quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15213: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XV: fotos de despedida, em fevereiro de 1970, com as beldades locais


Foto nº 1


Foto nº 1 A 



Foto nº 1 B


Foto nº 1 C


Foto nº 2


 Foto nº 2 A 


Foto nº 2 B


Foto nº 2 C




Foto nº 3


Foto nº 3 A


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BCAÇ 2852 (1968/70) > Pel Rec Daimler 2046 (1968/1970) >   Fevereiro de 1970 > "Eu com um belo conjunto de bajudas junto à capela"...Não, não é foto de despedida, embora dias mais tarde, finda a comissão, em fevereiro de 1970, o Pel Rec Daimler 2046, comandado pelo Jaime Machado, partisse  para Bissau donde regressaria à metrópole, no T/T Niassa, em abril de 1970.

Fotos (e legenda): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. Continuação da publicação do belíssimo álbum fotográfico do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852) (*).




[foto atual à direita; o Jaime Machado reside em Senhora da Hora, Matosinhos; sua avó paterna era moçambicana; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]



2. Comentário do editor:

Ao tempo do BART 2917 (1970/72), que o Jaime já não conheceu, havia só no regulado de Badora (que incluía, Bambadinca, o principal núcleo populacional com c. de 1500 habitantes), uma população total (recenseada e controlada pelas NT) de c. de 12 mil, metade dos quais de etnia fula.

Os restantes eram mandingas (20%), balantas (20%) e outros (10%), onde se incluíam mansoanques, manjacos e alguns caboverdianos e metropolitanos, cristãos.

No conjunto  do setor L1 (que incluia ainda os regulados do Xime, Corubal, Enxalé e Cuor), o total da população sob o nosso controlo não ia além dos 15200. Segundo a  mesma fonte (a história do BART 2917), a população sob controlo do IN, andaria à volta das "5400 pessoas, na sua maioria de etnia Balanta, Beafada ou Mandinga" (nos regulados do Corubal, Xime, Enxalé e Cuor).

Perguntei ao Jaime Machado o que é que estas beldades, bem arranjadas, "bem produzidas" (como se diz no norte),  fariam aqui, junto à capela de Bambadinca,  em fevereiro de 1970 ? Era dia de festa ?  Era domingo ? Seriam cristãs ? Seriam mandingas ?

Apesar da sua "memória de elefante", o Jaime confessou que não se recorda de mais pormenores: não, elas não vieram despedir-se do "alfero", nenhum delas era sua conhecida, estavam em grupo, por ali, junto à capela (que ficava em frente ao edifíico de comando, quartos e messes de oficiais e sargentos) e o fotógrafo, oportuno, zás!, tirou-lhes uma chapa...

O outro militar que aparece no grupo  (fotos nº 2, 2 A, 2 B) pertencia à CCS/BCAÇ 2852 e não ao Pel Rec Daimler 2046... O Jaime admite que elas fossem cristãs, estavam com ar domimngueiro, bem vestidas e calçadas. (De facto, não há nenhuma descalça...).

Quanto a mim, seriam mandingas, a avaliar pelas feições, pelo vestuário e pelos adornos... Embora houvesse de facto uma pequena comunidade cristã em Bambadinca, não vejo crucifixos ao peito, mas sim colares, e numa delas com um amuleto (talvez em prata, uma figa, que é de origem europeia,  etrusca e romana, e não africana, estando associada originalmente ao erotismo e à fertiliddae, e hoje à proteção contra o mau olhado) (foto nº 2 B)... Mas,  vendo bem, a bajuda do lado direito, na foto nº 2 C, parece trazer ao peito um colar com um crucifixo... E a do lado esquerdo, traz um medalhinha...  a do meio usa sutião ("corpinho"), o que é um hábito ocidental... Se calhar, neste grupo todas já usavam "corpinho"...

Por outro lado, a porta da capela está fechada... Fica a dúvida: seriam bajudas cristãs ouu mandingas, islamizadas ? Um certeza: para estas lindas, amorosas, bajudas, era um "dia de ronco", talvez elas fossem, frescas, alegres e divertidas,  para algum casamento, ali em Bambadinca ou em Bambadincazinho.  (LG)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Crianças cristãs, em dia de primeira comunhão, ao tempo da CCS/BCAÇ 2952 (1968/70). Foto do álbum do ex-fur mil rebastecimentos José Carlos Lopes, nosso grã-tabanqueiro nº 604.

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)

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7 comentários:

Abílio Duarte disse...

Bambadinca, bom lugar, onde fui bem aceite. O José Carlos Lopes, meu colega no BNU, e meu
amigo em Bambadinca, onde me ofereceu, como se diz cama e roupa lavada, quando a CART.11, por lá passava. Boas fotos.
Nas várias vezes que por lá passei, ou em operações para o Sul ( Xitole), devo ter tido a companhia deste Esquadrão de Cavalaria. Assim como para Norte. Pois eles eram de Bafatá.
Gosto recordar estes momentos.

Luís Graça disse...


Significado do gesto e do amuleto FIGA:


(...) Figa é um amuleto em forma de uma pequena mão fechada, com o dedo polegar enfiado entre o indicador e o do meio. A figa é usada supersticiosamente como um sinal de proteção contra maus agouros, perigos, má sorte e forças maléficas.

