIG, agosto de 1972

Guiné 63/74 - P12134: Parabéns a você (636):Manuel Resende (ex-Alf Mil At, CCaç 2585 / BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)


O nosso camarada  Manuel Resende, ex-Alf Mil At CCaç 2585 / BCaç 2884 (Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71), vive em Cascais e está connosco, na Tabanca Grande, desde 26 de março de 2009. É habitual frequentador da Magnífica Tabanca da Linha e dos nossos encontros anuais, em Monte Real.

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12129: Parabéns a você (635): José Carmino Azevedo, ex-sold cond auto, CCAV 2487 / BCAV 2868 (Bula, 1969/71)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12133: Facebook...ando (28): O Augusto Baptista em Lisboa: temos homem, temos camarada, temos capelão, temos um novo membro da Tabanca Grande (Armando Pires)




O Armando Pires e o Augusto Batista no Chiado, em Lisboa!... Estes nossos camaradas posaram justamente à frente do poeta e dramaturgo António Ribeiro, de alcunha Chiado, ex-frade franciscano, boémio e crítico mordaz dos (maus) costumes do seu tempo, discípulo de Gil Vicente: nascido em Évora, c. 1520, morreu em Lisboa, em 1591.

(...) "Os autos de Chiado, embora não tendo o valor etnográfico da obra do seu mestre Gil Vicente, mostram um estudo e conhecimento das instituições sociais e dos costumes do século XVI, sendo nítida a crítica e desmistificação da corrupção vigente. Assim, encontramos recorrentemente nas suas obras as seguintes temáticas: (i) venalidade dos tribunais e corrupção dos oficiais de justiça; (ii) os abusos da maledicência da época; (iii) desmistificação das misérias e injustiças sociais do século; (iv) eferências negativas à vida palaciana e enredos e intrigas da corte; (v) crítica ao clero; (vi) presença do escravo(a) negro(a) tão do gosto da corte." (...)

Fonte: António Ribeiro Chiado. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-10-09].Disponível na www: .

Vd. também; Obras do poeta Chiado ; colligidas, annotadas e prefaciadas por Alberto Pimentel. - Lisboa : Off. Typ. da Empreza Litteraria de Lisboa, 1889. - LXXIII, [3], 248 p. ; 19 cm. - Obra digitalizada a partir do original. Disponível, em acesso livre, aqui.

Foto © Armando Pires (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

1. Mensagem colocada, hoje, na nossa página do Facebook, Tabanca Grande Luís Graça:

Alô,  camaradas!

Eu e o Baptista almoçámos hoje em Lisboa.

O Baptista é o tenente-coronel capelão, reformado, de que vos falei no meu P12108 (*). O pároco de Perosinho, Vila Nova de Gaia, que foi assaltado e cobardemente espancando na sua residência paroquial, na madrugada do passado dia 28 de Setembro.

O Baptista veio a Lisboa a convite dos seus antigos camaradas da Força Aérea, onde ele também foi capelão. E, como disse, hoje almoçou comigo. Ele está francamente melhor dos maus tratos físicos de que foi vítima, embora as duas costelas que lhe partiram ainda aguardem melhor consolidação. 

Pediu-me que vos agradecesse as muitas mensagens de solidariedade que recebeu no seu mail. E as que deixaram no nosso blogue. E pediu-me que dissesse ao Luís Graça que sim, que aceita o seu convite para ser um dos nossos camaradas tabanqueiros, que quando chegar a casa vai procurar as fotos necessárias à “inscrição”, e que alguma coisa vos dirá do que lhe vai na alma.

Pela minha parte, depois de obtida a autorização que hoje não lhe pedi, hei-de contar-vos algumas das histórias que, durante o almoço, ele me revelou “em confissão”, do tempo em que foi capelão do meu BCAÇ 2861, o qual, de 1969 a 1970, esteve nos sectores de Bula e Bissorã. (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12108: Ser solidário (149): Antigo capelão da CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70), ex-alf mil Augusto Baptista, 75 anos, pároco de Perosinho e Seixezelo, V. N. Gaia, assaltado, violentamente agredido e hospitalizado, precisa de um ombro amigo, precisa de nós, camaradas! (Armando Pires)

(**) Último poste da série > 25 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12087: Facebook...ando (27): 42 anos depois do regresso a casa... Convívio anual da CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892 (Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)... Fotos do Américo Vicente

