quinta-feira, 26 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13333: (Ex)citações (234): Comentários ao poste do António Medina sobre os acontecimentos de 1964 em Jolmete: Vasco Pires, António Graça de Abreu, Manuel Carvalho, Joaquim Luís Fernandes, Júlio Abreu, Manuel Luís Lomba, António Rosinha e António Medina



Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70 > As NT e a população.

Foto: © Manuel Carvalho (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem;:LG]

Publicamos, seguindo uma ordem cronológica, os comentários suscitados até à data pelo poste P13326 (*). Sobre os acontecimentos de há 50 anos em  Jolmente (ou Djolmete), evocados pelo nosso camarada da diáspora António Medina (que vive nos EUA), não encontrei até agora nenhuma referência no Arquivo Amílcar Cabral, disponível para consulta pública no portal Casa Comum. O que não quer dizer absolutamente nada.. Em muitos casos o arquivo tem muitas lacunas e é decionante...(LG)


1. Vasco Pires  [ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]

"War is hell,"

"You cannot qualify war in harsher terms than I will. War is cruelty, and you cannot refine it; and those who brought war into our country deserve all the curses and maledictions a people can pour out. I know I had no hand in making this war, and I know I will make more sacrifices to-day than any of you to secure peace."

General William Tecumseh Sherman

Parabéns Camarada, por conseguires exorcizar os teus "fantasmas".

PS - Esclarecimento:  Fiz a citação Major - General Sherman, por se tratar de um militar da terra de adoção do Camarada Medina.

Citei-o também, por ser o autor da célebre frase "War is hell", repetida até hoje à exaustão.

Transcrevi a frase seguinte, por ter sido feita, por um militar considerado intransigente, num momento de decisão particularmente difícil - a evacuação e incêndio de Atlanta.

Quanto a juízos de valor,nada tenho contra quem os faz, contudo, eu, tento não os fazer. (...)


2. Manuel Carvalho [ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70]

Caros camaradas: Cerca de quatro anos depois, em  junho de 68 a minha companhia, a CCAÇ  2366, chegou a Jolmete e aí permanecemos cerca de um ano. O Blog tem fotos minhas desse mesmo barracão que era o edifício com mais qualidade que existia em Jolmete.(**)

A pouca população que havia tinha sido recuperada no mato.O Régulo atual de Jolmete julgo que é o Cajan Seidi. Por acaso não te lembras do nome desse Régulo?



Diz o António Medina: "Não se trata de nenhuma minha criatividade ou ficção, mas sim a descrição verdadeira de factos sucedidos, contados a mim na altura por quem foi testemunha e participante de uma acção bastante degradante e vergonhosa."

Portanto o António Medina não assistiu aos "fuzilamentos", ouviu contar.

Não digo que não possam ter acontecido, todas as guerras são sujas, tudo é possível, até o assassínio de três majores e um alferes, mais dois guias, gente do meu CAOP 1, em 1970, militares desarmados que iam em negociações de paz, exactamente na estrada do Pelundo para o Jolmete.

Estive sete meses em Teixeira Pinto, em 1972/73, estive no Jolmete em 1972, jamais ouvi esta história. Eu sei que já haviam passado oito anos, mas "fuzilamentos" deste tipo costumam deixar lastro na memória das gentes.

Gostava que estes "fuzilamentos" fossem confirmados por mais pessoas que se possam pronunciar com verdade, com factos, não de ouvir contar. (...)

4. Joaquim Luís Fernandes [ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974]

Caros Camaradas e Amigos: Eu sou um sentimentalão! E se calhar muito ingénuo.

Ao ler esta narrativa sentia uns arrepios e um desgosto profundo e interrogava-me: Como terá sido possível tão medonho ato por parte de um corpo do exército português, formado e enquadrado por valores éticos, que condenariam em absoluto tal procedimento? Ou havia nesse tempo outra doutrina que eu desconheço?

E porque duvidar da verosimilhança da descrição do camarada António Medina?...

Tudo isto mexe comigo. Porque vivi aí os meus primeiros medos e pisei esse chão incerto e instável, sou remetido para as questões que tantas vezes coloquei a mim próprio: Porquê a antipatia que via espelhada nos rostos dos manjacos e a sua desconfiança e má vontade?

Teria a ver com a memória desses factos, ou eram memórias bem mais antigas, do tempo de Teixeira Pinto ou ainda mais antigas do tempo dos escravos do Cacheu?

