terça-feira, 21 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13779: In Memoriam (200): Manuel Simões (1941 - 2014), um português de Bolama, que foi a Conacri ao funeral de Amílcar Cabral, e que andou na escola com 'Nino' Vieira, e que recebia, em Jugudul, de braços abertos, os seus amigos, fossem de Cabo Verde, fossem de Portugal (Manuel Amante / A. Marques Lopes / Xico Allen / António Camilo / José Teixeira)


Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > Recebendo os amigos portugueses, Xico Allen, A. Marques Lopes & companhia. O Manuel Simões, aqui à direita, fazendo as honras da casa. O almoço foi leitão,,, à moda de Jugudul. (À esquerda, de perfil, o A. Marques Lopes).

Foto: © Inês Allen (2006). Todos os direitos reservados


Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O leitão da região do Oio, feito à moda de Jugudul, em casa do Mauel  Simões (aqui de pé, a presidir à mesa), não ficava atrás, bem pelo contrário, do letão à moda da Bairrada. Foi comer e chorar por mais, garantiu o A. Marques Lopes. À direita, em primeiro plano, o jovem Hugo Costa, filho do Albano Costa, de Guifões, Matosinhos. Na comitiva do Porto (um jipe!) também ia a Inês Allen, filha do Xico Allen (que não aparece nestas fotos).

Foto: © Inês Allen (2006). Todos os direitos reservados


Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O A. Marques Lopes, de pé, mais elementos do grupo do Porto, sentados (onde reconheço o Armindo Pereira e o Manuel Costa), em casa do Manuel Simões.

Foto: © Inês Allen (2006). Todos os direitos reservbados



 Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O antigo aquartalemento das NT, em Jugudul, cujas instalações foram cedidas, a seguir à independência, ao Manuel Simões, guineense branco de Bolama, para a sua fábrica de aguardente de cana. O Manuel conhecia o 'Nino' Vieira do tempo da escola, presumindo-se que fossem mais ou menos da mesma  idade.


Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Telefonou-me, esta manhã, da Praia, Cabo Vrede, o nosso camarada Manuel Amante da Rosa, dando a triste notícia de que o seu primo Manuel Simões, de Jugudul, tinha acabado de morrer. 

As notícias tristes espalham-se depressa.  Mas, assim, de chofre, eu não estava a ver quem era o Manuel Simões. Nem reconheci de imediato a voz do Manuel Amante da Rosa que conhecera pessoalmente em Lisboa, uns anos antes, e com, quem já não falava há muito tempo aoa telefone.

O Manuel Amante disse-me que o Manuel Simões era irmão do Januário (se bem percebi. ao telemóvel) e que era conhecido da malta do blogue. Também tinha barcos, tal como pai do Manuel Amante e trabalhou para a tropa durante a guerra. Pedi-lhe para fazer uma pequena notícia, e com uma resenha biográfica. Mas depois, de repente, lembrei-me dele: o Xico Allen, o A. Marques Lopes, a Inês Allen, o Hugo Costa e outros camaradas e amigos tinham estado em abril de 2006 a comer leitão na casa dele... Temos um poste publicado pelo A. Marques Lopes sobre esse memorável visita da malta do Porto a Jugudul (*).

Sei muito pouco sobre o Manuel Simões, para além, daquilo que foi publicado no blogue... Mas é mais um amigo, lusoguineense,  que desaparece. Um resistente. Um português, ou um descendente de portugueses das sete partidas. Entrei em contacto com alguns camaradas que eram visita da sua casa, pedindo-lhes que escrevessem qualquer cois mais para completar as minhas notas, e fazer um In Memoriam...  Sabemso que nasceu em Bolama em 1941.

De qualquer modo e qualquer que fosse a sua crença, e a crença dos seus amigo, só espero que Deus, Alá e os Bons Irãs o guardem em paz. LG

PS - Num outro poste, mais recente (2013), do José Teixeira, eu já tinha encontrado outra referência ao Manuel Simões:


(...) "A pista de Amedalae, ou a estrada transformada em pista de aviação para descarga da malfadada droga, o Matu Cão, do Alfero Cabral, a Ponte dos Fulas, ou o Sr. Manuel Simões. do Jugudul, o senhor que geria a empresa, à qual o exército português fretava os barcos para levar os mantimentos às suas tropas no interior. Amigo do Amílcar Cabral, a cujo funeral foi, transportando a bandeira do clube onde ambos eram associados e não foi preso quando regressou a Bissau. No fim da guerra comprou ao 'Nino' Vieira o quartel do Jugudul e montou um alambique de aguardente de cana". (...) (**)



2. Mensagem, de resposta ao meu apelo, enviada pelo José Teixeira [, foto à direita], às 13h41


Paz à sua alma.

A história que escrevi, sobre a sua ida ao funeral do Amílcar Cabral, foi-me contada pelo próprio Manuel em 2011, quando estive em casa dele, com os meus filhos. Voltei lá o ano passado e notei-o muito acabado e com problemas de saúde, mas como enquanto há vida há esperança...

