quinta-feira, 23 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14506: Agenda cultural (390): Na apresentação da obra “O Outro Lado da Guerra Colonial”, da jornalista Dora Alexandre (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.
Na apresentação da obra “O Outro Lado da Guerra Colonial”, da jornalista Dora Alexandre

Realidades de gerações que cruzaram o palco da guerra 


Joaquim Furtado, um jornalista que honradamente tem trazido à estampa comentários sobre a guerra do antigo Ultramar, foi a pessoa que Dora Alexandre elegeu para a apresentação do seu livro “O Outro Lado da Guerra Colonial”, um evento que ocorreu no pretérito 21 de abril na loja FNAC no Centro Comercial Colombo, em Lisboa.

A sua narrativa, simples e efusiva, prendeu uma plateia muito bem composta que, momentaneamente, se desfez das peripécias do presente e recuou aos tempos em que nós jovens fomos enviados para as frentes de combate com a etiqueta onde se lia: “carne para canhão”.

De Angola, passando por Moçambique e a Guiné, a Dora teve a sensibilidade em cruzar os palcos de uma peleja onde conhecemos as mais díspares situações. Tempos de guerra, de lazer e de uma encruzilhada de manifestações coletivas e individuais que nós próprios abordávamos não obstante a nossa tenra idade.

O livro chama também ao seu contexto um rol de artistas que, à época, se deslocavam às antigas colónias para alegrar os soldados portugueses que tinham sido então atirados, à força, para uma guerra que nada lhes dizia. A Pátria, aquela que pela qual combatemos, é a mesma Pátria que hoje não nos reconhece e renega.

Aliás, os homens de agora, aqueles que comandam os destinos deste nosso país, não se revêem nos escabrosos momentos sofridos pelos quais passámos num território que para nós era completamente desconhecido. Muitos destes cavalheiros não eram nascidos, outros tinham ainda fraldas.

Mas, a nossa dignidade como antigos combatentes permanece incólume apesar das adversidades permanentemente deparadas. A Dora teve a sensibilidade de não entrar pelos enviesados campos de batalhas, mas pelo outro lado da guerra.

“O Outro Lado da Guerra Colonial”, como frisava, e bem, Joaquim Furtado, é abrangente, mas sobretudo seguro no seu argumento. A autora conseguiu, numa opinião generalizada, elevar ao púlpito uma lista de emoções, contadas na primeira pessoa pelos seus 58 entrevistados, que se difundirão para as gerações vindouras.

Camaradas, eu, como antigo furriel miliciano de Operações Especiais/Ranger, sinto-me feliz por pertencer a essa lista. Assim sendo, cumpre-me ajuizar que o nosso blogue – Luís Graça & Camaradas da Guiné – tem feito um trabalho mui digno no que concerne a ideias expostas para a opinião pública.

Neste âmbito, tal como muitos outros camaradas que pisaram o solo guineense, é lógico que nos sintamos lisonjeados por este “miminho” que a Dora nos proporcionou. Sou, há muito, um homem da escrita, porém, existem oportunidades em que “uma lágrima ao canto do olho” nos remete a um premeditado silêncio e na passada segunda-feira foi matéria onde literalmente me revi.

Fica o repto: camaradas adquiram o livro “O Outro Lado da Guerra Colonial”, da autora Dora Alexandre, e fiquem com a certeza que as histórias contadas são transversais a gerações de camaradas que pisaram os palcos de uma guerrilha que jamais deu descanso a um turbilhão de soldados sem medo.

Obrigado Dora, pela escolha, e obrigado amigo e camarada Luís Graça pela disponibilidade que me proporcionaste, e proporcionas, em narrar as minhas histórias por terras da Guiné neste nosso blogue. 



Um abraço camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

___________
Nota de M.R.:

Vd. poste relacionado do mesmo autor:

7 DE ABRIL DE 2015 > Guiné 63/74 - P14442: Agenda cultural (390): Dora Alexandre, jornalista, apresenta “O Outro Lado da Guerra Colonial” (José Saúde)


Vd. último poste desta série em: 

15 DE ABRIL DE 2015 > Guiné 63/74 - P14474: Agenda cultural (392): documentário sobre memórias de combatentes guineenses, de um lado e de outro ("Pabia di Aos", de Catarina Laranjeiro), na Cinemateca, Ciclo Panorama, 5ª feira, 16 de abril, 15h30

1 comentário:

Anónimo disse...

Hélder Sousa

22 abr 2015

Caros camaradas

Como seria de prever, o espaço da FNAC do Colombo foi pequeno para acolher todos os que quiseram (e puderam) estar presentes no evento.

Correu então com grande presença de pessoas, muitas das envolvidas nos depoimentos do livro, é certo, mas também muitos outros, como eu, interessados mas não deponentes, e até simples passantes atraídos pelo evento e que se deixavam ficar.

Cheguei já estava a acção a decorrer (ou seja, cheguei tarde, como de costume...) e por isso tive que ficar do lado de fora, ouvindo as intervenções do Joaquim Furtado, que me soaram correctas, do José Arruda, que não conseguiu evitar a emoção e também da própria Dora que teve também de terminar mais apressadamente por "estar quase a chorar", como disse.

Vi alguns dos nossos "tabanqueiros", como o Luís Moreira, o José Manuel Lopes e a Luísa, o Marques e a Gina, o Amílcar Mendes, o Valente Fernandes (médico de medicina do trabalho na empresa onde estivemos juntos sem falar da Guiné e que me disse ir agora enviar mais alguma contribuição para o Blogue), certamente que estavam outros mas agora não me ocorre, pelo que lhes peço desculpa.

Entretanto, curiosamente, houve um assistente que veio ter comigo e procurou confirmar o meu nome, já que me reconheceu de fotos recentes do Blogue. Pois trata-se de um camarada Alferes que esteve cerca de mês e meio contemporâneo comigo no Agrupamento de Transmissões e me confirmou que depois de me vir embora chegaram a fazer radiolocalização de helicótero.

Hélder S.