segunda-feira, 11 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16294: Tabanca Grande (490): Adelaide Barata Carrêlo, filha do ten SGE Barata, CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71)... Com sete anos apenas, sofreu a brutal flagelação do IN ao quartel e vila do Gabu, em 15/11/1970, que causou 3 mortos e 4 feridos graves entre as NT e 8 mortos e 80 feridos (graves e ligeiros) entre a população... Passou a ser a nossa grã-tabanqueira nº 721

1. Mensagem de Adelaide Barata Carrêlo, enviada hoje às 14h43:


Boa tarde,

Agradeço de coração todas as palavras que me foram dirigidas (*).

Em relação ao que escrevi, na parte " (...) Também me lembro de quem lá ficou para sempre, não éramos muitos" e " Lugar onde tive medo, fui feliz e vivi (...), referíamos à trágica noite de 15 de Novembro de 1970. 

Ficou também por contar; e, que se me permite, o farei brevemente.

Obrigada mais uma vez, pelo convite para me sentar convosco à sombra do poilão da vossa querida Tabanca Grande.

Um abraço apertado

Adelaide

2. Alguns comentários:

(i) Cherno Baldé:

Amiga Adelaide,

Obrigado pelas bonitas palavras dirigidas à nossa sofrida Guiné, que Deus te proteja e guarde por muitos anos para poderes voltar a pisar esta terra vermelha da tua infância feliz e motivo de todas as saudades que engrandecem o teu grande coração de mulher.

O sentimento que tenho agora, como homem maduro e que acompanhou as vicissitudes e peripécias desta terra desde a infância, é que o gen Spínola queria fazer na Guiné o mesmo que, mais tarde, o Nelson Mandela fez na África de Sul, isto é,  uma nação arco-íris, onde o mais importante não seria a origem das pessoas nem a cor da pele. Por diversas, que agora não interessa invocar, não resultou, paciência. 

Um fraterno abraço para ti e a todos os amigos da Guiné, Cherno AB.

(ii) Valdemar Queiroz:

(...) "meninos que se ensaboavam no meio da rua e com um chuveiro gigante que deitava tanta água de pingos grossos e doces" (...). 

Que maravilhosa descrição, amiga Adelaide.

Abraço fraterno, Valdemar Queiroz

(iii) Jorge Rosales:

Amiga Adelaide:

O seu testemunho é LINDO... A minha filha Luísa faz hoje 45 anos... Que prenda tão forte para o pai... Obrigado.

Jorge Rosales (farda amarela)


(iv) Abílio Duarte:

Quem pode descrever bem esse dia/noite [, 15/11/1970,] é o meu camarada fur mil Aurélio Duarte [da CART 2479/CART 11 (Nova Lamego e Paunca, 1969/70)], que esteve no meio dessa total confusão, e ainda teve um processo disciplinar em cima... Felizmente safou-se militarmente e disciplinarmente, mas o cagaço  não foi pequeno: em maio passado,  no nosso almoço anual,  ele relembrou aquelas horas, pois estava emboscado na estrada de Nova Lamego para Piche e, segundo ele,  turra era mato.


(v)  Luís Graça:

Adelaide, foi das coisas mais lindas que temos editado nos últimos tempos. Essa capacidade de maravilhamento só pode ser de quem guarda, numa caixinha especial da memória, todas as cores, sabores e cheiros da Guiné, do tempo da infância. 

Fica deste já convidada para se sentar à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande. Trataremos depois dos pormenores!... Um abraço fraterno.Luis Graça




Guiné > Nova Lamego (ou Gabu) > "Nova Lamego, Guiné Portugesa". Colecção "Guiné Portuguesa, nº (?)". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL). Exemplar  da colecção do nosso camarada Agostinho Gaspar (ex-1.º cabo mec auto rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), natural do concelho de Leiria. 

 Digitalização e edição de imagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).



3. Novo membro da Tabanca Grande, nº 721

A Adelaide, filha do tenente SGE Barata, da CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71), confirma que estava,  com a família (pais e irmãos). em 15/11/1970, quando o quartel e a vila de Nova Lamego foram violentamente flageladas pelo PAIGC. Com sete anos, deve ter apanhado o maior susto da sua vida,

Recorde-se que,  em 15/11/1970, um numeroso grupo IN, estimado em 150 elementos flagelou Nova Lamego com armas ligeiras e 4 morteiros 82, tendo disparado cerca de 122 granadas, durante 35 minutos .

