terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14213: Historiografia da presença portuguesa em África (57): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: monumentos - Parte I (Mário Vasconcelos): destaque para o edifício da administração civil (Bissau) e o monumento aos pilotos italianos mortos em 1931 (Bolama)











Imagens de zincogravuras, reproduzidas, bem como as legendas,  com a devida vénia, de Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*).

Digitalizações: Mário Vasconcelos (2015) / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



1. Trata-se de uma gentileza do nosso camarada Mário Vasconcelos [,ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72,Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, desta edição, no espólio do seu falecido pai.


A segunda foto, a contar de cima, diz respeito ao edicio da administração civil que ficava na avenida principal de Bissau, a Av da República, que vinha da Praça do Império até ao cais do Pidjiguti (, hoje, Avenida Amílcar Cabral), no lado esquerdo quando se descia... No mapa com os edifícios construídos no tempo do Estado Novo, publicado por Ana Vaz Milheiro, é o nº 17 (Vd. poste P14211, de ontem). Um quarteirão antes, ficava a sé catedral (nº 2), seguida depois pelo cinema UDIB (nº 16) e na praça do Império ao monumento "Ao Esforço da Raça" (nº 14) e o palácio do Governo (nº 1).

O edifício da administração civil data do período de 1950-59, sendo da responsabilidade do Gabinete de Urbanização do Ultramar (GUU). Este e outros edifícios administrativos construídos na época "não inovam tipologicamente em relação aos seus congéneres oitocentistas" da metrópole: apresentam "um composição baeada em volumes depurados e representativa da organização interna".  Exemplos de uma arquitetura "monumental e propositadamenrte figurativa", são todavia bastante simplificados em termos ornamentais, "talvez por influência dos princípios incutidos por Sarmento Rodrigues (grande durabilidade; forte resistência aos maus tratos; baixo custo de manutenção" ) [Milheiro, Ana Vaz, e Dias, Eduardo Costa - A Arquitectura em Bissau e os Gabinetes de Urbanização colonial (1944-1974). usjt - arq urb , nº 2, 2009 (2º semestre), p. 103].

2. Sobre a primeira foto, com o monumento aos pilotos italianos... Já aqui abordámos o tema (**). Trata-se de um homenagem da Itália de Mussoilini aos seus 5 aviadores, vitimas de queda dos seus aparelhos em 5 de Janeiro de 1931 quando faziam a ligação Itália/Brasil com escala por Bolama.

Não é por acaso que a Itália (e os italianos. incluiindo os seus missionários...) sempre tiveram um olho nos antigos territórios da Guiné e de Cabo Verde... Já em 1939, antes da guerra - se não me engano - o Governo português autorizara o Mussolini a arrancar com o seu ambicionado projecto de construção de uma aeroporto na Ilha do Sal, indispensável para a ligação da Itália com os países da América do Sul onde residiam importantes comunidades italianas... A guerra frustrou os intentos de ambos os Governos.

Mas já antes, no início de 1931,  tinham caído na Guiné, em Bolama, então capital da colónia, dois hidroaviões da esquadrilha de Italo Balbo (o Gago Coutinho italiano...) que tentava fazer a ponte aérea entre Roma e o Rio de Janeiro...

Desse desastre resta na ilha de Bolama, ainda surpreendentemente intacto (?), um monumento em pedra com a legenda "Mussolini ai Caduti di Bolama», inaugurado em Dezembro de 1931...

A esquadrilha, com 14 aparelhos, de Italo Balbo (apontado mais tarde como um rival de Mussolini, e morto em 1940, na Líbia, pela prórpia artilharia antiaérea italiana!), chegou a Bolama no dia de Natal de 1930. Era o último ponto de paragem em África, justamente por ser o mais próximo de Porto Natal, no Brasil. Depois de vários dias em Bolama para reparações e à espera de condições atmosféricas favoráveis, voltaram a levantar voo a 5 de janeiro de 1931. Caíram 2 aparelhos, provocando 5 mortos. Os restantes chegaram ao Rio de Janeiro,  no dia 15. 

3. O jornalista e escritor português Amândio César visitou, em março e abril de 1965, a Guiné, em missão de reportagem para a Emissora Nacional. Visitou naturalmente, Bolama, tendo escrito sobre este monumento o seguinte: 

(...) "Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.

O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. 

É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado." (...)

Fonte: Extratos de: César, A. - Guiné 1965: contra-ataque. Braga: Pax, 1965.

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1 comentário:

Luís Graça disse...

Para além dos exemplos históricos que o António Martins de Matos cita no posta a seguir P14215, de vítimias do "fogo amigo", temos o caso do Italo Balbo (Ferrara, Itália, 6 de junho de 1896 — Tobruk, Líbia, 28 de junho de 1940)...

É aqui referido a propósito do nomunento de Bolama, erguido em homennagem aos cinco pilotos italianos mortos na primeira viagem transatlântica de Italo Bablbo, de itália ao Brasil (Orbetello, 17 de dezembro de 930 - Rio de Janeiro em 15 de janeiro de 1931).

Dos 14 aviões Savoia-Marchetti S.55, apenas onze concluíram a viagem. 5 pilotos morreram ao descolar da ilha de Bolama,...

Ministro da aeronáutica do seu país e governador da Líbia, à época, colónia italiana, viria a morrer, anos mais tarde, em 28 de junho de 1940, quando o avião em que viajava foi abatido por engano pela artilharia antiaérea italiana em Tobruk, na Líbia.

O sue Savoia-Marchetti SM.79 foi confundido com uma aeronave inimiga, na sequência de um ataque anterior da força aérea britânica a Tobruk. Ao que parece, os disparos que o atingiram foram efetuados pelo cruzador San Giorgio.

Foi enterrado em Trípoli. Os seus restos mortais só mais tarde em 1970, regressaram à sua terra natal.

Oficialmente o acontecimento foi considerado um acidente. Houve especulações sobre eventual assassinato politico, a mando de Mussolini, versão que hoje não tem fundamento histórico.

Para saber mais:

https://www.youtube.com/watch?v=7ftmdQwAz7Q

http://en.wikipedia.org/wiki/Italo_Balbo