quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13736: (Ex)citações (239): Ainda sobre as circunstâncias da morte do cap mil inf Rui Romero (1934-1966), comandante da CCAÇ 1565, que acorreu a 2 metros de mim (Artur Conceição, ex-sold trms, CART 730, Jumbembem, Bissorã e Bissau, 1964/66)


Guiné > Zona Oeste > Setor O2 > Farim >Jumbembem > CCAÇ 1565 (1966/68) > 10 de julho de 1966 > Helievacuação do cap mil inf Rui Romero > Na foto da evacuação importa também identificar o 1º Cabo Enfermeiro Fernando Teixeira Picão colocado do lado esquerdo da foto em calção e camisa (já falecido), e ainda do mesmo lado e logo a seguir o 1º Cabo radiotelegrafista Guilherme Augusto Leal chagas, natural de Elvas; do lado direito em tronco nu e calção, junto ao Heli o Furriel, Manuel Júlio Vira, natural de Setúbal, (já falecido em 2003).

Foto (e legenda): © Artur Conceição (2007). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]




Cap mil inf Rui Romero, de pistola Walther P38,
à cintura
1. Resposta do Artur Conceição, técnico de informática, aposentado, da Direção Geral de Viação, residente na Damaia, Amadora, ex-sold trms, CART 730 (Bissorã, Jumbembem e Bissau, 1964/66), ás perguntas que lhe enviámos  ontem, a propósito da morte do cap mil inf Rui Romero (1934-1966) (*)

Meus caros:

Não tenho muito mais para acrescentar àquilo que já foi escrito e dito, apenas quero clarificar alguns pormenores. (**)

A primeira questão prende-se com a marca da arma de fogo. Era uma pistola Walther? É muito provável que sim, uma vez  que era a arma de defesa usada pelos oficiais e os detentores de algumas especialidades, designadamente enfermeiros e pessoal de transmissões.

A porta do espaço reservado ao comando, descaída para o lado esquerdo, dava para um corredor aberto e era tapada com um reposteiro. A cama do senhor capitão Romero estaria colocada a cerca de 3 metros dessa entrada e com a cabeceira voltada para o lado esquerdo.  No sentido oposto, (pés com pés), e com um bom espaço entre ambas, ficava a cama do comandante da CART 730.

O senhor capitão Romero estava caído no chão, e não estava nem de bruços nem de costas.

A pistola Walther, P38, de 9 mm, de origem alemã, foi
adoptada pelas nossas Forças Armadas, em 1961, como
pistola 9 mm Walther m/961, vindo substituir a Parabellum.
Foi desde logo utilizada na guerra colonial em África.
Fonte:Cortesia da Wikipedia
Em relação à parte do corpo atingida , penso não ter dúvidas de que foi a cabeça, mas convém esclarecer de que eu não entrei no espaço, Isto é,  não passei da já referida porta. Fotos no chão, correspondência em cima da cama e arma no chão deu para ver.

O local exacto da cabeça onde foi o disparo não posso garantidamente afirmar. O choque, para mim, foi  brutal... e as reacções nem sempre são "normais".

Em relação a ter deixado algo escrito,  não me parece. Se tal tivesse acontecido estaríamos perante um acto premeditado que também  não me parece que tenha sido o caso. Inclino-me sim para uma tentação espontânea, um gesto repentino.

Respondendo ao José Câmara (**), não me parece, dadas as circunstâncias, de haver qualquer hipótese de acidente. E de homicídio então nem pensar. A versão que ficou entre todos foi a de suicídio.

Agora vamos à parte mais fácil. Em relação ao 1º cabo cripto, ele encontra-se de frente numa foto existente no blogue  (**)  e está  identificado nessa outra foto. Recordo-o como uma jóia de moço, bastante reservado, talvez pela sua especialidade. Não sei onde vive, sei que era natural de Portalegre. E já agora mais uma "dica" que só terá interesse para melhor o localizar se essa for a intenção. Pertencia nessa época a uma religião designada  de Sabatistas.

À pergunta "quem tirou a foto",  não sei responder.

Artur Conceição
Em relação ao meu capitão, estive com ele pela última vez, em Lagos num almoço convívio do Batalhão 733. Sei que mora na Rua António Saúde,  em Benfica.  porque ele me informou, não tenho mais nenhum contacto. Era cliente da Pastelaria Califa e de uma loja de óculos que existe ao lado.