Em 1973, em Teixeira Pinto, coabitávamos em paz aparente com a população local, (velhos, mulheres alguns jovens adolescentes e crianças) mas sentia que éramos "personas non gratas". Toleravam-nos enquanto os servíamos. Diziam-me os meu soldados: "Eles fazem de nós seus criados".

Também ainda não consegui encaixar bem, toda a tramóia dos assassinatos dos três majores, do alferes e dos acompanhantes, em 1970. Apesar de tudo o que li, ficaram-me vários hiatos sem explicação. Agora fico com mais esta dúvida: Será que um acontecimento não tem nada a ver com o outro? A minha intuição diz-me que sim. Pelo menos o local escolhido foi o mesmo. Porquê?... Esta história tem muito por contar! (...)

5. Júlio da Costa Abreu [ex-1º cabo radiomontador do BCAÇ 506 (Bafatá) e ex-1º cabo comando, chefe da 2.ª equipa do grupo de comandos "Centuriões" (Brá, 1964/66); a viver na Holanda }


Ser ou não ser, eis a  questão...  Ter ou não ter razão... E de quem foi a culpa de terem fuzilado em Bambadinca depois do 25 de Abril tantos soldados Comandos, como por exemplo o Jamanca e muitos outros? Ou será que depois de eles terem confiado nos novos donos da Guiné, foi a paga que lhes deram? Isso também é  motivo para serem assassinados? E a guerra realmente nunca foi limpa mas isso é normal. (...)

 6.  Manuel Luís Lomba [ ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66]

'Terei sido contemporâneo destas circunstâncias.Chegámos a Bissau (BCav 705) em 26/7/64 e a minha subunidade (CCav 703) foi de intervenção para Bula em Agosto, fez o seu baptismo de fogo em Naga e durante 20 dias reforçou a atividade operacional o BCaç 507, comandado pelo então t-coronel Hélio Felgas - que alinhava no mato.

Sem pretender sindicar a memória do camarada António Medina, acho algo de estranho. Aquele comandante exortava-nos à implacabilidade em relação à gente que nos recebesse à bala ou granada, mas incitava-nos ao cuidado de poupar populações. Enfatizava o dilema das mesmas - colocados entre a tropa e os "terroristas". Havia bastantes presos, junto à casa da guarda que recebiam o rancho geral e não me apercebi de maus tratos. Isto dois meses após esses eventuais factos. Cercar tabancas e fazer capturas foi o nosso dia a dia de cada dia operacional. Aconteceram atos lamentáveis? Com certeza. Mas o fuzilamento dos capturados diferido dois meses suscita melhores provas. Luís Cabral não refere esse evento no seu livro Crónica da Libertação. E aquele foi o tempo da prisão de importantes paigcistas, como Rafael Barbosa, Fernando Fortes, sem esquecer os que vieram a conspirar e assassinar Amílcar Cabral que não foram eliminados. (...)

7. Antº Rosinha [ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93]

Todos os crimes e fuzilamentos e atrocidades cometidos pelos tugas estão adaptados ao discurso anticolonial conveniente às autoridades revolucionárias que tomaram conta do poder em toda a África.

Isto desde o início da guerra em 1961, sempre se acreditou em tudo o que vinha de Argel, Moscovo e Brazaville e Conacry.

Desde os números arredondados tipo os 50 mártires do Pidjiquiti até aos milhares de turras da UPA lançados ao mar, pelos luxuosos PV2 da FAP, tudo está "provado" e "comprovado".

Só falta descobrir o segredo das valas comuns e da contagem dos respectivos cadáveres.(...)

8. António Medina [ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; vive nos EUA]

Acabo de tomar conhecimento de comentários feitos por alguns camaradas, mostrando certa relutância em aceitar a narrativa dos factos acontecidos na área de Jolmete. Cada um tem o direito de aceitar ou discordar e até pedir provas mais concretas desde que estejam disponíveis.

Segundo a teoria aplicada pelo Comandante do Batalhão de Bula , ver comentário do camarada Manuel Lomba porque assim reza o seu segundo parágrafo:

” AQUELE COMANDANTE EXORTAVA À IMPLACABILIDADE EM RELAÇÃO ÀS GENTES QUE NOS RECEBESSEM À BALA OU GRANADA MAS INCITAVA-NOS AO CUIDADO DE POUPAR POPULAÇÕES “.

Ora, o que foi feito em Jolmete ?

Pouparam, sim, a vida das mulheres e crianças. Mas sem condescendência, como vingança exterminaram os homens da tabanca, considerando o facto que talvez fossem coniventes com os autores da tal emboscada ou assim evitar o perigo de virem a pegar em armas. Foi uma acção bastante secreta como é óbvio. 

