quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13945: (Ex)citações (252): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (4) (Coutinho e Lima)

1. Conclusão do comentário feito pelo nosso camarada Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Art.ª Reformado (ex-Cap Art.ª, CMDT da CART 494, Gadamael, 1963/65; Adjunto da Repartição de Operações do COM-CHEFE das FA da Guiné entre 1968 e 1970 e ex-Major Art.ª, CMDT do COP 5, Guileje, 1972/73), ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado no Blogue "O Adamastor":


2.ª Parte do Comentário ao artigo
"Guiné, Guileje e o desnorte do reino" (2)

Qualquer pessoa minimamente informada sobre o que se passava na altura, na região, podia prever, com grande probabilidade de acertar, que o PAIGC, logo que entrasse em Guileje, deslocaria todo o seu dispositivo para Gadamael, tanto mais que tinha ainda uma grande reserva, nomeadamente de munições da armas pesadas, que podia utilizar contra o novo objectivo.

Em minha opinião, impunha-se, ao novo Comandante do COP 5, em Gadamael - Sr. Coronel Durão, promover as seguintes acções:

1. Evacuar, o mais rapidamente possível, a população de Guileje para Cacine, porque em Gadamael só atrapalhava e não tinha nenhumas condições para ali permanecer.
2. Solicitar, de imediato, o reforço urgente de Gadamael, com tropa especial, para impedir, ou no mínimo, criar as maiores dificuldades ao In na fase de instalação do seu dispositivo. Logo que chegasse o reforço, evacuar, para Cacine os militares que estivessem em piores condições, não só para permitir a sua recuperação, como aliviar a sobrelotação da guarnição.
3. Melhorar as defesas do aquartelamento.
4. Patrulhar a zona de acção, com a intensidade possível.

Das 4 acções indicadas, tenho a certeza que a 4.ª foi efectuada.
Relativamente à 3.ª, admito que tenha havido alguma actividade.
As duas primeiras não foram promovidas.

Foi com as tropas no estado em que o Sr. Coronel Durão descreveu e nas situações física e psicológica indicadas pelo médico, que o Sr. Comandante do COP 5 preparou a guarnição para a acção, mais que provável, do PAIGC sobre Gadamael.

Nos diversos patrulhamentos efectuados no período de 22/31MAI, verificaram-se alguns contactos com o In que, compreensivelmente, se furtava ao contacto porque, estando numa fase de implantação do seu dispositivo de ataque, era essa a conduta mais apropriada aos seus objectivos.
Não foi este o entendimento do Sr. Coronel Durão, porque no dia 30 MAI, foi para Cufar (saiu de Gadamael, via fluvial) onde assumiu o Comando do CAOP 3 (Comando de Agrupamento n.º 3), ficando a comandar o COP 5, em Gadamael, o Sr. Capitão Comando, Ferreira da Silva, que tinha chegado nesse mesmo dia 30MAI.
Esta mudança de Comando deve ter sido proposta pelo Sr. Coronel Durão. Se este previsse o que iria acontecer, seguramente que não teria saído naquela data.
Penso que o Sr. Coronel Durão, durante o período em que comandou o COP 5, em Gadamael (22/30MAI73), não pediu nenhum reforço ao Comando-Chefe, pois se isso tivesse acontecido, tal reforço teria sido atribuído.

E pode perguntar-se qual a actuação do Comando Chefe e do seu Estado Maior, no período de 22/31MAI73.

Em 16MAI73, a CCAÇ 3566 (Empada), comunicou por mensagem à REF/INFO do Comando Chefe, “ a presença de carros de combate, na fronteira”, possivelmente para actuar sobre Gadamael, onde a configuração do terreno, mais aberta, era propícia aqueles veículos.

