segunda-feira, 7 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15827: (De)caras (35): Quem nunca apanhou um pifo, de caixão à cova, que levante o primeiro copo!... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)





Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  > Nova Lamego > c. 1969/70 >  O Valdemar Queiroz, de ter "dado de beber à dor"...

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz  (2016). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de anteontem, do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]


Assunto: Quem nunca apanhou uma bebedeira, que levante o primeiro copo.

Em Nova Lamego, depois de receber notícias, embebedei-me.

Já estava na varanda do  refeitório (oficiais e sargentos) a beber uns uisques, à espera de notícias (aerogramas).

Beber uns uisques é diferente de beber uma garrafa de Antiquary (*)... E foi uma grande bebedeira.

- Então, Queiroz? Passa-se alguma coisa? - perguntou-me o 1.º Sargento Ferreira Júnior.
- Meu primeiro, isto passa com mais uns copos, isto passa  - respondi, mas já com uma lágrima no olho.

Foi a garrafa toda e que mais houvesse.

Depois levaram-me a tomar banho à fula, num bidão que  havia na nossa casa de banho e deitaram-me dormir, até de manhã.

De manhã, estávamos escalados para irmos a Cabuca levar víveres e munições. E lá fomos, numa manhã fresca do cacimbo... Nada como o cacimbo do leste da Guiné para curar um pifo de caixão à cova...  A caminho de Cabuca senti que já me estava a passar a imagem da Ilda... a minha namorada. (**)

Valdemar Queiroz
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5672: Estórias avulsas (23): Old Parr e Antiquary a 90$00 (Luís Dias)

8 comentários:

Valdemar Silva disse...

Com o devida rectificação, o 1º Sargento chamava-se: Ferreira Júnior.
Já morreu.
Valdemar Queiroz

Luís Graça disse...

Valdemar, meu camarada de Contuboel (, que pena não termos uma foto em conjunto, foi escasso o nosso convívio, de menos de dois meses!), acompanho-te na pergunta: quem nunca apanhou um pifo na Guiné, daqueles de caixão à cova, pois que levante, não o copo, mas a garrafa vazia!...

Até os oficiais superiores apanhavam pifos, na nossa guerra !... E até os puritanos que pregavam a lei da abstinência (alcoólica e sexual): "Quem não sabe beber vinho, que beba merda!"... Ora merda era o que a gente comia e bebia quando ia para o mato... Ou dentro do "quartel" (, melhor dizendo, buraço, para muitos de nós)... Merda era, afinal, aquela guerra a que fomos condenados!...

É uma boa pergunta para um próximo inquérito de opinião... LG

Abilio Duarte disse...

Nós na C.Art. 11 , éramos uns sortudos, pois tínhamos vinho e Whisky, como mato, como a companhia era de africanos, e eles não bebiam bebidas alcoólicas, e tínhamos a mesma dotação, que uma companhia de brancos, era uma alegria. Eu tinha uma embalagem de morteiro 60, carregada de garrafas, pois tinha, além das 2 obrigatórias, podia comprar as que quisesse.
Como andei muito no mato, e sempre fui bem recebido, por toda a gente, quando esses amigos passavam, pelo nosso Quartel em Nova Lamego, tinha muito gosto em retribuir, essa amizade com uma garrafa do dito escocês. Muitas vieram para Portugal, ainda vieram comigo quase quarenta garrafas, a maior parte de Whisky. Mas fui apanhado no Aeroporto de Lisboa, lembras-te Queiroz?, mais o Matias e tu, e tivemos que pagar imposto. Tu que escreves bem, conta aí essa nossa aventura no Aeroporto. Um Abraço.

Anónimo disse...




Estava à espera do testemunho de outros camaradas para ganhar coragem. Afinal só apareceu o nosso professor e mestre Luís Graça a confessar esses pecados mas o testemunho dele traz a compreensão e absolvição do sociólogo. Isso me basta.
Em Buba, uma noite, com o quartel cheio de gente, pois a coluna de reabastecimento do batalhão não pôde regressar por causa do mau tempo, houve uma bebedeira geral com muito alarido. Imaginem o exemplo e o espectáculo de um capitão e alguns alferes aos tiros para o ar. O capitão seria conduzido à enfermaria para levar uma injecção. Eu não tive necessidade disso mas fiz bem o meu papel.
Em Mansabá contrariamente aos soldados da companhia de madeirenses que gastavam todos os trocos em cerveja os graduados eram no geral bastante abstémios. Lá nunca participei em grandes festas de cerveja mas passei a beber muita água do castelo com gelo e whisky. Era um refresco que me dava boa disposição físíca e mental. Com a companhia já quase de partida para Bissau, a aguardar o regresso, roubei uma garrafa de whisky ao Marques, furriel enfermeiro, de quem era amigo, convidei-o para beber dela e ele quando soube não gostou nada desse meu abuso. Mais tarde fiquei com remorsos , que ainda hoje não me largaram, já procurei o Marques para lhe dar uma boa garrafa para o compensar mas o Carlos Vinhal, também dessa companhia, já há decadas que lhe perdeu o rasto.
Tu camarada Valdemar Queiroz, curaste-te, pelos vistos com uma garrafa. Eu como sofria dum mal maior gastei muitas com o tratamento.
O camarada Abílio Duarte diz que comprou muitas,confessa que trouxe muitas e que ofereceu a amigos mas não diz se ele as bebia como remédio para a dor de dentes ou para brindar à vida e esquecer a puta da vida que nos tinha calhado na roda da fortuna.
Um abraço a todos. Francisco Baptista

Abilio Duarte disse...