SE ENQUADRA OU NÃO NA TEORIA OPERACIONAL DAQUELE COMANDANTE?

Sabemos que casos semelhantes aconteceram não só na Guiné mas também em Angola e Moçambique, em grupos ou a nível individual.

O camarada Manuel Carvalho se refere ter estado em Jolmete em 1968, quatro anos depois, assim como que a pouca população que havia em Jolmete tinha sido recuperada no mato. isto vai ou não ao encontro do que escrevi, da fuga da população que restou e se refugiou no mato?

Estava eu em Bissau como empregado do BNU quando em 1970 se deu o caso dos três majores, um alferes e outros na estrada de Jolmete. Não obstante fossem militares e em guerra, o caso consternou os civis da cidade de Bissau. Teria sido vingança do PAIGC sobre a tropa colonial? (...) (***)
_____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 24 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13326: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65) (António Medina) - Parte II: Foi há 50 anos, a 24 de junho de 1964, sofremos uma emboscada no regresso ao quartel, que teria depois trágicas consequências para a população de Jolmete: como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte e executados pelas NT, dois meses depois

(**) Vd, poste de 24 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10191: Memória dos lugares (189): Jolmete, quotidiano da tabanca e aquartelamento (Manuel Carvalho)

(***) Último poste da série > 20 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13167: (Ex)citações (233): Venho manifestar o meu apoio ao camarada Veríssimo Ferreira pelo repto que faz ao camarada Manuel Vitorino (Manuel Luís Lomba)

12 comentários:

Anónimo disse...

Caro Luis,

Eu que tenho de agradecer a tua dedicação.

Votos de rápidas melhoras.

forte abraço a todos
Vasco Pires

Manuel Carvalho disse...

Caros camaradas

Ao comentário que já fiz sobre este assunto e depois de falar com um camarada meu para confirmar aquilo que nós sabiamos sobre o assunto vou dizer o seguinte. fomos informados que tinha existido uma Tabanca em Jolmete e que a população tinha ido para o mato não sabiamos se levados pelo PAIGC ou se por outros motivos, nas operações que fizemoa recuperamos bastante população e alguns ao ser interrogados diziam ser da tabanca de Jolmete.Nunca ouvi falar de mais nada mas não tenho motivos para duvidar do camarada Medina até porque quer do nosso lado quer do lado do PAIGC havia gente para isto e para muito mais. Com o General Spinola duvido que isto acontecesse com seu conhecimento com outros não sei.O não ser falado também não me admira porque isto não é assunto para se falar ao primeiro fulano que nos aparece.O camarada Veríssimo andou por Jolmete em 1965 não sei se ele sabe ou quer dizer alguma coisa.Para já é o tenha para dizer.
Um abraço

Manuel Carvalho

Joaquim Luís Fernandes disse...

Caros Camaradas e amigos

Acrescento mais um testemunho para reflexão:

Em 1973, Na minha 3ª semana de T.Pinto, tive o meu batismo de patrulha/escolta nas matas,terra de ninguém, entre o Pelundo e Jolmete, próximo do local onde foram mortos os Majores.Eu era "Pira" e pouco ou nada sabia do acontecido, mas a descrição que me fizeram do local aterrorizava. O local era apresentado como amaldiçoado. Porquê?

Na vasta área povoada ao redor de T.Pinto, havia poucos jovens e homens novos. Alguns estariam enquadrados nas NT (uns, soldados na CCAÇ 16, no Bachil, outros como milícias no Pelundo)mas muitos outros, diziam-me os familiares, estavam emigrados em França, em Paris. Eu interpretava que estariam no PAIGC, alguns em Paris em formação, outros no mato bem próximo, na Caboiana.

Os manjacos eram muito fechados e nunca se sabia quando falavam verdade. Claro que havia as excepções - os colaborantes. Alguns destes, pagaram com a vida, depois da "independência" essa colaboração com as NT. Exemplo: o Régulo de Costa de Baixo (região de T.Pinto) Joaquim Baticã Ferreira.

Um facto que então não entendia bem, mas que hoje compreendo: O porquê do quartel do Bachil e a tabanca próxima,Curobrique, não serem atacados, estando tão próximos da Caboiana (mais ou menos 5Km) isolados (a norte do rio Costa-Pelundo) e sem abrigos de defesa.
A resposta que encontro é que eram farinha do mesmo saco. Penso que, quer as populações de Churobrique quer os soldados do Bachil faziam jogo duplo. Viviam da tropa e do que sobrava apoiavam os seus amigos da Caboiana.

