segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15168: O nosso querido mês de férias (8): Ganhei o "Prémio Governador da Guiné", embarquei em 31/10/1964 num Dakota Skymaster ("se cais, morres"), tive uma viagem atribulada... Do outro pessoal da CCAÇ 412 apenas um alferes veio de férias, no entanto, três alferes tiveram as esposas em Bafatá (Alcídio Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412, 1963/65)

1. Texto do Alcídio Marinho [ex-fur mil inf, CCAÇ 412, (Bafatá, 1963/65); vive no Porto]:

A minha vinda de férias à metrópole teve uma estória curiosa.

Até meio do ano 1964, creio que ninguém era autorizado a vir de férias à Metropole, quem queria gozar férias e tinha direito, ia para Bissau.

Ora, como o 3.º pelotão da CCAÇ 412 fora  destacado para o Enxalé, de 28/Out/1963 a 25/1/1964, então comecei a montar armadilhas todos os dias,por carolice e necessidade, e como não tinha curso, fui agraciado com um louvor pelo Comandante da Companhia Capitão Braga (de alcunha o lambreta pois com os  lábios fazia um barulho que se assemelhava a uma lambreta) [de seu nome completo, Manuel Joaquim Gonçalves Braga, cap inf].

Quando já estava em Cantacunda (de junho/1964 a fevereiro/1965), perto de Fajonquito, durante o mês de outubro, tivemos conhecimento que o sr. Brigadeiro Schulz [, um ano depois promovido a genereal,] , havia constituído um prémio, o  "Prémio Governador da Guiné", para agraciar os combatentes que se notabilizasse na efectivação de baixas ao inimigo ou outros feitos em combate.

Qual foi o meu espanto, quando recebi a informação do sr. Capitão que me havia sido atribuído o referido prémio e que podia ir gozar um mês de férias onde desejasse.
Assim marquei a minha vinda a casa.
Como já não se passava na estrada, Bafatá - Banjara - Mansabá - Mansoa - Bissau, tive que ir para Bissau de barco. À época os barcos iam até ao Capé e Contuboel. Tomei o barco em Bafatá e rumei a Bissau, no dia 30/Out/1964. 


C54 Skymaster, da Força Aérea dos EUA.  Desenvolvido  pela Douglas Aircraft Company, teve o seu primeiro voo em 1938, Produziram-se cerca de 1200 unidades entre 1942 e 1947. Deixou de estar operacional em 1975.  [A nossa FAP recebeu 17 aviões, C-5r4 e EDC Skymaster entre 1947 e 1974, segundo informação de António Luís, um dos editores da página Pássaro de Ferro . Crónica da Aviação, onde também colaboração o nosso grã-tabanqueiro José Matos]

Foto: Cortesia de Wikipedia.


Embarquei em 31/10/1964, em Bissalanca, num avião da Força Aérea (Dakota-Skymaster ou "se cais morres"), rumo ao Sal-Cabo Verde, com passagem pelo aeroporto militar dos Gambos-Canáras mas quando chegámos a Lisboa, estava uma tempestade enormíssima, pois que todos os
aeroportos da Península Ibérica estavam encerrados. Quando estava a amanhecer, olhamos pelas janelas e só víamos mar e depois depois uma ilha, era a ilha do Sal, outra vez.

No avião vinha, no meio, um motor de um F-86 e um paraquedista de maca acompanhado de uma enfermeira e outros militares.

Desembarcámos e fomos comer às instalações da CCaç 413 que havia ido connosco para
a Guiné-Mansoa, tendo a meio da comissão sido deslocada para o Sal-Cabo Verde.

Aí comemos lagosta a todas as refeições, eles já enjoavam a lagosta. Éramos todos conhecidos pois como nós também pertenciam Ao BC 10-Chaves e os sargentos éramos todos do mesmo curso-1961.
O Aeroporto do Sal, era só uma pista e no final da mesma havia a torre de controle.

Na tarde desse dia, tornamos a embarcar e quando arrancámos para levantar, ouvimos um estrondo da rebentação de um pneu e só paramos a cerca de 5 ou 6 metros da torre.

Como não havia pneu suplente ficamos três dias no Sal até chegar um pneu, no avião da TAP. No dia 3 de Novembro, reembarcámos para Lisboa onde chegamos no dia 4.

Passei essas Férias em Amarante, Chaves, Verin-Espanha, (onde tinha uma namorada espanhola) e Porto. Passados os trinta dias apresentei-me nos Adidos-Lisboa, mas não havia alojamento, fui instalar-me numa Pensão na Rua Rodrigo da Fonseca, a aguardar passagem aérea para Bissau, o que veio a suceder só no dia 6 de dezembro. Chegado a Bissau apanhei um barco civil, para Bafatá, seguindo de novo até Cantacunda.

Nas Canárias comprei um relógio por 500 escudos e uma máquina fotográfica Konica também por 500 escudos.

Do outro pessoal da CCAÇ 412 apenas um alferes veio de férias, no entanto, três alferes tiveram as esposas em Bafatá

Alcidio Marinho
22 de setembro de 2015 às 13:18
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Nota do editor:

Ultimo poste da série > 27 de setembro de 2015 >Guiné 63/74 - P15165: O nosso querido mês de férias (7): Entre 15 de Fevereiro e 21 de Março de 1971, a ilusão de estar longe da guerra (Carlos Vinhal)

2 comentários:

Chapouto disse...

Até que enfim encontro um ex combatente que esteve em Cantacunda alem de mim e do Marques Lopes, só foi pena não comentares como era Cantacunda e as condições em que se deparavam em relação às instalações.
Estive lá em Março e Abril de 67, pois dos quatros destacamentos que a minha companhia 1426 tinha só me faltava este,sete em Camamudo seis em Banjara e quatro em Geba, alem de mês e meio em Bissau em intervenção
Um forte abraço
Fernando Chapouto
Ex Fur.Milc. RANGER da CCaç 1426 Guiné 65/67

Hélder Valério disse...

As minhas viagens das férias (duas vezes) foram já do tempo dos aviões TAP a jacto.
No regresso final é que foi num avião a hélice por opção, feliz, que me ocorreu e que influenciou também quem dos meus camaradas de curso que comigo regressaram, pois a opção do Boeing teve alguns percalços.

Hélder S.