A figa também pode ser um gesto feito com as mãos, onde o dedo médio e o indicador se cruzam. Este tipo de figa também é utilizado, na maioria dos países ocidentais, como um sinal de proteção contra doenças e coisas ruins em geral.

A simbologia da figa surgiu na Itália, sob o nome de "manofico" (mano = mão e fico = figo), sendo que o figo representa o órgão sexual feminino e o polegar faz alusão ao órgão sexual masculino. Este símbolo era bastante utilizado pelos etruscos como um sinal de fertilidade e erotismo.

Já a figa com os dedos médio e indicador cruzados surgiu durante as perseguições que os cristãos sofriam no começo do Cristianismo, entre o século I e IV. O gesto simbolizava sutilmente um sinal da cruz, porém sem atrair muita atenção para que não fossem atacados.

A figa chegou ao Brasil através da colonização europeia, não demorando para ser incorporada às religiões afro-brasileiras como um símbolo de proteção contra espíritos e energias negativas. Segundo os crentes destas religiões, a figa é um amuleto que ajuda a "fechar o corpo" da pessoa contra as forças do mal, garantindo proteção aos seus portadores.

No entanto, não são em todos lugares que a figa é vista como um símbolo de proteção. Na Turquia a figa é interpretada como um gesto obsceno e ofensivo, por representar o ato sexual de maneira vulgar e banal. (...)

http://www.significados.com.br/figa/

Luís Graça disse...

A dúvida é: uma mandinga, islamizada, usa um amuleto "cristão" como a figa ? Ou a figa também penetrou nos usos e costumes mandingas pela via da colonização ? Talvez o nosso amigo e irmão Cherno Baldé nos possa dar aqui uma ajuda... LG

Luís Graça disse...

figa | s. f. | interj.

fi·ga
(francês figue, do provençal antigo figa, do latim vulgar fica, do latim ficus, -i, figo)
substantivo feminino
1. Amuleto do feitio de mão fechada com a extremidade do polegar passada entre o indicador e o médio. = DÍGITE
2. Mão assim disposta.
3. Esconjuro.
4. Amuleto.
5. Redemoinho de pêlo na barriga do cavalo, onde a espora fere.
interjeição
6. Expressão usada para afastar algo ou alguém. = ABRENÚNCIO

de uma figa
• [Informal] Que é ruim ou de pouco valor (ex.: taberneiro de uma figa!). = DESPREZÍVEL
• [Informal] Que incomoda, que causa irritação (ex.: mosca de uma figa).

fazer figas
• Fechar a mão, colocando o dedo polegar entre o indicador e o médio, para afastar o azar ou o mau-olhado (ex.: façam figas e torçam para que o negócio dê certo).
figas, canhoto!
• Exclamação usada para afastar perigos ou acontecimentos nefastos.

"figa", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/figa [consultado em 07-10-2015].

Cherno AB disse...

Caro amigo Luis Graca,

Antes de mais aproveito felicitar o Antonio Machado (ex-Alf), pelas imagens do tempo que passou (e bem) em Bambadinca, o que mostra o seu elevado nivel de cultura, ja naquela epoca, muito acima da media daquilo que a tropa em geral nos tinha habituado.

E em jeito de resposta da questao do Luis Graca, na minha opiniao, acho que as imagens retratam um grupo de idade da etnia fula num dia de festa tradicional. Por forca da islamizacao, as festas desta etnia sao quase todas de natureza religiosa.

A postura e o olhar algo envergonhados, a indumentaria, os penteados e os enfeites na cabeca e no corpo, dizem isso mesmo.

Ainda seriam solteiras mas, nesta idade estariam todas comprometidas (com casamentos arranjados entre os pais) e aproveitam os ultimos meses de liberdade antes do casamento.

A presenca de elementos ou simbolos estranhos usados como adornos pode ser explicada por razoes de urbanizacao e da crescente mistura/influencia de outros habitos e culturas em Bambadinca (centro urbano e importante elo de ligacao ao resto do pais) e arredores devido a Guerra e ao movimento das populacoes.

Um abraco amigo,

Cherno Balde

Anónimo disse...

PS:/_A expressao islamizada/o nao eh correcta, seria mais correcto dizer "islamica/o" pois ja nasceram dentro de uma familia, meio e cultura islamicas, mesmo que superficial. Islamizados seriam os seus bizavos que, de facto foram coagidos (de forma voluntaria ou nao) a uma conversao, muitas vezes forcada, nos sec. XVIII/XIX.

De notar que os portugueses nunca utilizam a expressao "Cristianizados" quando se referem aos Guineenses de confissao crista.

Cherno AB

Hélder Valério disse...

O álbum fotográfico do Jaime Machado é mesmo uma preciosidade.
Claro que beneficiamos da sua sensibilidade, tal como o nosso incontornável Cherno refere, e bem.
O colorido dos trajes, o ar festivo, está bem documentado.
E, também não deixa de ser verdade, que beneficiamos muito dos conhecimentos, achegas e esclarecimentos com que o Cherno completa este tipo de situações.

Hélder S.