quarta-feira, 2 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15816: Inquérito 'on line' (38): Os três principais problemas das NT em setembro de 1963: Deficiência ou inadequação de (i) instrução militar, (ii) equipamento, e (iii) instalações... Nº de respondentes até agora: 61... Prazo de resposta até 6ª feira, dia 4, 17h36

Os nossos "bu...rakos": Cantacunda, 1967.
Foto de A, Marques Lopes
OPINIÃO: LISTA DE PROBLEMAS NO CTIG,  LOGO EM 1963 (COM-CHEFE, BRIG LOURO DE SOUSA)...VOTA NOS QUE CONCORDARES


1. Deficiente instrução das tropas e quadros  > 
46 (75%)

2. Deficiente equipamento das unidades no terreno  > 41 (67%)



6. Instalações inadequadas  > 41 (67%)



7. Cansaço das NT, sempre ansiosas por acabar a comissão  e voltar para a metrópole >  
38 (62%)


4. Abastecimento (material, munições, víveres e água)  > 
24  (38%)

3. Falta de pessoal / insuficiência de efetivos  > 
21  (34%)


5. Falta de enquadramento / aproveitamento militar 
dos guineenses > 
17 (27%)


8. Outros problemas não referidos acima 
(pelo Com-chefe, brig Louro de Sousa)  >
 13  (21%)



Votos apurados: 61
Responder até 6ª feira, dia 4, 17h36


_________________

Nota do editor:

15 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Estes resultados publicados mais de 50 anos após o início da guerra são consequência de uma análise fria e ponderada que temos vindo a fazer ao longo destes anos.
É pena que a amostra seja pouco significativa. Na verdade, num blog onde há mais de 500 participantes não se pode dizer que a participação no inquérito tenha sido boa.
Por mim voltava a perguntar se, antes do embarque, todos aceitaríamos um treino individual e colectivo mais duro se a recusa desse treino não deverá ser encarada como o primeiro acto de recusa na participação na guerra.
É uma reflexão que deixo...
Um Ab.
António J. P. Costa

Luís Graça disse...

Tó Zé: É parcialmente acertado o teu reparo... Somos, os vivos, mais de 500 ex-combatentes... Se um em cada cinco responder, vamos ter 100 respostas, o que é bom... O prazo ainda não terminou... Os nossos grã-tabanqueiros ainda têm dois dias e meio para cumprir o seu "dever cívico"... A resposta a este inquérito importante para nos ajudar a ter opinião e a formar opinião de grupo sobre acontecimentos em que estivemos diretamente envolvidos... Não estamos aqui a discutir o sexo dos anjos!...

Nesse sentido já seguiu um lembrete para a Tabanca Grande... Sei que a malta é sempre generosa e costuma participar. Já temos tido números de respondentes da ordem dos 100, 150 e até 200... Depende também do assunto... Aqui vai o lembrete (que não é "raspanete"):

__________________

Camaradas:

Num blogue que tem mais de 500 antigos e bravos combatentes das guerras da Guiné, só 6 dezenas responderam até agora ao nosso inquérito desta semana...

Até 6ª feira ao fim da tarde, ainda espero que se chegue aos 100 respondentes... Vinte por cento já é uma boa taxa de resposta... Não custa nada, é só clicar, uma, duas ou três vezes na resposta ou respostas que cada um achar corretas,

Onde ? Diretamente, no blogue, no canto superior esquerdo...

Somos um blogue de ex-combatentes, de gente que pensa pela sua cabeça e tem opinião sobre o que se passou entre 1963 e 1974, "lá no cu de Judas" da Guiné...

Um alfabravo amigo do Luís Graça.

Anónimo disse...

António José Pereira da Costa
2 mar 2016 10:44

OK Camarada

Tens toda a razão.
É por essas e por outras que ficamos velhos.
É bem feito! Cada povo tem o que merece.
E agora nem sequer opinião temos. Ou que é pior: não somos capazes de a apresentar.
Já comentei (no blog) neste sentido.
É caso para perguntar: afinal o que é que queremos? afinal quem é que somos?
Desconsiderados?
Pois claro. Quem não se considera não é bem considerado.
Um Ab.
TZ

Anónimo disse...


Vasco Pires
2 março 2016 14h11

Bom dia Luis /Carlos,
Cordiais saudações.
Na minha modesta opinião, esses inquéritos, ajudam a dinamizar o Blog, e por se tratar de
sexagenários (septuagenários), talvez ajudem a afastar o Doutor Alemão, embora já haja médicos dizendo que "não adianta jogar xadrez".

Quanto a este inquérito, embora não estivesse lá nessa data, acredito que os problemas que o Brigadeiro Louro de Sousa enumera, são parecidos aos de de todo o tempo da guerra, além de outros que, porventura, se possam acrescentar.