A própria REP/INFO, no seu PERINTREP (Relatório Periódico de Informações) n.º 21/73, (período de 20/27 MAI 73), referia:

“ …INIMIGO
…sendo provável que o IN continue a flagelar… ou GADAMAEL, com a Artilharia de KANDIAFARA, instalando bases de fogos na Rep. Guiné. De assinalar, ainda, os reconhecimentos efectuados ultimamente na área de GADAMAEL, constituindo possível indício de uma acção em força.”

Não obstante tudo isto, nomeadamente a última transcrição, o Comando-Chefe, que, seguramente, tinha muito mais informações do que o Comandante do COP 5, em Gadamael, como é óbvio, não tomou a iniciativa de enviar, para esta guarnição, o reforço que se impunha.

Em 31MAI73, pelas 14H00, o In iniciou as intensas flagelações a Gadamael; até às 18H00 do dia 02JUN73 caíram no aquartelamento cerca de 700 granadas, que provocaram às Nossas Tropas 5 Mortos e 14 Feridos (entre estes os 2 Capitães, Comandantes das Companhias de Gadamael e da que tinha vindo de Guileje), além de avultados danos materiais.

No início da acção do In, a maior parte dos militares e a população saíram para fora do quartel e espalharam-se pelas margens do rio a caminho de Cacine, sem que se conheça, verdadeiramente, o que provocou tal procedimento.

No dia 01JUN, aterrou um helicóptero, em Gadamael, transportando o Sr. Coronel Durão, o Sr. Capitão Manuel Monge e o Sr. Capitão Caetano; o primeiro, depois de inteirar da situação regressou a Cufar, tendo os outros ficado em Gadamael, tendo o Sr. Capitão Monge assumido o Comando do COP 5.

No dia 02JUN, deslocou-se a Gadamael, de helicóptero, o Sr. General Spínola, acompanhado do Sr. Coronel Durão. Pouco depois de aterrar, tiveram que se abrigar numa vala, em consequência do início de mais um flagelação do In. Aproveitando um pequeno interregno do bombardeamento, embarcaram rapidamente. Imediatamente após a descolagem, caiu uma granada, no preciso local onde estivera o helicóptero.

Foi entretanto accionado o reforço, tendo chegado a Gadamael no dia 03JUN a Companhia de Caçadores Paraquedistas 122 (CCP 122), vinda de Cufar (Sector do COP 4); com esta veio o Sr. Major Pára Mascarenhas Pessoa, que assumiu o Comando do COP 5.
No dia 05JUN voltou o Sr. Coronel Durão, reassumindo o Comando do COP 5, até ao dia seguinte quando voltou para Cufar.
No dia 06JUN, chegou a Gadamael a CCP 123, acompanhada do Sr. Ten. Cor. Araújo e Sá, que passou a comandar o COP 5; mais tarde, juntou-se-lhes a CCP 121, que até 31MAI estivera de reforço a Guidage.
Desta forma, o BCP 12 (Batalhão de Caçadores Paraquedistas 12), com as suas 3 Companhias, esteve de reforço a Gadamael.

Não quero deixar de referir que o COP 5, em Gadamael, no período de 15 dias (22MAI/06JUN73), teve 6 Comandantes:
22/30MAI - Sr. Cor. Durão
30MAI/03JUN - Sr. Capitão Ferreira da Silva
01/03JUN - Sr. Cor. Monge
03/05JUN - Sr. Major Pessoa
05/06JUN - Sr. Coronel Durão
A partir de 06JUN - Sr. Ten. Cor. Araújo e Sá

Foi, seguramente, um recorde absoluto, fruto da indecisão do Comando-Chefe sobre Gadamael.
Apesar do considerável e muito importante reforço do Batalhão de Caçadores Para-quedistas (BCP) 12, apresentou-se em Gadamael, em 10JUN, o Sr. Major Leal de Almeida, enviado de Bissau, com a missão de preparar a retirada de Gadamael, que acabou por não se efectuar.

É de toda a justiça realçar a brilhante actuação do BCP 12, em Gadamael, sem a qual, estou certo disso, a guarnição não tinha condições para resistir à acção em força do PAIGC.

