sábado, 14 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14362: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (2): Viagem até Mansambo

1. Em mensagem do dia 10 de Março de 2015 o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) enviou-nos a sua segunda recordação da CART 2520:


Recordações da CART 2520

2 - Viagem até Mansambo

Caro amigo Luís Graça
Ao terceiro dia de estadia no Xime, seguiu o meu 3.º Pelotão da CART 2520 com destino a Mansambo, com uma paragem em Bambadinca.
Foi uma jornada feita com muitos receios, pois era a primeira vez que saíamos do arame farpado e com poucos dias de Guiné. Tudo nos parecia muito estranho, até o facto de um alferes correr atrás das bajudas, quando parávamos nas tabancas que fomos encontrando pelo caminho. Mas o que mais me marcou foram algumas crateras que foram surgindo ao longo da picada, supostamente provocadas pelos rebentamentos de algumas minas e até chegámos a ver pedaços de camuflados pendurados nalgumas árvores.

De vez em quando descíamos das viaturas e fazíamos determinados percursos a pé. As matas eram muito cerradas, às vezes ouvíamos "ladrar", mas a tropa de Mansambo dizia:
- Tenham calma, são apenas macacos.

Chegados ao nosso destino e para minha grande alegria, encontrei à entrada do aquartelamento, o furriel Afonso, de Armas Pesadas e que tinha sido meu camarada, como Cabo Miliciano, no RAL 4 em Leiria.

Em Mansambo permanecemos cerca de três semanas, tivemos um treino operacional tranquilo, com uma ou duas idas a Bambadinca, nas quais eu não participei, curtas saídas ao mato e algumas idas a uma fonte para abastecimento de água.
Nesta fonte a Companhia aí sediada teve graves problemas.

Deste quartel, lembro-me apenas do nome de um furriel, que era Rei, além do Afonso que já era meu conhecido. Recordo-me do furriel enfermeiro que me tratou dos pés, pois ao fim de 10 ou 12 dias, estavam cheios de micose, talvez por descuido meu. A partir daí aceitei os seus conselhos, pois estar em África não é o mesmo que estar na Europa.

Findo este tempo voltámos ao Xime, não sem antes fazermos nova passagem e pernoita em Bambadinca e se a memória não me falha, foi na noite seguinte que fomos pela primeira vez fazer segurança à ponte sobre o rio Udunduma, que o IN tinha dinamitado havia pouco tempo.

Acontece que os "turras" a partir da zona dos Nhabijões, atacaram Bambadinca e nós sem termos a mínima ideia do sítio onde estávamos, atirámos na direcção dos clarões, duas ou três morteiradas, contribuindo assim para a retirada do IN. Se tivéssemos já alguma experiência, podíamos ter feito "ronco".
No dia seguinte apareceu o oficial de operações de Bambadinca para saber o que se tinha passado. Mandou chamar o Cabo Cordeiro, operador do morteiro 60 e deu-lhe os parabéns.

Foto 1 - Sou o primeiro da direita, a seguir é o furriel Afonso dos Obuses. O que está sentado é o furriel enfermeiro. Dos dois alferes e que estão de pé, não me lembro do nome. 

Foto 2 - O primeiro da direita é o furriel Rei, o terceiro é o rapaz encarregado da messe. 

Com um grande abraço
José Nascimento
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Nota do editor

Vd. primeiro poste da série de 10 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14341: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (1): Os Cabos também faziam Planos de Operações

6 comentários:

Torcato Mendonca disse...


Olá Nascimento, bem vindo a este lugar de memórias e de gente fixe

Estás a falar da ida á minha Tabanca. O Fur. Rei era do meu grupo de combate, o Fur. Afonso era de Artilharia que estava em Mansaambo e os dois Alf. era da minha Companhia. Eu não me lembro de uma 2520 por lá. O nome não me é estranho e parece que fui ao Xime fazer uma Op (fim de Ag.inicio de Set/69 e voces foram. O v/Cap. era de Braga, Guimarães e dava aulas num Liceu por lá.Seria.Tenho por ali apontado. Eu e o meu Grupo estariamos no mato (Tabancas em Auto Defesa?)mas com o Rei aí...os camuflados em cima das árvores ainda tinham carne dos camaradas Milicias que "voram" por lá vtimas de uma mina seguida de emboscada. Quem a deflagrou deixou lá os miolos pois levou um tiro nos cornos, Grandes Soldados Milicias do 145.
O meu nome é Torcato e era Alf. na 23339 e aí vai um abraço

Anónimo disse...

Torcato! Essa foi a minha primeira operação.

Abraço!

J.Cabral

Torcato Mendonca disse...

Obrregou,Jorge.
Tivemos um briefing, antes da saída, e o Major de Operações embirrou com o Capitãso da Comp. que estava no Xime. Eles eram periquitos e o Cap. respondeu: meu Major eu sou Professor no Liceu... etc. Eu delirei e só não bati palmas porque...o Major foi "dentro" do meu Grupo e, quando aquilo borregou, reunimos no mato - no mato - e o Major pediu opinião... lá responderam ...parece que estava lá o Beja Santos "Atleta" que ia...o Cap, quando lhe foi perguntado disse:...eu já ontem disse ao meu Major que sou Prof... reconhecido o fracasso aí estamos a caminho do Xime...eles" os libertadores" ainda, se bem me lembro lançaram uma ou duas ameixas...repetida dias depois...

Foi a tua primeira? Não sabia que ia um Alf. Virgem no meio da velharia...

Haviam gajos que tinham galões a mais e saber a menos...

Ab, T.

Anónimo disse...

Camarigo Torcato

Admirei a tua recordação sobre as respostas do Capitão ao Major, apesar de ele ser pouco falador e um tanto acanhado.
De facto ele era apenas Prof de Fisico-Químicas, por sinal tinha sido muito bom aluno, meu condiscíplo, no Liceu José Estêvão de Aveiro, António Maltez de seu nome e depois Prof daquelas disciplinas no mesmo Liceu José Estêvão de Aveiro.
Tal como eu, era Muito Bom na sua profissão, mas de artes guerreiras devia perceber pouco, pois não era com aqueles cursos de umas 12 semanas que se poderiam fazer Bons estrategas militares, para quem não tinha o mínimo de apetência para tal.
Só para melhor compreensão. Que me lembre o Maltez nem desportos praticava no Liceu. Eu pelo menos ainda pratiquei vários.

Grande abraço para todos

JPicado

Torcato Mendonca disse...

Torcato Mendonca disse...


Meu caro JPicado, o Capitão,o nome não recordo,respondeu e bem. O Major náo podia "chatear" o Cap. numa reunião onde estavam Alferes.Além disso ele, com aquela resposta, mostrava ter orgulho na sua profissão e estar ali com reservas - digamos assim. No mato aquilo borregou e seria o Major, depois de se inteirar do que se passava, a decidir.
Eu e o Capitão da minha Companhia tinhamos vontade de voltar. Estavamos, por culpa do guia e de quem conduzia "" aquilo que estavamos detectados, longe do objectivo etc. Ou ficar ali e esperar o que era mau, ou voltar á base (Xime), e posteriormente repetir a operação. Repetir com os nossos guias do Xime que eram bons...havia uma ou duas vozes dissonantes mas há sempre um " herói" a fazer trampa...
Gostei do Cap. do Xime, ele pode confirmar se se lembrar.
Gostei e gravei nos "Nós da Memória".

Abraço amigo, T.

Anónimo disse...

Iam 2 Pel.Nativos. O meu e o do B.Santos.

Abraço Torcato!

J.Cabral