Guiné 63/74 - P12132: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (22): Referência a jornais e jornalistas no CTIG

1. No seu Diário da Guiné, o António Graça de Abreu (AGA) faz referência a jornais e jornalistas, de diversos quadrantes político-ideológicos e nacionalidades, que vinhyam à Guiné, em trabalho... António de Spínola e Bettencourt Rodrigues perceberam a importância que a comunicação social tinha a nível da opinião pública nacional e internacional. Eram generais do seu tempo. Alguns desses jornalistas, passaram pelo CAOP 1, caso do Avelino Rodrigues. Escreveu o António, em comentário ao poste P12128: " O Avelino Rodrigues foi recebido no nosso CAOP 1, em Teixeira Pinto pelo coronel Rafael Durão e desculpem a imodéstia, também por mim, alferes pequenino no CAOP 1. Falámos muito sobre o chão manjaco e as nossas vidas..Os seus textos no Diário de Lisboa têm muita qualidade".

2. Fomos procurar referências a jornais e jornalistas, ao seu Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007). Aqui vão os excertos, com a devida vénia, e um abraço para ele (que já deve ter regressado de um longo périplo pelo China profunda):


Teixeira Pinto ou Canchungo, 26 de Julho de 1972


Abro muito os olhos e os ouvidos, meto tudo dentro de mim, falo pouquíssimo, quase não reajo, não demonstro nada. Mas sinto que em Portugal é que o PAIGC vai ganhar a guerra, aqui não a perde e no terreno não a consegue ganhar.

No labor quotidiano no Comando de Operações, passam pelas minhas mãos documentos fundamentais para se entender a guerra na Guiné. Chegam de Bissau e são as informações diárias e semanais, os relatórios mensais de operações com todos os dados, bombardeamentos, flagelações, ataques, emboscadas, os números dos milhares de quilos de bombas lançadas pelos nossos aviões, o número de mortos e feridos, NT e IN, dias, horas, particularidades dos ataques, etc. Esta documentação tem a classificação de confidencial e secreta. Vêm também as informações da PIDE/DGS com dados sobre a movimentação dos guerrilheiros, natureza dos acampamentos IN e outros elementos. Um exemplo, pela PIDE de Canchungo soubemos que neste momento estão dentro da Guiné sete jornalistas de nacionalidade checa, búlgara e russa. Entraram, vindos do Senegal, pela fronteira junto a S. Domingos, uns oitenta quilómetros a norte daqui. O meu major P. não gosta muito do Sr. Costa, o agente da PIDE/DGS em Canchungo, que tem uma vivenda aqui na avenida. O major diz que o Costa, para mostrar serviço, de vez em quando inventa factos e notícias. Parece-me bem possível. Estive em casa dele a semana passada e, no desempenho de funções, tive de lhe apertar a mão. Coisas impensáveis em Lisboa.

Voltemos à guerra. (…)


Canchungo, 27 de Outubro de 1972


Há dois dias fui à pista, na chegada do avião de Bissau como de costume e os oficiais superiores também foram todos. Vinha um jornalista, aí de três em três semanas cai cá um bicho destes para fazer propaganda do regime. Vi-o sair e disse para comigo “este tipo tem um aspecto decente”. Depois soube quem ele era, Vítor Direito, do jornal “República”. O coronel açambarcou-o, levou-o ao Pelundo e a passear pela sala de visitas do chão manjaco. O que vai ele escrever? Terá de meter a pena no saco, a censura corta se redigir textos que não sejam marmeladas. Usando pinças, não é fácil escrever sobre a Guiné.

O meu coronel partiu um dedo a fazer desporto, karaté, ouvi-o eu contar sorrindo ao Vítor Direito. Foi mesmo. Mandou um murro num soldado pára-quedista e quando ia a mandar o segundo, o rapaz desviou-se e o murro acertou numa parede. Resultado, um dedo partido. Desporto, karaté! (...)

Canchungo, 17 de Janeiro de 1973


Os meus alunos. Vou-os conhecendo, têm uma visão restrita e parcelar do mundo, o que se compreende, fechados na Guiné. Talvez por isso, o seu raciocínio seja tão lógico.

