terça-feira, 10 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13265: Consultório militar, de José Martins (4): Unidades que passaram por Fá Mandinga, no leste (1964 / 1974)



Guiné > Zona leste > Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil (1955) > Posição relativa de Fá Mandinga, a escassa meia dúzia de quilómetros de Bambadinca, na direção de Bafatá.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).


1. E a propósito de Fá Mandinga ter sido (ou não) uma "terra importante" no TO da Guiné (*)... Aparentemente teve um papel discreto na guerra... E,. durante muito tempo esteve associada ao nome do engº agrónomo Amílcar. De facto, a estação agrária experimental de Fá tinha boas instalações, entretanto desafetadas com o início da guerra. Mas Amílcar Cabral nunca ali trabalhou, e muito menos viveu. Ele e a sua primeira esposa, portuguesa, Maria Helena Rodrigues, silvicultora, viveram e trabalharam na estação agrária experimental de Pessubé, nas imediações de Bissau, entre setembro de 1952 e março de 1955 (Vd. planta da cidade de Bissau, em baixo).

Mas foi lá, em Fá Mandinga.  que se formou a 1ª Companhia de Comandos Africanos e de lá partiu para a aquela que viria a ser mais tarde, em 22 de novembro de 1970, a Op Mar Verde (, invasão anfíbia de Conacri). E a seguir à 1ª, vieram lá formar-se a 2ª e 3ª CCmds Africanos. com as quais se  constituiu  mais tarde o Batalhão de Comandos Africanos. Sem esquecer o Pel Caç Nat 63, comandado pelo nosso "glorioso alfero Cabral"...

Para tirar as dúvidas, o nosso assessor militar, José Martins [, foto atual à direita ], mandou-nos esta lista, a seguir publicada,  de unidades que passaram por Fá Mandinga,...

Curiosamente parece haver um lapso em relação ao Pel Caç Nat 63, que de facto esteve em Fá Mandinga pelo menos desde o 2º semestre de 1969 até meados do 1º semestre de 1970 (ou mais), indo depois para Missirá em substituição  do Pel Caç Nat 52 (que era comandado pelo Beja Santos). O Pel Caç Nat 63 voltaria a Fá entre novembro de 1972 e agosto de 1974 (quando foi extinto).

O primeiro batalhão (, ou respetiva CCS,)  a estacionar em Fá Mandinga terá sido o BCAÇ 607 (julho de 1964/abril de 1966). O BCAÇ 1888 também lá esteve, a partir de abril de 1966, indo depois para Bambadinca em novembro desse ano. Também passaram por Fá, a CCAÇ 1589 (entre dezembro de 1966 e abril de 1967, seguindo depois para Madina do Boé (**).  Igualmente lá estiveram, cerca de 3 meses,  antes de irem construir Mansambo,  os "Viriatos", a companhia do Carlos Marques dos Santos e do Torcato Mendonça, a CART 2339 (***). E muitas mais... (LG)


Unidade
Origem
Chegada
Saida
Destino
BCaç  697 -   CCS
RI 15
Jul 64
Abr 66
Fim comissão
CCaç   674
RI 16
Jul 64
Jul 64
Fajonquito
CCav    678
RC 7
Set 64
Jan 65
Ponta do Inglês
Pel Rec  Daimler 809
RC 6
Nov 64
Jan 66
Dulombi
BCaç 1856 - CCaç 1417
RI 1
Set 65
Mai 66
Bajocunda
Pel Mort 1028
RI 2
Set 65
Nov 66
Bambadinca
BCaç 1888 -  CCS
RI 1
Abr 66
Nov 66
Bambadinca
BCav  705 - CCav   702
RC 7
Abr 66
Mai 66
Fim comissão
BCaç 1887 - CCaç 1547
RI 1
Mai 66
Set 66
Bula
Pel Rec Daimler 1133
RC 6
Ago 66
Out 66
Bambadinca
BCaç 1887 - CCaç 1546
RI 1
Out 66
Dez 66
Bissau
BCaç 1888 - CCaç 1551
RI 1
Nov 66
Jan 67
Xitole
BCaç  1894 - CCaç 1589
RI 15
Dez 66
Abr 67
Madina do Boé
CCaç   817
BC 10
Jan 67
Fev 67
Fim comissão
CCaç   818
BC 10
Jan 67
Fev 67
Fim comissão
CArt  1661
RAC
Fev 67
Abr 67
Enxalé
BCaç 1912 – Ccaç 1685
RI 16
Abr 67
Out 67
Fajonquito
CCaç 1426
RI 16
Abr 67
Mai 67
Fim comissão
CCaç 1439
BII 19
Abr 67
Mai 67
Fim comissão
BArt 1913 - CArt 1689
RAP 2
Mai 67
Jul 67
Catió
BArt  1904 - CArt 1646
RAP 2
Ago 67
Jan 68
Xitole
BArt  1904 - CArt 1646
RAP 2
Set 67
Out 69
Fim comissão
BCaç 1933 - CCaç 1790
RI 15
Out 67
Jan 68
Madina do Boé
BCaç 1888 - CCaç 1551
RI 1
Nov 67
Jan 68
Fim comissão
CArt  2338
RAL 3
Jan 68
Abr 68
Nova Lamego
CArt  2339
RAL 3
Fev 68
Mai 68
Mansambo
CCaç 2383
RI 2
Mai 68
Jul 68
Nova Lamego
CArt  2413
RAP 2
Ago 68
Set 68
Xitole
BCaç 2852 - CCaç 2405
RI 2
Dez 68
Dez 68
Galomaro
BCaç 2851 – Ccaç 2403
RI 1
Fev 69
Abr 69
Mansabá
1ª CCmds Africana
CTIG
Jul 69
Jul 69
Bajocunda
1ª  CCmds Africana
CTIG
Set 70
Jul 71
Brá
Pel Caç Nat  52
CTIG
Jan 71
Jul 71
Missirá
2ª CCmds Africana
CTIG
Abr71
Out 71
Brá
3ª CCmds Africana
CTIG
Abr 72
Set 74
Extinção  Unidade
Pel Caç Nat   52
CTIG
Abr 72
Jul 72
Ponte R Unduma
Pel Caç Nat 63
CTIG
Nov 72
Ago 74
Desativada
BArt 3873 - CArt 3493
RAP 2
Dez 73
Jan 74
Bissau

