segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12579: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (7): Adenda á minha história de "morto-vivo"


Fotocópia da página 5 da caderneta militar  do Mário Gaspar onde se pode ler no final: "Baixa de serviço em 12/10/1967  por Falecimento  b)" [ que é a chamada para outra página e onde está escrito "Sem efeito"].




1. Mensagem do Mário Gaspar, com data de ontem


Data: 12 de Janeiro de 2014 às 21:11
Assunto: Dado como Morto


Camaradas da Tabanca Grande

Como me foi solicitado, envio um texto em Anexo, em que desenvolvo mais o sucedido com a minha morte anunciada  – e tornada pública para a Família e Amigos  – no dia do meu casamento. Tudo isto é anedótico, mas dói e magoa. Não se faz isto a ninguém.

O camarada, também da Tabanca Grande, ex Furriel Miliciano de Atirador de Artilharia, e Especialista de Explosivos de Minas e Armadilhas, Mário Vitorino Gaspar n.º 03163264, que fez a sua Comissão de Serviço no «Cu do Mundo», como costumava escrever nas cartas e aerogramas em lugar de Ganturé ou Gadamael Porto. Isto claro para os amigos, para os familiares tínhamos de ser uns autênticos aldrabões, utilizando frases como "isto é uma maravilha", "estou bem", "parece estar de férias" e outras. Além de termos de matar para sobreviver, éramos uns mentirosos e não cumpríamos quaisquer dos mandamentos. 

As fotos que tirávamos - pelo menos acontecia comigo - sem armas, de calções, tronco nu e chinelos. Muitas vezes à civil. Para ser mais simples: - só trazia calções e chinelos, nem cuecas vestia, até que um dia o Major Médico que nos visitava às vezes, obrigou-me a usar cuecas sobre riscos de arranjar uma doença que podia parecer-se comigo.
Um  forte abraço

Mário Vitorino Gaspar


2. Nota adicional em relação ao documento (página 5 da caderneta militar) acima reproduzido

    
 Consta na minha "Caderneta Militar", e no meu "Processo Individual" – de que possuo uma cópia – que morri na Guiné a 12 de Outubro de 1967.

Só tive conhecimento das mortes do Furriel Miliciano nº 04412863, Vítor José Correia Pestana, natural da freguesia de Abitureiras, concelho e distrito de Santarém e do Soldado nº 00131466 António Lopes da Costa, natural de Cerva, concelho de Ribeira de Pena e distrito de Vila Real, em Bissau após o regresso de gozo de licença na Metrópole de 35 dias, entre Setembro e Outubro de 1967.

Ninguém me havia informado do acontecimento anteriormente. Encontrava-me junto do Hotel Portugal, após o desembarque em Bissau, quando ouvi alguém gritar pelo meu nome. Tratava-se de um camarada da CART 1659, que tinha sido evacuado para o Hospital Militar de Bissau.

Perguntou-me se sabia o que tinha sucedido. Interroguei-o, e disse-me terem morrido numa patrulha o Furriel Miliciano Pestana e o Soldado Costa, que estavam no destacamento de Ganturé.

______________

Nota do editor:

4 comentários:

Luís Graça disse...

Mário, não te sintas sozinho... Já cá tínhamos, na Tabanca Grande, um outro "morto-vivo", o António Baptista...

Só que, esse, conheceu as agruras do cativeiro, em Conacri e no Boé, e foi "enterrado em vida", com campa, lápide e lágrimas de mãe...

A burocracia militar também nos pregava partidas valentes... Umas mais cruéis do que outras... O teu caso não é, pois, virgem...

Anónimo disse...

Mário Gaspar
12/1/2014 21:52

Luís Graça

Estive num Programa da Fátima Lopes, na SIC e apareceu lá um outro camarada "dado como morto", quando a família pensava que havia falecido surgiu em casa. Como a equipa do Programa falou comigo, falei-lhes dum caso (que lera, julgo que no Expresso) de um Comando, que depois de regressar da guerra - e ter sido enterrado na terra pela família - surgiu em casa. Quando teve conhecimento do sucedido, agarrou numa pá e numa enxada e foi desenterrar-se. Estavam lá pedras. A produção não o encontrou, mas mais tarde disseram-me que andava a mendigar, talvez na zona de Coimbra e era acompanhado pelo Psiquiatra de Coimbra Professor Doutor Vaz Serra, nesta cidade.
O que mais me custa é ter o Senhor Major rasurado a minha Caderneta Militar, e fazer algo que não estava habilitado a fazer. E avisei-o. Não valem de nada as emendas, os riscos e as "chamadas" que fez. Então se é assim, qualquer pessoa pode rasurar um documento. Até eu podia fazê-lo.
Um abraço amigo
Mário Vitorino Gaspar

Anónimo disse...

Caro camarada M. Gaspar

Olá "morto-vivo"

Não tive oportunidade de te ver na SIC...mas deixa-me que te diga que vale mais morto-vivo do que vivo-morto ou morto-morto mesmo.

O que interessa é que és vivo-vivo mesmo..o resto, apesar da tua compreensível indignação,neste momento é só anedótico.

Um dia no Brasil houve um acidente de viação com um autocarro...com vários mortos que foram levados para uma sala de uma escola próxima..
Apareceu um médico tanatologísta acompanhado por um ajudante...o médico dizia..este tá morto..e o ajudante..confirmava..tá morto mêmo..até que chegou a um ..o médico diz mais uma vez..este tá morto..o pseudo-morto levantou-se e diz..você é maluco..nã tou morto..não..e o ajudante..TÁ MORTO MÊMO..QUER SABER MAIS CO MÉDICO..É.

Um grande alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

É pá, conheceste o Arclides, também de minas e armadilhas, que pertenceu à 1613 que estava em Guilege?
Um abraço
António Ribeiro
(responde pelo e:mail)