Para concluir esta análise sobre Gadamael (porque não estive lá, socorri-me, principalmente, das informações dos Oficiais da Companhia que veio de Guileje, bem como de alguns documentos oficiais), a minha opinião é que o que ali aconteceu foi por NEGLIGÊNCIA e INCOMPETÊNCIA, quer do Sr. Coronel Durão, quer do Comando-Chefe e seu Estado-Maior, pois nenhuma destas entidades teve a capacidade de prever o que, após a retirada de Guileje, tinha grande probabilidade de se verificar, no que respeita à actuação do PAIGC.
Se Gadamael tivesse sido devidamente reforçado, logo a seguir à retirada de Guileje (22MAI 73), tenho a firme convicção que a actuação do In, a verificar-se, teria tido para as NT, consequências bem menos gravosas.

Comparando a actuação do Comando-Chefe e seu Estado-Maior em Guidage, Guileje e Gadamael, a minha conclusão é:

Guidage - COMPETENTE
Guileje - NEGLIGENTE E INCOMPETENTE
Gadamael - NEGLIGENTE e INCOMPETENTE (até ao dia 03JUN73) - REFORÇO ADEQUADO (após 03JUN73)

Na guerra dos 3 Gs, não há nenhuma dúvida que Guileje foi o “parente pobre”, porque não teve direito a qualquer reforço.

Na parte final deste longo comentário, vou indicar documentos que relatam o conhecimento que o Comando Chefe tinha das intenções do PAIGC relativamente a Guileje, bem como a análise da situação feita na Reunião de Comandos, realizada em 15MAI73, em Bissau.

O processo de que fui alvo e na sua folha 608, pode ler-se uma cópia do seguinte documento CONFIDENCIAL, com data de 27DEZ72 (anterior à criação do COP 5 - 08JAN73) :

“ EXTRACTO DO RELATÓRIO DE INTERROGATÓRIO N.º 108
271800DEC72
DE: MAMADU BALDÉ - SEXO: MASCULINO - IDADE: 25 ANOS
GRUPO ÉTNICO: FULA - NATURALIDADE: CACINE - ESTADO: SOLTEIRO
………………………………………………………………………………………………….


INTENÇÕES DO INIMIGO …………………………………………………………………………………………………..

2. NA FRONTEIRA: 
Refere que o In pretende fazer um ataque com bastante força a GUILEJE, porque pretende obter uma maior liberdade de movimentos logísticos e de pessoal no Corredor de GUILEJE. Para isso, ficaram em KANDIAFARA alguns elementos que vieram recentemente dum estágio de Art.ª na RÚSSIA, para fazerem reconhecimentos na área de GUILEJE e preparar essa acção.

MODOS DE ACTUAÇÃO

Os chefes sabem que nas flagelações aos aquartelamentos não têm obtido resultados compensadores e por isso resolveram mandar vários elementos ao estrangeiro receber uma instrução mais adiantada da Artilharia.
Esses elementos ficam a saber trabalhar com cartas topográficas, para poderem determinar com precisão as distâncias de tiro. 
Aprendem também a trabalhar com goniómetros-bússolas e outros aparelhos, assim como ficam a saber através da regra do milésimo converter as correcções métricas em direcção, em correcções angulares. 
Estes elementos ficarão normalmente em observadores avançados durante as flagelações, ligados por telefone às bases de fogos, dirigindo a acção e regulando o tiro.
………………………………………………………………………………………………………………………………”.

Este documento, por mais estranho que pareça, não me foi dado a conhecer, pela REP/INFO do Comando-Chefe, após a minha nomeação para Comandante do COP 5, como era sua obrigação.

Se tivesse tido conhecimento do seu conteúdo, teria apresentado a absoluta necessidade de reforçar Guileje, com o objectivo de impedir ou, no mínimo, dificultar ao máximo, as intenções do In, porquanto os efectivos de que o COP 5 dispunha, não eram, nem suficientes, nem adequados para o efeito.