Undiades que passarm por Fá Mandinga 

Fonte: José Martins (2014) (****)



Planta da cidade de Bisssau (c. 1975) > Posição relativa de Pessubé que, no início dos anos 50, ficava já bastante longe do centro de cidade de Bissau.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  9 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13263: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (18): 14 mesas, de 10 lugares cada uma, com os nomes das localidades que foram sedes de batalhão ao longo da guerra... Mas cada participante (camaradas e seus acompanhantes) senta-se onde muito bem lhe aprouver...Não há lugares marcados à sombra do poilão da Tabanca Grande ...

(**) Vd. poste de 11 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4510: Memória dos lugares (31): Fá Mandinga, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)

(...) Sobre o Aquartelamento de Fá Mandinga, ainda recordo que:

Em Dezembro de 1966, a minha CCAÇ 1589, recebeu Guia de Marcha para Fá Mandinga.  Embarcamos em Bissau numa LDG em direcção a Bambadinca e daí seguimos em viaturas, pela estrada em terra batida, que estava a ser aberta pelo Batalhão de Engenharia, em direcção a Bafatá [, mais tarde alargada e asfaltada, no 2º semestre de 1967].

A certa altura viramos à esquerda e entramos na picada que nos ia levar a Fá. Era tão estreita que mal lá cabiam uma GMC ou uma Mercedes. Passamos o Aquartelamento de Fá de Cima e começámos uma íngreme descida até Fá de Baixo.
O Aquartelamento era constituído por 4 grandes barracões, dois de cada lado, com uma grande parada no meio. À volta era só capim, que era preciso desbastar para podermos ver mais longe e evitar surpresas “desagradáveis”, embora o pessoal de Fá de Cima nos protegesse pois, devido á sua posição no cimo da colina, viam muito mais longe.  Mas, pelo que eu sei, Fá nunca foi atacada.

A partir daqui fizemos várias operações, com outras Companhias que tinham a sua base em Porto Gole. A maior delas foi à mata do Saraoul, durou 10 dias e foi feita a nível de Batalhão.
 
 (...) Pouco tempo depois recebemos guia de marcha para Madina do Boé.

Quanto ao quartel de Fá, lembro-me que o 1º barracão se situava do lado direito de quem entrava no quartel e servia de caserna dos praças e quartos dos sargentos, e o 2º destinava-se aos Comandantes e, creio que também, a camarata dos oficiais.

Nas traseiras do 1º barracão estava instalado o “meu” Posto de Socorros e o reboque com o material de Campanha do SS, que nunca foi usado.  O 2º pavilhão, do lado esquerdo, só estava meio ocupado por nós, pois a outra metade estava vedada com rede e tinha guardado o material, para a fazenda do Amílcar Cabral [, informação errónea, já que o eng agr Amilcar Cabral nunca trabalhou aqui, mas sim na Granja de Pessubé (LG)].

Não me lembro onde ficavam a cozinha nem as oficinas auto. (...) Armandino Alves, 1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589 (1966/68) (...) 

(***) 11 de agosto de  2009 >  Guiné 63/74 - P4809: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (12): Fá Mandinga, o único sítio onde tive direito ao luxo de um quarto

8 comentários:

Anónimo disse...