Penso que o corpo do cap Romero seguiu para Bissau porque não vejo porque razão iria para Farim.

Salvo melhor opinião, penso que nesta época os helicópteros tanto levavam os feridos como os mortos.


Finalmente queria também fazer uma pergunta ao Carlos Silva (***): que tempo medeia entre cada uma das fotos que mandaste?

Alguém estragou o espaço onde era a minha cama, e quando a foto foi tirada estava à chuva....!

Ao dispor. Um abraço

Artur António da Conceição (****)

Damaia, Amadora



Guiné > Bissau  >    23/6/1966 > Em primeiro plano, o cap mil inf Rui Romero, cmdt da CCAÇ 1565 (1966/68) > Guarda de honra ao gen Carrasco.

Foto: © Ana Romero  (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]

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Notas do editor:

(*) Questões postas ao Artur Conceição, em email de ontem

Artur: Queres responder ou comentar ou acrescentar algo mais ? 

(i)  A arma utilizada foi pistola Walther ? 

(ii) Como estava caído o corpo ? No chão ou na cama ? De costas ou de bruços ? 

(iii) Que parte do corpo foi atingida ? 

(iv) O capitão deixou algum papel escrito ? 

(v) Haveria alguma hipótese de ser "acidente", como sugere o José Câmara (que está nos EUA) 

(vii) Qual a versão que correu de imediato no quartel ? 

(viii) O cabo cripto, o "Fininho",  que está na foto, de costas, com o quico na mão, ainda vive em Portalegre ? 

(ix) Quem tirou essa foto ? 

(xi)  O corpor seguiu para Bissau ou Farim ?

(x) O teu antigo capitão está contactável ? A Ana Romero pode falar com ele ? 

Ab. Luis

(**) Vd. poste de 13 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13729: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (88): Revivendo, 48 anos anos depois, a tragédia de Jumbembem, a morte do cap mil inf Rui Romero, da CCAÇ 1565, em 10/7/1966 (Ana Romero / Artur Conceição)

(***) Vd. poste de  14 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13735: Memória dos lugares (275): Jumbembem, ao tempo da CCAÇ 2548, 1969/71 (Carlos Silva)

(****)  Último poste da série > 13 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13728: (Ex)citações (238): Água da Bolanha... quem a não bebeu ?! (Mário Pinto, ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

16 comentários:

Luís Graça disse...

São números que devem merecer a nossa atenção e reflexão... E nas nossas Forças Armadas e Militarizadas ? Temos conhecimentos de "casos" , reportados por médicos, por exemplo, ou pela imprensa mas estamos longe de ter uma visão correta e serena do problema... Refiro-me à taxa de suicídio entre os militares e pessoal militarizado, em Portugal, hoje e no passado. Só se pode prevenir e combater o que se conhece... LG
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Do portal DN - Diário de Notícias, com a devida vénia, uma notícia da agência Lusa:

http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=2993796&seccao=EUA%20e%20Am%E9ricas


EM 2012
Suicídios nas Forças Armadas dos EUA atingiram recorde
por Lusa, publicado por Graciosa Silva 15 janeiro 20131

Os suicídios nas Forças Armadas norte-americanas registaram, em 2012, um recorde de 349 casos face aos 301 verificados em 2011, superando o número de mortos em combate no Afeganistão, revelam dados oficiais.
Foi no Exército norte-americano que se registaram mais suicídios, num total de 182, enquanto que no Corpo de Fuzileiros Navais verificaram-se 48, mais 50 % do que em 2011, na Força Aérea 59, mais 16 % do que no ano anterior, e na Marinha 60, mais 15 % face a 2011.

"Estamos profundamente preocupados com os suicídios nas Forças Armadas, que é um dos problemas mais prementes que enfrentamos", disse uma porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, Cynthia Smith.

A mesma porta-voz indicou que problemas financeiros e outros fatores de ordem social, emocional, física e mental poderão estar por detrás destes casos de suicídio.
De acordo com os dados do Pentágono, no ano passado foi registado o maior número de casos de suicídio desde que estes começaram a ser contabilizados, em 2001, e que superou os 310 mortos registados em combate no Afeganistão.
O Departamento de Defesa norte-americano lançou uma política global para a prevenção de suicídios em 2011 e atualmente as clínicas e hospitais militares dos Estados Unidos contam com 9.000 psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiras especializadas em saúde mental, mais 35 % do que nos últimos três anos.