Mesmo que não me fosse atribuído qualquer reforço, o conteúdo do documento esta-ria sempre nas minhas preocupações e tudo teria feito para contrariar a intenção do In, dentro das possibilidades de que dispunha.

E é lícito perguntar qual o tratamento que tal documento teve por parte da REP/INFO do Comando Chefe. Esta tinha possibilidades e meios para confirmar o que nele era relatado; nem no processo, nem em outra qualquer fonte há informação de que tal tenha sido feito. Se a REP/INFO não procedeu, neste caso, como lhe competia, fez mui-to mal. As intenções do In confirmaram-se plenamente, culminando com a acção em força iniciada em 18MAI73.

Outra pergunta pertinente é a seguinte:  
Como é que um documento tão comprometedor para o Comando Chefe (por, aparentemente, não lhe ter dado a devida atenção), foi parar ao processo?

Em 30JUN73 fiz um requerimento ao Senhor Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné, solicitando que me fossem fornecidas cópias de diversos documentos, que considerava importantes para a organização e fundamentação da minha defesa.

Este requerimento foi objecto do seguinte despacho:

“… Os documentos solicitados devem ser entregues ao oficial de polícia judiciária mi-litar para serem apensos ao auto de corpo de delito, devendo o Major Coutinho e Lima deles tomar conhecimento através daquele oficial…”

Para cumprimento deste despacho, foram entregues ao Sr. Oficial da Polícia Judiciária Militar (PJM), para serem juntos ao auto de corpo de delito 124 documentos, que foram apensos ao processo, constituindo as folhas 485 a 627, sendo que o documento referido é a folha 608.

Incluído num conjunto de 124, tal documento passou despercebido, não tendo mereci-do a atenção de ninguém, nomeadamente do Sr. Oficial da PJM; se este o tivesse lido, certamente não seria apenso ao processo, por motivos óbvios.

Acta da reunião de Comandos realizada, em Bissau, em 15MAI73

Em 15MAI73, teve lugar no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, sob a presidência do Sr. General António de Spínola, uma reunião de Comandos, na qual participaram os Senhores Comandantes dos 3 Ramos das Forças Amadas - Exército, Marinha e Força Aérea, o Sr. Comandante Adjunto Operacional. o Sr. Chefe de Estado-Maior do Comando-Chefe e os Senhores Chefes das Repartições de Informações (REP/INFO) e de Operações (REP/OPER).

A acta dessa importante reunião, com 63 páginas encontra-se no Arquivo Histórico Militar e já foi difundida no nosso blogue.

Dessa acta, transcrevo, a seguir, algumas declarações

O Sr. Comandante Adjunto Operacional - Sr. Brigadeiro Leitão Marques, afirmou:

"..............
No mínimo, e disso não restam quaisquer dúvidas, o IN está a preparar as necessárias condições de destruição de guarnições menos apoiadas por dificuldades de acesso (GUIDAGE, BURUNTUMA, GUILEJE, GADAMAEL, etc), a fim de obter os êxitos indispensáveis à sua propaganda internacional e manobra psicológica - isto está já ao alcance das suas possibilidades militares.
Quanto às vantagens para a manobra psicológica In, não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros em número tal que possa constituir um elemento de pressão psicológica sobre a Nação Portuguesa.
..............
Assisti ao pressionamento psicológico ao povo americano, por causa dos seus prisioneiros no Vietnam do Norte durante quatro anos e senti em toda a sua profundidade o efeito desmobilizador desse pressionamento, o qual, em larga medida, juntamente com o elemento económico, levou à agitação interna das massas e à capitulação, apesar de todo o poderio militar americano.
O que acontecerá se tivermos de enfrentar situação semelhante?
................."

Nota - Os sublinhados são meus.