Isto para concluir, que aquele "pessoal" era hostil, ressentido connosco e perante a nossa força e poder acomodavam-se como podiam. Tinham uma história antiga marcada pela repressão violenta. Coisas que marcam e não esquecem, passando de geração em geração.

Está aberta a polémica! Quem contesta e me esclarece?

Com amizade, um abraço.
JLFernandes

Manuel Luís Lomba disse...

O nosso blogue é credor do reconhecimento de "utilidade pública" e vem explorando o Luís Graça e o Carlos Vinhal como mouros mouros de trabalho. Por ele, todos os ex-combatentes da Guerra do Ultramar(isso de guerra colonial será semântica própria de Lenine, de Franz Fanon, de Sartre, etc) podemos comunicar ora o que vimos pelos nossos olhos ora a nossa versão dos acontecimentos que não vimos, livremente, desde que respeitemos as regras do exercício da nossa liberdade.
Durante o meu tempo na Guiné como operacional observei os comandantes Schulz e Hélio Felgas como homens dignos; já então este era um dos raros oficiais superiores a alinhar no mato ao lado dos seus comandados.
A patrulha montou cerco à tabanca e capturou os homens válidos de Jolmete sem ser recebida a tiro ou granada. O seu fuzilamento dois meses depois não foi visto pelos olhos do camarada António Medina; ele transmite-nos a sua versão.

O camarada Luís Graça não encontrou referência no arquivo de Amílcar Cabral, no aludido livro do Luís Cabral lembro-me referir os eventos semelhantes acontecidos em Bafatá e Bambadinca e não me lembro de referência a este. Naquele tempo, os comandantes "turras" da Frente Norte eram Osvaldo Vieira, Manuel Saturnino, Loló e
Chico Mendes e o representante do bureau político, vulgo comissário político, era o seu importantíssimo Luís Cabral.
As represálias sobre as populações como ato de guerra,na procura de impacto psicológico por efeito do terror, foram sempre publicitadas e públicas. O referido a Jolmete terá caído rapidamente na amnésia? Não é o caso dos praticados pelo Maneta, há mais 200 anos, ou pelos nazis, na década de 40 do século passado.
O Exército Português estaria a "programar" a extinção dos Manjacos? Nem as helenas, as mulheres de Atenas, da Antiguidade, nem as alemãs, do século XIX, que matavam os filhos machos à nascença, para não os criar para
a guerra, nem o "programa" nazi conseguiu exterminar os Judeus!
Houve sim, historicamente, um "programa" que levou ao assassínio de 11 mil bissau-guineenses, entre 1974 e 1980: A metamorfose da Comissão Coordenadora do MFA em Comissão Coordenadora "Programa" do MFA,
que procurou transformar as FA em bandos de insurretos, após o 28 de Setembro de 1974, visando transformar as FA em bandos de insurretos, para levar a cabo esse PREC, na Metrópole e no Ultramar, à revelia do escrutínio do Povo!
Manuel Luís Lomba

Anónimo disse...

Estive lá com o meu grupo cerca de uma semana em Out/Nov 65, a render o grupo do Luís Rainha (o Júlio Abreu deve ter lá estado)que durante o ataque (que julgo ter sido o 1º) teve três feridos, um dos quais com muita gravidade. A Companhia que lá estava era comandada, salvo erro, pelo cap. Corte Real (mais tarde morto numa mina a/c entre Farim e o K3. Durante o tempo em que lá permaneci não me lembro de ter ouvido qualquer alusão a esses fuzilamentos. Contactámos com a população, nomadizámos na zona, vimos barracas abandonadas, notava-se agitação recente naquela zona. Mesmo em Teixeira Pinto, onde estivemos em trânsito,à ida e no regresso, não me lembro de ter ouvido o que quer que fosse sobre o assunto. Não ponho em dúvida que tal facto tenha ocorrido, quem participou em confrontos armados sabe o que é a Guerra e como ela transforma os homens. Algo surpreendente é que tal facto tenha escapado a tanta informação produzida durante treze anos de luta e surja apenas 40 anos depois da guerra ter terminado.
V. Briote

Henrique Cerqueira disse...

