quinta-feira, 24 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13032: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte XIII): Guiro Iero Bocari... Alguém sabe onde fica(va) ?



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > CART 11 (1969/70)  "As nossas tendas" [... material de campismo de luxo: eram tendas quentes no tempo das chuvas, frescas no tempo seco... Conhecia-as bem, em Contuboel, aquando da formação da CCAÇ 12, em junho e julho de 1969... LG]


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > CART 11 (1969/70)  >  Rua principal da povoação.. [Igual a tantas ooutras... LG]


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > CART 11 (1969/70)   > Cervejolas e telefonias não podiam faltar.... [lá no cu de Judas, LG]


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > CART 11 (1969/70)  > Duche com cheio a gasolina e sabor  a cola-cola [... Ou a "arte suprema do desenrascanço"...LG]


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da publicação do álbum do Valdemar Queiroz [, foto à direita, Contuboel, 1969]... 

Desta vez,  com 4 fotos de Guiro Iero Bocari,   onde o nosso camaraad esteve destacado com o seu Gr Comb, em data incerta, provavelmente 1970. Sobre esta tabanca em autodefesa só tínhamos até agora uma referência. Passamos a ter duas. Ficava a escassa distância da fronteira com o Senegal, integrando o setor de Paunca.



Guiné > Zona leste > Mapa de Paunca (1957) (Escala 1/50 mil) > Detalhes: posição relativa de Paunca, Paiama, Sinchã Abdulai e Guiro Iero Bocari, junto à fronteira com o Senegal.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

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4 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Estas fotos que o Valdemar nos tem vindo a mostrar podem ser muito iguais ao que conhecemos na generalidade, mas serão de grande valia para quem se interessar pelo modo como se vivia nesses tempos e nesses locais.
Ilustram bem como se resolviam ou torneavam as dificuldades.

A do chuveiro é mesmo um mimo. Temos visto algumas, mas esta está num plano mais aproximado e é então perfeitamente possível perceber que o local colectivo era isolado apenas por uns separadores, que a água para o duche estava em bidons em plano elevado, que o 'espalhador' da água era uma lata de coca-cola com o fundo perfurado, etc.

Costuma-se dizer que "a necessidade aguça o engenho" e aqui está uma prova.

Abraço
Hélder S.

Luís Graça disse...

Já mandei ontem a seguinte mensagem ao Valdemar (c/c Abílio Duarte, que também anodu por estes sítios):

Queres comentar, acrescentar, corrigir ?

Que raio de destacamento era este ? Tinha milícias ? Foi atacado ? Era gente fula ? Como refrescavas as cervejas ? Quanto tempo e quando lá estiveste ?

Bom feriado, bom 25 de abril. Alfabravo. Luis

Valdemar Silva disse...

Ora viva, caro Luís Graça.
Então, como vai essa recuperação?
Julgo já estares de volta para 'atravessar bolanhas' e nos presenteares com notícias de gentes e lugares, que nunca mais esqueceremos.

Guiro Iero Bocari. A sossegada Guiero Iero Bocari, também lhe chamaram, erradamente, Sinchã Queto, era uma pequena e singela tabanca fula, com poucos habitantes, agricultores de mancarra, absolutamente africanos, sem resquícios de europeus, no caminho de Paunca para a fronteira com o Senegal.