Da intervenção do Sr. Chefe da REP/INFO ( Sr. Ten Cor. de Inf.ª Artur Baptista Beirão), transcreve-se:

"...........
No imediato, julga-se que o IN:
..........
intente uma acção tipo convencional com carros de combate contra GADAMAEL. GUILEJE e/ou BURUNTUMA, tirando partido da vulnerabilidade destes pontos a este tipo de acções e visando o aniquilamento ou captura das guarnições;
..........
Num futuro próximo, prevê-se que o IN, partindo do clima de denso agravamento que a sua actividade imediata proporcionará:
_ tente a eliminação sistemática das guarnições mais expostas sobre a fronteira, em acções isoladas de tipo convencional;…
...........
Resta referir, a finalizar, ...não permitem, como desejaria, uma melhor adjectivação das zonas preferenciais de esforço do IN...
...e apenas pode concluir-se por uma situação na qual todo o TO, sem qualquer exclusão, acaba por constituir uma vasta área de preocupação, na qual dificilmente se podem, no momento, visualizar priorizações.
..........."

Da intervenção do Sr. Chefe da REP/OPER (Sr.TCor. do CEM Mário Martins Pinto de Almeida), transcreve-se:

"............. 
Se não forem concedidos os reforços solicitados as armas que permitam às NF enfrentar o IN actual
.........
julga-se que será necessário remodelar o dispositivo, reforçando guarnições que sob o ponto de vista militar se considerem essenciais e que permitam, à luz de outras concepções de manobra, desencadear mais tarde acções ofensivas de grande envergadura para recuperação das posições enfraquecidas, ou estruturar uma manobra de feição caracterizadamente defensiva baseada na implantação de um certo número de pontos de apoio a sustentar a todo o custo. Mas neste caso, as missões actualmente dadas às NF, em termos de protecção das populações e apoio ao esforço principal da manobra de contra- subversão centrado na manobra sócio-económica, teriam de ser revistas.
...........
A ameaça de utilização, pelo IN, de carros de combate, em golpes de mão sobre as guarnições de fronteira, aconselha a, desde já, dotar, pelo menos as guarnições indicadas pela Repartição de Informações como mais susceptíveis de ataques deste tipo, de meios que permitam a sua defesa anti-carro. Com o armamento que possuem e com o pessoal treinado para o tipo de guerra que temos enfrentado até ao presente, as guarnições apresentam-se impotentes e inaptas para fazer face à nova ameaça."

Lembra-se que, na data (15MAI73), em que se realizou a Reunião de Comandos, já estava em curso, desde 08MAI, o ataque do PAIGC a GUIDAGE: É bastante estranho que, na acta da referida reunião não apareça nenhuma alusão a tal acontecimento.

As transcrições atrás indicadas, merecem-me os comentários seguintes.

Acerca da intervenção do Sr. Brigadeiro Leitão Marques, Comandante Adjunto Operacional que, em 22MAI73, foi nomeado, pelo Sr. General Comandante-Chefe para proceder a auto de corpo de delito contra mim. Se eu tivesse conhecimento desta acta de Reunião de Comandos, quando fui por ele ouvido, em 31MAI73, perante a última pergunta:

"Quando decidiu retirar tinha ponderado os altos prejuízos para a Nação resultantes desse procedimento?

Certamente, ter-lhe-ia respondido com a pergunta seguinte:

Pensou bem na hipocrisia desta pergunta, face às suas declarações na Reunião de Comandos de 15MAI73?

Acerca das declarações do Sr. TCor. de Inf.ª Artur Baptista Beirão, Chefe da Repartição de Informações, teria formulado as seguintes perguntas:

- Quais as diligências que mandou efectuar, relativamente ao Relatório de Interrogatório, feito em 27DEZ72, ao nativo Mário Mamadu Baldé, tendo em vista a verosimilhança e fiabilidade desse relatório e a que conclusões chegou?

- Porque não me foi dado conhecimento desse relatório, depois de eu ter sido nomeado, em 08JAN73, Comandante do COP 5?

- Porque julgava que o IN, intentasse, no imediato, "uma acção tipo convencional, com carros de combate, contra GADAMAEL, GUILEJE,...", quando esta comunicação da Companhia de EMPADA, em 9 MAI 73, foi rectificada por outra mensagem da mesma Companhia?

