quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12652: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (18): "A caça no império português", de Henrique Galvão e outros (1943) (Miguel Alves P. Joaquim / Mário Beja Santos)


Congo ex-Belga > c. 1920 > "Troféus de caça".. ou uma certa visão europocêntrica de África. Fotos de Victor Jacobs (digitalizadas e editadas por LG.). 
Fonte: Louis Franck - Le Congo Belge, Tome I. Bruxelles: La Renaissance du Livre. 1928. p. 152... (Exemplar, raro, gentilmente disponibilizado pelo meu amigo e vizinho de Alfragide, Eng. Agrº Francisco Freitas, nascido no antigo Congo Belga, hoje República Democrática do Congo..  (L.G.).

1. Mensagem do nosso leitor Miguel Alves Pereira Joaquim

Data: 3 de Janeiro de 2014 às 02:19
Assunto: Fascículo, citado no blogue, de "A caça no Império Português"


Ex.mos Senhores

.Os meus cumprimentos.
Tendo eu uma coleção incompleta dos fascículos da obra "A caça no Imperio Português", apenas me faltando a fascículo nº 18 e tendo lido no vosso blogue que encontraram um fascículo avulso na feira da ladra, decorria o ano de 2012, venho solicitar-lhes se me poderiam facultar alguma informação mais detalhada sobre o localização/vendedor onde se encontrava esse achado, na esperança de me ser possível indagar se o mesmo terá porventura o fascículo em falta.

Muito lhes ficaria agradecido por qualquer informação sobre o assunto.

Melhores cumprimentos

Miguel Alves Pereira Joaquim




Guiné Portuguesa > c. 1940 > Fauna: distribuição das principais espécies: elefante, leão, búfalo, chimpanzé (Fonte: Galvão et al, 1943).
2. Resposta, com data de 27 do corrente, do nosso colaborador Mário Beja Santos que fez a recensão ao citado livro ("A Caça no Império Português") (*), e a quem solicitámos a gentileza de responder ao nosso leitor:
Prezado Sr. Miguel Joaquim, Lamento só hoje responder-lhe. A compra que fiz de um fascículo desta obra, e sobre a qual falei da caça na Guiné, foi um bambúrrio da sorte, havia naquela ocasião um punhado de fascículos, interessou-me a caça da Guiné e comprei-o.

Como frequento muitos alfarrabistas, e na presunção de que vive em Lisboa ou perto, recordo-lhe que muitos deles têm sites e são passiveis de ser contactados, não se esqueça que quem procura acaba por achar. 

Cordiais cumprimentos, Mário Beja Santos. (**)

___________

Notas do editor:

(*) 20 de julho de 2012> Guiné 63/74 - P10174: Notas de leitura (382): A Caça no Império Português, de Henrique Galvão, Freitas Cruz e António Montês (Mário Beja Santos)

(...) “A Caça no Império Português” da autoria de Henrique Galvão, Freitas Cruz e António Montês, foi editada pelo jornal “O Primeiro de Janeiro”, em 1943 e depois editado em dois volumes, com uma belíssima apresentação. Os bibliófilos disputam a obra que se vende por importâncias que se aproximam dos 500 euros, dada a sua raridade. O fascículo nº 6 está sobretudo centrado na Guiné portuguesa. 


Para os autores, a Guiné de então não podia ser apontada ainda como um paraíso de caçadores, mas as espécies cinegéticas interessantes são dignas de ser tomadas em atenção: antílopes, búfalos, leopardos, símios e hienas, hipopótamos, jacarés… Sendo das colónias menos estudadas por naturalistas, avançam os autores, dão, sob todas as reservas, a classificação científica dos animais que constituem a lista de espécies cinegéticas da Guiné. Queixam-se que falta uma lei de caça para a colónia e por isso estão desaparecendo ou escasseando algumas espécies cinegéticas. 

Começando pelos grandes mamíferos, informam que o elefante é raro na Guiné e põem mesmo em dúvida se existe. O seu habitat situar-se-ia nas margens do Corubal e poderia ter ido até Buba e Fulacunda. Quanto ao hipopótamo ou cavalo-marinho reconhecia-se ser muito abundante na colónia.

Quanto aos bovinos referem o búfalo, abundante em S. Domingos e Susana e entre S. Domingos e Barro; no Leste, na região do Boé, em Quinara, em Fulacunda, em Enxalé e Xitole e no Sul em Cacine e na região de Tomabali.

O leão era já dado como raro embora houvesse relatos da sua existência em Xitole e Farim. O leopardo (impropriamente designado por onça e pantera), só era conhecido através de uma espécie. Os autores falam também na hiena, no mabeco, cão do mato e chacal.
Passando para os pequenos carnívoros põem em dúvida a existência do lince africano e dizem existir por toda a colónia o gato bravo e o gato tigre. Consideram que proliferam os manguços ou genetas, as lontras e algumas espécies de doninhas. No que toca aos grandes antílopes, põem reservas sobre a sua existência na Guiné e escrevem mesmo: “A existir, como alguns caçadores asseguram, é muito raro.  Apareceria, ocasionalmente, na região do alto Geba e nas nascentes do Cacheu”. 