Luís Graça disse...

"War-years military suicide rate higher than believed"

Gregg Zoroya, USA TODAY8:45 a.m. EDT April 25, 2014

Vd. aqui no portal USA Today:

http://www.usatoday.com/story/nation/2014/04/25/suicide-rates-army-military-pentagon/8060059/

Um excerto em português, tradução livre de L.G:

A taxa de suícidio entre as forças armadas e militarizadas nos EUA é maior, em 2012, do que o esperado.

A partir de 2005, o suicídio entre os militares - especialmente no caso do Exército - começou a aumentar anualmente de forma constante, podendo ter atingido o pico em 2012.

Entre os militares de carreira, ou a tempo inteiro, a taxa de suicídio aumentou para 29,7 mortes por 100 mil em 2012, bem acima da taxa de 25,1 por 100 mil para os civis da mesma faixa etária em 2010, o último ano disponível, de acordo com um relatório do Pentágono.

Entre soldados do sexo masculino a taxa foi de 31,8 por 100.000. Houve um recorde de 164 soldados suicidas naquele ano.

A taxa de suicídio nos EUA (população global) foi de 12,1 por 100 mil, em 2010, sendo de 19,9 por 100.000 para os homens em 2010 , de acordo com o Centers for Disease Control.

A taxa da Guarda Nacional do Exército em 2012 chegou a 30,8 mortes por 100 mil, com 110 suicídios. A taxa de suicídio para os homens da Guarda Nacional do Exército foi de 34,2 por 100 mil, de acordco com os dados do Pentágono .

Para os soldados em tempo integral de todo o exército norte-americano , a taxa de suicídio atingiu um pico de 22,7 por 100 mil em 2012 e caiu para 19,1 por 100.000 no ano passado, segundo o Pentágono,

Funcionários da Defesa disseram que as taxas antigas de suicídio estavam erradas porque fazia-se as contas usando apenas uma percentagem de Guarda Nacional e reservistas - e não o verdadeiro número global dos que estvam no ativo.

Ter uma visão melhor do que acontece ajudar melhor combater e prevenir o suicídio.


Mudando de metodologia, o Pentágono baseia-se hoje em números reais, para determinar as taxas de suicídio , produzindo índices separados para militares em tempo integral, os da Guarda Nacional e da Reserva, .

Parte parte da razão para a demora na correção esatística tem a ver com o fato que a direcção de serviço do Pentágono para a prevenção do suicídio só foi criada em 2011, passando nessa altura a rever o cálculo da taxa de suicídio no ano seguinte.

Luís Graça disse...

Cito o trabalho do Zé Martins:

De um total de 2856 baixas mortais (por todas as causas: combate, doença, acidentes, etc.) no TO da Guiné, durante a guerra colonial, 11% são devidas a "acidentes com arma de fogo", ou sejam, 323, em números absolutos (204 diz respeito a pessoal metropolitano e o restante a pessaol da província, militares e milícias)...

Pergunto: quantos casos de suicídio (e de homicídio) não estarão "escondidos" sob estes números ? Estamos a falar de um total de cerca de 262 mil efetivos no TO da Guiné, durante a guerra...


http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2014/09/guine-6374-p13670-os-ultimos-anos-da.html

Luís Graça disse...


Taxa de suicídio em Portugal (por 100 mil habitantes)

1960 8,7
1961 9,0
1962 -
1963 -
1964 -
1965 9,3
1966 -
1967 -
1968 -
1969 -
1970 8,3
1971 8,3
1972 8,1
1973 8,5
1974 8,6
1975 8,8
1976 8,8
1977 9,2
1978 9,4
1979 9,8
1980 7,5
1981 7,9
1982 8,4
1983 9,8
1984 10,3
1985 9,8
1986 9,3
1987 9,5
1988 8,2
1989 7,5
1990 8,7
1991 9,4
1992 8,6
1993 7,8
1994 7,5
1995 8,0
1996 6,5
1997 6,2
1998 5,4
1999 5,3
2000 5,0
2001 7,3
2002 11,5
2003 11,0
2004 11,4
2005 8,7
2006 8,2
2007 9,6
2008 9,8
2009 9,6
2010 10,4
2011 9,6
2012 10,1

Fonte: Pordata

http://www.pordata.pt

Luís Graça disse...