- Porque não foi enviada ao COP 5, em 15 MAI 73, a mensagem 586/C da Companhia de BEDANDA, informando a chegada em 10 MAI, de 4 grupos vindos da REP. GUINÉ e a chegada a KANDIAFARA de cerca de 50 cubanos.

- As mensagens das Companhias de EMPADA e BEDANDA, associadas a outras eventuais informações que a REP/INFO tinha, não eram suficientes para prever, com grande probabilidade um ataque do IN a GUILEJE?

Acerca das declarações do Sr. Ten. Cor. do CEM Mário Martins Pinto de Almeida Chefe da Repartição de Operações, teria feito as seguintes perguntas:

- Nas suas declarações na Reunião de Comandos de 15MAI73, quando referiu que era necessário reforçar guarnições... que se considerassem essenciais, estava a pensar na guarnição de GUILEJE? Se a resposta for SIM, que propostas fez para que esta guarnição fosse reforçada?

- Tendo afirmado que era necessário dotar com meios de defesa anti-carro, as guarnições que a REP/INFO considerasse mais susceptíveis de ataques desse tipo e tendo esta Repartição indicado GUILEJE como uma das mais ameaçadas, no imediato, que propostas fez para que GUILEJE fosse dotada de meios de defesa anti-carro.

Da análise das transcrições anteriores da Acta da Reunião de Comandos de 15MAI73 dificilmente se pode entender que não tenha saído dessa reunião a necessidade urgente de reforçar Guileje.

Infelizmente não se conhece como o Sr. Chefe da REP/OPER (o primeiro responsável pela condução das operações, por parte das NT), pretendia resolver a situação de Guileje, após o início da acção In, em 18MAI73, porque tal não lhe foi perguntado pelo Sr. Brigadeiro Leitão Marques, no âmbito do processo, nem aquele teve a iniciativa de abordar este assunto, vá lá saber-se porquê.

Conhece-se, no entanto, como o Sr. General Spínola, via o problema. Para isso, transcrevo parte do depoimento do Sr. Coronel Para Rafael Durão, no processo:

“… No dia 21 recebi directamente de Sua Excelência o General Comandante-Chefe, ordem para manter a todo o custo o destacamento de GUILEJE, naquele local, para o que devia verificar as necessidades em meios para lá colocar os abastecimentos de toda a ordem.”

É de salientar a maneira redutora como o Sr. Comandante-Chefe analisava a situação, limitando-se a referir o problema dos abastecimentos. Muito mais importante era a neutralização da bases de fogos do In, para aliviar a pressão sobre Guileje.
A manutenção “a todo o custo”, é a missão que implica a resistência até ao último homem.
Numa altura em que nem o próprio Sr. General Spínola acreditava na solução militar para a guerra, é caso para nos interrogarmos se a Missão que atribuiu ao Sr. Coronel Durão, nas circunstâncias concretas vividas em Guileje, era aceitável e, se pelo contrário, não era um sacrifício injustificável a que ficavam sujeitas a guarnição e a população de Guileje.

Para terminar a análise ao artigo do Sr. Ten. Cor. Pil. Av. Ref. Brandão Ferreira, devo dizer que em tempos, tivemos o ARNALDO MATOS, o EDUCADOR DO POVO.
Qualquer dia vamos ter BRANDÃO FERREIRA, o REGENERADOR DO REINO. Para começar e por uma questão de coerência, para responder a uma “duvida existencial”, deve procurar regenerar os programas de ensino “dos cadetes e comandantes das actuais Forças Nacionais destacadas".

Com os meus cumprimentos
Alexandre da Costa Coutinho e Lima
(Cor. de Artª. Ref.- Comte do COP 5, em Guileje)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13942: (Ex)citações (251): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (3) (Coutinho e Lima)

6 comentários:

JD disse...