As NT tiveram 3 mortos (incluindo o srgt mil enf da CCAÇ 5, Cipriano Mendes Pereira),  4 feridos graves (incluindo 1 milícia), enquanto a população teve 8 mortos (incluindo a esposa do nosso camarada Cipriano), 50 feridos graves e 30 ligeiros.  As NT reagiram com fogo de morteiro 81 e canhão s/r, manobra de envolvimento e perseguição, apoiadas  pela FAP. A artilharia de Cabuca e Piche bateram com fogo de obus os prováveis itinerários de retirada do IN.

Nem por isso a Adelaide quis esquecer as melhores lembranças dos dias maravilhosos que passou no Gabu.

Acaba também por aceitar o nosso convite para integrar a nossa Tabanca Grande, honrando dessa maneira o seu pai e o seus camaradas, e nomeadamente daqueles que já morreram,

Se possível, gostaríamos de ter as duas fotos da praxe, de tipo passe, uma atual e outra do tempo que a Adelaide passou na Guiné, com os pais e irmãos. Para já fica com direito a sentar-se. no lugar nº 721 (**), à sombra do nosso mágico, frondoso  e fraterno poilão.

Que sejas bem vinda, Adelaide, que os/as filhos/as dos nossos camaradas nossos/as filhos/as são. 

______________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de julho de 2016 >  Guiné 63/74 - P16288: (In)citações (95): "Terra vermelha quente e de paz, / lugar onde tive medo, fui feliz e vivi, / amar-te-ei sempre, / minha Guiné menina velha encantada"... (Adelaide Barata Carrêlo, filha do tenente Barata, que viveu em Nova Lamego, no início dos anos 70, durante a comissão do pai, e aonde regressou, maravilhada, quarenta e tal anos depois)

7 comentários:

Anónimo disse...


Adelaide Carrelo
12/7/2016 09:59


Bom dia Luís,

Não há dúvida que o mundo é "pequeno".

Infelizmente o meu pai faleceu em 15 de Janeiro de 1979, capitão, estava colocado na altura no Ministério de Exército na Praça do Comércio.

Nesta minha viagem à Guiné no ano passado, levei-o comigo, fiz dos meus olhos a memória dele :)

Relativamente às fotos é com prazer que iremos divulgá-las aqui. O meu marido já tem tudo organizado.

O meu filho já não se encontra lá, agora está a fazer o doutoramento em Energias Renováveis, em Madrid, mas também tem muitas "histórias" para contar.

É verdade, trabalho da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no Departamento de Gestão e Administração, na Av.D.Carlos I, 126, quando quiseres, combinamos um café.

Abreijos
Adelaide

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Adelaide, obrigado. fico triste pelo pai que a morte levou tão cedo, mas fico orgulhoso da filha...

Como eu costumo dizer, os antigos combatentes da Guiné são uma espécie em vias de extinção... Foi preciso puxar pela autoestima desta malta, que merece o apreço e o carinho das gerações mais novas, porque "soube fazer a guerra e soube fazer a paz"... E tem um coração grande, onde cabe Portugal e a Guiné...

Talvez pela minha formação sociológica, e pelo gosto pela escrita, e pela história, sinto-me honrado pelo trabalho coletivo que representa este blogue... É já hoje uma importante fonte de informação e conhecimento para todos, portugueses, guineenses, ex-militares, familiares de ex-combatentes, investigadores, etc.

E é uma ponte entre dois povos lusófonos (ou três, considerarmos também Cabo Verde, que
deu combatentes para um lado e para o outro),

E as pontes só fazem sentido se tiverem dois sentidos... A guerra colonial deixou marcas profundas na nosssa geração, sobretudo naqueles que passaram pelo teatro de operações da Guiné... Recordo também a primeira e única vez que lá voltei, em 2008, por ocasião de um
simpósio internacional que me levou a conhecer a região do Cantanhez que eu não conhecia, e topónimos míticos da guerra do meu tempo (Quebo, Mejo. Gandembel, Guileje, Cacine...), Revisitei o Rio Corubal, o Rio Geba, Bambadinca, Saltinho... Infelizmente não deu para ir a
Bafatá (que conhecia bem) nem ao Gabi (aonde nunca cheguei a ir, em« 1969/71),,,

Adelaide, fico então a aguardar as tuas boas notícias. Boa sorte para o doutoramento do teu filho. O meu, João Graça, que é médico, psiquiatra e músico, passou em 2009 15 dias na Guiné, tendo trabalhado uma semana como voluntário, médico, no centro de saúde de Iemberém, no Cantanhez. Uma experiência também muito marcante para ele. Trabalha agora no IPO de Lisboa como psiquiatra. Nessa altura ele visitou, por mim, Bafatá e Nova Lamego, entre outros sítios. Tirou belíssimas fotos que já partilhou no blogue, na altura.