Contudo, acredito, que o principal problema, era geografico, em vez pisarmos nas bolanhas dos rios Africanos, deviamos ter ficado em casa comendo batatas com bacalhau (e grelos quando os havia).

Sabemos que o nosso último Imperador nutria a certeza de que Portuga, não tinha condição de existir como nação independente, sem as então Províncias Ultramarinas no pós segunda guerra, e mais, além da viabilidade econômica com as mais valias daí advindas, no quadro da guerra fria, Portugal seria fortalecido com a posição geoestratégica dos territórios ocupados em vários continentes.

Nós sempre fomos um povo de comerciantes, navegamos à procura de bens comerciáveis (escravos, ouro, especiarias...), não tínhamos nem vocação, nem infraestutura para ocupações territoriais, feitorias era o nosso negócio.

No século XIX, quando as grandes potências europeias resolveram ocupar África, nós fomos a reboque.

No segundo quartel do século XX, iniciou-se um movimento independentista irreversível de independência dos povos sob domínio das nações coloniais, como outrora tinha ocorrido na América. ~

As potências europeias, inteligentemente, negociaram para manter as suas vantagens (acrescidas?) econômicas.

Mesmo quando o governo Americano resolveu não apoiar mais a nossa política, o Imperador resolveu continuar "orgulhosamente só".

Concluo, "data maxima venia", que os problemas operacionais foram secundários, a guerra sempre esteve perdida desde o primeiro dia.

Forte abraço. Vasco Pires [Brasil]

Luís Graça disse...

Tó Zé, não sejas "pessimista"... Afinal, desde esta manhã já apareceram até agora mais 24 respostas... Estamos com 85 e até sexta-feira à tarde vamos por certo ultrapassar a centena...

Muitos dos nossos leitores ainda têm filhos para tratar e netos para cuidar... E precisam, obviamente, de "desopilar", espairecer, mudar de ares, estar comm os amigos... Nem só de blogue (nem de facebook) vive o bravo (ex-)combatente da Guiné e o nosso grã-tabanqueiro...

Sabes, por certo, como funciona o atendedor de chamadas dos nossos camaradas que são avós:

Trimmmmmmmmm!!!...

Bom dia... de momento o nosso número não está disponível; mas deixe sua mensagem depois de ouvir o sinal:

(i) se é um dos nossos filhos, genros ou noras, marque 1;

(ii) se precisa que fiquemos com as crianças, marque 2;

(iii) se precisa que lhe emprestemos o carro, marque 3;

(iv) se é para as crianças dormirem cá em casa esta noite, marque 4;

(v) se quer jantar hoje connosco, marque 5;

(vi) se quer vir cá comer o cozido no domingo, marque 6;

(vii) se precisa de dinheiro emprestado, marque 7;

(viii) se é um dos nossos amigos ou camaradas da Guiné, pode falar!

Anónimo disse...



As guerras do Ultramar Portugês estão interligadas e sofrem todas da mesma impreparação e do mesmo tratamento de urgência. Quando Salazar em 1961, depois dos massacres e actos de terrorismo da UPA, em Angola, vem bradar alto e teatralmente para todo o povo português patriota e obediente, por anos de educação forçada, para Angola e em força, não está a pensar na instrução das tropas, no equipamento das unidades, em instalações inadequadas, no cansaço das tropas, abastecimento de materiais e outros, ou na falta de pessoal, pena somente na defesa e na glória da Patria. Salazar sendo ditador pensa como tal, do alto do pedestal da sua sabedoria e do seu egocentrismo. A Pátria, essa entidade abstrata, essa palavra mágica com que os ditadores recheavam os seus discursos patrióticos esperava e merecia todos os sacrifícios dos seus filhos, inclusivé o supremo sacrifício da vida. Hitler, Staline, Mussolini e Franco ditadores seus contemporâneos fizeram discursos inflamados para convencer disso os cidadãos dos seus países, alguns com bastante êxito. Quando Salazar, como Presidente do Conselho e Ministro da Defesa, diz a célebre frase, para Angola e em força não estava a pensar em nenhuma das condições do Com-Chefe Louro de Sousa, ele somente está a pensar que tem muitos jovens portugueses, que mesmo armados com mauser e outro armamento antiquado devem responder com patriotismo ao seu apelo de guia da Pátria.As suas prioridades na batalha Salazar irá defini-las no mesmo ano quando mandou prender o General Vassalo e Silva e outros subordinados por se terem rendido, na Índia Portuguesa, ao poderio do exército indiano. Salazar com a rendição das tropas comandadas por Vassalo, e Silva, vê-se privado de dezenas ou centenas de mártires e heróis para proclamar a todo o mundo a tirania da União Indiana e a legitimidade dos nossos direitos de soberania sobre Goa Damão e Dio. A filosofia do Estado Novo não morre com a morte do seu fundador, aliás para lá de alguns nomes e de algumas boas-vontades que se esforçam por dar crédito ao Professor Marcelo Caetano, pouco muda.
Para os ditadores os homens são carne para canhão e devem serem imolados no altar da Pátria.
Um abraço. Francisco Baptista

Luís Graça disse...