José Martins

Dizes de Fá Mandinga logo no início:
"Aparentemente teve um papel discreto na guerra".
Pois! Talvez para quem andou só por ali, Xime, Xitole, Enxalé... e mesmo assim...
Para a minha Companhia (CART 1689) foi, praticamente só um dormitório, pois para além dessas operações "locais", serviu para base de saída (e, depois, de descanso) para operações para a zona do OIO, que duravam quatro, cinco dias, seguindo-se até ao norte de Bafatá em viatura. Nem todas as Companhias faziam só a guerra na SUA zona de aquartelamento. Apesar de termos sido, depois, deslocados para Catió, fomos, a partir de lá, fazer guerras à zona de Empada (construção de Gubia) e à zona de Aldeia Formosa (construção de Gandembel).
Um abraço
Alberto Branquinho

Anónimo disse...

Peço desculpa...mas há que corrigir alguns lapsos.

O Pel. Caç. Nat.63 foi para lá em Julho de 1969.

A 1ª Comp. Com. Afric. chegou em Fev de 1970.

Abração.

J.Cabral

Luís Graça disse...

Alberto, o texto introdutório é do editor, e não do assessor... Só conhecei Fá, de julho de 1969 a fevereiro de 1971... O relativo oásis nessa época, comparado com Missirá... Daí a minha entrada, cautelosa: "Aparentemente" teve um "papel dsicreto"... na guerra.

Ainda bem que leste, estavas atento e comentaste...

Um abraço. Luis

Luís Graça disse...

Jorge, não acho que tenhamos de pedir desculpa uns aos outros por lapsos, erros ou gralhas que não são obviamente intencionais, feitos de má fé, etc. Há imprecisões, omissões e erros factuais que nos escapam ou de que não damos conta, e que já v~em, muitas vezes, de trás, de outras fontes...

O que temos a fazer, nestes casos, é simplesmente chamar a atenção e corrigir. Pedagogicamente.... Um erro (ou umamentira) sistematicamente propalado corre o risco de se transformar numa verdade...

Por exemplo, a estadia de Amílcar Cabral em Fá Mandinga é um "mito" que se vai perpetuando nos nossos escritos...

É possível que ele, o engº agr Amílcar Cabral, tenha passado por lá, como terá passado por outros postos agrários experimentais, Bula, Safim, Bigene, Nhacra e Prábis... Mas onde ele teve casa e viveu com a sua 1ª esposa foi em Pessubé, na estação agrária de Pessubé de que foi diretor... Falei com o Pepito diversas vezes sobre isso...

Luís Graça disse...

Jorge, não acho que tenhamos de pedir desculpa uns aos outros por lapsos, erros ou gralhas que não são obviamente intencionais, feitos de má fé, etc. Há imprecisões, omissões e erros factuais que nos escapam ou de que não damos conta, e que já v~em, muitas vezes, de trás, de outras fontes...

O que temos a fazer, nestes casos, é simplesmente chamar a atenção e corrigir. Pedagogicamente.... Um erro (ou umamentira) sistematicamente propalado corre o risco de se transformar numa verdade...

Por exemplo, a estadia de Amílcar Cabral em Fá Mandinga é um "mito" que se vai perpetuando nos nossos escritos...

É possível que ele, o engº agr Amílcar Cabral, tenha passado por lá, como terá passado por outros postos agrários experimentais, Bula, Safim, Bigene, Nhacra e Prábis... Mas onde ele teve casa e viveu com a sua 1ª esposa foi em Pessubé, na estação agrária de Pessubé de que foi diretor... Falei com o Pepito diversas vezes sobre isso...

Antº Rosinha disse...

Amílcar Cabral foi-lhe inaugurado simbolicamente um monumento naquele cruzamento da Estrada da Granja, onde ele trabalhou com a sua esposa "provisória".

Esse mapa de Bissau está desacualizado, é já do tempo a seguir ao 25 de Abril, e já mudou muita coisa.

Esse cruzamento com essa estrada e a Unidade Guiné Caboverde e a 2ª cintura, (Chapa Bissau) ou seja o verdadeira entrada na Bissau daquele tempo, é que Nino Vieira simbolocamente nos 20 anos do aniversário do assasinato de Amílcar prometeu um futuro monumento.

Mas A estátua de Amílcar ficou perto do aeroporto, bem longe da velha entrada da capital, contemporânea de Amílcar.

"E já teve muita sorte"

Anónimo disse...

Luís

Obrigado pelo esclarecimento.

José Martins

Desculpa o meu lapso de leitura. Sempre a apreciar os teus trabalhos de investigação!

Abraço para ambos
Alberto Branquinho

Manuel Luís Lomba disse...

Eu e a minha CCav 703 também estivemos aboletados na granja experimental de Fá, em fim de comissão, quando fomos rendidos em Buruntuma pela CCaç 1416, em finais de Abril de 1966.
Dizia-se que fora criada e dirigida pelo engº Cabral, para experimentação de novos métodos da cultura do arroz (não me recordo de ter bolanhas).
Fomos embarcar a Bambadinca em LDM (ou LDP?) e, à vista de Bissau, protagonizamos o "adeus às armas" lançado ao Geba a nossa tralha de uso pessoal, em grande algazarra, ficando apenas com a roupa do corpo. E escaparemos por pouco a uma "porrada".
Mil anos de vida para a malta do blogue!
Manuel Luís Lomba