Olha, vou-te pôr em contacto com o Constantino Neves (ou Tino Neves) que deve ter trabalhado com o teu pai,o tenente SGE Barata. Vou-lhe dar conhecimento desta mensagem. Não tenho notícias dele há uns tempos, também teve um irmão mais velho na Guiné, antes dele, no
leste, em Fajonquito, juhnto à frinteira com o Senegal...

O Tino era 1º cabo escriturário, da CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego / Gabu, 1969/71. Vive na Cova da Pieddae, Almada. É dele o único relato circunstanciado da "fatídica noite de 15 de novembro de 1970" (que já deves ter lido, no nosos blogue). Clica aqui:


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2006/10/guin-6374-p1160-lembranas-de-nova.html

Sobre Nova Lamego temos quase 3 centenas de referências no nosso blogue, mas não fotos tão boas como como temos de Bafatá, a nossa "pirncesa do Geba"...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Nova%20Lamego


Do Constantino também já publicámos fotos do quartel novo de Novba Lamego, inaugurado em 31 de janeiro de 1971. Ainda devias lá estar com a família, nessa altura, não ?


Um xicoração, LG

Antº Rosinha disse...

"E é uma ponte entre dois povos lusófonos (ou três, considerarmos também Cabo Verde, que deu combatentes para um lado e para o outro)",

Correctíssimo LG, essa de Caboverde dar combatentes para os dois lados.

Desculpa, mas é sempre injusto quando esquecemos que dos dois lados estiveram também muitos guineenses.

E acontece constantemente neste blogue em muitos debates anti-coloniais esquecer este grande/enorme pormenor.

Se não replicarmos neste pormenor, os vindouros julgam a nossa geração como uns super-homens.

E não éramos super, felizmente.

Desculpa LG e força para continuares sempre.

Anónimo disse...

Tino Neves

11/7/2016

Sou o Constantino Neves, mais conhecido na Tabanca como Tino Neves.
Era o 1º Cabo Escriturário do Comandante da CCS/BCaç. 2893, por esse facto confirmo que conheci, aliás tive o enorme prazer de conhecer o NOSSO Tenente BARATA, que era o Oficial da Secretaria do Batalhão, que mais tarde foi substituído por outro Oficial, devido a doença.
Organizei 8 Encontros/Convivio ao nivel do Batalhão, e comecei do ZERO nas pesquisas dos contactos e nunca consegui o seu contacto, e por essa razão aproveito a oportunidade para lhe pedir o contacto, para futuros Convívios.
E estive também nesse dia/noite fatídico em que celebrava-mos um ano de comissão
Quero também expressar-lhe a minha gratidão, porque é para mim uma grande satisfação saber de alguém da família de um camarada da minha Companhia (CCS) de quem gostava-mos muito era uma jóia de pessoa todo o mundo o adorava.
Bem aja

Um Abraço
Tino Neves
11 de julho de 2016 às 23:17

Anónimo disse...

Adelaide Carrelo
13 jul 2016 10:52

Bom dia Constantino,

A gratidão é toda minha por saber que fez parte da vida do meu pai e pelas palavras com que o descreveu, claro que a minha alegria só se podia manifestar em lágrimas, lágrimas de alegria, orgulho e saudade.
Obrigada, muito Obrigada Constantino.

Anónimo disse...

Boa tarde D.Adelaide,Sou o 1º.Cabo Escriturário Jorge Vale e trabalhei com o seu pai na secretaria de comando. Lembro-me perfeitamente daquela noite de de 15/11/1970, eu fazia 21 anos de idade e 1 de comissão. Foi terrível, caiu uma granada de morteiro a cerca de cinco metros de mim que matou dois camaradas nossos, um maqueiro e um cozinheiro, só por milagre não fui ferido. Conheci o seu pai em Chaves e trabalhamos sempre juntos até ao seu regresso. Tenho uma boa recordação como um grande amigo e um grande HOMEM. Despeço-me com um beijinho e desejo para si e toda a família muita saúde e as maiores felicidades.

Adelaide Barata disse...

Boa tarde Jorge Vale,
É com muita alegria que recebo estas suas palavras sobre o meu pai.
Também nós, lhe desejamos muitas felicidades e muita saúde.
Obrigada
Adelaide Barata Carrêlo