As taxas devem ser padronizadasa, por exem por sexo e idade...



Segundo o Observatório Global de Saúde da OMS, estima-se em 804 000 p nº de mortes por suícidio em 2012.

O que dá uma taxa padronizada por idade de 11.4 por 100 000 mil habitantes: 15.0 para os homens e 8.0 para as mulheres... Os homens suicidam-se mais do que as mulheres: o rácio é de 1.9 H para 1 M...



Luís Graça disse...

Um "site" a consultar, sobretudo pela ajuda que pode dar face a casos de pessoas com pensamentos suicidários:

Sociedade Portuguesa de Suicidologia

http://www.spsuicidologia.pt/sobre-o-suicidio/estatistica


A SPS apresenta dados estatísticos, actualizados, sobre os comportamentos suicidários em Portugal e no mundo.

Taxas de suicídio por 100.000 habitantes - PORTUGAL



Ano Global Masculino Feminino

1996 | 5 | 8.4 | 2.3
1997 | 4.9 | 8.3 | 2.1
1998 ! 4.2 | 7.1 | 1.8
1999 | 5.3 ! 8.1 | 2.6
2000 | 5.1| 8.3 | 2
2001 7.3 | 11.7 | 3.3
2002 | 11.7| 18.9 | 4.9
2003 | 10.5 | 16.6| 4.8
2004 | 11.5 | 18 | 5.5
2005| 8.8 | 13.8 | 4.1
2006 | 8.4 | 13.6 | 3.6
2007 | 9.6 | 14.5 | 4.9
2008 | 9.8 | 15.4 | 4.5
2009 | 9.6 | 15.6 | 4
2010 | 10.4 | 16.4 | 4.8
2011| 9.6 | 15.5 | 4.1

Luís Graça disse...

Sociedade Portuguesa de Suicidologia > Questões

http://www.spsuicidologia.pt/sobre-o-suicidio/questoes-frequentes

Nesta secção, encontrará um conjunto de artigos, elaborados pela Sociedade Portuguesa de Suicidologia, com respostas a questões frequentes sobre o suicídio e comportamentos suicidários.

Eis alguns tópicos que eu selecionei (LG)


(i) Sinto-me pouco à vontade com o assunto. Como lidar com a situação?

O suicídio era, tradicionalmente, um tema de tabu nas sociedades ocidentais, que levou ao seu encobrimento só piorando o problema. Mesmo após as suas mortes, as vítimas de suicídio não eram enterradas próximo das outras nos cemitérios, como se tivessem cometido um pecado. (...)


(ii) Porque alguém tenta o suicídio?


Normalmente o suicídio é equacionado como forma de acabar com uma dor emocional insuportável causada por variadíssimos problemas. É frequentemente considerado como um grito de pedido de ajuda. (...)


(iii) Os suicidas são loucos?


Não, ter pensamentos suicidas não implica ser-se “louco”, nem necessariamente ser doente mental. As pessoas que tentam o suicídio estão seriamente afligidas e deprimidas. Esta depressão pode ser reactiva, situação que é perfeitamente normal em circunstâncias difíceis, ou pode ser uma depressão endógena que é o resultado de uma doença mental diagnosticável com outras causas subjacentes. Também pode ser uma combinação das duas. (...)

(iV) Então que tipo de factores pode contribuir para alguém ter pensamentos suicidários?

Normalmente consegue-se lidar razoavelmente bem com problemas de stress e isolamento ou acontecimentos e experiências traumáticas, mas quando há uma acumulação de tais acontecimentos a capacidade de lidar com tais situações é levada ao limite. (...)

(v) Como o suicídio afecta amigos e familiares?

O suicídio é sempre uma experiência extremamente traumática para os amigos e familiares, mesmo que quem tente o suicídio pense que ninguém se preocupa com elas. Além dos sentimentos de mágoa normalmente associados com a morte da pessoa, podem existir sentimentos de culpa, cólera, ressentimento, remorso, dúvidas e grande angústia acerca de situações não esclarecidas. O estigma que cerca o suicídio pode fazer com que seja extremamente difícil para os que sobrevivem lidar com a sua mágoa podendo-lhes causar, também, situações de isolamento extremo.

(vi) O suicídio é ilegal? Isso não impede as pessoas de o cometerem?

