quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16531: Os nossos seres, saberes e lazeres (176): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (2) (Mário Beja Santos

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Maio de 2016:

Queridos amigos,
Havia muito para ver em Belgrado e não resisti a dedicar-lhe estes dois episódios.
Como disse, há uma ideia feita que Belgrado não é assim um destino por aí além. As marcas de sucessivas destruições são bem visíveis. É uma cidade milenar com belos recantos, mas a nova Belgrado suplantou-a. E a Sérvia, com a sua história e seu orgulho, vive um tanto à deriva, a guerra de 1991 deixou marcas indeléveis, as outras repúblicas viraram-lhe as costas, a Sérvia está como a Hungria ou a Áustria, não tem acesso ao mar. É preciso andar nas ruas para perceber como eles são exímios e campeões no basquetebol, vólei e andebol, são altos e desengonçados. E prestáveis, o alfabeto cirílico não é para brincadeiras.
Fiquei com vontade de regressar, não conheço sentimento mais entusiasmante para quem viaja.

Um abraço do
Mário


Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (2)[1]

Beja Santos

Confesso a minha sedução pelos ofícios religiosos ortodoxos, é a palavra cantada e a majestade do coro que lhe responde, os oficiantes de pé, frente à vastidão de um altar que se prolonga para o interior. Tudo começou em 1977, na minha primeira viagem a Bruxelas. Já nessa altura estava interessado em visitar a Feira da Ladra local, passei por um templo de onde emanava uma melopeia litúrgica imponente. Entrei e gostei. E sempre que posso repito, o Deus em que acredito é gémeo do Deus em que acreditam todos os ortodoxos.



Estou na Igreja de S. Marcos, o templo não é esplendoroso mas é muito acolhedor. Tem colunas em pórfiro, gigantescas, encimadas por capitéis coríntios, belas imagens, há sempre esta presença bizantina, os ícones e as belas alfaias religiosas. Li as apreciações de alguns viajantes no Trip Advisor, considero-as injustas. Explico porquê.



Assim como o nosso Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra acolhe o túmulo do Fundador da nossa nacionalidade, este é o túmulo do Czar Dushan, O Poderoso. Trata-se de Stefan Urosh IV Dushan Nermanjre, casado com a Princesa Helena, irmã do Imperador Búlgaro. Foi um reinado de muitas peripécias, ao princípio tudo correu bem. Conquistou uma parte importante do território bizantino, coroou-se em Skopje. Foi czar e autocrata nos sérvios, gregos e albaneses. Foi sol de pouca dura, o império desfez-se rapidamente. Mas percebe-se como os sérvios têm no coração este seu czar.


Aqui há uns anos ofereceram-me um livro sobre as igrejas da Sérvia e do Montenegro. O que mais me impressionou é o permanente vínculo bizantino, desde a Idade Média à atualidade. Esta é a fachada da Igreja de S. Marcos, possui uma enorme harmonia, a loggia à italiana é muito equilibrada em torno da porta principal. E sigo daqui para a Catedral de S. Sava, um templo que tem uma história parecida com a nossa Igreja de Santa Engrácia.




Não quero cansar o leitor quanto às inumeráveis peripécias da vida acidentada deste templo, o maior de toda a cristandade ortodoxa. No templo anterior, houve quartéis e armazém, depois tomou-se a decisão para esta empreitada monumental, o exterior parece acabado, o interior vai precisar ainda de muito tempo até se concluir, imagino os milhões necessários para forrar estas paredes com mármore, pôr alfaias religiosas adequadas. O visitante entra e assiste ao espetáculo das obras. O mais significante é mesmo este S. Sava que assiste impávido ao escarcéu das máquinas, é alvo da veneração dos devotos e isso comove-nos muito.


Ao lado da catedral em construção temos uma igrejinha também dedicada a S. Sava, é uma concentração de beleza, uma incontestável casa de oração, ainda bem que há cadeiras para que o viajante septuagenário se sente e possa olhar demoradamente este espantoso entorno. Aqui fica uma amostra, o vigilante andava fora de portas, pude andar freneticamente a disparar o flash.




Finda a peregrinação religiosa, impunha-se subir à fortaleza de Belgrado. Visitei demoradamente uma exposição sobre a ocupação austro-húngara na I Guerra Mundial, imagens eloquentes da devastação dos canhões, nem o Palácio Real escapou, que enorme desolação. É da fortaleza que se avista a junção dos dois rios, mais uma vez se confirma que o Danúbio é caudaloso mas não é azul. Felizmente que os dias são maiores neste mês de Abril de chuvas intermitentes. Passeio-me pela baixa de Belgrado, o comércio está em grande azáfama, o que me acicata é mesmo a arquitetura, como se mostra. E agora vou procurar um jantar compatível, depois descansar os pés de tão bela caminhada, tenho que justificar o carrego de livros, e depois dormir bem, amanhã é a tal viagem de cerca de 500 km, 254 túneis e 435 pontes até chegar ao fundo do Montenegro. Não quero antecipar a espetacularidade que me espera.

(Continua)
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Notas do editor:

[1] Vd. poste anterior de 21 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16508: Os nossos seres, saberes e lazeres (174): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (1) (Mário Beja Santos

Último poste da série de 25 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16523: Os nossos seres, saberes e lazeres (175): Vou à Guiné-Bissau, quase todo os anos, desde 2005... Tenho um lugar, na próxima viagem, por terra, em VW Tiguam, de 30 a 35 dias, com partida a 13 de novembro... Se houver alguém interessado, que me contacte (José Carlos Carlos, telemóvel 934 148 787)

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