Duvido que a guerra dos 3 "guês" tenha acabado. Há, sobre estes casos, persistências absolutamente desadequadas para reforço das convicções pessoais.
Coutinho e Lima trouxe aqui, não só as condições de que dispunha para a defesa dos aquartelamentos dependentes do COP-5, como documentos que evidenciam o "desnorte" de quem não prestou a suficiente atenção ao conjunto de informações disponíveis, o que pode considerar-se um terrível erro de avaliação e , provavelmente, de ocultação, em traição ao dever de lealdade. Normalmente, quem se lixa é o mexilhão que, se teve alguma responsabilidade, não pode carregar com ele as maiores responsabilidades de quem tinha conhecimento, meios de avaliação e reacção, mas foi negligente.
Não considero o Cor. Durão o primeiro responsável, até por, naturalmente, ter partilhado da mesma ignorância sobre a ameaça, que Coutinho Lima aqui declara.
Novamente sou obrigado a partilhar de uma conclusão de Moura Calheiros que cito de cor: os heróis estavam em Bissau, e refere na pg 624 de "A Última Missão": «Quando hoje lemos algo sobre aquele período da guerra na Guiné, parece que tudo o que de bom ali foi feito se deve a um pequeno grupo de militares próximos do Gen. António de Spínola, cujos nomes são exaustivamente citados... pois em nada contribuíram para a situação que se criou».
Com isto quero dizer, que não devemos ser juízes de causas desconhecidas, embora possamos opinar com as necessárias reservas.
JD

Anónimo disse...

Há mexilhões e ...mexilhões

Quando o mar bate na rocha....

Quem se lixou foi o mexilhão-major Coutinho e Lima ao ser humilhado e vilipendiado e principalmente todos aqueles que deram o corpinho ao manifesto..

Supostamente o acto do Sr. Coronel Coutinho e Lima constituía um crime grave...

Entre os acontecimentos e o 25A /74 decorreu quase um ano..tempo mais do que suficiente para o seu julgamento..

Porque é que não foi julgado ???

Gostava de uma explicação plausível e simples...porque eu sou meio atrasado mental.

Certamente haverá algum adiantado mental que me possa explicar...

MEXILHÕES..MESMO MEXILHÕES FORAM TODOS AQUELES QUE LÁ ESTAVAM E OS QUE SE SEGUIRAM...ACRESCENTO MAIS..SERÁ QUE NÃO FOMOS TODOS..COMO COMBATENTES..

Um alfa bravo do tamanho do mundo ...e arredores.

C.Martins

Unknown disse...

Coutinho e Lima, um comandante no seu labirinto, abandonou Guileje, em consciência profissional e com indubitável coragem moral para arrostar todas as consequências, inclusive o risco de lhe acontecer em Gadamael e aos seus militares, o que ousara evitar em Guileje. O direito de defender, ferozmente, a sua honra não prescreverá, sobretudo ante quem deu com os costados na guerra da Guiné, sofreu continuadamente as privações, sacrifícios, angústias, vigílias e a eternidade dos momentos debaixo do IN, até porque o mesmo general que lhe decretara a prisão preventiva fechada e o "auto de corpo de delito" para julgamento marcial foi o mesmo que promulgou a amnistia do seu acto e não lhe embargará a progressão ao topo da carreira, suponho eu.
O TC Brandão aborda o "desnorte do reino", a atingir a "Spinolândia" e não propriamente a pessoa do nosso prezado camarada e tabanqueiro. O abandono de Guileje é um facto acontecimental; agora, só a história interessará... da originalidade de Portugal (caso o único) "obrar" uma descolonização, em troca do seu empobrecimento!
Porque estive sujeito a "lerpar", no comando numa escolta de reabastecimento de água, narrada neste blogue, e como a desgraça de Guileje/Gadamael começou no reabastecimento de água, reitero a pergunta, formulada no anterior comentário: Porque é que ao fim de 10 anos de ocupação e de tanta intervenção da Engenharia Militar, Guileje não tinha exploração de água, no seu perímetro defensivo?
Um abraço,
Manuel Luís Lomba

Anónimo disse...