Em Português, mandei-lhes fazer uma redacção e dei quatro temas. Eles escolhiam só um e deviam desenvolvê-lo. Os temas eram: o que é ser velho, a morte, a minha viagem à Lua e uma história de animais. A maioria dos rapazes foi para os animais. Um deles disse que “os quadrúpedes têm duas patas nos pés” e sobre os outros temas escreveram coisas de pasmar, ou talvez não, como: “uma pessoa quando morre fica sem alma, com os olhos fechados e o corpo morto.”, ou “eu não gosto de morrer, mas se o meu dia chegar, morro, porque cada um de nós tem um dia para morrer.”, ou “ser velho é perder de vista a juventude” ou ainda “ser velho é estar frio e mais perto do sol”.

A propósito de mestres e alunos, estiveram cá o general Spínola e o Dr. Azeredo Perdigão, com uma grande comitiva. Vieram inaugurar a escola do Ciclo que já funciona há dois anos e meio, e foi construída com a ajuda da Fundação Calouste Gulbenkian. Muita festa, muita gente, houve manifestações “espontâneas” de alegria. Até a Caió, que dista vinte e seis quilómetros daqui, as Berliets foram buscar umas dezenas de pessoas.

Contaram-me (mas é invenção!) que em idioma fula, umas das etnias da Guiné, António de Spínola se diz Caco Baldé. Pois o general Caco, desde que regressei das férias em de Portugal há menos de um mês, já veio a esta vila por três vezes e por três vezes lhe fiz continência, e apertámos as mãos.

Ainda a propósito da última visita do Spínola, nesse dia meti uma vez mais o pé na argola.

Não foi propriamente devido ao general, mas por causa dos fotógrafos e do jornalista de um pasquim de Bissau, dois mais um, que o acompanhavam.

Eu conto.

O governador e comandante militar, com o Azeredo Perdigão e comitiva, chegaram às nove horas da manhã em avião especial, um DC 3. Entretanto, às oito já haviam aterrado duas DOs, uma com a equipa militar de Bissau que vinha montar a instalação sonora para os discursos, e outra com os fotógrafos e o jornalista. Fui à pista no jipe duas vezes, trouxe os pilotos e o pessoal militar. Deixei lá ficar os jornalistas, é tão perto, só quatrocentos metros até ao quartel, eles são civis, podiam muito bem vir a pé. E vieram, não pensei mais no assunto.

Ontem ao regressar da pista com o meu coronel, diz-me ele: “Um destes dias você procedeu muito mal.” E ficou calado um bom pedaço. Eu, mesmo sem querer, como militar procedo mal tantas vezes que não sabia a que é que o meu chefe se estava a referir. Perguntei-lhe: “Mas quando, meu coronel?” Resposta: “Então, você deixou os fotógrafos e o jornalista na pista e eles tiveram de vir a pé!...” Desculpei-me, eu conduzia o velho jipe de serviço que nem sequer bancos atrás tinha e fiquei com a ideia de que eles queriam mesmo vir a pé, já estavam na placa à saída da pista e não me pediram transporte nenhum. Se tivessem falado comigo, mudava de jipe e não me custava nada ir buscá-los. Desta vez o coronel aceitou a justificação, mas porque raio é que os estupores dos homens foram fazer queixa de mim?!...

As coisas com os meus superiores vão um pouco melhor. Tento desempenhar as minhas funções com “zelo, proficiência e dedicação”. No fim da comissão ainda sou premiado com um louvor. (...)

Mansoa, 28 de Fevereiro de 1973

Domingo passado, cometi mais uma “gaffe”.
Fomos visitados por uma equipa da TV alemã, quatro moços desembaraçados e tagarelas. Eu cometi o grave erro de falar alemão com as criaturas. Os muitos meses de imersão na sociedade germânica, o estudo, os anos de liceu e faculdade, os três anos de namorada alemã fazem com que me movimente razoavelmente bem no idioma de Goethe e Marx. Gott sei danke! Ich spreche ein bisschen Deutsch… ( Graças a Deus, falo um pouco de Alemão!) Isto causou engulhos nos meus superiores, não entendiam do que falávamos, comiam-me com os olhos, talvez eu estivesse a contar coisas pavorosas aos jornalistas alemães, segredos de Estado ou algo semelhante. Os rapazes eram de Hamburgo, a cidade onde vivi, falei-lhes da minha experiência por lá e pouquíssimo da guerra na Guiné.

Hoje, o major Malaquias chamou-me a atenção, muito delicadamente. Em frente dos oficiais superiores eu não devia ter falado alemão, eles não entendiam, era falta de respeito.


