terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12706: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, 1972/74) (Parte VIII): A última visita de um general colonial, Bettencour Rodrigues, a dois ou três meses do 25 de abril


Foto nº 27 B


Foto nº 27 A


Foto nº 27


Foto nº 26


Foto nº 26 A


Foto nº 26 B


Foto nº 25


Foto nº 25 A


Foto nº 25 B

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > Imagens da visita do gen Bethencourt Rodrigues, no princípio de 1974.

Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição; L.G.]



1. Mensagem de Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74] [, foto atual à esquerda]


Data: 28 de Janeiro de 2014 às 17:44
Assunto: Memórias Fulacunda: Ùltima visita de um General colonial


 Luís, meu caro amigo

Com este dia de chuva o "apetite", para  passar o tempo no sotão das recordações, ganha espaço.

Hoje descobri que tinha fotos relacionadas com uma visita do General Bethencourt Rodrigues a Fulacunda, em Janeiro/Fevereiro de 1974, e comecei a recordar:

Lembro-me que esta visita foi curta e marcada por três pequenos discursos com conteúdo e tom adquados às características do grupo social a que o general se dirigia.

Num primeiro momento (Foto nº 26), logo à entrada, ainda junto à pista de aviação, dirigiu-se à população em geral, que se juntou para o saudar, com os mais novos à frente.

Lembro-me que, sem referir a palavra "Nação", salientou a necessidade de Portugal manter a unidade territorial e multi-racial. Percebi nas suas palavras a intenção de que vinha a Fulacunda para transmitir aos guinéus ali residentes a confiança na sua capacidade de "auto-defesa", em relação ao "inimigo", sem necessidade de haver uma permanente presença da tropa.

Lembro-me que alguns soldados ao ouvirem a palavra "auto-defesa", algo confusos, me perguntaram o que queria dizer... Ficando incrédulos e com um sorriso cínico após a explicação.

No segundo discurso, em frente à casa do administrador de posto (foto nº 27), dirigiu-se exclusivamente à juventude masculina. Dirigiu-lhes, apenas algumas palavras em tom militarizado e paternal. Incentivou-os a unirem-se àqueles que combatem o "inimigo" e lutam por uma Guiné com um futuro melhor para todos.

Por fim o terceiro discurso (foto nº 25), teve lugar na parada do quartel e foi exclusivamente dirigido à 3ª Cart/Bart 6520/72. Neste discurso começou por referir o longo tempo de comissão que a companhia já tinha. Enalteceu o espirito de missão e sacrificio vivido durante esse tempo. Alertou para a necessidade de estarmos preparados para mais sacrificios.

Como foi o encerramento desta visita, sinceramente não me recordo... julgo que o nosso general e a pequena comitiva não chegaram a almoçar em Fulacunda.

Esta foi a última visita de um Governador Colonial da Guiné-Bissau a Fulacunda. O esperado "25 de Abril" ocorrerá dois ou três meses depois desta visita.

Se achares que esta breve memória tem algum interesse para o pessoal da Tabanca Grande, podes naturalmente publicar e até reformular consoante julgues conveniente. 

Desejo-te continuação de uma boa semana.

Forte abraço amigo, JPinto.

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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12467: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte VII): Como é que a malta pssava os 'tempos livres'...

7 comentários:

Luís Graça disse...

Meu caro Jorge:

Os dias que correm, neste "inverno do nosso descontentamento", são de fato propícias (ou convidativas) à exploração das nossas memórias, às arrumações do sótão, etc.

Obrigado por mais estes documentos sobre a Fulacunda do teu tempo...

As fotos dos jovens, civis, em respeitosa posição de saudação ao "Homem Grande" de Bissau, tem alguma coisa de patético... Sempre me chocou, já no meu tempo (1969/71), a "militarização" da população, de um lado e outro, do lado da NT e do lado do PAIGC... Eu sei do que falo porque passei, andei, vivi, comi, dormi... em bastantes tabancas em "autodefesa"...

Um alfabravo fraterno. Luis

Anónimo disse...

Olá Camarada
Quem soubesse ler os sinais - o Gen Betencourt Rodrigues sabia-o - deveria ter-se apercebido de que o fim estava próximo. O fim foi aquele - graças a Deus - mas se tivesse sido outro teria sido um drama enorme.
Um Ab.
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...


Ao fim de tantos anos (800) temos obrigação de nos conhecermos e não mentirmos a nós próprios.

"A Guiné é defensável e deve ser defendida? Se sim, vamos escolher o melhor general disponível para a governar, vamos continuar a fazer o esforço de lá manter os homens necessários e de procurar dotá-los do material possível. Se não, prepararemos a retirada progressiva das tropas, para não prolongar um sacrifício inútil, designando um oficial-general, possivelmente um brigadeiro, para liquidar a nossa presença.”
Marcello Caetano, a Costa Gomes
Depoimento, pág. 180"

De facto Marcelo foi usado para entreter a ver o que as coisas "davam"

Luís Graça disse...

Já não sei se são os dias se são as noites... que são "propícias (ou convidativas)" a chamar os nossos fantasmas...

Peço desculpa pela gralha... LG

Luís Graça disse...

Jorge:

Quem é o homem da pasta de couro castanho, vestido de farda de caqui amarelo ? Vd. Foto nº 26 B...

Só pode ser um administrador (civil). Era o de Fulacunda ?

Antes da guerra. Fulacunda era mais importante que Tite, era sede de circunscrição administrativa (mais ou menos equivalente a concelho)...

Depois da guerra, ter-se-á o administrador mudado para Tite ou até Bolama, não ?

Esclarece lá a minha dúvida...

No meu setor, L1, Bambadinca era posto administrativo (com casa do chefe de posto, escola, igreja, correios, porto fluvial, casas comerciais, lojas)... A sede do concelho era Bafatá (onde residia o administrador)...

Luís Graça disse...

Não conheci o gen Bettencourt Rodrigues, já não é do meu tempo... Mas a comparação é inevitável, com Spínola...

Num "cabo de guerra" a liderança (carismática) é seguramente um grande trunfo pessoal... O gen Bettencourt Rodrigues até era considerado o mais ou um dos mais brilhantes oficiais do seu tempo... Possivelmente até com muito melhor currículo académico do que o "velho"...

E, no entanto, (entre)vê-se , pelas fotos e legendas do Jorge Pinto, que o último governador do império (depois do 25 de abril já não contam os outros) não deveria sentir-se bem na sua "pele"...

Anónimo disse...

Caro Luis,
Por falar em militarização...

Sem fazer juízo de valor, somente para lembrar.

Também,neste nosso "jardim à beira-mar plantado", em muitas escolas secundárias, até ao segundo ano, a Mocidade Portuguesa era matéria obrigatória duas vezes por semana.
Também em algumas escolas primárias, o "Homem Grande", era saudado de pé com o braço direito estendido.
Só para lembrar...
forte abraço
Vasco Pires