terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13995: A minha máquina fotográfica(4): (i) Comprei em Cabo Verde uma Yashica Electro 35 a um primeiro srgt que se dedicava ao contrabando; e (ii) improvisei um estúdio de fotografia (José Augusto Ribeiro, ex-fur mil da CART 566, Cabo Verde, Ilha do Sal, outubro de 1963 a julho de 1964, e Guiné, Olossato, julho de 1964 a outubro de 1965)

1. Mensagem de José Augusto [Miranda] Ribeiro, ex-fur mil da CART 566, Cabo Verde (Ilha do Sal, Outubro de 1963 a Julho de 1964) e Guiné (Olossato, Julho de 1964 a Outubro de 1965):


Data: 8 de dezembro de 2014 às 00:19

Assunto: Sondagem: Tinhas máquina fotográfica no TO da Guiné ?


Sim, já tinha máquina fotográfica quando entrei no serviço militar. Essa máquina era um pequeno "caixote".

Em Cabo Verde comprei uma Yashyica Electro 35, a um primeiro sargento que se dedicava ao contrabando. Paguei 1750 escudos, equivalente ao meu ordenado mensal, como professor, no ano anterior em Portugal. Entrei na Guiné com a máquina (em punho) numa mão e a G3 na outra.

Na Ilha do Sal um soldado tinha encontrado à beira mar uma boía de vidro. Fiz-lhe um pequeno orifício, no local onde terá partido uma espécie de argola.Enchi-a de água para fazer de condensador. Claro, sem ferramenta nem material adequado foi difícil fazer um ampliador. Mas fiz. Com as tábuas de um caixote de sabão e o serrote e o martelo que fui pedir emprestado ao nosso pescador, lá ajeitei o dito ampliador. Pedi à minha irmã mais nova para comprar, em Coimbra, e me mandar um dispositivo para revelar as películas e o pó que misturei com água para fazer o líquido revelador de películas. Pedi também duas tinas uma para revelar o papel que teria de mergulhar por breves segundos no líquido revelados de fotografias e logo em seguida, na outra tina, teria de mergulhar por mais tempo as fotografias no líquido fixador. Dentro do ampliador tinha um espelho e uma luz branca que projectava raios difusos, um condensador (feito com a boia já referida) que transformava os raios difusos em raios paralelos. Em seguida ficava a película (negativo do filme).

Mais à frente um tubo que tinha a objectiva da velha máquina de fotografar e por fim o papel de fotografia que segurava na parede.A focagem era feita andando com o tubo para dentro ou para fora do caixote, só com a luz vermelha. Quanto mais longe estivesse da parede maior era a fotografia, mas mais imperfeita ficava. Depois apagava a luz vermelha e acendia a branca, por breves segundos, que iria marcar o preto da fotografia.

Fiz centenas que vendi barato, porque também não eram muito perfeitas.

JRibeiro



Foto  206 > Passagem por uma tabanca no mato



Foto 216 > Antes de dormir, uma cachimbada



Foto 218 > A máscara do feiticeiro


Guiné > Região do Oio > Olossato > CART 566 (Julho de 1964 a Outubro de 1965) > Algumas das muitas fotos do álbum do José Augusto Ribeiro.


Fotos (e legendas): © José Augusto Ribeiro  (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

2. Comentário de L.G.:

Meu caro José Augusto, é bom ver-te por estes lados, da Tabanca Grande. O nosso poilão continua frondoso e acolhedor.

Sabes, tão bem como eu, que recordar é viver. E apraz-me registar a tua paixão pela fotografia. Adore o detalhe e o carinho com que falaste do teu "estúdio fotográfico" da Ilha do Sal...

[Foto à esquerda, a Yashica Electro 35. Fonte: Wikipedia, com a devida vénia].


Entretanto, peço-te que me confirmes o mês ( ?) e o ano em que compraste a tua Yashica Eletroc 35. Segundo o portal Camerapedia Wikia, este modelo foi lançado em 1966, já tu devias estar de regresso a casa.

Outra coisa: a tua série "História da CART 566 (Bravos e Sempre Leais)" aguarda a continuação... Só se publicou um poste, salvo erro...

Sei que há outras coisas mais divertidas e seguramente mais importantes para fazer quando se tem 70 e picos... Mas tu és de uma geração de combatentes em que a literacia (funcional e informática) é baixa... Não te peço que escrevas pelo resto do pessoal do caqui amarelo, mas a história da vossa passagem pela Guiné interessa-nos, a todos, incluindo os nossos netos e bisnetos...

Um xicoração natalícia. Muita saúde e longa vida. Luis

PS - Tens magníficas fotos que eu preciso de revisitar e reeditar para melhorar as valorizar... Se quiseres mandar mais (, incluindo as de Cabo Verde), agradeço... E a mandar, manda sempre com boa resolução (c. 1 MB ou mais).
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3 comentários:

Anónimo disse...

Também comprei uma maquina igual em Bissau em Agosto/1974.

Vasco ferreira

A. Murta disse...

Caro José Augusto Ribeiro
Fiquei perplexo ao ler a descrição do teu "laboratório" e, depois, ao ver as fotografias aqui publicadas. Não queria ficar com esta dúvida: estas fotos foram reveladas e impressas pelo método que referiste? Com esta gama de cinzentos e esta qualidade de fixação? Lindíssimas. Eu, com o material adequado, embora sem controle de temperatura nem água corrente, enfim... não conseguia, no geral, fotos assim. Eram mal lavadas e fixadas e o tempo revelou-se inclemente com elas. Felizmente já as digitalizei há muitos anos, senão, acho que já não ia a tempo. Comprei, com mais três alferes, todo o equipamento que era do pessoal que fomos render. Passei noites a fio a trabalhar na palhota que era o nosso "estúdio". Um dia, depois de uma ausência prolongada em operações, cheguei a Nhala e já não tinha estúdio. Um macaco, que vivia com a população, destruiu o telhado da palhota, arrancando a palha toda. Na época da chuvas! Acabou-se, para meu grande alívio.
Um abraço deste periquito entusiasta da fotografia.
António Murta.

Anónimo disse...

Caro José Augusto
Eu também comprei uma Yashica Electro 35 em Agosto de 1974.
Com alteração do comercio de baterias não consigo comprar a bateria que esta maquina usa. Poderás ajudar-me indicando uma alternativa á bateria original.

Vasco Ferreira