O facto de ser ilegal ou não, não possui qualquer importância para quem está tão desesperado que equaciona a própria morte. Não é possível legislar sobre a dor pelo que tornar o suicídio ilegal não impede que quem esteja desesperado tenha sentimentos suicidas ou atente contra a sua própria vida. (...)

Luís Graça disse...

Umas contas grosseiras que fiz aqui em cima do joelho:

(i) 262 mil efetivos no TO da Guiné, em 11 anos de guerra, dá uma média de 23800;

(ii) 323 acidentes mortais com armas de fogo, em 11 anos, dá uma média de 29,4 por ano;

(iii) a taxa de incidência de acidentes mortais com arma de fogo seria, portanto, seria de 103,7 por 100 mil...

Resta saber qual é proporção que cabe aqui aos suicídios...

Luís Graça disse...

O suicídio (ou a tentativa de suicídio) era criminalizadoem 1966, tendo em conta o Código Penal em vigor na época ? A pergunta foi feita esta manhã ao nosso consultor para assuntos jurídicos, o dr.Jorge Cabral...A resposta veio por mail, 30 minutos depois... Obrigado, meu carfo Jorge..
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Jorge Cabral
15 out 2014 13:07

Não, o Código Penal de 1886, tal como o actual, punia apenas o Auxílio ao Suicídio (Artº354).

Creio que a não indicação como causa da morte tinha também a ver com a atribuição de pensão [, no caso do cap mil inf Rui Romero].

Sobre eutanásia é favor consultar um pequeno texto meu ( basta ir ao Google e procurar "eutanásia + Jorge Cabral").

http://aquestaosocial.blogspot.pt/2010/04/eutanasia-uma-reflexao.html

ABRAÇÃO

J.Cabral

Luís Graça disse...

Sobre incitamente ou ajuda ao suicídio, vd página de Octávio Manuel Gomes Alberto:


NCITAMENTO OU AJUDA AO SUICÍDIO

(...) 27. Generalidades

O art. 135º CP [Código Penal] pune quem incitar ou ajudar outrem ou suicídio.
Suicídio só pode ser a diminuição da própria vida pelo respectivo titular, tendo este o domínio do acontecimento.

Segue-se que uma tal atitude tem de ser consciente e voluntária porque “incitamento” tem a ver ou com a formação da decisão – o que obviamente não anula a vontade – ou com um seu encorajamento; e “ajuda” significa cooperação em algo que o ajudado conhece e pretende bem como reforço de tal pretensão.
Suicídio é pois um comportamento voluntário dirigido à própria morte, possuindo o autor o domínio do acontecimento e um limiar de consciência bastante para compreender o sentido existencial de tal conduta. (...)


http://octalberto.no.sapo.pt/incitamento_ou_ajuda_ao_suicidio.htm

Anónimo disse...

Com a devida vénia... LG
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7Díário Digital


05-03-2014 às 14:13

Tendência suicida em soldados já existe antes do alistamento, diz estudo


Em meio à crescente taxa de suicídio entre membros das forças armadas dos EUA e da confusão sobre possíveis causas, um estudo mostra que a maioria dos homens e mulheres do exército com tendências suicidas já apresentava as características antes de se alistar. E aqueles com maior risco de tentar o suicídio tinham um histórico de impulsos agressivos.

A pesquisa, publicada em três artigos na edição online da revista Jama Psiquiatria, da Associação Médica Americana, descobriu que cerca de um em cada 10 soldados tinham características que se encaixava no diagnóstico de transtorno explosivo intermitente - mais de cinco vezes a taxa encontrada na população geral. Este padrão impulsivo, combinado com transtornos de humor e com a tensão das missões militares aumentou a probabilidade de agir com impulsos suicidas.

O trabalho reuniu cinco anos de pesquisas académicas, governamentais e militares, e investigou centenas de suicídios e milhões de questionários respondidos anonimamente por soldados no activo.

O esforço começou em 2008, depois de a taxa de suicídio entre soldados activos ter subido pela primeira vez além da taxa registrada entre adultos jovens e saudáveis da sociedade civil. As guerras no Iraque e no Afeganistão têm contado com um exército de voluntários, ao contrário de guerras anteriores, e muitos dos homens e mulheres alistados hoje foram enviados duas, três ou quatro vezes.