“A retirada de Guilege” , pg. 281 (extracto)
2.° Redução da actividade operacional da CCAV 8350

A partir de 30 ABR 73, foi solicitada e autorizada (com a obrigação de manter os reconhecimentos na direcção de MEJO), a redução da actividade operacional da CCAV 8350, sedeada em GUlLEJE, no sentido do esforço principal ser orientado para as obras do aquartelamento, que estavam atrasadíssimas; este problema foi por mim exposto no 1º dia de existência do COP 5- 22Jan73 – e só em ABR73 foi autorizada a realização de algumas obras, ou seja, passados mais de 3 meses.

A redução da actividade, ao mínimo, permitiu ao Inimigo fazer os reconhecimentos à vontade e instalar o seu dispositivo sem grandes perturbações o que não teria acontecido se a actividade operacional decorresse no ritmo normal.

Comentários para quê?
Henrique Silva

constantino disse...

O "HERÓI" DE GUILEJE."

RECOMENDO-LHE QUE SE REMETA AO SILÊNCIO E DEIXE DE CONTAR PATRANHAS A QUEM NÃO(AS) MERECE.
ESTÃO,SOBEJAMENTE, IDENTIFICADOS OS FIGURÕES QUE OPTAM PELA NARRATIVA(VERGONHOSA), DOS MOTIVOS QUE LEVARAM À FUGA DE GUILEJE.
TANTO O SENHOR CORONEL COMO O SEGUNDO CMDT DA CCAVº. 8350 NÃO PASSARAM DE DOIS(FRACOS) MILITARES QUE ENVERGONHARAM AS FORÇAS ARMADAS DE PORTUGAL.
AS VOSSAS NARRATIVAS NÃO PASSAM DE VÃS TENTATIVAS DE DISTORCEREM A VERDADE DOS FACTOS OCORRIDOS EM GUILEJE.
NÃO POSSO FICAR INDIFERENTE AO MODO POUCO SÉRIO COMO ALGUNS ACREDITAM E CORROBORAM AS VOSSAS MIRABOLANTES NARRATIVAS.
NOTE-SE QUE A TÁCTICA DESTA "GENTE" É ABSOLUTAMENTE COMPATÍVEL COM O SEU REGIME PRETENSAMENTE DEMOCRÁTICO.
POBRE PAIS E POBRE POVO QUE SE VÊ OBRIGADO A TOLERAR TAIS PARASITAS.
O CONTRADITÓRIO DEVE ELEVAR-SE HÁ GRANDEZA DE CARÁCTER E ADMITIR A VERDADE DOS FACTOS.
A RELUTÂNCIA DE ALGUNS EM ADMITIR A SUA IGNORÂNCIA SOBRE A MATÉRIA EM CAUSA É BEM REVELADO DA SUA DESONESTIDADE INTELECTUAL.
TRATA-SE DE UM COMPORTAMENTO EIVADO DE COVARDIA O QUE É SEM DUVIDA O SEU IDEAL DE VIDA.
GENTE ASSIM NÃO MERECE CRÉDITO NEM RESPEITO.

BEM HAJAM,
CONSTANTINO COSTA
PIRATAS DE GUILEGE

Hélder Valério disse...

Fico com uma dúvida:

Tudo o que é bolsado no comentário do amanuense frustrado é um auto-retrato?

A dúvida vem do facto de 'exigir' um contraditório "elevado pela grandeza de carácter", mas acrescenta que deve "admitir a verdade dos factos". Ora bem, o que está no artigo é o ponto de vista, a análise, o relato "dos factos" (pelo menos na visão, no entendimento) de quem está a defender o seu ponto de vista. Concorde-se, ou não.
Quanto "à verdade dos factos".... pelos vistos cada qual tem a sua e o comentarista só admite a sua, a "boa"!

Hélder S.