segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13937: Notas de leitura (653): “Navios com o nome Guiné”, da autoria do Capitão-de-Mar-e-Guerra Carlos Gomes de Amorim Loureiro (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Agosto de 2014:

Queridos amigos,
Graças ao nosso confrade Carlos Pedreño Ferreira, tive agora acesso a algumas pérolas verdadeiras e dou-vos notícia desta.
Nunca vi nenhuma embarcação na Guiné com tal nome e fica aqui um pouco da história dos navios com tal nome.
Vou bater à porta da Revista da Armada e de alguns investigadores, talvez eles saibam se houve navios com o nome Guiné depois dos anos 1960.

Um abraço do
Mário


Navios com o nome “Guiné” 

Beja Santos 

Em edição de autor datada de 1947, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Carlos Gomes de Amorim Loureiro dava à estampa um conjunto de elementos compilados no ano do V Centenário da Guiné. Entende discretear um pouco sobre a história da região e faz uma observação que é extremamente útil para todos aqueles que ainda se sentem confundidos acerca das razões porque no passado a Guiné era conhecida por Senegâmbia: “Constitui a Guiné Portuguesa uma pequena parcela de outrora que, sem remontar à sua primitiva extensão que ia desde o Senegal até às cercanias do rio Orange, compreende, na era atual, a Senegâmbia, a Gâmbia, a Guiné, a Guiné Francesa e a Serra Leoa”.

Passemos para a navegação. Em 1888, constitui-se um serviço especial para a Guiné que era feito pela Empresa Nacional de Navegação A Vapor para a Guiné, parceria marítima formada por José Coelho Serra, que possuía o vapor Cidade da Praia e a Empresa Nacional de Navegação, que já possuía os vapores de Bolama e Bissau. Os vapores Bolama e Bissau foram construídos em Inglaterra nos anos 1880 e o vapor Cidade da Praia em Glasgow.

O primeiro “Guiné” foi um vapor da marinha de guerra, adquirido em 1879. Explica o autor: “Incidentes com o insubmisso gentio da região de Bolor, tornara imperiosa a aquisição de um barco, de caraterística apropriadas à navegação nos rios da Guiné, que pudesse chegar onde era necessário infligir justo castigo. Para tal fim, foram examinados o Silva Americano, vapor de quatro rodas, de 43 metros, construído para a Nova Companhia de Navegação do Quanza, os vapores Sena e Tete, em serviço na província de Moçambique, e até os rebocadores Operário, de 20 metros, do Arsenal de Marinha, e Norte, mas foram todos postos de parte, escolhendo-se um vapor de navegação do Sado, chamado Hugh Perry”. Tinha mais de 34 metros de comprimento e atingia a velocidade de 8,5 milhas por hora, o poder ofensivo era constituído por duas bocas-de-fogo, de bronze, que calibre 86 mm. Para defesa, contra tiros de espingarda e azagaias, tinha uma borda suplementar de ferro. Partiu para a Guiné em Abril de 1879, e ia comboiado pela curveta Bartolomeu Dias.

Escreve o autor: “Este navio contou na sua carreira militar o seguinte episódio, que vem relatado nas efemérides da lista armada da armada de 1899.
Em, Orango, encalhara uma barca austríaca, cuja tripulação foi roubada e maltratada pelo gentio daquela população. O cônsul da Áustria queixou-se, pedindo o castigo daqueles indígenas. Então a autoridade embarcou no vapor Guiné para punir o insulto. Seguiu o vapor para Orango e, em 1 de Junho de 1879, bombardeou a população com as duas peças que possuía, lançando contra ela 324 projéteis. Foi curta a vida deste navio, pois em 1883 naufragou na Guiné”.

Segue-se a história de três paquetes. Em 1905, a Empresa Nacional de Navegação adquiriu o vapor Açor à Empresa Insulana de Navegação. O paquete teve o seu nome mudado para Guiné. Tinha dois mastros e uma chaminé, não muito grande, e era movido por uma hélice. Como todos os barcos desta empresa, passou a usar o casco pintado de cinzento e a chaminé de preto. Manteve-se na carreira onze anos; em 28 de Maio de 1916, terminou a sua existência naufragando no baixo de Rui Pereira, na ilha do Fogo. Em 1922, a empresa Ed. Guedes Lda. adquire o vapor alemão La Plata. Nesse mesmo ano, as firmas Sociedade Agrícola da Ganda, limitada, Companhia do Amboim, e Ed. Guedes Lda., fundam a Companhia Colonial de Navegação que recebe dois navios rebatizados, o La Plata foi rebatizado Guiné. Fora construído na Alemanha, em Hamburgo. Diz o autor que era um belo barco, sem dúvida o melhor que tem servido a Guiné, com desenvolvidas superestruturas, dois mastros elegantes e uma chaminé onde se ostentavam as cores da companhia – verde, branco, verde. Naufragou na Guiné, em 24 de Agosto de 1930, quando seguia de Bissau para Bolama, enxurrou nas Areias Brancas, ficando desde logo condenado a perda total. Para substituir este Guiné, a Companhia Colonial de Navegação comprou o antigo San Miguel da Empresa Insulana de Navegação. Em 1938 foram introduzidos vários melhoramentos o navio ganhou boas acomodações, com lotação de passageiros de primeira, de segunda e terceira classes.

Por último, uma palavra sobre o rebocador do Arsenal da Marinha Guiné. Não se conhece praticamente nada da sua história, e o autor questiona: porquê Guiné, se o Arsenal usava nos seus rebocadores os nomes dos estabelecimentos de marinha, ribeirinhos do Tejo. Admite-se que a máquina deste rebocador possa ter sido aproveitada do navio de marinha que naufragara em Bolama em 1883, mas é uma hipótese. Alguém terá dito ao autor que este rebocador fora construído no Arsenal da Marinha com o destino à província do mesmo nome, mas nunca fora para lá mandado. Nos Anais do Club Militar Naval de 1885 descreve-se uma lancha construída no Arsenal da Marinha com destino à Guiné. Seria esta lancha o rebocador Guiné? Talvez.

No termo do seu trabalho, o autor fala doutros navios de marinha mercante e de guerra que possuíram nomes guineenses. Assim, as lanchas canhoneiras Cacheu e Farim, os vapores Bolama e Bissau e dois rebocadores Bissau, pertencentes ao estado, o último dos quais existia ainda à data da publicação, 1947. E faz um vaticínio: “Resta-nos desejar que um novo "Guiné" apareça, com o desenvolvimento do plano de reorganização da marinha mercante nacional, melhor e maior que os seus antecessores, barco que possua as convenientes acomodações para passageiros, com marcha razoável, 17 ou 18 milhas por hora, a província bem merece para o seu desenvolvimento”.


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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13923: Notas de leitura (652): “Quatro Rios e um Destino”, por Fernando Sousa, Chiado Editora, 2014 (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Anónimo disse...

Na Sorefame-lobito, Angola foi construido um rebocador de 500 cv. o Guiné, muito semelhante ao Malembo que fizemos para os americanos da Cabinda Gulf