Francisco Baptista, bebi muitas,e hoje ainda bebo,e posso dizer, que é o que me traz de pé.
Muitas noites na varanda da nossa messe, em Nova Lamego, onde a malta que estava de descanso, ao som de uma boa música, no meu leitor de cassetes, conversando e jogando umas partidas de Copas, ou King, lá passamos bons bocados.
Não me esqueço de um dia em que estava de Sargto. de Dia, e o Furriel Macias, chegou de férias do continente, trazendo uns enchidos, da terra dele, Aldeia Nova de São Bento, apanhei, uma piela de todo o tamanho. Durante uns tempos nem podia tocar no Whisky, e virei-me para o Gin.
Mas em Paúnca, voltei a apreciar o escocês até hoje. Um abraço.

Valdemar Silva disse...

Viva, meu camarada Luís Graça.
É verdade: quem nunca apanhou um grande pifo que levante o primeiro copo. (excelente revisão Luís).
Uns mais outros menos, por lá se apanharam grandes bezanas, umas por festejos,
outras por nem tanto, muitas pelo stresse e outras por nenhuma razão.
Suas excelências também se atiravam aos copos, daí não vem mal nenhum, também
por lá andavam, por profissão, o mal era quando os senhores da guerra com uns copos a mais faziam perigar muita gente.
Vendo bem, já na altura nos parecia que por cá todas as extraordinárias
excelências estavam com uma grande e prolongada bebedeira. Ao menos podiam ter
procedido como qualquer bêbado e apenas dar vivas à república, mas não. Era uma bebedeira sem lucidez, era uma bebedeira violenta, era uma bebedeira de guerra.
Nós na CArt.11, nesses momentos, sempre trauteávamos ...Ó bioxene... ó bioxene, fazendo lembrar a letra da canção do John Lennon 'Give a chance ...'
Quanto ao nosso relacionamento em Contuboel, com certeza que tivemos troca de opiniões. Para ser franco eu não me lembro com nitidez da rapaziada da futura CCaç.12. Lembro-me das vossas tendas (Tarrafal), lembro-me do Sargento Piça e, principalmente, do Levezinho por ser familiar dum colega de trabalho e julgo que
do râguebi na Amadora, mas não mais que isto a não ser que os soldados do meu pelotão de instrução foram todos para a vossa Companhia, ex. Umaro, Sori, J.Carlos
Baldé, Cimba, Cherno e muitos outros.
Quanto às garrafas de bioxene que o Abilio Duarte se refere na Alfandega do Aeroporto da Portela, já contei o episódio no blogue, mas qualquer dia volta à cena por ser absolutamente delirante.
Abraços
Valdemar Queiro

Valdemar Silva disse...

A grande canção e grande música de John Lennon é:
'GIVE PEACE A CHANCE'
Oiçam e digam se não parece que é cantado:
..Ó bióxe..ne ... Ó bióxe..ne.
..Ó bióxe..ne...Ó bióxe...ne.
era assim trauteada, quando se estava mais ou menos com os copos.
Oiçam e arranjem uma tradução da letra.
Valdemar Queiroz

Luís Graça disse...


Umas das canções que estão no nosso imaginário... Nosso, da nossa geração. Ouvir aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=RkZC7sqImaM



Eis a letra original e uma tradução [, Cortesia do sítio brasileiro Vagalume]

Give Peace A Chance

Two, one two three four
Ev'rybody's talking about
Bagism, Shagism, Dragism, Madism, Ragism, Tagism
This-ism, that-ism, is-m, is-m, is-m
All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

C'mon
Ev'rybody's talking about Ministers
Sinisters, Banisters and canisters
Bishops and Fishops and Rabbis and Pop eyes
And bye bye, bye byes

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

Let me tell you now
Ev'rybody's talking about
Revolution, evolution, masturbation
flagellation, regulation, integrations
meditations, United Nations
Congratulations

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

Ev'rybody's talking about
John and Yoko, Timmy Leary, Rosemary
Tommy Smothers, Bobby Dylan, Tommy Cooper
Derek Taylor, Norman Mailer
Alan Ginsberg, Hare Krishna
Hare, Hare Krishna

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance


Dê uma chance à paz

Um, dois, três, quatro
Todos estão falando sobre
Bagismo, Shaguismo, Draguismo, Madismo, Ragismo, Tagismo
Esse ismo, ismo, ismo
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

Qual é
Todos estão falando sobre Ministro
Sinistro, Corrimãos e Latas
Bispos, Peixes, Coelhos, Olhos Abertos
E tchau, tchau

Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

Vou falar agora
Todos estão falando sobre
Revolução, Evolução, Masturbação
Flagelação, Regulação, Integrações
Mediações, nações unidas
Parabéns

Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

Todos estão falando sobre
John e Yoko, Timmy Leary, Rosemary
Tommy Smothers, Bobby Dylan, Tommy Cooper
Derek Taylor, Norman Mailer
Alan Ginsberg, Hare Krishna
Hare Hare Krishna

Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz