domingo, 18 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15263: Libertando-me (Tony Borié) (39): Tal e qual lá na Guiné

Trigésimo nono episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 13 de Outubro de 2015.




Azul de Primavera

Há dias o nosso comandante Luís dizia-nos entre outras coisas que, há muita malta que já "arrumou as botas" e que nem sequer pachorra já tem para nos ler, preferindo o Facebook... e depois convidava-nos a falar dos diversos Comandantes-Chefes lá daquele território, que na altura estava em guerra.

Nós só conhecemos um deles, era o Schulz e, como ele menciona, não Schultz, como alguém o trata, referindo-se ao seu nome, nós com menor ou maior simpatia, só o vimos pessoalmente por duas vezes lá em Mansoa. Lembrámo-nos que tinha cara de “velho”, tal como nós nesta altura da nossa vida, por uma dessas vezes passou por Mansoa onde houve “rancho melhorado”, creio que a pedido do nosso comandante do Agrupamento, colocando uma “Cruz de Guerra”, no peito do Curvas alto e refilão, que se recusou a vir à então Metrópole, no dia 10 de Junho, ao Terreiro do Paço em Lisboa. Outra foi quando fez parte do comando que dirigia a partir de Mansoa uma operação militar que envolvia todos os ramos das forças armadas, à zona ocupada pelos guerrilheiros, no Morés, no Oio. Esta operação demorou três dias, ele ia e vinha de Bissau, de helicóptero, fazendo uma poeira terrível lá no aquartelamento, numa zona onde se iniciavam algumas obras, voando folhas, papeis e pó de cimento, ao ponto de todos nós maldizermos a sua presença.

Já chega de guerra, vamos contar coisas daqui, de fenómenos da Flórida, nós, os que ainda vamos sobrevivendo, creio que continuamos a ser aventureiros, queremos estar onde não estamos, por exemplo, vivemos aqui, numa área de sol, muito quente, onde às vezes “chove a rodos”, num clima que consideram subtropical, onde as águas de oceanos são quentes e, como tal, propensas a uma precipitação pesada, onde existem os tais ciclones tropicais, que podem contribuir para uma percentagem significativa da precipitação anual, por exemplo, nos nossos quintais, não estão plantadas, macieiras, pereiras, ou ameixoeiras, mas sim palmeiras, citrus, mangos, abacates, bananas ou papaias, pois estas espécies podem ser cultivadas dentro dessas regiões subtropicais.

Vão pensar que é agradável, mas temos que cortar a relva e outros arbustos todas as semanas à volta da casa, temos que ter o ar condicionado pelo menos seis ou sete meses por ano sempre ligado, mas no fundo é um risco relativo viver por aqui, pois estamos apenas a três metros e pouco, acima do nível do mar, o que quer dizer que se houver uma tempestade em que o mar se revolte, com facilidade atravessa este enorme estado da Flórida, que é plano, se cavarmos no solo, a vinte centímetros de profundidade aparece areia branca, não existe qualquer pequena ou grande montanha, e claro, a fúria da água do mar pode varrer tudo até ao Golfo do México, mas como dizíamos antes, continuamos a ser aventureiros.


Tudo isto vem a propósito de que aqui na Flórida visitámos um local quase no centro do estado, chamado “Blue Spring State Park”, que quer dizer mais ou menos “Parque do Estado Azul de Primavera”, onde existe uma nascente de água fresca, no meio de um canal de água salgada, que é um refúgio na época de inverno para uns simpáticos seres que se chamam “manatees”, que se alimentam, entre outras coisas de vegetação aquática, dizem que comem 100 libras (cerca de 45kg) de alimento por dia, que por aqui se refugiam procurando a água que brota do fundo do canal de água salgada, com temperatura por volta de 72 graus (cerca de 22º Celsius). A água é cristalina na zona da nascente, que vem de uma profundidade com algumas dezenas de metros, na área em redor da nascente pode-se ver o fundo do canal, tirando este pormenor da água cristalina, o cenário em redor, faz lembrar-nos a nossa “Guiné selvagem”, plantas, árvores, ramagem, pássaros, peixes com alguma dimensão, alligatores, que são uma espécie de crocodilos, que por aqui habitam, tudo nos mostra este cenário tropical, onde em tempos foi filmado um episódio da série de “Underwater World of Jaques Cousteau”.

É uma área com alguns quilómetros quadrados, de pura selva tropical, com carreiros abertos entre as árvores, em alguns locais, passadeiras protegidas, pequenas pontes em madeira sobre riachos, onde se pode ver e respirar a natureza pura, onde as cobras, alligatores, peixes ou pássaros exóticos, vivem no seu território, sabendo que os humanos os vêm mas não os perturbam, vimos vários alligatores ao sol, fora da água, aproximámo-nos para os fotografar de perto, um pássaro, em cima de uma árvore, “cantou”, como se fosse um aviso, os alligatores imediatamente se meteram debaixo da água, portanto os animais protegem-se, vivem em comunidade, as árvores com centenas de anos, algumas já morreram, caíram, mas continuam lá, onde as folhas secas, que vão caindo, as cobrem em sinal de respeito, como a protegê-las para a eternidade, tudo está limpo e arrumado, sem papeis, garrafas ou latas vazias pelo chão, sem pinturas murais, como é costume ver-se em qualquer zona urbana, que existem por aí, principalmente nas grandes cidades. Valeu a pena.

Tony Borie, Outubro de 2015
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Nota do editor

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