quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15117: Os nossos seres, saberes e lazeres (115): Un viaggio nel sud Italia (6): Em Tivoli, Villa Adriana e Villa Gregoriana (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Agosto de 2015:

Queridos amigos,
Acreditem que é verdade, para quem gosta da Antiguidade, belos jardins e natureza edénica, Tivoli é um destino fabuloso.
Já vos tinha falado de Villa d'Este, um interior cheio de arte e jardins inesquecíveis.
Quando lera o clássico de Marguerite Yourcenar "Memórias de Adriano" ficara-me aquele travo de conhecer o complexo monumental que ele aqui construíra, com magnificência e requinte. E lera que Villa Gregoriana era um dos lugares mais cantados de sempre, Goethe sentira-se deslumbrado quando aqui viera visitar a grande cascata, o Vale do Inferno dentro de uma envolvente prodigiosa. Asseguro-vos que foi um dos dias inesquecíveis da minha vida.

Um abraço do
Mário


Un viaggio nel sud Italia (6)

Beja Santos

Em Tivoli, Villa Adriana e Villa Gregoriana


Foi um dia inteiro, de manhã cedo a quase o sol-posto, a deambular por estas duas famosas maravilhas de Tivoli e do património mundial. Villa Adriana espalha-se pelo vale e em termos arqueológicos é um dos sítios de maior significado da Roma antiga. A vila foi construída pela vontade de Adriano que acompanhou pessoalmente o projeto (118-138 depois de Cristo). Tem estas muralhas gigantescas, pode-se adivinhar a monumentalidade dos conjuntos, ruas e pontos de passagem, espelhos de água, termas, bibliotecas, teatros e templos. Adriano é imperador quando Roma está no auge das fronteiras e do acesso às riquezas. Deve ter tido meios suficientes para pôr de pé esta vila com 300 hectares. Para sabermos um pouco dele, temos uma obra-prima de Marguerite Yourcenar, “Memórias de Adriano”, à nossa disposição, e é bem fácil: a sua cultura, o seu humanismo, a sua conceção do poder, a sua tristeza e reflexão sobre a mortalidade depois de ter morrido Antínoo, a paixão da sua vida.




O turista é confrontado por uma manhã com um sol de fornalha, há felizmente água nalgumas bicas, é sempre urgente dessedentar-se, e então parar pausadamente nas construções que restam desta vila monumental: as habitações da guarda pessoal do imperador, o vestígio de umas termas, um lago onde o imperador tinha refeições, podendo ver do outro lado um templo de grandes dimensões.




O lago foi concebido com todos os requintes, com imensa estatuária, há para ali umas cariátides que lembram o Pártenon, de Atenas, o templo era imenso, e não resisti a guardar imagem deste crocodilo que Adriano deve ter contemplado muitas vezes.


Para quê torturar o leitor com dezenas e dezenas de imagens com o que resta das pequenas e grandes termas, o Canópio, o Palácio Imperial com a Praça Dourada, o Teatro Marítimo, o edifício dos Cem Pequenos Quartos, o Poecilo? Como num jogo do rato e do gato, a fugir ao braseiro do sol, e a suspirar por um granitado ou uma coisa mais fresca pelas goelas abaixo, por ali circulava e aconteceu esta imagem que tanto me compraz, é o resto de um templo ao lado das grandes termas, e se não é exatamente assim o imperador Adriano que me perdoe, mas presto-lhe homenagem por ter construído o que construiu, estou satisfeito pelo claro-escuro e o céu azul de tons ferretes. Já chega, ando aqui há horas a fio, o estômago a bater horas, impõe-se o repouso, espera-me outro espetáculo, a Villa Gregoriana.


Ainda o imperador Adriano não sonhava em construir aquele complexo monumental e houve para aqui uma vila de Manlio Vopisco que foi destruída por uma enxurrada, este rio Anio não é para brincadeiras. Mas as cascatas deste lugar fazem parte deste antigo lugar romano então chamado Tibur, passou a ser uma etapa obrigatória para peregrinos, viajantes e artistas que iam a caminho de Roma. Goethe passou pelo Tivoli e escreveu que tinha visto um dos espetáculos naturais mais extraordinários, tratava-se de uma paisagem que “nos enriquece o mais íntimo da alma”. De onde vem a fama multisecular da Villa Gregoriana? Aqui entrelaçam-se mito, natureza e história, o mito de bosques sagrados, das águas que descem para os infernos, passando pelas grutas de Neptuno e das sereias, aqui se escondia a Sibila, a divindade dos oráculos, e a Vila impôs-se tendo no topo a acrópole e os templos.




Visita-se a Villa Gregoriana não só para admirar a grande cascata, mais de 100 metros de água a jorrar em catadupa, mas há condutas realizadas artificialmente após a grande catástrofe de 1826 que levaram a redefinir a organização deste espaço edénico, o turista sabe que tem um mar de tranquilidade à sua espera, um desfrute paisagístico ímpar, alguém trabalhou para isso. Em 1828, o governo pontifício (Tivoli pertencia ao Papado) decretou grandes obras, e é no tempo de Gregório XVI (1831-1846) que se encontrou uma solução para salvar a cidade da fúria das águas construindo canais artificiais que levam as águas do rio diretamente para fora da cidade. E por ali andamos a subir e a descer, a bisbilhotar grutas, a ouvir a água em cachoada, os lugares selvagens e a composição harmónica do ecossistema, entramos em túneis das águas, admiramos o Vale do Inferno e até podemos imaginar o efeito devastador que terá tido o bombardeamento de 26 de Maio de 1944. Depois, este espaço de natureza eleita ficou transformado em vazador do lixo, foi necessário uma grande recuperação que ainda hoje é tutelada pelo Fundo Ambiental Italiano. Foi um dia e peras. Vou jantar um excelente ossobuco, a contemplar esta bela cidade de Tivoli. Parto amanhã cedo para a mais esperada das paragens, Assis. Ainda não sei que uma maravilhosa experiência está à minha espera. Eu depois conto.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15093: Os nossos seres, saberes e lazeres (114): Un viaggio nel sud Italia (5): Em Tivoli, passeio alucinatório em Villa d’Este (Mário Beja Santos)

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