Francisco, a carta que Salazar mandou a Vassalo e Silva a 14 de dezembro de 1961 diz tudo:

(...) "Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos ..." (...) (citada por Franco Nogueira).

Podíamos ter saído com honra, depois de 460 anos de presença na Índia...

Consta, por aí, que alguém terá sido incumbido por Salazar (ou por um dos seus próximos colaboradores), para levar uma cápsula de cianeto ao Vassalo e Silva... Era explicitamente preferível um suicídio honroso a uma vergonhosa capitulação... daria dividendos políticos, interna e externamente... Está por apurar essa história, que se conta ainda entre dentes nalguns meios... Salazar optou por arranjar um bode expiatória, mandando expulsar alguns oficiais como indignos da farda que usavam, do que assumir a responsabilidade política pelo desastre de Goa...

Abilio Duarte disse...

SINCERAMENTE NÃO ESTOU DE ACORDO, COM AS PERGUNTAS DESTA AUSCULTAÇÃO.
PORQUÊ?
PORQUE NUMA GUERRA, NADA É POSSÍVEL ESTAR PERFEITO.
PARA MIM FOI TUDO, DIFICULDADES, POIS JULGO QUE ESTAVA BEM PREPARADO, PARA AS MISÉRIAS QUE FUI ENCONTRAR.
O QUE ME CUSTOU, E AINDA HOJE QUESTIONO O PORQUÊ DE UMA GUERRA, QUE NÃO DIZIA NADA A 99%, DAQUELES QUE POR LÁ PASSARAM.
NÃO SÃO OS RETORNADOS. QUE DIZEM, QUE FOMOS PARA LÁ DE FÉRIAS, E QUE ELES SABIAM COMO DEFENDER OS SEUS BENS E INTERESSES, E QUE AO FIM E AO CABO, TAMBÉM, QUE FICARAM SEM NADA, PORQUE FUGIMOS.

Anónimo disse...

Perante tantas falhas no campo militar. Na minha humilde opinião lamento a falta do contacto verbal com as populações por desconhecimento dos dialetos locais dado que o Governo na altura não incrementou o ensino da nossa lingua portuguesa.

Vasco Ferreira

A. Murta disse...

Aos camaradas António José Pereira da Costa e Luís Graça.

Diz o camarada António José que “E agora nem sequer opinião temos: Ou que é pior: não somos capazes de a apresentar”.
Com o devido respeito,acabo de ler esta série de comentários e verifico que 6 camaradas já se manifestaram. Afinal, não é assim tão mau.
A verdade é que a maioria, tudo rapazinhos com mais de 65 anos, se furta ao risco de ver os seus comentários publicamente tratados com menoridade e desprezo, - quando o que era salutar era o debate de ideias -, por certos intelectuais que, com soberba e arrogância vem a este “triste” e “pobre” Blogue, debitar as suas estafadas certezas como sendo dogmas ou verdades universais.
Já aconteceu alguns camaradas dizerem que não voltavam a fazer comentários e outros, simplesmente, não voltarão a fazê-lo enquanto não houver respeito pela opinião de cada um.
“É assim tão difícil de entender?”

A. Murta.

Anónimo disse...

Dei instrução de artilharia (obus..8,8) a um pelotão de 32 Homens,18 eram analfabetos, e muitos deles tinham graves limitações físicas e ou de coordenação motora para não falar das capacidades cognitivas e intelectuais.

Tudo isto no ano de sua "graça" 1972 do calendário gregoriano.

Já na Guiné os soldados do meu pelart eram todos de recrutamento local e analfabetos..mas eram bons soldados..lá isso eram.

Quanto aos problemas das NT em 63...tem piada...em 73 eram precisamente os mesmos.

Um alfa bravo

C.Martins

Anónimo disse...