Boca branca é o nome que na Guiné se dá à palanca de Angola e afirmam estar espalhada no interior tal como o Bubal. Quanto a médios e pequenos antílopes registam a gazela de lala, o sim-sim, a gazela pintada, as cabras e cabritos de mato e põem em dúvida a existência do cabrito aquático. Escrevem que os javalis se encontram nas grandes florestas e elencam vários tipos de macacos: galago do Senegal, chimpanzé, macaco fidalgo, macaco sera, macaco verde, macaco de nariz branco, macaco fula e macaco cão. No que toca a outros mamíferos dão com existência comprovada o porco-espinho, a lebre ou porcos formigueiros. (...)


(**) Último poste da série > 31 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12528: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (17): Doença do sono: investigação sobre conhecimentos, atitudes e comportamentos (Luís Costa, Universidade de Coimbra)

5 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

É curioso como o mapa apresenta várias indicações de locais com leões, embora se diga que já eram raros. O mesmo parece que se passa com os elefantes.

Segundo já li 'algures', há 'avistamentos' de elefantes na região fronteiriça sul.

Abraços
Hélder S.

JD disse...

Pois!
É que a obra já tens uns aninhos, e naquele tempo não havia tanta devastação, os agricultores sabiam proteger as lavras, e o clima na Guné, provavelmente, garantiria mais regularidade en cursos de água no leste e vegetação para pasto dos animais. Assim, havendo mais unidades herbívoras, também os predadores teriam mais abundância alimentar. Se ao fenómeno climático juntarmos as consequências da guerra, nós, que fomos dos últimos, perdemos a oportunidade de contactar com os felinos, nomeadamente os "big 5", ao contrário de relatos de quem viu leopardos e elefantes.
Abraços
JD

JD disse...

Correcção: os "big 5" não eram só felinos, pelo que a frase anterior peca por erro.
Os 5 grandes são o leão, o elefante, o bufalo, o rinoceronte e o leopardo.
JD

Luís Graça disse...

Se hão houver corredores transfronteiriços, a vida animal selvagem vai desaparecer irremediavelmente... Estão-se a fazer esforços nesse sentido, no sul na Guiné, no Cantanhez, envolvendo as populações de um lado e do outro da fronteira...

Já houve sinais ténues mas encorajadores do regresso dos elefantes, segundo me informou há tempos o Pepito...

Quanto ao rei da selva, coitado, esse agora só vive nas lendas e narrativas...

No meu tempo, vi gazelas, cobras e muitos, muitos, macacos-cães...

Patricio Ribeiro disse...

Olá
Durante 20 anos, andei a passear a minha caçadeira, por todos os matos na de Norte a Sul aos fiz de semana.
Nos últimos 15 anos, tenho trabalhado em todos os parques naturais, marítimos e terrestres.
Já vi de tudo e também comi muita coisa.
Levei os investigadores da fauna, a ver animais ou pegadas, que eles pensavam que já não existiam, ainda há poucos anos.
Já levei turistas, jornalistas e professores Portugueses, a visitar algumas vezes o marco de Bolianga, na fronteira com a Republica da Guiné. Onde é possível ver as pegadas de muitos animais de grande porte, que atravessam a fronteira, assim como nós nestas caminhadas.
A certa de 20 anos perdeu-se um dos meus colegas de caça, Português, durante dois dias e uma noite, depois de buscas intensas, foi encontra-lo numa mata, junto a fronteira da Guiné Conacri, já não andava, completamente desidratado.
Nesta zona, andam diariamente, meia dúzia de caçadores das tabancas vizinhas, alguns vem nas suas bicicletas 20 km, para vir montear no Vendu de Bolianga.
Elefantes, agora até se passeiam nos matos da Lagoa de Cufada, atravessando o alcatrão, na estrada ente Buba e Quebo. No tempo da chuva vem até ás hortas de Contabane.
Leões, os últimos que tive conhecimento há os 17 anos, atacaram os cães, dentro de uma tabaca nas margens do Corubal, onde é hoje o Parque do Dulombi , foi presenciado por investigadores Canadianos, e pelo ex- director do mesmo parque.
Chipanzés, que digam as 3 equipas de investigadores de Universidades Portuguesa, que por lá andam há muitos anos, a quem dou colaboração. Há Cantanhnez , Cufada e Boé.
Búfalos, no Cantanhéz.
Ainda há Portugueses que na caça profissionalmente, fazer estas passeatas, muitas vezes por ano.