Eu nem era para comentar este assunto.
No entanto não resisti a fazer a seguinte pergunta.
Sendo este suposto ato de fuzilamento praticado pelas nossas tropas não seria aconselhável antes de publicar o poste que fez esta narrativa, verificar se existia alguma informação do sucedido ? É que a mim me parece que a ter sido verdade trata-se de um CRIME DE GUERRA . Os Judeus ainda hoje fazem caça aos seus criminosos de guerra.
E depois não é de estranhar que o Furriel que narra a situação diz a terminado passo «...para não ser envolvido no fuzilamento foi dar uma volta e só regressou após consumado o ato...». Desculpem lá mas não acredito nesse suposto Fuzilamento. Pese embora o facto de no seio das nossas tropas termos tido alguns homens de baixa moral e totalmente desumanos. Até já contei aqui e não foi no "diz que disse" , que quando cheguei ao Biambe em 1972 tinha na minha caserna um frasco com orelhas humanas mergulhadas num liquido qualquer e que foi deixado pela companhia que fomos render. Tive o cuidado de na altura enterrar tão macabro achado. Mas isso não prova que se fizessem fuzilamentos como o que aqui foi descrito.
Também aqui afirmo e sem ser no "diz que disse" que presenciei mais atos de selvajaria entre Guineenses que entre tropas metropolitanas. De uma coisa tenho a certeza na altura nós os militares ainda eramos filhos de uma nação com pais que poderiam ser muito pobres mas que eram muito exigentes na nossa formação moral.
Decididamente até prova do contrário não acredito mesmo nessa estória dos fuzilamentos e espero não estar enganado.
Henrique Cerqueir

Cherno Balde disse...

Caros amigos,

Antes de mais, louvo o amigo A. Medina pela coragem que teve em revelar factos ocultos ou ocultados. Nao he dado a todos fazer semelhantes afirmacoes, indo a contra a corrente da maioria.

A ser verdade, o acto foi tao ignobil quanto inutil, hoje sabemos isso.

Alguns factos que pouco a pouco comecam a emergir, parecem indicar que a partir 1968,com a chegada do Gen. Spinola, as coisas mudaram de rumo, felizmente, mas o periodo anterior com o Brig. Schuls, a Guerra permitia e justificava tudo e o terror implantado obrigou muita gente inocente a procurar refugio seja em zonas neutras, para os paises vizinhos ou zonas controladas pelo PAIGC.

Facto curioso eh o "modus operandi" que, ate aqui eu pensava ser uma invencao do PAIGC que, afinal, he puro engano.

O Maria Gois, no seu Diario (publicado no bloque), ja fez uma descricao muito parecida onde a vitima, foi obrigada a escavar a sua sepultura antes de ser fuzilado.

Casos lamentaveis que aconteceram e que devem ser contados para a posteridade.

com um abraco amigo,

PS: Quando saiu o Poste queria comentar, mas nao foi possivel, o texto voou e nao insisti.

Cherno Balde

Anónimo disse...

Pode ser verdade, antes do Spínola. Depois do Spínola...muito mas mesmo muito difícil.
Na guerra e mesmo na vida normal, as pessoas tornam-se, algumas vezes, anormais.

Um abração.
Carvalho de Mampatá

antonio graça de abreu disse...



Que me desculpem a opinião, mas continuamos sem nenhum testemunho, factual, credível, autêntico, a comprovar, por a mais b, a tese apresentada dos "fuzilamentos" dos chefes manjacos do Jolmete, fuzilados, enterrados depois das balas na cabeça e no corpo, ao lado da pista de Teixeira Pinto.
Como conheço Teixeira Pinto e o Jolmete (1972/73), a partir do meu CAOP 1, e os energúmenos Parkinson e o Alzheimer,
ainda não toldam, não obscurecem o meu limitado entendimentos das coisas do mundo e da nossa História, sem passar nenhum atestado de bom comportamento às NT na Guiné ("o homem é o lobo do homem", há quantos anos sabemos isso,mas, com coração de manteiga rançosa tendemos sempre a esquecer!), não acredito nos tais fuzilamentos.
Se tivessem acontecido, imaginem a importância política que teriam para o PAIGC, Que jamais utilizou os "fuzilamentos" como bandeira. Porquê? Porque não existiram. Ou será que Amílcar Cabral e os seus homens eram broncos e pouco inteligentes?
Pensem, meus caros camaradas da Guiné, pensem, faz bem ao que ainda somos.

Abraço,

Antrónio Graça de Abreu

Joaquim Luís Fernandes disse...

