segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13730: Blogues da nossa blogosfera (68): Quando dois desconhecidos se apaixonam (1): Início - Blogue Molianos, viajando no tempo (António Eduardo Ferreira)

1. Transcrição de uma publicação do Blogue Molianos, viajando no tempo, do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74).

Quando dois desconhecidos se apaixonam, é uma história de amor, onde a ficção e a realidade se misturam, terá acontecido na década de sessenta do século passado, entre uma jovem da Nazaré e um rapaz de Almeirim. Começa hoje a ser publicada neste blogue, na categoria Tempos Cruzados, terá continuidade nas semanas seguintes.
Como gosto de dizer, escrevo para estar entretido… a quem tiver paciência para ler o que vou escrevendo, os meus agradecimentos.

António Eduardo Ferreira



QUANDO DOIS DESCONHECIDOS SE APAIXONAM

1 - Início

Na década de trinta do século passado, chegada a primeira semana de setembro, ia o António da Palha e a esposa Guilhermina com os três filhos a caminho da Nazaré, a banhos, como sempre faziam. Por essa altura ficavam por lá apenas uma semana, o tempo foi passando os filhos atingiram a idade adulta casaram e os pais passaram a ficar duas semanas.

O primeiro a casar foi o João, depois o Jorge e, por último a Maria do Carmo. Se os rapazes ficaram na terra, a Carminho casou com um rapaz do Pombalinho e foi morar para Santarém, a cerca de oito quilómetros da pequena quinta dos pais que ficava próximo de Almeirim. Distância considerável atendendo à falta de transportes, ainda que minimizada graças à égua e à velha carroça do pai, um dos maiores negociantes de gado bovino da região.

Não tardou muito tempo para que o António da Palha e a Guilhermina tivessem sete netos, se o António era uma pessoa alegre e feliz, em quase todos que o conheciam tinha amigos, essa felicidade aumentava sempre que nascia mais um neto, ao todo foram nove.

Sempre que chegava o mês de setembro, agora na companhia dos netos mais crescidos, lá iam eles a banhos para a praia da Nazaré, viagem que era feita na empresa de transportes Ribatejana, uma das que fazia carreira para aquela praia, ao saírem da camioneta um dos primeiros que aparecia a oferecer os seus préstimos era o moço de fretes, que a troco de uns escudos se prontificava a transportar toda a bagagem que levavam, que era sempre muita: o saco com batatas, feijões e alguns melões entre outras coisas indispensáveis para os dias em que iam estar na praia.

Mas antes de acertar o transporte com o moço era necessário alugar casa, a oferta era muita, as mulheres da Nazaré estavam sempre com atenção a quem chegava para oferecer a sua casa. Quando a mesma não era do agrado de quem acabava de chegar, elas não raramente informavam outras na mesma rua ou nas imediações.

Para o avô nem sempre era tarefa fácil, tinha que ser no rés-do-chão, ele não gostava de subir escadas, e tinha de ter casa de banho. Havia muitas que tinham apenas uma pia de despejo, como as nazarenas lhe chamavam, e o avô não queria casas assim. Para além das condições da habitação havia que ter em conta o preço da renda, ou não fosse o avô homem habituado ao negócio.

Alugada a casa era altura de entrar em ação o moço de fretes, que nem sempre conseguia levar toda a bagagem, mas o avô, a avó e a pequenada todos ajudavam. Havia anos em que o sítio onde iam morar durante o tempo em que estavam a banhos era o mesmo de anos anteriores, o que era sempre do agrado da dona da casa.

Quando chegava o fim da estadia, quase sempre sobravam algumas coisas que tinham ido para ser consumidas, sobras que lhe eram oferecidas, o que dava muito jeito pois a seguir ao verão vinha o inverno, e a vida na Nazaré por essa altura não era fácil para a maioria das pessoas.

Depois de se terem instalado na nova casa havia que comer alguma coisa, a viagem tinha sido longa, acalmado o estômago o avô apressava-se a ir procurar alguns amigos que, como ele, era sempre naquela tempo que iam a banhos, alguns nem chegavam a pisar a areia… tinham lugar por essa altura as festas em honra de Nossa Senhora da Nazaré, no Sítio, a que eles nunca faltavam, se não os visse todos nesse dia, certamente no dia seguinte haveria de os encontrar, a notícia da sua chegada ia sendo divulgada por aqueles com quem já tinha estado à conversa. Passado pouco tempo todos sabiam que ele estava por ali…

Havia alguns locais que fazia questão de visitar no dia da chegada, eram as tabernas onde ele e os amigos passavam grande parte do tempo: a casa da Parreirinha, o José da Reboicha, e o António dos passarinhos, se não fosse naquele dia, em breve na companhia dos amigos haveriam de ir à taberna do António Arnaldo tinha sempre vinho daquele que eles gostavam, do bom!

No dia seguinte havia que ir à praça, ritual para cumprir todos os dias que estivessem na praia, as compras estavam a cargo da avó Guilhermina, só a compra de carne é que era feita pelo avô, alguns dos talhantes eram seus conhecidos. A ida à praça servia também para que a rapaziada conhecida se encontrasse e, muitas vezes, combinar onde naquela tarde iam comer uns carapaus secos, assados no fogareiro a carvão e beber uns copos, normalmente onde o vinho fosse melhor. As mulheres e a pequenada passavam a tarde na praia.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13458: Blogues da nossa blogosfera (67): Jovens da Aldeia de Molianos na Guerra da Guiné, no Blogue Molianos, viajando no tempo (António Eduardo Ferreira)

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