Conheci-o em 2005, quando voltei à Guiné e, a partir desse primeiro encontro, sempre que fui à Guiné, passava pela casa dele para conversar um pouco

Era um homem extremamente simpático e sabia acolher muito bem. Sempre alegre e bem disposto. Tinha sempre uma história para contar, sobre a vida dele e da família. Antes da guerra, ele, o pai e um irmão comerciavam arroz das bolanhas do sul. O pai e o irmão foram mortos logo nos primeiros tempos de guerra, segundo consta, pelo PAIGC, ficando ele com o negócio.

Como tinham vários barcos, começou a negociar com as Forças Armadas Portuguesas no transporte de mantimentos paras tropas do interior. Era uma pessoa importante no eixo militar pelos serviços que prestava e dava-se bem com todos, tendo naturalmente muitos amigos ligados ao PAIGC, o que não escondia.

Sobre a compra do quartel de Jugudul, eis o que ele mesmo me disse: quando acabou a guerra, telefonou ao 'Nino' Vieira, seu conhecido desde os tempos de escola, e mostrou interesse em comprar o quartel de Jugudul, o que o Nino aceitou, transformando-o numa destilaria.

Em 2013, quando estive com ele, disse-me que tinha encerrado o fabrico de aguardente, devido à abertura de uma destilaria em molde modernos nos arredores de Bissau com produção a custos mais baixos, o que estava a arruinar os fabricantes antigos.

Um bom amigo, cuja morte lamento

Paz à sua alma.

José Teixeira


3. Comentário de LG:

Falei ao telefone com o A. Marques Lopes e o Xico Allen. O Xico era amigo do Manuel Simões, já  de longa data. Ele e o António Camilo,  que ainda há tempos tinha falado com ele ao telefone. O Camilo tinha um jipe, em Jugudul, à guarda do Simões. Ele ter-lhe-á dito, ainda recentemente,  que era preciso as mudar velas do jipe. O Simões tinha ido a Dakar fazer uma intervenção cirúrgica, regressou a casa e parecia estar a recuperar bem. A criada encontrou-o morto esta manhã. O Xico já sabia da notícia através do Camilo.

Obrigado a todos os seus amigos que quiseram compartilhar connosco, através do nosso blogue, estes elementso que ajudam a conhecer melhor um homem e um patrício que viveu toda a sua vida na Guiné, segundo creio. Dele pode dizer-se que foi (é) mais um dos fabulosos portugueses, ou descendente dos portugueses das sete partidas... Parte agora definitivamente para a última viagem,
aquela que já não tem retorno. Espero que o barqueiro de Caronte seja gentil com ele.

Obrigado, Xico Allen, A. Marques Lopes e Zé Teixeira (mas também Manuel Amante, seu prima e António Camilo, visita frequente da sua casa), pela vossa partilha de memórias e de afetos, O Manuel Simões, que andou na escola com o 'Nino' Vieira, era dlois anos mais novo. Morreu hoje aos 73 anos. (***)

______________


Notas do editor:


(...) vou acabar com uma coisa alegre: uma grande almoçarada (um leitãozinho!!) que o nosso amigo Manuel Simões nos ofereceu nas instalações da sua destilaria de aguardente de cana. Ele é o homem grande branco que eu indico nas fotografias tiradas pela Inês. É um guineense branco, nascido em Bolama, companheiro do Pepito e do Lúcio Soares, também nascidos em Bolama. Foi, mais novo, jogador de futebol e chegou a dirigir o clube Balantas.

Dedica-se à aguardente de cana, mas tem também uma ponta [herdade] onde explora caju. Após a independência conseguiu que lhe cedessem o aquartelamento de Jugudul para a sua fábrica de aguardente, deixando apenas uma parte destas instalações para ser montado um posto da polícia de viação lá do sítio... que ainda não existe.

É um amigo sempre de braços abertos, acolhedor, como vêem. Vale a pena visitá-lo. (...)



(**) Vd. poste de 1 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11661: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (3): No antigo corrredor da morte: Gandembel, Balana, Mejo, Guileje ... E as novas tabancas do Cantanhez: Amindara, Faro Sadjuma, Iemberém... E as crianças a correr atrás de nós: Poooorto! Poooorto! (Leia-se: Portugueses, Portugal)


(***) Último poste da série > 6 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13697: In Memoriam (199): Lisboa, Cemitério dos Olivais: a última homenagem ao comandante Alpoim Calvão (1937-2014) (Vídeo de José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)... Missa do7º dia, hoje, às 19h15, na igreja paroquial de Cascais

2 comentários:

Anónimo disse...

Estive em casa do Manuel Simões, em 2009. Eu e a restante comitiva fomos muito bem recebidos mas pouco tempo lá estivemos porque a pressa de chegarmos a Mampatá era omnipotente. A presença dele ali, uma figura como nós, no meio da África, mereceu de mim um ar de espanto. Estou-lhe grato, pela âncora que nos ofereceu.
Que seja feliz no local para onde se transmutou.

Carvalho de Mampatá

Fernando Gouveia disse...

Também estive em casa do Sr. Manuel Simões no dia 09.03.2010 na companhia do Xico Allen, quando visitei a Guiné. Passamos lá uma parte da tarde tendo o saudoso Manuel Simões posto à nossa disposição uma série de cervejas e como não podia deixar de ser a aguardente que ali fabricava.