segunda-feira, 29 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14809: Blogoterapia (271): Não sabia que o tempo passava tão depressa (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 19 de Junho de 2015:

Carlos e Luís
Este é um pequeno texto de agradecimento a toda todo o blogue, que marcaram o dia 17 de Junho de forma tão gratificante para mim, tanto no luisgraça como no facebook.

Um abraço para todos
Juvenal Amado

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Não sabia que o tempo passava tão depressa.

Juvenal Amado atrás do cão da sua avó, com tias, tios, primo Hélder e a mãe

Em crianças estamos sempre desejosos de sermos adultos, depois a vida, os afazeres, as preocupações e as metas a atingir sorvem-nos o tempo, e os anos começam a passar cada vez mais acelerados.
O tempo é pautado pelas horas que parecem passar mais lentas na medida que nós esperamos por algo, que tem hora marcada. Eu exemplifico; no trabalho esperamos pela hora do almoço e pelo fim da jornada. Mas o dia não acaba aí pois há o filho que tem que ir à ginástica, à explicação de matemática, o jantar, o telejornal e finalmente aquele filme ou série da qual nos tornamos fãs, por vezes vá se lá explicar porquê. Assim passamos muitos anos da nossa vida a correr, a desejar os fins semana, as férias e o Natal mais os subsídios e, sem querer, estamos a desejar o envelhecimento, pois isso é a passagem do tempo.
Quando chegamos à reforma e dá-se o choque ao não termos obrigações laborais, nem horários a cumprir. Ouvem-se ao longe os sons as chamadas das sirenes da fábrica onde trabalhamos, convivemos, onde conhecemos a nossa mulher e fizemos planos para o futuro, onde estamos agora a chegar. Fica-se com sentimento de perda, de repente o nosso esforço de trabalho não é necessário e aí, a nossa idade começa a pesar sobre os nossos dias e os nossos actos.

É comum ouvirmos dizer que isto ou aquilo não lhe fica bem, que já não tem idade para isso, etc. Por estranho que pareça chegámos à idade da razão, onde os conhecimentos acumulados deviam ser uma mais valia para a sociedade, mas é nesse momento que passamos a valer menos e daí para a frente a degradação social e física não pára, uma vez que o golfe, o ténis, não estão ao alcance da esmagadora maioria dos reformados deste país, que mal ganham para os medicamentos, para alimentação e para o gastos básicos.
Mas não temos emenda. Continuamos a desejar acelerar o tempo, para a rápida chegada da pensão, da Primavera, do Verão, do fim de semana em que os filhos nos visitam e aqueles dias que passamos com os netos. É uma contradição, por lado não queremos envelhecer, por outro lado estamos sempre à espera que o tempo passe com os custos inerentes.

Feito este preâmbulo, aí entram em campo os amigos em carne e osso e os virtuais, que no dia dos anos nos mandam os seus votos de parabéns. Damos por nós, que no dia anterior estávamos inclinados não dar muita atenção ao assunto, talvez como auto protecção, pois quem não quer decepções não alimenta esperanças, a passar o computador a pente fino e ler o que nos mandam, a constatar que não se esqueceram de nós, que o telefone toca e a prova que afinal o fim do mundo em sentido figurado, não está ali ao virar da esquina.
Parece impossível, mas faz-nos sentir bem mesmo as mensagens de quem não conhecemos, mas que acabam por tornar o dia especial.
Para o ano há mais, se não correr qualquer coisa de mal e nesse particular tenho que fazer aqui um reparo quanto ao efeito agregador e distribuidor de afectos que o blogue tem e da forma que ele tem aproximado os ex-combatentes de todos os locais do nosso pais, no esforço da reconstrução do nosso passado.

Muito obrigado a todos que tornaram o dia mais radioso para mim e para a minha família.
Bem hajam.

Juvenal Amado
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Notas do editor

- Cabe aqui mais um pedido de desculpas ao camarada Juvenal Amado pela demora na publicação deste seu texto.

Último poste da série de 12 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14605: Blogoterapia (270): Foi há já quarenta e um anos que essas mães e esses pais cumpriram tantas promessas pelos seus queridos filhos que partiram fardados para essas terras longínquas (Francisco Baptista)

5 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Olá Juvenal, bonito e bem descrito este teu texto por teres saltado um ano mais.
Muitos e muitos mais escritos por aqui apareçam e que tudo de bom vá aparecendo no teu (vosso) quotidiano.
Ab.T.

Luís Graça disse...

Meu caro Juvenal, é um texto de antologia que pode ser utilizado para defender e promover as políticas, tão urgentes quanto fundamentais, do envelhecimento ativo no nosso país. Modéstia à parte, a Tabanca Grande é um embrião de um programa desse tipo: por um lado, fazemos aqui "blogoterapia" e, por outro, salvaguardamos, valorizamos e divulgamos as nossas memórias de guerra e de juventude... Por outro lado ainda, criamos redes de convívio, amizade, camaradagem, e até de solidariade... Podemos e devemos fazer mais ? Certo, mas o que temos feito tem melhorado a nossa autoestima e os nossos neurónios... O mais importante é a melhoria das nossas competências relacionais... Se não fora o blogue eu, por exemplo, nunca conheceria pessoas excecionais como tu!

Anónimo disse...



Camarada e amigo Juvenal:

À medida que os anos passam por ti, parece que a tua lucidez aumenta. Que a sabedoria que acumulas-te ao longo da tua vida te torne os anos para viver felizes,calmos e saudáveis.
Quando fizeste anos estava no meu retiro de Trás-Os-Montes, onde não tenho internet, por isso te envio os meus parabéns já com bastante atraso.

Um grande abraço. Francisco Baptista

Abranco disse...

Meu caro Juvenal
A forma como está descrito este teu texto, vai seguramente ao encontro daquilo que muitos de nós pensamos.
Por várias razões nem todos conseguem retratar por palavras, sentimentos, emoções e sabedoria que se vai refinando com o passar dos anos.
É assim que o nosso blogue se vai alimentando de forma saudável e com isso beneficiamos todos nós.
Muitas felicidades um grande Alfa Bravo e vai andando por aqui.
António Branco
ex 1º cabo Reabastecimento Material
Guiné Bachile, chão manjaco C CAÇ 16 1972-1974

Abranco disse...

Meu caro Juvenal
A forma como está descrito este teu texto, vai seguramente ao encontro daquilo que muitos de nós pensamos.
Por várias razões nem todos conseguem retratar por palavras, sentimentos, emoções e sabedoria que se vai refinando com o passar dos anos.
É assim que o nosso blogue se vai alimentando de forma saudável e com isso beneficiamos todos nós.
Muitas felicidades um grande Alfa Bravo e vai andando por aqui.
António Branco
ex 1º cabo Reabastecimento Material
Guiné Bachile, chão manjaco C CAÇ 16 1972-1974