Vasco Pires [Brasil]
3 marco 2014 04:28

Boa noite Luis,
Cordiais saudações.
Lamento, se acaso, o meu comentário soou como uma crítica aos inquéritos.
Antes pelo contrário, não é essa a minha opinião.
Forte abraço.
VP

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
O C. Martins levanta outra questão interessante.
O resumo das características que ele aponta para o pessoal dos seus pelotões poderá ser ampliado para o resto do contingente.
O contingente disponível - cidadãos do país - teria características determinadas pelo múltiplos aspectos do funcionamento da sociedade daquele tempo que determinavam o comportamento em especial no que diz respeito ao modo como se reagia ao facto de ter que, ser obrigado a fazer "aquilo" e sem ver bem o porquê. Mas fazia-se...
É capaz de ter sido isto que levou a que as primeiras recusas ao embarque tenham tido lugar após o 25ABR, quando o aparelho repressivo tinha abrandado.
E hoje como seria?
Um Ab.
antónio J. P.Costa

JD disse...

Camaradas,
Todos os governos de qualquer estado devem ter a preocupação de defender as suas sociedades de agressões externas ou outras formas de boicote, no sentido de garantirem o progresso das respectivas sociedades. É ponto assente, mesmo relativamente a estados como a Suíça. A obrigação de defender o território e a sociedade portuguesa está plasmada na Constituição, vidé artº.273º., nº.1., como anteriormente se consignara idêntica responsabilidade.
Por outro lado, diz-se popularmente, que o povo tem o que merece, afirmação de que discordo frontalmente, pois ao longo dos anos não têm sido criados instrumentos de educação e intervenção cívica, pelo contrário, e o povo não tem conseguido exercer a soberania conforme a Constituição lhe garante. Sabe-se bem como aos povos é "retirada" tal competência, por via de acções psicológicas de indução de ideias sobre orientações colectivas, que levam os cidadãos a continuamente votarem nos seus carrascos, deixando-se viver enclausurados pelos diferentes "jogos" políticos em exploração de emoções, fetiches e idolatrias - vidé Alexandre Dorozynski, José António Marina, e mais recentemente Chomsky, entre vários outros. Daí, que os povos ultramarinos de nacionalidade portuguesa (brancos, pretos e mulatos) não poderem ser desprezados na defesa que lhes foi dispensada, além de que era do conhecimento geral que Portugal era o cimento de tão distintas gentes.
E não vou pronunciar-me sobre a estrutura económica da nação, que merecia profundas reformas com vista a melhorá-la, mas era indubitavelmente melhor do que aquela que a "democracia" veio estabelecer em cada pedaço territorial.
Por outro lado, se os EUA de Kennedy foram acérrimos opositores do ultramar português, essa atitude esmoreceu com Johnson, e passou a colaboração em seguida no tempo de Kissinger (embora discreta por razões internacionais).
Finalmente, o meu pelotão era originalmente composto por praças madeirenses, individuos geralmente de escassa ou nula instrução escolar, humildes e ligados ao trabalho desde tenra idade. Ofereciam características militares que suportavam grandes sacrificios. Mas não eram tolos, e tornaram-se críticos do capitão e dois sargentos, que no mato apenas se preocupavam com os negócios pessoais, sem preocupações pela vida dos comandados. Por isso, se a falta de preparação na metrópole tivesse sido compensada com comandos sérios e empenhados sem distinções de classe no dia-a-dia, o moral da tropa poderia ter sido bem melhor e mais solidário. Enquanto isso, na metrópole, como nas chefias da guerra em Bissau, nunca houve manifestações para alteração do que antes referi.
Abraços fraternos
JD

jpscandeias disse...

Caro Luís Graça,

Creio que a falta de preparação (1) era evidente e "nós" que estivemos dos 2 lados da barricada, demos e recebemos instrução. Eu, no RI3, e lá no CIM, sabemos que 70% do tempo era destinado à Ordem Unida. Claro que estou a referir-me a quem, em principio tinha a missão do combate, atiradores de infantaria, cavalaria, artilharia, os homens das armas pesadas, dos obuses, numa palavra os operacionais. Sobre as outras especialidades, vagomestre, amanuense, fotocine, enfermeiros, etc, não opino. (7) Também pouco ou nada havia na passagem da experiência dos que nos antecederam, que como era normal estava mortinhos por partir. Também os quadros-capitão/Major- não tinham ou competência ou não queriam, dar estímulos que justificasse o empenho e a nossa presença no TO. Normalmente funcionava pela ameaça, com "porradas" que, no limite, inviabilizava a vinda de férias, aos felizardos. Mas doía, doía.
Pela experiência que me foi dado viver a capacidade de combate entre a Ccav 3404 e a Cçac 12 não havia o mais pequeno paralelo. Não foi pelas Companhias Africanas onde englobo os Comandos, Grupos Especiais e Milícias que iriamos ceder. Depois e este depois é crucial, as guerras de guerrilha não se ganham aguentam-se até os políticos resolverem. Nós milicianos aguentamos. Os políticos resolveram?

Um abraço a todos, mas especialmente aos que mantêm o Blogue Vivo, participando.


João Silva