Os novos relatórios mostram como as mudanças na composição das forças de combate e as crescentes demandas por serviços têm afectado a taxa de suicídio. O número mais do que duplicou entre 2004 e 2009, passando para mais de 23 por 100 mil soldados. Nesse período, 569 mortes de soldado foram causadas por suicídios. Desde então, a taxa voltou a cair para 20 por 100 mil, mesma encontrada em civis da mesma faixa etária.

Para David Brent, psiquiatra da Universidade de Pittsburgh, que não fez parte da pesquisa, os resultados sugerem fortemente que «a bagagem trazida pelas pessoas e muitas vezes não divulgada por elas a fim de entrar nas forças armadas interage com o stresse das missões militares», aumentando a vulnerabilidade ao suicídio.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=688989

Carlos Silva disse...

Meu Caro Artur Conceição

As minhas fotos são do 1º semestre de 1970.

A foto do Fernando Araújo é de 1973, pois ele pertence ao último Bat Caç 4512

Eu ainda conheci a tabanca do teu tempo, pois fomos nós que a demolimos para construir a nova tabanca.

A caserna grande e a casa a que te reportas e que no meu tempo era arrecadação e secretaria, bem como as 3 casas a que me reporto, messe e quartos são todas elas anteriores à tua estadia por lá, pois tenho fotos dessa altura e até com um héli na parada ainda do tempo da CCav 488/Bat Cav 490.

Não houve alterações de fundo e até a casa com telhas onde estás, por nós designada "casa amarela" ainda lá está.

Lembro que tenho ido lá ao longo destes anos e ainda em Março passado lá estive e agora sim, verifica-se alterações, pois só existe a casa onde eu dormia.

Um abraço
Carlos Silva

S. Pina disse...

Bom dia,

O meu nome é Sónia Pina, tenho 35 anos e sou a descendente da filha mais velha do Capitão Rui António Nuno Romero, falecido na Guiné (Farim), a 10/07/1966.

Através da minha mãe, Isabel Romero, tomei conhecimento que um dos recentes temas aqui tratados, seria a razão da morte do meu avô e pelo facto desse ser um assunto muito traumatizante para a minha mãe, que não altura tinha 7 anos e era muito chegada ao pai, decidi acompanhar as vossas publicações de forma a poder conhecer as opiniões de quem estava presente.
Desde a minha adolescência que me lembro da revolta e angústia da minha mãe sobre o falecimento do seu pai, nunca me escondeu o que pensava ter acontecido, sempre afirmou que o seu pai não aguentara mais a pressão, sabia que ele estava com um grande esgotamento e a própria família o sabia, ele tinha vindo a casa (de visita) e não queria regressar à guerra (não se sentia em condições) só que, infelizmente viu-se obrigado a satisfazer a vontade dos seus entes mais próximos em “servir a nação”, ou seja, a pressão social aliada ao esgotamento psicológico em que se encontrava ditaram a sua morte. Assim, e sem qualquer tipo de hipocrisia, esta foi a razão pela qual o meu avô morreu.

E pergunto: Se uma pessoa doente, incapaz de exercer as suas funções por incapacidade psicológica, for obrigada a fazê-lo até pela sua própria entidade patronal, não estará a própria entidade patronal a cometer uma negligência?

Relativamente ao resto, o que passou, passou, e ficam as vidas particulares de cada um e das suas famílias, vidas como outras que tais: uns terão mais sorte, outros menos e, evidente, que os infortúnios e traumas vividos no passado podem modificar o rumo e a vida de quem mais sente ou de quem é mais frágil como uma criança, por exemplo.

Felizmente que os tempos são outros, embora ainda muito longe da sociedade perfeita, a tendência é acabar com o despotismo e as guerras, respeitando-se a individualidade de cada um em prol dos direitos humanos, declarados universalmente.

Bem hajam,
Sónia Pina

Anónimo disse...

Sónia Pina

16 out 2014 12:08

Caro Luís Graça,

após ter partilhado com a minha mãe o e-mail que lhe escrevi e o qual postei em comentário no seu blog, pretendia retificar uma afirmação errada, o seu pai não tinha ele tinha vindo a casa (de visita), ele tinha expressado a sua vontade em regressar a casa através de cartas, não queria continuar na guerra porque não se sentia em condições.


Com os melhores Cumprimentos,

Sónia Pina

Luís Graça disse...