Estava de férias em Lisboa, quando a sossegada Bocari foi atacada, em AGO70. Pelo que, depois, me contaram, o IN levou comida, gado, mulheres, incendiou umas palhotas e pouco mais, sem qualquer resistência. Logo que Paunca foi avisada seguiu, pela madrugada, um Pelotão da nossa CART 11, em socorro da tabanca. Chegados ao local depararam com a tabanca vazia e descoraram a segurança, ao ponto de um nosso soldado pisar uma mina que o feriu gravemente e veio a morrer. Foi o nosso primeiro morto em combate. Não me lembro do nome, mas chamava-se ou Baldé, Camará, Jaló, Colubali, Seidi ou Jau, era um jovem que teve instrução em Contuboel e jurou bandeira em Bissau.
Depois de ocuparem a tabanca começaram a chegar crianças, mulheres, homens idosos que estavam escondidos na mata. Pouca gente. Abriram-se valas e ergueu-se arame farpado em redor da tabanca, montaram-se tendas prá tropa e espalharam-se as armas defensivas nos locais apropriados. Montou-se na tabanca, sossegada, um destacamento de Paunca, para defesa doutras tabancas Paiama, Sinchã Abdulai, Sinchã Molele, Fasse, Sinchã Mamadu, da região.
Cheguei a Paunca em SET70 e por lá fiquei uns dias, até o nosso 4º. Pelotão render o que estava em Bocari.
Chegar a Bocari é como chegar, depois de se atravessar um túnel, a um local de espanto. Sem ruas marcadas, sem vestígios de nenhuma viatura, casa, ou gente da metrópole, apenas uma tabanca africana num caminho de terra batida, com pouca gente e umas crianças à nossa espera.
Chegava-mos na coluna que se fazia, diariamente, com abastecimentos e tudo mais, de Paunca.
Lá estava, quase no fim da tabanca, o refeitório/cantina em que o cozinheiro Pereira fazia maravilhas com cebolas (era sabido das suas ligações com as 'sugar depo' existentes, por causa das cebolas)e não me lembro se havia algum frigorífico a petróleo para refrescar as cervejolas, lá estava o duche à espera pra um refrescante banho e lá estava o sossego, o doce sossego, o inesquecível sossego dum fim de tarde, uma cervejola, uma cigarrada e uma áfrica que nos agarrava, até parecia a nossa primeira namorada.
Houve, antes de eu chegar, um ataque, à tabanca, de morteiradas, mas devido à sua pequena área, não acertaram dentro do respectivo perímetro.
Todos os dias, ao fim da tarde, depois do jantar, toda a população(que, entretanto, começou a regressar, mas não me lembro de haver bajudas, a não ser as mulheres dos nossos soldados)e a tropa ia para a vala até ás 22 horas.
Montamos um sistema de alarme/visualização que consistia em amarrar umas garrafas vazias ao arame farpado, por forma a quando alguém mexer no arame, as garrafas tilintassem avisando o sucedido, também com uma lata, daquelas de calda de pêssego, vazia e com a tampa levantada para refletir a luz da torcida que vinha, através duma carica furada, duma garrafa, de cerveja, com petróleo.
É verdade Hélder Valério 'a necessidade aguça o engenho'.

Até à próxima conversa sobre as fotos de Guiro Iero Bocari.

Um grande abraço todos os Tabanqueiros, porque faz agora 40 anos que desejávamos ter filhos, eles já não iam prá guerra.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

06AGO70 – Pelas 21h15h, um grupo IN estimado em 50 elementos aproxima-se da tabanca de FASSE, dispara algumas granadas de morteiro 60 e RPG-7 e penetra na povoação fazendo rajadas de armas ligeiras. Mata dois elementos da população e fere três gravemente e ainda outros com menos gravidade, saqueia e incendeia quase metade da tabanca e retira, indo cambar o RIO BIDIGOR perto da confluência com o RIO GEBA.
De PAÚNCA acorreu ao local um grupo de Combate da CCAÇ 2636, seguindo por QUENEBÁ e DEMBA JAU a fim de evitar qualquer grupo ou armadilha de intercepção. Verificou que o grupo IN já tinha retirado, prestou os primeiros socorros aos feridos e pediu as respectivas evacuações. Mais tarde saiu o 4º Grupo da CART 11 a fim de transportar os feridos para o Aquartelamento.
No reconhecimento feito no dia seguinte, verificou-se o itinerário de aproximação e retirada utilizado pelo IN e foram detectadas e neutralizadas três minas A/P implantadas no trilho de PAIAMA para FASSE, na intenção de impedir a intervenção das forças de PAIAMA.