Mansoa, 23 de Maio de 1973


O jornal Primeiro de Janeiro traz uma notícia sobre o 1º. Congresso de Combatentes do Ultramar, a acontecer no Porto entre 1 e 3 de Junho. No texto dos promotores do Congresso, lêem-se as seguintes palavras:

Patrioticamente, com total independência e acima de qualquer ideologia ou facções políticas, um grupo de Combatentes do Ultramar decidiu organizar o 1º. Congresso de Combatentes do Ultramar que se realizará no Porto de 1 a 3 de Junho de 1973, com um sentimento, uma mística, uma determinação.

Um sentimento: Reencontro e confraternização de camaradas.

Uma mística: O orgulho da honrosa missão cumprida e a consciência do seu valor na história nacional.

Uma determinação: Unidos na retaguarda contra tudo o que ameaça a integridade de Portugal.

Estiveste no Ultramar em missão de Soberania? Simples soldado ou oficial, missão cumprida? VEM. (…)



Cufar, 24 de Julho de 1973


Ontem tivemos cá o general Spínola e o Silva Cunha, ministro do Ultramar. Aterraram na pista de Cufar no Nordatlas e depois apanharam os helicópteros e deram uma volta por alguns aquartelamentos da zona. Tudo em paz, tudo controlado. Vieram também jornalistas, homens da TV, o José Mensurado, por exemplo. À partida do Nordatlas para Bissau, encontrando-me por motivos de serviço ao lado do meu coronel, bati uma bruta continência e cumprimentei as duas personalidades, um governador, um ministro. Os tipos da televisão estavam a filmar, o que quer dizer que talvez este brioso alferes venha a aparecer por estes dias nas casas de milhões de portugueses. (...)

Cufar, 6 de Dezembro de 1973

O governador, general Bettencourt Rodrigues foi mesmo de helicóptero a Madina do Boé, ao lugar onde o PAIGC diz ter declarado a independência. A ideia que tenho da região é de que se trata de zonas desabitadas, abandonadas há anos pelas NT devido à ausência de interesse estratégico da região, no extremo sudeste da Guiné. O governador esteve lá durante uma dezena de minutos, numa espécie de comprovação da impossibilidade de o PAIGC haver usado aquela “zona libertada” para declarar a independência. Houve um jornalista alemão que acompanhou a comitiva do Bettencourt Rodrigues e redigiu uma crónica datada de Madina do Boé. A propaganda é necessária. Também é verdade que não encontraram viva alma na antiga povoação do Boé, destruída pela guerra em anos passados. Onde estavam os heróis do PAIGC que declararam a independência da Guiné em Madina do Boé? Talvez não estivessem longe, mas ninguém os viu. (...)

Guiné 63/74 - P12131: Blogpoesia (356): Foi no tempo... (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)


Abreu, António Graça de - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007, pp. 104-105. (Reproduzido com a devida vénia).

Mansoa, 24 de Maio de 1973


Foi no tempo
em que o riso das crianças
era azul como o mar
que inventei no fundo dos teus olhos.

Foi no tempo
em que eras a princesa
habitando o meu castelo,
de pedra, vento e sol poente.

Foi no tempo
em que amanhecias luz dentro dos meus braços

 e a tua boca desenhava espirais de fogo 
nos meus lábios abertos à loucura.

Foi no tempo
em que eu colhia rosas na covas do teu rosto,
esvoaçávamos por pinhais, montes e rios,
e o teu corpo
povoava as searas onde o trigo cresce.

Foi no tempo
em que o teu ventre soluçava
em ondas rubras de alegria
e viajavas na fúria doce do meu sangue.

Hoje, a guerra,
uma lágrima quente enevoando os dias.



[ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74; poeta, escritor, tradutor]

______________

Nota do editor: 

Guiné 63/74 - P12130: Agenda cultural (286): Novidade: Livro "Alcora: o acordo secreto do colonialismo", de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Lisboa, Divina Comédia, 2013, 400 pp.


1. Mensagem do Carlos Matos Gomes, com data de 30 de setembro último:

Assunto - Alcora - a aliança secreta do colonialismo, no programa Agora, RTP2


Meus caros amigos, junto envio o link para uma entrevista feita para o programa Agora, da RTP2, transmitido ontem e que tem por tema o meu livro e do Aniceto Afonso , "Alcora, a aliança secreta do colonialismo" e o livro "Salazar, Caetano e o Reduto Branco", de Luís Barroso.