Luís Graça
16 out 2014 14:41

Cara Sónia:

Obrigado pelo seu desassombrado e público testemunho. Há ainda um enorme hipocrisia na socieda portuguesa do pós-25 de abril em discutir a guerra colonial, e nomeadamente as suas consequências para milhões de homens e mulheres, em Portugal e nos territórios que estiveram sob administração portuguesa e onde decorreu uma guerra que mobilizou, durante 13 anos, mais de 1,3 milhões de homens (quer europeus quer africanos e asiáticos...). Só no teatro de operações da Guiné (que é do tamanho do Alentejo) estiveram mais de 260 mil efetivos...Cada companhia, com cerca de 150 homens, era comandada por um capitão, do quadro ou miliciano.

O seu avô foi uma vítima do sistema. O exército (ou melhor, a máquina burocrática do exército) estava-se nas tintas para a seleção do homem certo para o lugar certo. Houve muitos erros de "casting", ao nível da seleção de comandantes operacionais (como era o caso dos oficiais subalternos, na sua grande maioria milicianos, escolhidos apenas em função das habilitações literárias, da aptidão física e do aproveitamento nos respetivos cursos; todos os outros critérios, nomeadamente os de natureza humana, relacional, psicossocial e social, eram pura e simplesmente ignorados)... E já não falo da formação e do treino...

Houve, no teatro de operações da Guiné, 323 "acidentes (mortais) com armas de fogo" (incluindo minas e armadilhas), um deles o do o seu querido avô que a Sónia não conheceu mas cuja memória quer continuar a lembrar e a honrar. Esse número representa 11% do total nas baixas mortais, na guerra colonial, na Guiné.

O nosso colaborador (e camarada) José Martins já se prontificou para analisar todos esses casos. Na época, para o exército, e para a sociedade portuguesa em geral, o suícidio não era um problema de saúde mental. Nem sequer era um problema. Era tabu. Não se falava de (nem se escrevia) a palavra "suicídio". Hoje, em que morrem 3 portugueses de suicídio por dia, não podemos mais esconder o sol com a peneira. E há possivelmente mais 3 ou 4 vezes mais casos de parassuicídios (incluindo automutilações). Uma tragédia que atinge sobretudo os nossos jovens. Mas na época era assim. Tal como não se admitia sequer a "objeção de consciência". Ou se ia para a guerra ou perdia-se a liberdade e o direito de viver no seu país...

Infelizamente, o caso do seu avô não é único. O grande sofrimento (e o "beco sem saída") em que ele se encontrava, em Jumbembem, pode explicar a sua trágica decisão de pôr termo à vida nesse já longínquo domingo, 10 de julho de 1966, , sem que ninguém o tivesse podido (ou até querido) ajudar. E, no entanto, havia sinais, de que alguns dos seus soldados se terão apercebido quando a companhia foi de Bissau, para Jumbembem, render os "velhinhos" da CART 730...

A cultura castrense é hostil para os que são "outsiders", e para todos aqueles dos seus membros que, num momento ou outro da vida, manifestam algum sinal de fraqueza. seja física, psicológica, mental, espiritual ou intelectual... A máxima (cínica e hipócrita) é: "Dos fracos não reza a história militar"...

Louvo a coragem e a lucidez da sua tia Ana Romero por ter ousado bater á porta da nossa Tabanca Grande e pedido ajuda. Não podemos fazer muito, para além de ouvir e saber ouvir, e tentar transmitir algum conforto a famílias como a vossa cujo coração ainda sangra pela perda de um ente querido numa guerra de que já ninguém se lembra a não ser aqueles, como nós, que a fizeram, e sofreram, na carne e na alma...

Sónia, transmita à sua mãe os nossos votos de solidariedade na dor. Mas também de admiração. Como no caso de outras famílias de antigos camaradas nossos, vocês muito simplesmente quiseram saber a verdade a que tinham direito, e que nada nem ninguém, pode esconder, negar ou escamotear: afinal, como e porque é que o meu pai, o meu avô morreu...

Um beijinho do Luís Graça

Anónimo disse...

Obrigado meu caro Carlos Silva pelo esclarecimento. A minha Cama ficava mesmo em frente dos dois degraus de pedra da "casa amarela" que podem ser vistos na foto a preto e branco.
Ao tempo esse espaço era vedado ao exterior e coberto com capim para que se tornasse mais fresco.
Um abraço
Artur Conceição