quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13598: Blogpoesia (391): Baladas de setembro... (J. L. Mendes Gomes, ex- alf mil, CCAÇ 728. Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)


chove em setembro...


[, ex- alf mil da CCAÇ 728. Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]


me aqueço com esta chuva densa
que está caindo,
riscando linhas de luz no ar,
como num tear a vento,
tecendo o linho.

pausa da praia,
pausa dos incêndios fortuitos
e do fogo posto.

chove em setembro,
chuva benigna.
fecundando a terra,
é o que diz quem vive dela.

água de arminho,
Foto: Candoz, Luís Graça (2014)

luar de agosto,
uvas de vinho
que estão a pintar.

chega a vindima,
depois a colheita.
seara de pão...
ó doce alegria.
benditas sejam.

Mafra, 
11 de Setembro de 2014
8h31m
Joaquim Luís Mendes Gomes 


próxima fornada...

a próxima fornada
vai ser de pão de centeio.
crescido no campo do meio,
cercado de vinha enforcada,
ceifado numa tarde de sol,
e moído de noite,

na mó do moleiro do rio.
Foto: Candoz, Luís Graça (2013)

meia dúzia de broas de pão,
tisnadas do forno,
que minha mãe
amassou e benzeu,
na cozinha,
com água, fermento
e farinha,
enquanto eu jogava o pião.


e uma bôla, primícia,
redonda, larga e espalmada,
crestada nas brasas
da queima do forno,
com chouriço e sardinha.

vai dar um jantar melhorado,
ressumando a caldo de couves,
com gotas de azeite,
e todo o pão da semana,
à fartura...

ouvindo piano concerto de Grieg
enquanto clareia a manhã

Mafra, 9 de Setembro de 2014
6h29m
Joaquim Luís Mendes Gomes


tarde de Domingo...

está azul o céu.
como há muito não.

há cavalos tranquilos a debicar o chão,
para mim,
de olhos baços,
só me restam
as nuvens a bailar festivas...

mais as copas verdes
duma mata em flor.

oiço acordes
duma música lenta,
minha alma aspira
e canta sonora.

louvores sem fim.
de louca a arder.

baladas tristes,
me chegam do fundo
dum mar profundo.
soam a eterno
dum amanhecer.

voo no ar
como se fora ave.
rumo ao infinito
do entardecer.

Foto: Lourinhã. Praia de Paimogo, 
Luís Graça (2014)

meu barco alado
de asas abertas.
parece uma gazela triste
a que abri a porta.

vou esbaforido.
se ninguém me alcançar,
darei a volta ao mundo.
e ficarei sonhando.

perdi tantos dias
neste porto morto.

só hoje me chegou o vento.

ouvindo Brahms,  piano concerto nº 2.  por Baremboim
Mafra, 7 de Setembro de 2014
17h4m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13579: Blogpoesia (390): Poema de um ataque na guerra da Guiné (Armando Fonseca)

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