Os dois livros tratam da aliança política e militar entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia. Revela a importância decisiva e determinante da Africa do Sul na condução da política ultramarina do governo português nos anos 60 e 70 e de como esta aliança podia (ou não) ter sido uma solução tentada por Marcelo Caetano...

Para os interessdos, a entrevista passa entre os minutos 30 e os 40. Desculpem o incómodo.

http://www.rtp.pt/play/p1235/e129809/agora


2. Sobre o livro:

Ficha Técnica

Título: Alcora - O acordo secreto do colonialismo
Autores: Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes
Prefácio: Fernando Rosas
Selo (editora): Divina Comédia
1ª edição: maio de 2013
ISBN: 978-989-8633-01-9
Nº de páginas: 400
PVP: 19.90€

Sinopse (Fonte: Divina Comédia)

Um documento histórico fundamental que desvenda a existência de um acordo estratégico entre Portugal, África do Sul e Rodésia realizado no final da Guerra colonial.

“O livro que agora se dá à estampa – Alcora, O Acordo Secreto do Colonialismo – vem revelar a existência de um acordo estratégico formalizado em Outubro de 1970 ao mais alto nível entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia, envolvendo os domínios político, económico e militar, com o fito de preservar o poder nas mãos do regime colonial português e dos regimes racistas dos outros dois países, desde logo assegurando a derrota militar das guerrilhas de libertação nacional.

"O que o livro agora presente revela, precisamente, é como as chefias militares sul-africanas, paralelamente ao crescimento da sua ajuda financeira, operacional e logística à guerra, vão ganhando um concomitante poder de opinião e interferência na condução das operações em Angola e Moçambique, que hoje surge, apesar de tudo, como surpreendente, pelo seu carácter inusitado e intrusivo. Não só levando as chefias portuguesas a deslocarem o centro das operações de contra insurgência, em Angola e em Moçambique, mas até opinando quanto aos aspectos mais imediatos da condução da guerra no terreno e quanto ao mérito dos oficiais ou funcionários responsáveis.” Fernando Rosas (in Prefácio)



3. Autores:


Aniceto Afonso > Coronel de Artilharia na situação de reforma, membro da Comissão Portuguesa de História Militar e investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

Antigo director do Arquivo Histórico Militar e do Arquivo da Defesa Nacional; antigo professor de História da Academia Militar. Mestre em História Contemporânea Portuguesa pela Faculdade de Letras de Lisboa, 1990. Comissões militares em Angola (1969-1971) e Moçambique (1973-1975). Participante no Movimento dos Capitães e membro da Comissão Coordenadora do MFA em Moçambique (1974-1975).

Autor de: A Hora da Liberdade, 2012 (com Joana Pontes e Rodrigo de Sousa e Castro); Portugal e a Grande Guerra, 2010 (1.ª ed., 2003); Anos da Guerra Colonial, 2009; e Guerra Colonial – Angola, Guiné, Moçambique, 1997-1998 (todos com Carlos de Matos Gomes); O Meu Avô Africano, 2009; As Transmissões Militares – da Guerra Peninsular ao 25 de Abril, 2008 (Coordenador); Portugal e a Grande Guerra, 1914-1918, 2006; História de Uma Conspiração. Sinel de Cordes e o 28 de Maio, 2001; e Diário da Liberdade, 1995. Colaborou na História de Portugal, 1993; e na História Contemporânea de Portugal, 1986 (ambas dirigidas por João Medina).


Carlos de Matos Gomes > Nascido  em 24/07/1946, em V. N. da Barquinha. Coronel do Exército (reformado). Cumpriu três comissões na guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné, nas tropas especiais «comandos».

Co-autor com Aniceto Afonso de obras sobre a guerra colonial: Guerra Colonial e Os Anos da Guerra Colonial, de textos para publicações especializadas; co-autor com Fernando Farinha de Guerra Colonial – Um Repórter em Angola, coordenador, com Aniceto Afonso, da obra Portugal e a Grande Guerra; autor de textos para a História de Portugal, coordenada por João Medina, e Nova História Militar de Portugal, coordenada por Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira; autor de Moçambique 1970 – Operação Nó Górdio.

Fonte: Divina Comédia Editores

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12110: Agenda cultural (285): Guiné-Bissau: as memórias de Gabu, 1973/74 (José Saúde)