Caros amigos e camaradas

Todos somos livres de expressar as nossas opiniões e fazer as reflexões que os assuntos nos merecem, desde que o façamos no respeito pela verdade, pela opinião dos outros e na boa fé de que quem neste blogue se presta a escrever e narrar factos que viveu, não vem para aqui mentir. Pode a descrição ser mais ou menos romanceada, mas não o será ficcionada.

Vem isto a propósito do comentário do camarada António Graça Abreu, notável escritor e homem de opiniões muito vincadas, algumas vezes polémicas, mas que naturalmente respeito.

Porém, neste comentário, parece estar a falar de outra narrativa que não a do camarada António Medina! Será que é como diz o ditado popular, "quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto"?

Com todo o respeito, recomendo ao camarada A. Graça Abreu, uma releitura de todo o texto do camarada António Medina e que confronte com o que escreveu.
Aonde está escrito que houve "fuzilamentos dos chefes manjacos do Jolmete, fuzilados, enterrados depois das balas na cabeça e no corpo, ao lado da pista de Teixeira Pinto"?

A narrativa do que terá acontecido está bem clara e a participação do nosso camarada como testemunha participativa em parte dos atos, também. Nomeia as Unidades que participaram, as datas e os locais, os antes e os depois. E diz que a execução das penas capitais foram escondidas e abafadas e os fuzilamentos feitos em local secreto. Não houve assistência.

Quanto à afirmação de que "se tivessem acontecido, imaginem a importância política que teriam para o PAIGC". Não compreendo! Mas não fazia parte da propaganda do PAIGC, essas permanentes acusações, assim como muitas outras, tantas vezes falseadas e empoladas?
No meio das muitas mentiras da propaganda do PAIGC, algumas não o seriam totalmente.

Claro que se houvesse interesse e empenho nisso, seria possível averiguar e reconstruir a verdade dos fatos. Foi há 50 anos, ainda estarão vivos alguns dos militares nossos desse tempo,(que naturalmente não virão para aqui dizer, fui eu) a exemplo do camarada A. Medina. E entre os habitantes atuais de Jolmete, se não estiverem ainda vivas as mulheres desse tempo,as crianças de então e os seus descendentes devem ter essas histórias no seu substrato cultural.

A guerra foi o que foi e os contendores também. Foi dura, foi cruel, foi inglória. Se não saímos dela muito honrados, apesar das muitas boas ações que praticamos, o que se seguiu também não honra muito os detentores do poder que se seguiu. Foi um poder erguido em cima de muita mentira, que só poderia dar mau resultado.

E mais não digo apesar de me apetecer, mas o comentário vai longo.

Abraços
JLFernandes

antonio graça de abreu disse...

Meu caro J B Fernandes

Registo apenas uma frase tua, conclusiva e clara:

"Um poder (dos homens do PAIGC) erguido em cima de muita mentira, que só poderia dar mau resultado."

Neste caso dos "fuzilamentos" dos homens grandes do Jolmete, nem parece haver mentira. No entendimento político, revolucionário, propagandístico dos homens do PAIGC tais fuzilamentos jamais são referidos.
O que é muito estranho. Seriam, se verdadeiros,uma bandeira, a levantar bem alto.
Em que mundo
é que vivemos?
Terão de ser os portugueses a falar dos nossos fuzilamentos?
Os que existiram e os que inventámos? Quando sabemos que de fuzilamentos (Cassacá, aos traidores
à luta, fuzilamentos durante o conflito, assassínio aos milhares de muitos homens que estiveram a nosso lado durante a guerra e que depois do 25 de Abril foram, sem piedade, vergonhosamente fuzilados e lançados para valas comuns), de fuzilamentos em massa de gente culpada, boa e inocente, quem muito sabe é o PAIGC?
Quem foram os mestres em fuzilamentos e assassinios em massa?

Em que mundo, 2014, vivemos?

Sem descartar, nenhuma responsabilidade de muito crime cometido por gente da ditosa pátria,( e de tantas outras potências colonizadoras!) de lágrima ao canto do olho e faca ou pistiola na axila.

Pensem, meu caros.

Um abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Camaradas agora também já há generais limpos e outros de cariz assassino?Isto está bonito está? com essa estória do medina e do baldé que vem logo a terreno apoiar e outros a dizerem que se foi no tempo do Spínola não acreditam mas se foi no tempo do antecessor talvez fosse verdade.Valha-nos o Graça de Abreu que sem papas na língua, diz o que tem a dizer.Pelos vistos estamos condenados a este tipo de coisas.Talvez seja castigo
quem sabe?Por isso temos sido governados de algum tempo a esta parte com os resultados à vista.CGaspar